sexta-feira, 10 de julho de 2020

AQUELA PRAIA NA CURVA DO RIO ...


[Nota – Sem prejuízo de novos textos, inicio a recuperação das antigas publicações, agora reformuladas (corrigidas, revistas e, eventualmente, aumentadas).

 

 

Aquela praia na curva do rio…



Mirar el río hecho de tiempo y agua
y recordar que el tiempo es otro río,
saber que nos perdemos como el río
y que los rostros pasan como el agua.
Jorge Luis Borges [1]



O lugar


fig. 1 – Emilio Biel & C.ª – Porto. Vista para o Areinho.


Naquele calmo lugar onde se dilata “a paisagem pelo afastamento das collinas: as aguas do rio, menos apertadas, expandem-se, simulando um lago, cuja superfície, apenas encrespada, reflecte a imagem tremula das arvores, das casas e dos montes” [2] o Douro corre, terso y mudo, mansamente, [3] com a sabedoria de quem já esqueceu a sua longa viagem desde o lugar onde nasceu.

O Douro que sabemos que Seguro da tua grandeza, / Vens do início do tempo [4]  e que porque
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.  [5] 

O Douro encontra aí, nesse lugar, uma curva onde, como se procurasse descansar antes de -  numa surpresa - chegar à cidade que fez nascer.
E pela cidade passa - sem preocupações - porque sabe que sem retorno, irá finalmente descansar no oceano.


Rio abaixo

Este rio foi durante séculos a estrada de transporte de produtos de todo o vale do Douro, destacando-se o Vinho do Porto,  transportado nos barcos rabelos.

fig. 2 – Foto Beleza, Barco rabelo a transportar pipas. 
In Maria do Carmo Serém, Douro Do Tua à Foz com a Fotografia Beleza. Lello Editores. Porto 2002.

Numa aguarela de Alberto de Souza [6], vemos três rabelos de velas enfunadas, carregando as pipas de vinho, que ao descer o Douro chegam às calmas águas do Areinho.

fig. 3 - Alberto Sousa (1880-1961), 1935.

Ou subindo o Douro no mesmo local.


fig. 4 – Postal Porto-Barco rabelo subindo o Rio Douro.

Mas pelo rio não se transportava apenas do vinho, mas “cortiça, casca, madeira, gente; e quando vem o inverno e anda o rio grande, o movimento nunca se interrompe. Os homens intrépidos de pé sobre a pégada - o nome da gaiola onde vai o arrais - manobram com precisão a espadela, metendo a charroa na água e imprimindo a direcção ao barco.”  [7] 


fig. 5 – Postal. Porto. Barco recoveiro. Um rabão transportando várias mercadorias.
  
E assim no Douro navegavam não apenas o rabelo, mas ainda o rabão negro e o rabão branco e o valboeiro - com ou sem toldo - e que serviam de barcos de passagem, ou adaptando-se à pesca do sável, tomavam então o nome de saveiro.


 fig. 6 - William Morgan Kinsey (1788-1851) barcos do Douro in Portugal Illustrated Letters London, 1829.

“O rabão é o rabelo, mas tem como nota característica principal a falta das apegadas. A espadela é mais curva, de molde a poder ser governada do ensaio.”  [8]
Com algumas variantes era denominado de branco ou negro conforme era empregue no transporte de carga como estrume, carqueja ou carvão.

E o “«saveiro», como o seu nome está a indicar, é o barco usado para a pesca do sável, e tem seus portos naturais e tradicionais na margem esquerda do Douro, na costa fluvial do concelho de Gaia (…) O saveiro, é, na sua estrutura, idêntico ao rabelo, (…), porém muito mais pequeno.
Emquanto aquêle comporta a tripulação e carga, (…)  êste apenas se destina, no máximo, a três homens, cuja indumentária tradicional é composta por calça e camisa de flanela, boina ou carapuça de lã. [9]


Todos eles, rio abaixo, encontram a cidade do Porto ao tornear esta tranquila curva onde “opéra o Douro uma das suas subitas e surprendentes transformações. Expiram as collinas fronteiras de uma e outra margem, interrompidas por um valle deliciosissimo, onde a vegetação é mais abundante, mais povoadas as verduras, e onde se encorporam em riachos as aguas escoadas dos proximos declives. Apreciam-se tão raros intervallos, em que o Douro, o severo Douro, sorri, como se aprecia um raio de alegria em rosto habitualmente carregado[10].

O Areinho

Aí se forma uma praia chamada de Areinho para onde Paulino de Cabral [11] arrependido o que perdera em largos anos de regalado epicurismo entre os leitões e as compotas do conde de Alva e os amores suaves e repousados da doce Nize das Fontainhas em cujo gentil regaço lhe era doce descançar, [espraiava] a vista pelas bucólicas verduras do Areinho.” [12]

Este ambiente bucólico e romântico sempre atraiu a atenção dos pintores do Porto.

Já no século XVIII, Jean Pillement  [13]  pinta uma vista do Douro no lugar do Areinho.


fig. 7 - Jean Pillement, (1728-1808), Margens do rio Douro 52 x 66 cm. Museu Nacional de Arte Antiga.

As tonalidades claras dão à composição uma encantadora poesia bucólica. As modelações do terreno e a colocação de figuras em planos distintos, garantem a profundidade de toda a composição e dão o pitoresco ao quadro.
Na margem esquerda onde “dormem na praia os barcos pescadores”  [14]  – os valboeiros que se distinguem pela sua proa empinada - três pescadores num pequeno morro atarefam-se na pesca fluvial junto a uma árvore, um freixo (Fraxinus angustifólia), esse “espesso freixo, que rodeiam myrtos, [e que] longe estendia a cúpula frondosa”. [15]

O conjunto formado pelos barcos, pelo morro e pela árvore, fazem uma moldura que enquadra a paisagem do rio.
Neste, sob uma luz matinal e um céu azul de poucas nuvens, navegam tranquilamente quatro barcos, onde se distingue um rabelo, “de larga vella enfunada, e espadella longa e esguia estirando- se ao lume d'agua como a cauda de um cetáceo. [16]
 Na margem esquerda do Douro, a praia do Areinho tendo ao fundo a Quinta da Alegria. No canto inferior direito, um banco de areia onde um pescador está acompanhado de uma figura feminina que tem ao colo uma criança. Um cachorro reforça o ar tranquilo e familiar da paisagem.

O Areinho na segunda invasão francesa 1809

No início do século XIX um outro acontecimento irá chamar a atenção para este lugar do rio Douro, já que foi neste lugar, neste baixio do Areinho, que em 1809 as forças anglo-portuguesas sob o comando de Arthur Wellesley  
[17] atravessaram estrategicamente o rio, surpreendendo o exército francês aquartelado no Porto.
E aquela curva é testemunha de tudo o que há mais de duzentos anos aconteceu.
E mais um pedaço de história e tradição foi acrescentado há vida do rio Douro.

António Joaquim de Mesquita e Mello (1792 - 1884), que em criança assistiu a estes acontecimentos, num poema intitulado O Porto invadido e libertado, escrito em 1815, refere esse episódio da Guerra Peninsular, assinalando os lugares onde teve palco:

(estrofe 65.º)
A cada ponto marcha a audaz columna,
De Avintes, Quebrantões, e Villa-Nova
E chegam junto ao Douro, onde a fortuna
Com meigo riso sua vinda aprova,
Verdadeira promessa de victoria,
Que não deixa o valor ser illusoria.”

(estrofe 68.º)
É Quebrantões de interpidos o embarque,
Em que Wellesley vai com galhardia,
Amedronta o Francez da Serra o parque,
E para nós dá salvas d’alegria;
Não tarda que o valor o Douro abarque,
O Douro festival todo em folia:
Eis chovem balas do sagaz contrario,
Emboscado no erguido Seminario.”  [18]


O pintor suíço Henri L’Eveque
[19] produziu duas gravuras, mostrando as forças anglo-portuguesas atravessando o Douro em 1809, num Álbum publicado em Londres em 1812.

Apesar de se tratar de composições destinadas a elogiar a vitória sobre os franceses, elas reflectem uma visão romântica própria do início do século XIX, sublinhando a beleza natural do lugar.

fig. 8 - Henri l’Évêque, Passage of the Douro by the Division under the Command of L.t Gen.l Sir John Murray:gravura n.º 6 in W. Campaigns of The British Army in Portugal under the command of General the earl of Wellington, K.B., Commander in Chief &çc. &çc. Dedicated by Permission to His Lordship, London printed by W. Bulmer and  Co. Cleveland-Row, St. James’s; and Published (for the Proprietor) by Messr. Colnaghi and co. Cokspur-Street, Charing-Cross, 1812.

Sob um céu em que as nuvens conferem à gravura um certo dramatismo e contrastando com a serenidade do rio e a beleza das suas margens, vê-se ao centro o Palácio do Freixo com os seus terraços.
Na margem esquerda, na praia do Areinho, as tropas comandadas pelo general Sir John Murray (c.1768-1827) [20] embarcam transportando cavalos e canhões. À esquerda os freixos e o muro da quinta existente no local.

Na outra gravura, com uma composição semelhante, o General Edward Paget [21] montado num cavalo branco e apontando para o norte, comanda as tropas que se preparam para embarcar para a travessia do Douro
No rio navega um rabelo com a vela cheia, transportando militares.
Na margem direita vê- se o Seminário, quase uma ruína.
E mais para poente um fogo que mostra a situação bélica da cidade do Porto.

fig. 9 - Henri L’Eveque, Passage of the Douro, by the division under the Command of L.t Gen.l the Hon.ble Edward Paget. gravura n.º 7 in W. Campaigns of The British Army in Portugalunder the command of General the earl of Wellington, K.B., Commander in Chief &çc. &çc. Dedicated by Permission to His Lordship, London printed by W. Bulmer and Co. Cleveland-Row, St. James’s; and Published (for the Proprietor) by Messr. Colnaghi and  Co.Cokspur-Street, Charing-Cross, 1812.

