Os automóveis na Praça da Liberdade
Uma tentativa de identificação com várias e dispersas derivas por outras
imagens do Porto na véspera da 2.ª Guerra Mundial 1938-1940
1º episódio
fig. 1
- Foto Beleza 1938.
O Automóvel e a Cidade
Poder ir na vida triunfante como um
automóvel último-modelo!
Álvaro de Campos, Ode Triunfal 1914
O automóvel
que, com as motos e o avião, o cinema e a rádio, caracterizam o período entre
as duas guerras, tem no Porto, um amplo crescimento.
A fotografia da Foto
Beleza do final da década de 30, mostra que o automóvel já não era apenas
um capricho de gente endinheirada ou de ostentação e propaganda política.
Era agora uma necessidade e um prazer da classe média. Por
isso, comerciantes e industriais, advogados, arquitectos, engenheiros, médicos
e professores, sejam profissionais liberais ou funcionários públicos, começavam
a servir-se quotidianamente do automóvel. A massificação e as novas técnicas de
produção permitiam que o automóvel tivesse um menor custo e se tornasse
acessível a um maior número de pessoas.
Em Portugal o número de automóveis tinha aumentado de
23 450 em 1927 para 43 000 em 1938.
No Porto, embora não estejam praticamente presentes na (s)
fotografia(s), eram já muitas as viaturas motorizadas ao serviço dos bombeiros
e das forças de segurança, das empresas e instituições públicas e privadas, do
comércio e da distribuição urbana e mesmo da Câmara Municipal e dos seus
serviços.
Lembremos ainda que, para encerrar as festas da Exposição Colonial
Portuguesa, se realizou, no Porto em 9 de Setembro de 1934, a I Grande Parada
dos Bombeiros Portugueses, organizada pelo Diário de Notícias cm colaboração
com os Bombeiros Voluntários Portuenses.
Para uma população que no Porto tinha crescido de 229 794 habitantes
em 1930 para 262 309
em 1939 (a população no Censo de 1940), o já razoável número de veículos motorizados e o aumento do tráfico rodoviário de
passageiros e de mercadorias impunha uma avaliação da capacidade das estradas de
acesso à cidade e ao planeamento de novas vias que complementassem conjunto de arruamentos, correspondentes à
malha tradicional do Porto (portas da muralha), ao longo dos quais se iam
concentrando novas edificações.
fig. 2
–Vista Panorâmica da cidade tirada a
bordo do “Graf Zeppelin” 1935. (MONTEIRO 2000).
Em 1939 era este o esquema da rede de comunicações existentes na cidade do
Porto segundo o engenheiro Antão Almeida Garrett (1896-1978).
fig. 3
- Esquema da rede de comunicações
existente da cidade do Porto, 1939. (GARRETT 1974).
A Sul a saída para Lisboa pela ponte Luís I (1);
para noroeste a ligação com Matosinhos (Leixões) pela Marginal (Alfândega) (2) e pela Avenida da Boavista (3); para Norte as saídas: para Viana pelo Monte dos Burgos (4); para Braga pelo Amial (5);
para Guimarães por Costa Cabral (6); para
Penafiel por S. Roque da Lameira (7); para
Gondomar pelo Freixo (8) e Entre-os-Rios (9).
A articulação com o transporte interurbano de mercadorias e de passageiros
pela linha férrea e pela via fluvial, impunham um novo atravessamento do Douro,
dando sequência ao projecto do início do século 20, da construção de uma nova
ponte no local da Arrábida.
Ainda nas intervenções ligadas com a mobilidade impunha-se concretizar o
projecto da ambicionada ligação
entre a ponte Luiz I e a área central da cidade (Avenida da Ponte), aspiração
essa, potenciada pelo incremento da circulação rodoviária e pelo facto de a
Câmara estar instalada desde 1919 no Paço Episcopal então de acesso difícil.
fig. 4
- António Soares (1894-1978), Ponte
Luiz I – Porto,
Óleo sobre madeira 54 x 65 cm. CAM –FCG.
A
ponte Luiz I - então um ex-libris da cidade é utilizada para a publicidade ligada
ao automóvel da companhia petrolífera Vacum
Oil Company com um anúncio de página inteira, associando os seus
produtos ao Porto com os seus tradicionais símbolos. A ponte Luiz I, construída
por latas de combustível sobre a qual circulam automóveis e camiões; o Douro
onde navega um barco rabelo e ao fundo uma imagem da cidade do Porto onde
sobressai a Torre dos Clérigos.
O transporte internacional de mercadorias e de passageiros (lembre-se a
emigração), era feito pelo porto do Douro, onde se constroem alguns
equipamentos, mas ia sendo substituído pelo porto comercial de Leixões onde em
1938 se concluía a construção da Doca n.º 1 (inaugurada oficialmente em 4 de
Julho de 1940).
O porto de Leixões em funcionamento colocava, por isso de uma forma
premente, a criação de ligações entre o porto artificial e o porto fluvial, a
relação com a Alfândega e de um modo geral com a cidade.