Em 1840 é desenhado um mapa que mostra o posicionamento das forças militares nas margens do Douro e as suas movimentações em 12 de Maio de 1809.

fig. 10 - Col.t Sturgeon, Passage of the river Douro: on the 12 th. of May,1809; draw on zinc by H.C. Maguire. 1840. Gravura p&b 46 x 32,5 cm. Em folha de 85 x 69 cm. Biblioteca Nacional. htp://purl.pt/29075

Do título do mapa consta, ainda, a seguinte informação: "By the British Army under the command of Liuet. General Sir A. Wellesley. K.B., in face of the French Army commanded by Marshal Soult”.

fig. 11 – Pormenor da fig. Anterior.

Legenda:
A – Arrival of the Right Column of the Army by the road from Coimbra.
B – Arrival of the Left Column from the side of Aveiro.
C - Passage of the Douro by the first Battalion of the E.G.L. under M. Gen.l John Murray at the Ferry of Avintes.
D – Passage of the River by the 3rd. Foot (Buffs) which was the the first battalion, that cross near the Town of Oporto under Lieu.t Gen.l the Hon.ble Edw.a Paget.
E – Building occupied by Lieu.t Gen.l Paget to cover the Passage of the other troops.
F – Ferry were the remainder of M. Gen.l Hill’s Brigade (the 3rd Foot being part of that Brigade crossed the Douro under M. Gen.l Hill, and also a part of B. Gen.l Richard Stewart’s Brigade.
G – Attack of the Enemy upon the troops which first crossed the river under Lieu.t Gen.l Paget.
H – Position of the French Artillery.
K – Battery of two Brigades of Artillery opened against the Right Flank of the Enemy’s Attack on General Paget’s Right.
L – Advance of the Corps under M. Gen.l John Murray.
M – Passage of the Troops under M. Gen.l Sherbrooke in Boats brought from the opposite shore, the Bridge having been burnt by the Enemy the night before.
N – Advance of the troops under Lieu.t Gen.l Sherbrooke
O – Retreat of the Frnch.
P – Pursuit of the Enemy by two Squadrons of the 10.rd British Cavalry, commanded by Major Felton Hervey.


O Areinho no Cerco do Porto

Vinte e tal anos depois da segunda Invasão Francesa, o lugar é de novo palco de acções militares durante o Cerco do Porto na Guerra Civil.
Esta planta, a Carta Topographica das Linhas do Porto, embora destinada a exemplificar as acções militares na batalha do Cerco do Porto, mostra a situação da curva do rio e do Areinho em 1834.


 
fig. 12 - Carta Topographica das Linhas do Porto. Levantada pelo coronel Moreira (Francisco Pedro de Arbués Moreira 1777-1843), novamente lythographada. A. C. Lemos (? - c. 1833/43), 1834.

fig. 13 – Pormenor da Carta Topographica das Linhas do Porto com os locais assinalados a vermelho.

Na planta podemos ver sublinhadas a vermelho: a Bat.a do Seminário, a Q.ta da China, a Q.ta do Freixo, e a Bat.a da Pedra Salgada

No ano seguinte o Barão de Forrester [22] desenha uma litografia do lugar do Freixo ainda lembrando o Cerco do Porto, colocando um soldado deitado sob um dos frondosos freixos.

fig. 14 - Joseph James Forrester (1809-1861). J. J. Forrester, O Freixo perto ao Porto 1835. In O Artilheiro, de 4 de Março de 1836.

O passeio de Manoel Quentino de Uma Família Ingleza

E, para se ter uma ideia da paisagem desta curva do rio e do Areinho nos meados do século XIX, socorremo-nos de Júlio Diniz que em 1868, no romance Uma Família Ingleza, cria a personagem de Manoel Quentino, um meticuloso e honesto guarda-livros, que ao empreender um “passeio, com o fim de se distrahir, não hesitava na escolha do itinerario. Desde tempos immemoriaes adoptára um e nem lhe passava por o sentido modifical-o. Deixava-se conduzir por o habito n'isto, como em tudo o mais. Atravessava a cidade até á Ribeira; seguia depois, pela margem direita do rio, até Campanhã; chegando ao Esteiro, tomava pela estrada de cima, que o levava ao jardim de S. Lazaro, e emfim recolhia-se a casa. [23]


Depois de chegar à Ribeira onde descreve a chegada dos valboeiros ao cais e de fazer reflexões sobre a pescada, descreve a Serra do Pilar coroada de ruínas do convento e da sua igreja circular”, vestígios ainda do Cerco do Porto, onde se desenrolaram ferozes combates entre absolutistas e liberais.

fig. 15 – Joaquim Cardoso Villanova (1793-1850), estampa 60 
in Edifícios do Porto em 1833. Biblioteca Pública Municipal do Porto 1987.

James Holland (1799-1870), desenha uma vista da do Porto com o Convento da Serra do Pilar inserida no livro The tourist in Portugal, de William Henry Harrison, ainda com vestígios dessa batalha pela Serra do Pilar já que a

Serra do Pilar cuja bem domina
Ao Porto, se transforma em terrivel
Fortaleza… [24]


fig. 16 - James Holland (1799-1870), Vista do Porto tomada do Convento da Serra do Pilar em Gaia. 
In William Henry Harrison (1773-1841), The tourist in Portugal, Robert Jennings, 62 Cheapside London 1839.


fig. 17 - Joaquim Cardoso Villanova (1793-1850), Estampa 99 
in Edifícios do Porto em 1833. Biblioteca Pública Municipal do Porto 1987.

E este calótipo de Frederick Flower, mostra dez anos depois, como seria a vista da Serra do Pilar que a personagem de Júlio Diniz admirou.

fig. 18 - Frederick William Flower (1815-1889), Mosteiro da Serra do Pilar 1849/59.


Manoel Quentino detém-se por momentos na Fonte do Carvalhinho para beber alguns goles da sua água “porque tinha fé particular nas virtudes medicinaes d’aquella excelente água”, e continua o seu passeio. [25]


J. Bahia Júnior (?-?) na sua Dissertação Contribuição para a Hygiene do Porto de 1909 refere a Fonte do Carvalhinho como “situada entre a ponte de D. Maria e a de D. Luiz, junto do portão da Fabrica de louça do Carvalhinho.” E descreve a fonte acompanhada de uma fotografia. [26]

fig. 19 - J. Baía Fonte do Carvalhinho 1909. Fig. n." 140 — Fonte do Carvalhinho. P., Porta d'entrada para a mina que tem uma direcção perpendicular á entrada e parallela ao frontispício da fonte. In J. Bahia Júnior Contribuição para a Hygiene do Porto. Escola Medico-Cirurgica do Porto. Porto 1909.

A Fonte do Carvalhinho ficava junto ao rio e à Quinta da Fraga, a qual foi adquirida pelos jesuítas que aí construíram uma capela do Senhor dos Carvalhinhos.
A Quinta da Fraga numa fotografia de Frederick W. Flower.

fig. 20 - Frederick William Flower (1815-1889), Calçada da Corticeira e Quinta da Fraga.

A quinta foi comprada em 1840 e os novos proprietários aí instalaram em 1853, a Fábrica de Louça e Azulejo do Carvalhinho, que mais tarde (1923) se deslocou para Gaia.


fig. 21 – Publicidade da Fábrica do Carvalhinho c.1910.


fig. 22 – Eduardo Coutinho, Fachada da frente do Projecto da Fábrica de cerâmica do Carvalhinho em Vila Nova de Gaia 1922/23. Arquivo Municipal Sophia de Mello Breyner, CMVNG


O lugar visto por Cesário Augusto Pinto

Em 1848, Cesário Augusto Pinto
[27] publica um Álbum “As margens do Douro – coleção de doze vistas”, e onde apresenta três desenhos do lugar com a curva do rio e o Areinho.


fig. 23 - Cesário Augusto Pinto (1825-1895) Seminário in As margens do Douro – coleção de doze vistas, 1848. Editada na litografia de Joaquim Vitória Vilanova, com sede na Rua do Campo Pequeno, nº 1849, na cidade do Porto. Biblioteca Pública Municipal de Gaia.


Neste primeiro desenho com o título “Seminário”, uma vista realizada ao fim da tarde no Areinho, mostra na margem direita do Douro, a Quinta da China, o Seminário em ruína e ao fundo entre as duas colinas, o pano ainda hoje existente da muralha fernandina.
No Douro representado demasiado estreito, navegam dois rabelos.
No primeiro plano, o Areinho e, sob um freixo, um pescador de costas.
Mais adiante uma lavadeira com a tradicional trouxa, e no extenso areal, um carro de bois que carrega uma pipa.
Ainda na margem esquerda um renque de choupos ou álamos que lembram o poeta: “álamos de las márgenes del Duero, /conmigo vais, mi corazón os lleva!”  [28]
Ao fundo o monte da Meijoeira ou de S. Nicolau tendo por trás o antigo aqueduto que fornecia água ao mosteiro da Serra do Pilar.
fig. 24 - Cesário Augusto Pinto (1825-1895) “Perspetiva do Seminário” in “As margens do Douro – coleção de doze vistas”, 1848 foi editada na litografia de Joaquim Vitória Vilanova, com sede na Rua do Campo Pequeno, nº 1849, na cidade do Porto Biblioteca Pública Municipal de Gaia.

Neste segundo desenho “Perspetiva do Seminário”, uma ampla vista da curva do rio ao cair da tarde, vemos à esquerda a margem norte do Douro com o Seminário e mais adiante, junto à margem, a Quinta da China. Ao fundo o palácio do Freixo, por trás do qual se ergue o Monte Crasto.
Na margem sul a zona do Areinho, e o monte de Quebrantões.


Diz Júlio Dinis: “Os olhos descobrem, de um lado, o extenso areal de Quebrantões, ao qual succedem prados e leziras sempre verdes, veigas fertilissimas, arvoredos espessos e, escondidas por o meio, as risonhas casas de algumas pequenas povoações campestres; adiante as quintas da Pedra Salgada, e através do véo azulado da distancia, a aprazivel aldeia de Avintes; do outro lado o palácio do Freixo com seus torreões e balaustradas e as quintas e ribeiras de Valbom e Campanhã. E se é ao fim do dia, quando o sol doura todo o quadro, reflectindo-se afogueado nas vidraças voltadas ao occidente, e a viração da tarde enfuna as velas brancas das pequenas embarcações do logar, e o céo é azul e as aguas limpidas, a paizagem compensa bem os privados de gosar as bellezas mais celebradas por viajantes e poetas, as analogas das quaes só a nossa cegueira nos não deixa às vezes ver a dois passos da porta.” [29]

Finalmente uma vista com o título “A Pedra Salgada”, apresenta na margem esquerda do Douro o lugar da Pedra Salgada. Junto à Quinta da Torre Bela está representado um freixo (o Freixo?).

fig. 25 - Cesário Augusto Pinto (1825-1895) A Pedra Salgada in “As margens do Douro – coleção de doze vistas”, 1848 foi editada na litografia de Joaquim Vitória Vilanova, com sede na Rua do Campo Pequeno, nº 1849, na cidade do Porto Biblioteca Pública Municipal de Gaia.

O lugar no último quartel do século XIX

Na edição portuguesa do livro de Lady Jackson Fair Lusitania, traduzido e anotado por Camilo Castelo Branco e publicado em 1878, é inserida na página 300, uma gravura com o título de O Douro visto do antigo Seminário.

E na página 308 do mesmo livro pode ler-se: “Graciosa paizagem, na verdade! Estendidos pelo fundo adeante, ou trepando pelos montes arborisados que cingem este valle feliz, do lado opposto, vèem-se jardins ao redor de pequenas cazas com telhados vermelhos, prados, pomares de laranjeiras e limoeiros, campos de centeio e milho, vinhedos e olivaes. No cimo, para completar o quadro, descobre-se a aldêa d'Avintes, cujas cazas se apinham em volta da sua igreja entre o arvoredo.” [30]

fig. 26 -  O Douro Visto do Antigo Seminario in Lady Jackson (Catherine Hannah Charlotte Elliott) - Fair Lusitania [1874] – A Formosa Lusitânia, versão do inglez prefaciada e anotada por Camillo Castello Branco. Livraria Portuense Editora, 121 Rua do Almada 123, Porto 1878.

Compare-se com uma fotografia de autor não identificado (Flower?) tirada do mesmo local.

fig. 27 - Autor desconhecido. In Monumentos Desaparecidos


A mesma fotografia reproduzida no livro de Raquel Henriques da Silva sobre Aurélia de Sousa.

fig. 28 – Autor desconhecido. In Raquel Henriques da Silva, Aurélia de Sousa,
Pintura Portuguesa do século XIX, Edições Inapa, S.A. 1992.

E num postal do início do século XX.

fig. 29 – Postal. Porto- Rio Douro.


O lugar em 1892

Já nos finais do século XIX (1892), é publicada a magnífica "Carta Topográphica da Cidade do Porto", de Telles Ferreira que abrange a curva do rio, mesmo nos limites da Carta.
Apesar das muitas intervenções na marginal norte do Douro, de que se destaca a introdução do Caminho-de-Ferro, com as alterações da paisagem provocadas pela Ponte D. Maria Pia e as fábricas que então se vão instalando, ainda podemos perceber, quase na totalidade, o percurso da personagem de Júlio Dinis.



fig. 30 - Pormenor da planta de Telles Ferreira 1892 com os lugares sublinhados a vermelho.

Assim podemos ver referenciadas e cartografadas: na margem direita junto ao rio e de jusante para montante, o Monte do Seminario, a Quinta da China, o Rego Lameiro, o Esteiro de Campanhã e a Quinta do Freixo. Na margem sul, temos ao centro o Logar do Arieirinho [Areinho], à direita o Logar de Beitões [Britões] e, na extrema-direita, o Logar das Pedras Salgadas.


Correspondendo à Carta de Telles Ferreira existe esta imagem, de  F. Peixoto (?), que exibe uma visão algo naïve, mas onde está retratada a curva do rio, lembrando o texto de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão:
“…depois, de valle em valle, os lindos suburbios de Riba Douro: o choupal do Areinho, as espessas e murmurosas frescuras das quintas de Quebrantões, da Oliveira, da freguezia de Avintes; a bahia do Freixo, onde o rio tem a configuração de um pequeno lago circular dominado por um elegante palacio Luiz XV, de torreões e eirados senhoriaes, cuja elegante escadaria exterior mergulha venezianamente na agua.”
[31]


fig. 31 - F. Peixoto? Vista do Freixo a partir da Quinta da China. 57 x 77cm.189?

A luz é do meio dia. A vista é tomada a partir da Quinta da China. Dois freixos, um de cada lado, enquadram a paisagem lembrando o nome do lugar.
Do lado direito estende-se o Areinho tendo ao fundo a Quinta da Alegria.
Do lado esquerdo o Lugar do Freixo com a fábrica e o Palácio. Por trás a colina de Valbom, já povoada de diversas casas. Ao fundo surge o monte Castro.
No Douro, onde navegam três lanchas de vela latina cheias de passeantes, um valboeiro à esquerda e ao fundo junto a uma embarcação, um rabelo que não possui mastro.

No centro uma imagem de uma mulher - algo estática como se posasse para uma fotografia – parecendo uma rapariga dos arredores do Porto, com o traje tradicional de vendedora de alhos, calçando socos, vestida com uma camisa de mangas arregaçadas, um xaile amarelo cruzado no peito, um avental laranja cobrindo a saia azul, um lenço branco na cabeça e tendo nos braços um cesto de alhos.

Ramalho Ortigão descreve essas mulheres como “Mulheres bem-feitas, caminhando direitas, de cabeça alta, cintura fina solidamente torneada sobre os rins, e alegres lenços amarelos, de ramagens vermelhas, encruzados sobre a curva robusta do peito. Canastras bem tecidas, grandes como berços, cobertas de pano de algodão em listras azuis e encarnadas.” [32]

Um pouco mais adiante, no caminho de acesso à Quinta da China um casal, do qual a uma feminina traja um vestido das últimas décadas do século XIX, e o homem de costas parece manusear uma máquina fotográfica.

Vários fotógrafos na época produziam imagens sobre “Costumes do Porto” como a Casa E. Biel & C.ª de Emílio Biel (1838-1915), [33] a Photografia Guedes de Henrique António Guedes de Oliveira (1863-1932) ou a Casa Alvão de Domingos Alvão (1872-1946). Muitas destas fotografias eram reproduzidas como postais ilustrados e baseadas nas litografias de João Palhares (1819-1891). [34]


fig. 32 - Emílio Biel (1838-1915), Quebrantões. Album Phototypico de vistas e Costumes do Norte de Portugal, 1899.

fig. 33Henrique António Guedes de Oliveira (1863-1932), Mulher dos arredores do porto. Photo Guedes.AHMP.


fig. 34 - João Palhares (18189-1891), Lavadeira,mulher dos arrabaldes da cidade do Porto. 
Litho. Palhares T. da Palha 15.
In Costumes Portugueses, álbum de 60 litografias aguareladas Lisboa c.1850.

Ou essas figuras com trajes populares eram ainda tema de pintura como em Francisco José Resende.

fig. 35 – Francisco José Resende (1825-1893), Vendedora de flores 1879.
Óleo sobre madeira 33,5 x 25,5 cm. Col. particular.



O Areinho de Marques de Oliveira

 
Marques de Oliveira
[35]   vai pintar paisagens da sua cidade - o Porto – entre as quais as margens do rio Douro e o Areinho.

Como escreve o seu contemporâneo Ribeiro Arthur, nestas pinturas de “róseas paisagens, tão originaes, envolvidas n’uma bruma de sonho, cheias de um vago e indefinido sentimento” Marques de Oliveira, “sabe aproveitar da natureza o assumpto, sem d'ella tirar uma copia servil ; sabe imprimir aos seus trabalhos  o sentimento que manifesta a alma do artista e sem o qual a pintura não seria superior a uma photographia colorida…” [36]

E em outro capítulo, citando Fialho de Almeida:
“Ora o que me dizem dos quadros de Marques de Oliveira, da sensibilidade e cosmogonia psychica do paisagista? Cousas recônditas e finamente insólitas de emoção, harmonias de um symphonismo tão raro quanto inverosímil, apartes de interpretação pictural, emfim, que não existem fora do artista, mas que, observadas em globo, fazem da obra d’elle um verdadeiro tratado da alma cor de rosa na paisagem.”
[37]

fig. 36 - Marques de Oliveira (1853/1927), Areinho 1883. 
Óleo sobre madeira 34,3 x 50,3 cm. Museu Nacional de Soares dos Reis Porto.

Nesta pintura onde “…um pouco das sombras serenas /que as nuvens transportam por cima do dia!” [38] e feita aparentemente a bordo de um barco no rio, o Douro ocupa o primeiro plano da composição e a curva do rio Douro mal se advinha.
Na parte superior um céu carregado de nuvens.
No primeiro plano na margem de uma pequena colina dois barcos transportam pessoas a bordo.
Adiante estende-se a praia do Areinho, tendo por trás a outra margem onde se ergue o monte de Valbom.


Marques de Oliveira pinta uma outra paisagem do Areinho, tendo por tema central os barcos.

 
fig. 37 - Marques de Oliveira (1853/1927), O Areinho – Porto 1883.
Óleo sobre madeira 32 cm x 46 cm. Museu de Grão Vasco Viseu.

Marques de Oliveira pinta “no rio, ao pé dos choupos e dos freixos”  [39] os barcos utilizados para transporte de pessoas e de bens ou para a pesca, entre os quais os característicos valboeiros.

O Areinho de Silva Porto

O seu conterrâneo e companheiro Silva Porto  [40] pintou o talvez mais conhecido dos quadros relacionado com o Areinho.

fig. 38 - Silva Porto (1850 – 1893), No Areinho 1884.
Óleo sobre madeira 37,4 × 56 cm. Museu Nacional de Soares dos Reis.


Num enquadramento fotográfico e sob um céu uniforme, uma figura feminina em traje de passeio negro e de chapéu adornado (pensa-se ser Adelaide, a mulher do pintor), faz-se transportar num destes barcos com toldo e sem vela, conduzido por uma barqueira, “remando em pé com os seus longos re­mos, semelhantes aos das gôndolas venezianas, tão pezados, tão difficeis de manobrar!” [41]  na zona do rio Douro.

O valboeiro de toldo em primeiro plano ocupa grande parte da composição. Ao fundo outros valboeiros atracados a varas espetadas no areal.

E sobre as barqueiras, no passeio de Manoel Quentino aqui já referido, Júlio Dinis observa: “As barqueiras de Avintes aproximavam os barcos da margem para os receber; outras, ainda a grande distancia, chamavam, com toda a força d'aquelles pulmões robustos, as pessoas que vinham por terra. Cruzavam-se os barcos, movidos pelos vigorosos braços d'estas engraçadas e joviaes remeiras, e carregados com os frequentadores das diversões campestres do Areinho e da pesca do savel. Tudo era riso e cantigas no rio. Manoel Quentino via tudo isto, e escutava entretido o canto de uma barqueira, que dizia:
As riquezas d'este mundo
Para mim não tem valor:
Eu sou rica nos tens braços,
Sou rica do teu amor.
 
[42]

E também Lady Jackson
[43] observando a zona ribeirinha escreve: “Depois, a animação do Douro — grandes e pequenos navios á carga e descarga, um pequeno e elegante vapor de guerra, botes de formas variadas, o antigo barco, com as suas extremidades recurvas, o bote espaçoso construído á hollandeza com toldo, o pequeno e aceado cahique, e a gracioza vela latina passando e repassando. Todas estas embarcações navegam para baixo e para cima, a desembarcar passageiros ou a descarregar mercadorias. As mulheres também manejam o remo dextramente, e cantam emquanto vão remando. Tudo isto e muito mais se pode observar á medida que se caminha, mas o aspecto geral do primeiro lance de olhos é encantador.”
E mais adiante descrevendo esta paisagem tendo por fundo Avintes: “Faz-se ali a broa ou pão de milho, a maior parte do qual é consumido no Porto. Trazem-o para a cidade em barcos, equipados por mulheres d'Avintes, que são consideradas as belles par excellence, entre as formosíssimas d'esta parte de Portugal.” [44]


O Areinho de Aurélia de Souza

Manoel Quentino, a personagem de Júlio Dinis, prosseguindo o seu costumado passeio, “chegou á quinta chamada da China, — um dos passeios favoritos das classes populares portuenses. Desciam a rampa, que antecede o portão, alguns bandos de gente do povo, rindo, cantando, em plena festa; iam em direcção ao rio.”
[45]

fig. 39 - Panorâmica sobre a Quinta da China e a zona do Areinho de Oliveira do Douro. AHMP.


Nesta Quinta chamada da China, “com uma rasgada janella sobre o Douro”  [46] viveu desde 1869, Aurélia de Souza [47], precisamente em face ao Areinho, onde pintou esta curva do rio “em lonjuras de água, areal e linha azulada de colinas, sob céus cinzentos.” [48]

fig. 40 - Teófilo Rego (1914 – 1993), Quinta da China, Campanhã, 1969, fotografia 9 x 12 cm. 
Arquivo Histórico Municipal do Porto. AHMP.


E se muitos retrataram o sítio, Aurélia de Souza da sua varanda da Quinta da China, aberta ao Areinho e ao mundo, não só o pintou como intensamente o viveu, fazendo dele o lugar, o lugar habitado do seu quotidiano.

fig. 41 – Aurélia de Sousa, Vista do Douro, s/d, óleo s/tela 23 x 39,5 cm. Col. Particular.

Na varanda sobre o Douro Aurélia de Sousa pinta, sob uma luz forte do fim de uma manhã solarenga, um vaso de gerânios,

“…three
geraniums outside a window, trying to be
red and trying to be pink and trying to be
geraniums…” [49]

fig. 42 -  Aurélia de Souza (1866 -1921), Na Varanda, s/d, s/a. 
Óleo sobre tela 135 x 80 cm. Colecção SOSS, Porto.

Através das grades da varanda, entrevê-se um tranquilo Douro onde repousam dois barcos. Ao fundo o olhar abre-se para a paisagem da margem do rio até Avintes.


Numa outra pintura Aurélia de Sousa, “os olhos pousados nas últimas rosas /dos grandes e calmos dias de setembro” 
[50], pintou um quadro do Areinho numa visão mais alegre e primaveril.

fig. 43 - Aurélia de Souza (1866 -1921), Balaustrada da Quinta da China. s/d.
Óleo sobre cartão - 37,4 x 57,8 cm. Casa Museu Marta Ortigão Sampaio Câmara Municipal do Porto.

Sob uma luz de final da manhã, na balaustrada da casa, que forma uma diagonal dando algum dinamismo à composição, estão pousados vasos de rosas através dos quais se vê o Areinho.
Ao fundo à esquerda, o lugar do Freixo, onde se advinham o Palácio e as instalações fabris, tendo por detrás o monte Castro.

Existem outras pinturas de Aurélia de Sousa onde o Areinho é pintado a partir da sua casa na Quinta da China, de uma forma mais realista e convencional.

fig. 44 - Aurélia de Souza, Vista do Douro, s/d Col. particular.

Duas extraordinárias pinturas de Aurélia de Sousa

Duas excepcionais paisagens do Areinho visto da varanda da Quinta da China, melhor traduzem esse intenso amor de Aurélia pelo (seu) lugar, e a modernidade da sua pintura pela forma como trata a curva do rio Douro.

fig. 45 - Aurélia de Souza (1866 -1921), Margens do Douro 1903/07. 
Óleo sobre tela 66,5 x 80,5 cm. Fundação Casa de Bragança / Paço Ducal de Vila Viçosa.

Neste belo quadro, Margens do Douro, pintado “quando a frágil alegria do olhar quebra na sombra/o seu azul, o seu aroma”  [51] Aurélia de Sousa realiza uma composição em tons azulados e dourados, de um modo que, segundo José Augusto França, lembra o impressionismo de Claude Monet [52] .

Aurélia de Sousa pinta o rio com …as neblinas do Douro esbatendo no vapor aquático, polvilhado de sol, o risonho contorno do casario e das montanhas.” [53]

Numa outra excepcional pintura, que José Augusto França refere admitindo ser “inspirada pela arte de Turner
[54] que a pintora vira em Londres”, a artista pinta uma visão surpreendentemente moderna, se a compararmos com a pintura portuguesa da época.
O quadro pintado em vibrantes tons de azul e dourado, com uma matinal “luz acidulada a prumo, [55] reflectindo-se num rio carregado de neblinas e onde se advinham barcos.
O monte Castro ergue-se, poderoso, ao fundo

De onde é quase horizonte
Sobe uma névoa ligeira
e afaga o pequeno monte
que para na dianteira,… [56]

fig. 46 -  Aurélia de Souza, Paisagem (Rio Douro). 
Óleo s/tela 44,5 x 53,5 cm., s/d, Coleção Fundação Casa de Bragança.


O Areinho e a industrialização

Entretanto a partir das primeiras décadas do século XX, os pintores do Porto foram perdendo o interesse por estas paisagens românticas.
Apresenta-se apenas dois quadros do Areinho. Um de Armando Basto [57] de 1917 e outro sem data, de Eduardo Viana. [58]

fig. 47 - Armando Basto (1889-1923), O Douro no Areinho 1917.
 Óleo s/cartão 32.6 × 23.5 cm. Centro de Arte Moderna Fundação Calouste Gulbenkian.

Nesta composição de Armando Basto o lugar da curva do rio é tratado em largas manchas de cor, em que o contorno desaparece, provocando uma organização plástica do espaço.
No entanto podem ser observadas a morfologia do local e referenciados os elementos que o constituem: a Quinta da China à esquerda em primeiro plano, a mancha arenosa do Areinho com a Quinta da Alegria, a margem direita do Douro onde se reconhece o lugar do Freixo, a povoação de Valbom e, ao fundo, o Monte Castro.

fig. 48 -  Eduardo Viana (1881-1967), óleo 26,5 x 35 cm. Col. particular.

O quadro de Eduardo Viana, “alaranjado pela primeira resplandecência do sol-nascente” [59]  destaca em primeiro plano junto à margem do Douro e pintadas em tons vivos de amarelo, vermelho e laranja, duas casas e a fábrica Carvalhinho com as suas altas chaminés que verticalizam o espaço e marcam a escala da composição. (Ver a Fábrica do Carvalhinho no lado direito da figura 42)
O quadro destaca com esta instalação fabril o avanço da industrialização sobre a bucólica paisagem de um tranquilo rio Douro pintado em complementares tons de verde e azul e onde navegam tranquilos dois barcos rabelos por entre aquelas superficiais neblinas que o frequentam.
Ao fundo ocupando a quase totalidade da parte superior da composição o Areinho e a colina da curva do rio.

O panorama desta curva do rio é agora tema de postais e fotografias.

Um curioso postal “Recordação de Porto”, impresso em Zurique, mostra o avanço da industrialização sobre o romântico lugar dessa curva do Douro.

fig. 49 – Recordação do Porto. Ponte D. Maria Pia. Künzil fréres, Zurich.

Uma figura masculina em primeiro plano enverga uma croça ou coroça (e não carniça), de colete, chapéu e calçando tamancos, muito semelhante a um postal da época.

fig. 50 – Postal. Costumes Portuguezes. Maio.

A figura é retratada por José Leite de Vasconcellos, na sua Etnografia Portuguesa.

fig. 51 – José Leite de Vasconcellos (1858-1941), Etnografia Portuguesa, Livro III.
Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Lisboa. 1933-1988.

O postal suíço apresenta, contudo, uma paisagem do Douro visto de Gaia, com o caminho de ferro e a ponte D. Maria Pia e no lado do Porto o Seminário.
Mas mostra ainda junto ao Douro duas fábricas (Carvalhinho e Massarelos), com as suas altas e fumegantes chaminés. Ao fundo a curva do rio.

A Fábrica do Carvalhinho com as suas chaminés, à direita num postal do início do século XX.

fig. 52 – Postal. Vista da ponte D. Maria.

O Areinho e a construção da ponte D. Maria.

A construção da ponte Maria Pia por Gustav Eiffell (1832-1923) e Théophile Seyrig (1843-1923), marca em 1877, a ligação do caminho de ferro entre o Norte e o Sul, entre as cidades do Porto e de Lisboa.
E torna-se (com o Palácio de Cristal e a ponte Luís I) um símbolo internacional do Porto como cidade moderna, industrializada e que se queria como cidade do progresso.

Com a chegada do Caminho de Ferro às Devezas (Vila Nova de Gaia) em 1864, “Parece certo abrir-se em breve o caminho-de-ferro até ao Porto: em tal caso, com permissão de V. Ex.ª, ahi irei e o meu rapaz a pedirmos-lhe alguns dias de hospitalidade.” [60], e com a construção da linha do Norte, impunha-se o atravessamento do Douro por uma ponte ferroviária.
Depois de um longo processo de fixação do local desse atravessamento, em 1875 é aprovado pelo Governo o caderno de encargos da construção da ponte, que permitiu lançar um concurso internacional.
Ao concurso apresentaram-se 4 empresas, tendo sido escolhida  a empresa G. Eiffel et Compagnie cujo projecto é aprovado pelo Governo em 1876.
A ponte foi inaugurada em 4 de Novembro de 1877.

Em 1878 em As Farpas” de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, a propósito da ausência da Câmara do Porto na inauguração da ponte D. Maria, os autores descrevem o panorama da cidade visto do rio.

 “…A cidade fronteira desdobrava aos nossos olhos todos os seus encantos topographicos, desde a Foz, envolta na sua athmosphera maritima, salgada e humida, até os montes longínquos do lado opposto, levemente esfumados no horisonte sob as douradas pulverisações do sol. Viamos a ridente collina de Villar coberta de verdura e coroada pelo Palacio de cristal; os copados bosques do Candal e de Valle de Amores; o caes da Ribeira com a sua arcaria denegrida e o seu pittoresco mercado de velhas barracas alpendradas brunidas pelo sol;  a ingreme ladeira da Corticeira; o parque das Fontainhas; a casaria emassada das freguezias da Sé e do Bomfim, com os seus predios esguios, terminando quase em pignon como na Hollanda: uns bem aprumados, tesos, vidrosos, reluzentes, forrados de faiança, outros barrigudos, sombrios enodoados, fazendo fincapé para não cambalearem como ebrios taciturnos; outros, ainda, pintados de branco, pintados de azul, pintados de côr de rosa, com chaminés bordadas e claras-boias phantasistas rematadas por trabalhosas ventoinhas, jocundos, satisfeitos de si, rindo pelas sacadas abertas ornadas de craveiros e de alecrins; depois, de valle em valle, os lindos suburbios de Riba Douro: o choupal do Areinho, as espessas e murmurosas frescuras das quintas de Quebrantões, da Oliveira, da freguezia de Avintes; a bahia do Freixo, onde o rio tem a configuração de um pequeno lago circular dominado por um elegante palacio Luiz XV, de torreões e eirados senhoriaes, cuja elegante escadaria exterior mergulha venezianamente na agua." [61]

E são estes autores que sublinham aquilo que a ponte representa como progresso e o impacto democrático e moderno que tem na população do Porto:

“…A ponte sobre o Douro symbolisa uma d'essas conquistas, uma d'essas victorias, um d'esses triumphos: — a conquista de perto de meio seculo de paz; a victoria, proporcional a esse periodo, da intelligencia do homem sobre as fatalidades da natureza, o triumpho finalmente do destino progressivo do nosso espirito sobre a immobilidade das nossas instituições.
Ha cerca de quarenta annos apenas, ex.'ma camara, essas duas montanhas estreitamente enlaçadas agora por um abraço de ferro, eram separadas por um rio vermelho de sangue. Nos mesmos logares onde nós agora nos reunimos para regar o solo com o champagne das egapes modernas, os nossos paes e os nossos avós espingardeavam-se convictamente, decidindo com o sacrificio das suas vidas a questão de palacio a esse tempo debatida entre dois principes.
A guerra com tal fundamento seria hoje insustentavel. É evidente que progredimos, e o facto de irmos ao Porto, desinteressadamente, aos milhares, celebrar um facto industrial, significa a mais eloquente affirmação d'esse progresso.
A cidade do Porto que por muitas vezes tem recebido a visita dos seus principes, dos seus reis, dos seus generaes, dos seus mandões de toda a especie, teve pela primeira vez n'esse dia a visita do povo…” [62]

fig. 53 – Joseph Legrand (?-?), Inauguração da ponte D. Maria Novembro de 1877.

 
A ponte Maria Pia é então sobretudo retratada vista de poente, o que acentua o contraste entre a sua filigrana de ferro com a paisagem bucólica e romântica do Areinho.

fig. 54 - Oporto-Puente de hierro denominado “Don Fernando”, sobre il Duero inaugurado por S. M. El rey D. Luis I, el 4 del actual. – (De un dibujo remitido por D. Laureano Fernandez) In La Ilustracion Española y Americana, Ano XXI, n.º XLIV de 30 Novembro de 1877. BNE. 

E num postal do início do século XX o túnel de acesso à ponte Maria Pia, onde circula um comboio, tendo ao fundo o Areinho de Oliveira do Douro.

fig. 55 – Postal. Porto - Ponte D. Maria Pia.

E um outro postal mostrando o mesmo panorama visto de uma cota superior.

fig. 56 – Postal. Porto – Ponte Maria Pia sobre o Rio Douro.

A ponte Maria Pia vista a partir do Areinho.

A ponte ferroviária vista a partir do Areinho marca, para quem desce o rio, a entrada na cidade, a passagem do mundo rural para o mundo urbano.

Na gravura publicada no jornal O Occidente note-se os valboeiros ancorados e as varas espetadas no areal para a amarração das embarcações.

fig. 57 – João Ribeiro Cristino da Silva (1858 - 1948) desenhou e José Augusto de Oliveira gravou. Gravura, a partir de fotografia de Emílio Biel, O Occidente n.º 419 de 11 de Agosto de 1890.

Semelhante ponto de vista é captado pela objectiva de Domingos Alvão.

fig. 58 – Domingos Alvão, Ponte de D. Maria. In Fotografia Alvão, Clichés do Porto 1902-2002. Ed. Fotografia Alvão 2002.

O Areinho local de recreio e de pesca

O Areinho era, na esquina dos séculos XIX e XX, um local privilegiado para embarque em passeios no rio e para desportos náuticos.

O postal da Estrela Vermelha de cerca de 1905, intitulado Regata no rio Douro, mostra uma razoável quantidade de barcos navegando no rio, um dos quais é já a vapor.
Ao fundo na margem direita, rodeando o Palácio do Freixo, as fábricas de Cerâmica de Massarelos, Harmonia e de Sabões com as suas chaminés.

 fig. 59 – Postal. Porto – Regata no rio Douro. Estrela vermelha c.1905.


 fig. 60 - Alberto Marçal Brandão (1848-1919), Preparados para partir na praia do Areinho. Centro Português de Fotografia.

E para além dos passeios e das regatas o local era ainda ponto de partida para a pesca do sável. Note-se as chaminés e as fábricas ao longo da margem direita.

fig. 61 – Postal. Costumes Portuguezes – Porto – Areinho – Pesca do Savel. AHMP.


fig. 62 – Postal. Porto -  Ponte D. Maria Pia. Arnaldo Soares


fig. 63 - Postal. Pesca do Sabel. Areinho. Repositório Temático da Universidade do Porto. (modificado).



Três momentos da paisagem

 Um panorama da curva do rio e do Areinho no início do século XX.

fig. 64 – Postal. Porto- Ponte Maria Pia e Areinho. Postal colorido c.1900.
Editor: Alberto Ferreira Impressor: [Papelaria e Tipografia Académica], AHMP.


Um postal de meados do século XX.

fig. 65 – A ponte Maria Pia no início dos anos 70 do século XX.

O lugar na actualidade.

fig. 66 - Fotografia actual. C. M. de Vila Nova de Gaia.



Por isso, podemos hoje dizer com Pablo Neruda que:

Y pasa el río
bajo los nuevos puentes
cantando con la historia
palabras puras
que llenarán la tierra
. [63]






Anexo. O texto de Júlio Dinis em Uma Família Ingleza

(...) Sempre que Manoel Quentino emprehendia um passeio, com o fim de se distrahir, não hesitava na escolha do itinerario. Desde tempos immemoriaes adoptára um e nem lhe passava por o sentido modifical-o. Deixava-se conduzir por o habito n'isto, como em tudo o mais. Atravessava a cidade até á Ribeira; seguia depois, pela margem direita do rio, até Campanhã; chegando ao Esteiro, tomava pela estrada de cima, que o levava ao jardim de S. Lazaro, e emfim recolhia-se a casa. Foi o que fez n'aquella tarde. A cidade atravessou-a lidando ainda com o pensamento de tristeza, com que saíra de casa. A primeira diversão operou-a só a vista do mercado de peixe, na Ribeira. As lanchas valboeiras tinham, n'aquelle instante, chegado ao caes. As regateiras, os compradores particulares e os pescadores que vendiam, animavam o mercado com movimento e vozeria. Este espectaculo, cheio de vida commercial, não achou indifferente Manoel Quentino. Agradava-lhe aquelle trafego; examinava com olhos conhecedores a excellencia do peixe, e informava-se curioso dos preços que regulavam o mercado. Ao saír d'alli, ia pensando: —Não ha nada para arranjo domestico, como a pescada. É o peixe mais innocente que ha. Com razão lhe chamam a gallínha do mar. Ahi está a sardinha, que é gostosa; mas é mais doentia tambem. Que a sardinha de Espinho ainda não tanto, mas esta da barra!… D'onde virá a differença?… Pois não será toda ella o mesmo peixe?… Só se é da praia aqui ser mais pedregosa e o peixe saír mais batido… Que esta costa da Foz sempre é muito cheia de pedras!… Só o perigo que correm as embarcações aqui!… Ainda no outro dia, aquella grande desgraça dos oito pescadores que naufragaram!… Muita pena teve Cecilia, quando as folhas contaram de um que deixou uma creancinha orphã! Pobre Cecilia!… tem um coração!… Coitada!… É um anjo… Assim que me lembro d'aquella tristeza em que anda… E ahi estava a ideia fixa com elle! Parece que ella propria fora a que dispozera esta fileira de ideias associadas, para conduzir a si o pensamento.
A impressão produzida pelo mercado desvanecera-se de todo; Manoel Quentino proseguiu no passeio, já outra vez melancolico. Mais adiante, tendo passado a ultima casa, que lhe tolhia a vista do rio e a da margem opposta, volveu naturalmente os olhos para o vulto escalvado e sombrio da Serra do Pilar, coroada pelo seu convento em ruinas e a sua igreja circular. Os tristes vestigios das guerras civis estão ainda n'aquelle logar muito evidentes, para que a lembrança d'ellas não acuda subita ao espirito de quem quer que o contemple por momentos. Manoel Quentino, como quasi todos os portuenses da sua idade, havia sido mais do que simples espectador das scenas tragicas d'essas memoraveis épocas. —Ha vinte e tantos annos—pensava elle—não havia, a estas horas, tanto socego, por aquelles sitios, não. Nem tambem estes passeios pela beira do rio eram tanto de appetecer como agora. Havia mais perigos, do que o dos nevoeiros do Douro. A fallar a verdade sempre era um tempo aquelle!… O que eu passei!… Parece-me que ainda foi o outro dia, e já lá vão vinte e tantos annos!… Oh! mas que alegria tambem, quando se abriram as linhas!… N'esse tempo era ainda a mãe de Cecilia uma creança. Só quatro annos depois é que eu principiei a pensar n'ella …  Pobre rapariga! …  Parece-me que ainda a estou a ver! … delgadinha, desmaiada, boa para todos, mas trabalhadeira ao mesmo tempo …  É por isso que receio…  Valha-me Deus! assim que me lembro da tristeza da pequena!… E da Serra do Pilar e do tempo do Cerco conseguira aquella ideia dominante achar caminho para se lhe insinuar de novo no pensamento. E, o que mais é, parece que cada vez trazia comsigo maior cortejo de sinistros pressagios.
Ao chegar á fonte do Carvalhinho, subiu uns degraus de pedra que alli ha, e bebeu, mesmo do caneiro, alguns goles de agua; cousa que nunca se esquecia de fazer, porque tinha fé particular nas virtudes medicinaes d'aquella excellente agua.
— Ah! — dizia elle outra vez distrahido — Consola beber uma agua assim! Para aguas o Porto! Dizem que em Lisboa são más as aguas! Pois é das cousas mais precisas para a saude. É verdade que eu vejo por aqui tambem muitas doenças, apesar das aguas boas. E sobretudo a gente nova está saíndo tão franzina e tão fraca, que é uma cousa por maior! E o medo, que eu tenho, quando reparo em Cecilia! É tão delicada, tão… E ahi estava outra vez assombrado para grande espaço de tempo.
Chegou á quinta chamada da China,—um dos passeios favoritos das classes populares portuenses. Desciam a rampa, que antecede o portão, alguns bandos de gente do povo, rindo, cantando, em plena festa; iam em direcção ao rio. As barqueiras de Avintes aproximavam os barcos da margem para os receber; outras, ainda a grande distancia, chamavam, com toda a força d'aquelles pulmões robustos, as pessoas que vinham por terra. Cruzavam-se os barcos, movidos pelos vigorosos braços d'estas engraçadas e joviaes remeiras, e carregados com os frequentadores das diversões campestres do Areinho e da pesca do savel. Tudo era riso e cantigas no rio. Manoel Quentino via tudo isto, e escutava entretido o canto de uma barqueira, que dizia:
  As riquezas d'este mundo
  Para mim não tem valor:
  Eu sou rica nos tens braços,
  Sou rica do teu amor.
E elle pôz-se a pensar: —Como esta pobre gente vive satisfeita n'esta vida trabalhosa do rio!… Ao vento, á chuva, e sabe Deus o que tem em casa para comer! E é um gosto como ellas cantam e riem!… Raparigas de quinze e dezeseis annos consola vel-as já mover aquelles remos, que esfalfariam um homem, como eu. Não ha como estes ares e esta vida do campo, para fazer as pessoas robustas. Se eu adivinhasse que Cecilia aproveitaria com elles!… E retomava o pensamento a posição de equilibrio estavel, de que por instantes se desviára.
Chegou ao ponto da margem, chamado Rego Lameiro. Ahi opéra o Douro uma das suas subitas e surprendentes transformações. Expiram as collinas fronteiras de uma e outra margem, interrompidas por um valle deliciosissimo, onde a vegetação é mais abundante, mais povoadas as verduras, e onde se encorporam em riachos as aguas escoadas dos proximos declives. Apreciam-se tão raros intervallos, em que o Douro, o severo Douro, sorri, como se aprecia um raio de alegria em rosto habitualmente carregado.
N'este sitio alarga-se o leito das aguas, diminue portanto a força da corrente d'ellas, chegando, nas marés baixas, a permittir a formação de pequenos ilhotes de areia, para onde vão brincar as creanças dos pescadores. A tortuosidade das margens, furtando á vista o seguimento do rio, dá a este a completa apparencia de um pequeno, mas pittoresco lago. Os olhos descobrem, de um lado, o extenso areal de Quebrantões, ao qual succedem prados e leziras sempre verdes, veigas fertilissimas, arvoredos espessos e, escondidas por o meio, as risonhas casas de algumas pequenas povoações campestres; adiante as quintas da Pedra Salgada, e através do véo azulado da distancia, a aprazivel aldeia de Avintes; do outro lado o palácio do Freixo com seus torreões e balaustradas e as quintas e ribeiras de Valbom e Campanhã. E se é ao fim do dia, quando o sol doura todo o quadro, reflectindo-se afogueado nas vidraças voltadas ao occidente, e a viração da tarde enfua as velas brancas das pequenas embarcações do logar, e o céo é azul e as aguas limpidas, a paizagem compensa bem os privados de gosar as bellezas mais celebradas por viajantes e poetas, as analogas das quaes só a nossa cegueira nos não deixa ás vezes ver a dois passos da porta.
Era aqui que Manoel Quentino se sentava sempre durante alguns minutos, sobre uma pedra solta da margem.
—Como isto é bonito!—pensava elle—É que nem ha outro passeio assim, nos arredores do Porto. E a tarde então está tão serena e socegada, que até se percebe d'aqui tudo o que se diz no Areinho. Se eu tivesse dinheiro, era onde comprava uma quinta. Chegando aos sabbados, saía do escriptorio e mettia-me n'um barco… ou a pé mesmo… A final é um passeio… É verdade que se viesse Cecilia, sempre era longe. Ainda que ella não se cansa… Não se cansa?… não se cansava… agora…
E a ideia negra, aquella pertinaz ideia negra, a tomar outra vez posse de Manoel Quentino! e, com o ir adiantando-se a tarde, parecia cada vez mais negra, como se as sombras crescessem para ella tambem!
D'ahi em diante, não se modificou o processo das cogitações do velho.
Uma fabrica de cortumes, umas creanças, a quem deu esmola, uns armazens, tudo quanto viu, após varias oscillações do pensamento, faziam caír Manoel Quentino na preoccupacão anterior.
De maneira que o passeio, aquelle passeio que o devia distrahir, antes lhe exacerbou o mal, que o atribulava. Subia elle já a íngreme costeira, que leva do Esteiro de Campanhã até o sitio do Padrão. A tarde arrefecera subitamente. (...)

Júlio Diniz (Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839-1871), Uma Família Ingleza, Scenas da Vida do Porto, Terceira edição Porto, Em casa de A. R. da Cruz Coutinho, Editor 18—Rua dos Caldeireiros—20, 1875. (páginas 201 a 205)







[1] Jorge Luis Borges (1899-1986) arte poética in el hacedor 1960, Alianza Editorial Madrid 2003. Tradução: Olhar o rio feito de tempo e água / E recordar que o tempo é outro rio. / Saber que nos perdemos como o rio / E que os rostos passam como a água.
[2] Visconde de Villa Maior (Júlio Máximo de Oliveira Pimentel 18091884), O Douro Illustrado, album do Rio Douro e paiz vinhateiro. Livraria Universal Magalhães & Moniz – Editores Largo dos Loyos, 12 a 14, Porto 1876. (pág.156).
[3] Antonio Machado (Antonio Cipriano José María y Francisco de Santa Ana Machado Ruiz, 1875-1939) IX Orillas del Duero in Soledades, Galerías y Otros Poemas, 1907, segunda edicion, Coleccion Universal Madrid-Barcelona, MCMXIX. (pág. 18). Tradução: O Douro corre, suave e mudo, mansamente.
[4] António Cabral (1931-2007), Ode ao Rio Douro in Poemas Durienses, Opera Omnia,Guimarães 2017. (pág.17).
[5] Fernando Pessoa (1888-1935), Cancioneiro [160] 11-9-1933, in Fernando Pessoa, Obra Poética, Volume Único. Companhia Aguilar Editora, 2.ª edição. Rio de Janeiro 1965. (pág. 171)
[6] Aluno da Escola de Belas Artes de Lisboa e das Escola Industriais do Príncipe Real, Rodrigues Sampaio e Machado de Castro, estudou modelo vivo no Grémio Artístico e na Sociedade Nacional de Belas Artes.
Em 1897 foi admitido no atelier de desenho industrial que Roque Gameiro dirigia na Companhia Nacional Editora. Deixou o atelier em 1903 e entrou para a Ilustração Portuguesa, a revista semanal do jornal diário de Lisboa O Século, a convite do seu director, Silva Graça. Pouco tempo ficou na revista, passando a ilustrar para publicações como os jornais Mundo, Novidades, A Capital, República, entre outras. Colaborou também para publicações estrangeiras como o L'Illustration e o Illustrated London News.
Aguarelista expôs pela primeira vez em 1901, no Grémio Artístico. Em 1911 concorreu a uma exposição realizada em Madrid e em 1913 teve a sua primeira exposição individual, na redacção de A Capital, passando no começo dos anos 20 a expor regularmente.
Em 1914 foi nomeado conservador artístico na Inspecção das Bibliotecas e Arquivos Nacionais.
Em 1931 participou na Exposição Colonial de Paris com um conjunto de aguarelas dos monumentos portugueses em Marrocos. Dedicou-se também à ilustração de livros, tendo organizado muitas das obras da Enciclopédia pela Imagem.
[7] Maria Angelina e Raúl Brandão (1867-1930), Portugal pequenino, 1929. edição Seara Nova 1930. Edição ilustrada por Carlos Carneiro (1900-1971) e José Tagarro (1901- 1931). Nova edição Portugal Pequenino. Coimbra: Atlântida, 1970.
[8] Armando Matos, o Barco rabelo, ed. da Junta Provincial de Etnografia e História do Douro Litoral, Porto 1940. (pág.66).
[9] Armando Matos, o Barco rabelo, ed. da Junta Provincial de Etnografia e História do Douro Litoral, Porto 1940. (pág.59).
[10] Júlio Diniz (Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839-1871), Uma Família Ingleza, Scenas da Vida do Porto, Terceira edição Porto, Em casa de A. R. da Cruz Coutinho, Editor 18—Rua dos Caldeireiros—20, 1875. (pág.204).
[11] Paulino António Cabral de Vasconcelos (1719-1789), o conhecido poeta Abade de Jazente.
[12] Firmino Pereira, O Porto de Outros Tempos, Notas Históricas- Memórias-Recordações, Livraria Chardron de Lello & Irmão, Rua das Carmelitas 144, Porto 1914. (pág.297).
[13] Jean Pillement (1728-1808). Inicia-se como pintor em Lyon. Parte para Paris onde trabalha nas Manufacturas dos Gobelins. Em 1745 vem pela 1ª vez a Portugal. Depois viaja por Inglaterra, Itália, Áustria e Polónia onde em 1776 se torna pintor real. Torna-se em 1778 o pintor de Maria Antonieta executando as pinturas do Petit Trianon. Em 1780 regressa a Portugal e instala-se no Porto na Porta do Olival. Cyrillo Wolkmar Machado (1748-1823) escreve: “Costumou-se a viajar, e esteve três vezes em Lisboa: a 1ª antes do terremoto de 55, a 2.ª pelos annos 1766, e a ultima 14 annos depois. Desta ultima vez demorou-se, e fez muitos, e bellos paizes, huns a pastel, (género em que se excedia), outros a óleo, e todos se acháo pelos gabinetes dos curiosos. In Colecção de Memórias Relativas às vidas dos pintores e escultores. Architectos, e gravadores portuguezes, e dos estrangeiros, que estiverão em Portugal. Recolhidas e ordenadas por Cyrillo Wolkmar Machado seguidas de notas pelos Dr. J. M. Teixeira de Carvalho e Dr. Vergílio Correia. Coimbra.1922. (pág. 168 e 169).
[14] Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), poema Barcos em Coral (1950) in Obra Poética. Assírio & Alvim Porto Editora 2015. (pág.278).
[15] Almeida Garrett (1799-1854), A Sesta, in Versos de Almeida Garrett I. Lyrica. Nova edição Em casa da Viúva Bertrand e Filhos, Lisboa 1853. (pág.55)
[16] Alberto (Augusto de Almeida) Pimentel (1849- 1925), Espelho de Portugueses, Vol. I. Parceria António Maria Pereira, Rua Augusta 50,52,54. Lisboa 1901. (pág. 137).
[17] Arthur Wellesley (1769- 1852), o futuro 1º Duque de Wellington.
[18] António Joaquim de Mesquita e Mello (1792-1884), O Porto invadido e Libertado 1815 Canto II in Poesias, Reimpressas e Ineditas de Antonio Joaquim de Mesquita e Mello, Tomo I Porto, na Typographia de Sebastião José Pereira, Praça de Santa Thereza, 28 a 30, 1860. (pág. 54 e 55).
[19] Henri L’Eveque (1769-1832). Pintor suíço que viveu alguns anos em Portugal e Espanha. Entre 1812 e 1823 instalou-se em Londres. Regressou a Genebra depois de uma passagem por Roma.
[20] General Sir John Murray (c.1768-1827). Durante a Segunda Invasão Francesa comandou a 7ª Brigada a maior do exército de Arthur Wellesley (1769- 1852), o futuro 1º Duque de Wellington.
[21] General Sir Edward Paget (1775-1849), comandou o ataque às forças francesas instaladas no Porto.
[22] Joseph James Forrester (1809-1861), Barão de Forrester.
[23] Júlio Diniz (Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839-1871), Uma Família Ingleza, Scenas da Vida do Porto, Terceira edição Porto, Em casa de A. R. da Cruz Coutinho, Editor 18—Rua dos Caldeireiros—20, 1875. (páginas 201 a 205).
[24] José Martins Rua. Pedreida Poema Heroico da Liberdade Portuense. Typographia Commercial Portuense, Rua de Bello-Monte n.º 55 Porto 1843. (pág.124).
[25] Idem.
[26] J. Bahia Júnior, Contribuição para a Hygiene do Porto. Dissertação apresentada na Escola Medico-Cirurgica do Porto. Porto 1909. (pág.79).
[27] Cesário Augusto Pinto de Araújo Cardoso de Mendonça (1825-1895). Nasceu em Lisboa mas cedo rumou a Bruxelas onde frequentou o Instituto Gaggia-Vermehr e concluiu o seu curso em 1843. Aí chegou a leccionar mas em 1846 regressou a Portugal. Em 1849, no Porto, serviu como intérprete do rei de Piemonte, Carlos Alberto. Em 1855 colaborou com o engenheiro Cousin nos estudos da linha do caminho-de-ferro de Lisboa a Sintra. Em 1856 trabalhou na construção da Vila Estefânia e na construção do caminho da madeira do Pinhal de Leiria. Em 1860 projetou e dirigiu, ao serviço da Companhia de Viação Portuense, o troço de estrada do Porto a Braga que incluía a construção da ponte pênsil da Trofa. Findos estes trabalhos, partiu para Angola onde desenvolveu alguns trabalhos de engenharia. Dessa estadia em África deixou-nos o respetivo relato no livro intitulado “Quarenta e cinco dias em Angola”, publicado no Porto em 1862. Em 1870 serviu como agrimensor e engenheiro municipal na Câmara de Guimarães. Dirigiu também as obras do porto de Viana do castelo e de reparação do convento de S. Domingos daquela cidade. Foi autor do projeto do edifício das termas de Vizela e administrador das respetivas obras, autoria que lhe valeu, em 1875, um prémio da Associação de Arquitetos Civis. Cesário Augusto Pinto faleceu em Guimarães, na sua casa sita à Rua de Camões, nº 96, com a idade de 70 anos, tendo sido sepultado no cemitério de S. João das Caldas de Vizela. Fonte: Memórias Gaienses, Sala Armando Matos, Biblioteca Pública Municipal. Vila Nova de Gaia. http://memoriasgaiensesbibliotecadegaia.blogspot.pt/2014/03/a-melhor-colecao-oitocentista-de-vistas_20.html
[28] Antonio Machado (1875-1939) A Orillas del Duero VIII in Campos de Castilla, Madrid, Renacimiento, Sociedade Anonima Editorial, Pontejos, 8. 1912.  (pág. 63). Tradução: álamos das margens do Douro, / comigo ides, o meu coração vos leva!
[29] Júlio Diniz (Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839-1871), Uma Família Ingleza, Scenas da Vida do Porto, Terceira edição Porto, Em casa de A. R. da Cruz Coutinho, Editor 18—Rua dos Caldeireiros—20, 1875. (páginas 201 a 205).
[30] Lady Jackson (Catherine Hannah Charlotte Elliott) - Fair Lusitania [1874] – A Formosa Lusitânia, versão do inglez prefaciada e anotada por Camillo Castello Branco Livraria Portuense Editora 121 Rua do Almada 123, Porto 1878. (pág. 300 e 308).
[31] Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão - “À Ex.ª Camara Municipal do Porto ou a quem suas vezes fizer” in As Farpas - III série - Tomo I - Janeiro 1878 – Typographia Universal – Lisboa 1878.
[32]  (José Duarte) Ramalho Ortigão (1836-1915), O Porto Julho de 1883 in As Farpas I décimo Volume pag.86 Círculo dos Leitores 1988. (pág.88).
[33] Emílio Biel, Album Phototypico de vistas e Costumes do Norte de Portugal,
[34] João Palhares (18189-1891), Costumes Portugueses, álbum de 60 litografias aguareladas Lisboa c.1850.
[35] Marques de Oliveira (João Joaquim Marques da Silva Oliveira 1853-1927) frequentou a Academia Portuense de Belas Artes. Entre 1866 e 1869 expôs os primeiros trabalhos na 9ª e 10ª Exposição Trienal da Academia Portuense de Belas Artes. Em 1873, parte para Paris onde frequenta a Escola de Belas Artes e contacta com o naturalismo da Escola de Barbizon. De regresso passa a expor regularmente nas exposições do Centro Artístico Portuense e da Academia de Belas-Artes do Porto e exporá em Lisboa na Sociedade Promotora e no Grémio Artístico e a partir do início do século XX  na Sociedade Nacional de Belas-Artes. Director da Academia de Belas Artes do Porto até à implantação da República, quando é substituído pelo arquitecto José Marques da Silva (1869-1947), assume  em 1913 o cargo de director do então criado Museu Soares dos Reis então em S. Lázaro. Em 1926 abandona a docência na Escola de Belas Artes, vindo a falecer em 1927.
[36] Ribeiro Arthur (Bartolomeu Sezinando Ribeiro Arthur 1851-1910), Arte e Artistas Contemporâneos, Illustrações Casanova & Ramalho, prefácio de Fialho de Almeida, Lisboa, Livraria Ferin 1896. (pág. 321).
[37] Idem. (pág. 103).
[38] Cecília (Benevides de Carvalho) Meireles (1901-1964) Murmúrio in Viagem (1929-1937) in Poesia Completa, Companhia Aguilar Editora Rio de Janeiro 1994.
[39] Cesário Verde O Livro de Cesário Verde, Em Petiz II Os Irmãosinhos Lisboa Typographia Elzevirana Rua do Instituto Industrial, 23 a 31, 1887. (pág.73)
[40] António Carvalho da Silva Porto (1850 – 1893). Nascido na freguesia da Sé, na cidade do Porto, acrescentou o apelido Porto ao seu nome numa homenagem à sua cidade natal. Em 1865, matriculou-se na Academia Portuense de Belas Artes. Em 1873, parte para Paris como bolseiro, com João Marques de Oliveira, onde frequentam a École de Beaux Arts. De regresso a Portugal em 1879, é convidado para reger a cadeira de Paisagem, na Academia de Belas Artes de Lisboa, e torna-se um dos dinamizadores do grupo do Leão. Em 1885, quando Columbano pinta o "Grupo de Leão" O Correio da Manhã de 20 de Abril descreveu Silva Porto da seguinte forma: "O Cristo daquela ceia chocarreira não sorri, e parece longe (...) imerso na doce melancolia poética que ninguém lhe arranca, e com o espírito flutuando em mundo cor de safira e luar!". (Antigos Estudantes da Universidade do Porto. www.sigarra.up .pt). E Fialho d’Almeida descreve-o como: “Discreto, pequenino, o ar d’ hum Christo que tivesse pedido feriado na ceia dos apostolos.” Silva Porto irá participar em todas as exposições do Grupo do Leão e do Grémio Artístico, sem deixar de participar nas exposições realizadas no Ateneu Comercial do Porto, até à sua prematura morte em 1893.
[41] Ramalho Ortigão - Jonh Bull Depoimento de uma testemunha da vida e da civilização ingleza. Livraria Internacional de Ernesto Chardron. Lugan & Genelioux, Sucessores. Porto. 1887. (pág.51).
[42] Júlio Diniz (Joaquim Guilherme Gomes Coelho), Uma Família Ingleza, Scenas da Vida do Porto, Terceira edição Porto, Em casa de A. R. da Cruz Coutinho, Editor 18—Rua dos Caldeireiros—20, 1875. (páginas 201 a 205).
[43] Lady Jackson (Catherine Hannah Charlotte Elliott) - Fair Lusitania [1874] – A Formosa Lusitânia, versão do inglez prefaciada e anotada por Camillo Castello Branco Livraria Portuense Editora 121 Rua do Almada 123, Porto 1878. (pág.299).
[44] Idem pág.309.
[45] Júlio Diniz (Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839-1871),Uma Família Ingleza, Scenas da Vida do Porto, Terceira edição Porto, Em casa de A. R. da Cruz Coutinho, Editor 18—Rua dos Caldeireiros—20, 1875. (páginas 201 a 205).
[46] Camillo Castelo Branco (1825-1890), A brazileira de Prazins : scenas do Minho, Porto , Ernesto Chardron - Editor, 1882. (pág.221).
[47] Maria Aurélia Martins de Souza (1866 -1921). Entre 1893 e 1898, com a sua irmã Sofia de Souza (1870-1960), frequentou a academia Portuense de Belas Artes, cujo curso não chegou a completar. Ainda como estudante participou em diversas exposições quer promovidas pela Academia quer pelo Ateneu Comercial do Porto. Em 1899, parte para Paris onde frequenta a Academia Julien, e onde a sua irmã Sofia a vem acompanhar em 1900. Em 1902, antes do regresso a Portugal, as duas irmãs dedicaram-se a viajar pela Europa, visitando a Bélgica, a Alemanha, a Itália e a Espanha. Participa de 1909 a 1921 nas exposições da Sociedade de Belas-Artes do Porto, nas Galerias da Misericórdia do Palácio de Cristal no Porto, e da Sociedade Nacional de Belas-Artes de Lisboa.
[48] José Augusto França (1922), História da Arte em Portugal, O Pombalismo e o Romantismo, Editorial Presença Lisboa 2004.
[49] Henry Charles Bukowski (1920-1994) Something For The Touts, The Nuns The Grocery Clerks, And You . . . in The Pleasures of the Damned, Poems 1951-1993, Edited by John Martin, HarperCollins Publishers, N.Y. 2008. Tradução: ...Três / geraniums de fora de uma janela, tentando ser/ vermelhos e tentando ser/ cor-de-rosa e tentando ser /geraniums…
[50] Eugénio de Andrade (1923-2005), Pequena Elegia de Setembro in Coração do Dia (1958). In Eugénio de Andrade Poesia. Assírio & Alvim, Porto Editora 2017. (pág. 98).
[51] Eugénio de Andrade, “Também, também o pulso” de “Contra A Obscuridade” (1988). In Eugénio de Andrade Poesia. Assírio & Alvim, Porto Editora 2017. (pág.411).
[52] (Oscar) Claude Monet (1840-1926) o mais conhecido dos Impressionistas sendo um dos seus quadros “Impression: Soleil Levant” de 1874 que provocou o nascimento do movimento.
[53] (José Duarte) Ramalho Ortigão (1836-1915), O Porto Julho de 1883 in As Farpas I décimo Volume pag.88 Círculo dos Leitores 1988. (pág.88).
[54] Joseph Mallord William Turner (1775-1851), pintor do período romântico foi considerado um percursor do Impressionismo e da pintura moderna.
[55] Eugénio de Andrade, “Conhecias o verão pelo cheiro” poema 7 de “Matéria Solar” (1980). In Eugénio de Andrade Poesia. Assírio & Alvim, Porto Editora 2017. (pág.329).

[56] Fernando Pessoa (1888-1935), Cancioneiro poema [128] 4-3-1931, in Fernando Pessoa, Obra Poética, Volume Único, Rio de Janeiro, GB, Companhia Aguilar Editora, 2.ª edição,1965. (pág.157).
[57] Armando Basto (Armando Pereira Bastos de Loureiro, 1889-1923). Frequentou a Academia Portuense de Belas Artes entre os anos de 1903 e 1910. Em 1910 viajou para Paris por formar a completar os seus estudos, onde frequenta a Cité Falguière, de Montparnasse, expõe no Salon des Humoristes, no Palais de Glace. É também neste período que a tuberculose, que o viria a vitimar, se manifesta obrigando à sua hospitalização em 1914.Em 1915 regressou a Portugal, participa na primeira Exposição de Humoristas no Jardim Passos Manuel Porto) e na de Modernistas expôs em 1918 na Galeria da Misericórdia, no Porto, muitos dos seus desenhos eram assinados com um "A" dentro de um quadrado ou com o pseudónimo Boulemiche. Morreu de tuberculose em 1923.
[58] Eduardo Afonso Viana (1881-1967). Depois de frequentar a Academia de Belas-Artes de Lisboa parte para Paris em 1905 e aí permanece até 1915. Entretanto envia diversos trabalhos para as Exposições. Entre 1915 e 1917, convive com Sónia e Robert Delaunay, que fugindo da I Guerra se instalam em Vila do Conde na Av. Bento de Freitas. Em 1919 participa no III Salão dos Modernistas do Porto; em 1920, Expõe individualmente no Porto na Galeria da Santa Casa da Misericórdia em 1921.
[59] Camillo Castelo Branco (1825-1890), A brazileira de Prazins: scenas do Minho, Porto , Ernesto Chardron - Editor, 1882. (pág.89).
[60] Eça de Queiroz (1845-1900), Os Maias” Livraria Internacional de Ernesto Chardron: Casa Editora Lugan & Genelioux Successores, Porto 1888. (pág,11).
[61] Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, “À ex.ª Camara Municipal do Porto ou a quem suas vezes fizer” in As Farpas, III série, Tomo II. Janeiro 1878. Typographia Universal, Lisboa 1878. (pág.66 a 68).
[62] Idem (pág. 72 e 73).
[63] Pablo Neruda (1904-1973) Los Puentes, in Las uvas y el viento 1954, Obra s Escogidas Tomo I, Editorial Andre Bello Santiago del Chile 1972. Tradução: E passa o rio/debaixo das novas pontes/cantando com a história/palavras puras/que encheram a terra.