O projecto e a localização do Hospital Escolar, o único dos grandes
edifícios emblemáticos do Estado Novo (os outros eram o Palácio da Justiça e o
Palácio dos Correios), que estava adiantado também impunha o estudo das
acessibilidades e o arranjo da sua envolvente.
Ao longo da década de
30 foi-se desenvolvendo a urbanização da Avenida da Boavista, com a
abertura das avenidas Marechal Gomes da Costa, como ligação à Foz e da avenida
Antunes Guimarães como ligação a Pereiró.
Foram-se estruturando
e edificando ao longo da marginal marítima as zonas da Foz do Douro e Nevolgide
e nos anos trinta edificadas as novas urbanizações na envolvente da Avenida dos
Combatentes da Grande Guerra e da Rua Guerra Junqueiro.
Com
o
programa de construção dos bairros de Casas Económicas, situados na periferia
urbana, estes obrigavam ao traçado de novos arruamentos que permitissem a sua
integração na cidade edificada.
Todas estas zonas residenciais
da cidade impunham, para além de servidas por transportes públicos sobre
carris, a construção, reparação e pavimentação de novas estradas ou ruas,
contribuindo assim para a expansão da cidade.
Assim, no final da década de trinta, a cidade
do Porto, pelo crescimento do trânsito rodoviário, tinha acumulado um conjunto de questões que para serem resolvidas
implicavam um instrumento urbanístico que as enquadrasse, muitas delas
analisadas e sugeridas no Prólogo ao Plano de Ezequiel de Campos, mas que então
não tiveram seguimento.
Em finais de 1938 a
Câmara Municipal do Porto, consciente destes problemas e da necessidade de
cumprir o decreto n.º 24 802 de 1934, que impunha a elaboração do plano de
urbanização num prazo de 5 anos que terminava nos finais do ano seguinte, “…resolve,
com a anuência superior, procurar um urbanista estrangeiro idóneo para, como “consultor”,
guiar os estudos do plano geral da Cidade, a realizar nos seus Serviços
Técnicos”.
A escolha recai num técnico italiano, pelas
semelhanças na estrutura corporativa dos dois regimes, e pelas influências
culturais, que incluem a arquitectura e o urbanismo.
De notar que para o Estado Novo a Espanha está
envolvida na Guerra Civil (que oficialmente termina em 1 de Maio de 1939),
existe uma natural desconfiança no regime francês da Frente Popular, e a
Alemanha nazi é considerada cada vez mais radical e agressiva.
A CMP envia a Roma o Engenheiro Chefe dos serviços encarregados do Plano,
que “após informar-se” escolhe “…o
Académico de Itália Prof. Marcello Piacentini, urbanista de grande prestígio,
que disse ao enviado a Roma estar na disposição de aceitar o encargo.” (GARRETT
1974).
O Presidente da Câmara António (Augusto Esteves) Mendes Correia
(1888-1960), oficializa o convite a 30 de Dezembro de 1938, a Marcello Piacentini
(1881-1960) que responde em Fevereiro de 1939, aceitando o convite, mas dados
os seus afazeres que lhe não permitem deslocar-se ao Porto, propõe a vinda de
dois dos seus colaboradores o arquitecto Giorgio Calza Bini (1908-1998) e o engenheiro Vicenzo Civico (?-?).
Estes dois técnicos chegaram ao Porto em 29 de Abril de 1939.
fig. 6
- Jornal de Notícias 30 de Abril de 1939.
Com esta fotografia o
Jornal de Notícias do Domingo 30 de Abril de 1939 escreve: “Chegaram ontem, a esta cidade, no rápido de Lisboa, o arquitecto
italiano Georgio Calza Bini e o engenheiro V. Civico contratados pela Câmara
Municipal do Pôrto para estudarem o plano de urbanização desta cidade. Eram
aguardados na estação de S. Bento pelo sr. Engenheiro Moreira de Sá, ilustre
Director dos Serviços de Engenharia e pelo sr. Engenheiro Bonfim Barreiros.
Trata-se duma simples notícia de carteira, duma
nota de agenda…jornalística, - e tudo fica dito. Mas as linhas acima
relacionam-se com um problema transcendente – o da urbanização da capital do
Norte e temos de lhe prestar mais demorada atenção”.
E o Director do Serviço de Obras e Urbanização reporta ao
Presidente da Câmara em 6 de Maio que os técnicos italianos “(…) durante a sua
permanência desenvolveram uma actividade para conhecimento cabal da cidade e
região interessada, e realizaram trabalhos de concepção e de efectivação em
anteprojecto como Plano-base preliminar, que eu reputo absolutamente notáveis e
de que V.Ex.ª pode tomar conhecimento.”
Após a cessação do contrato com Marcello Piacentini, tendo como pano de
fundo uma Europa em já em guerra, a Câmara convida, em 21 de Fevereiro de
1940, para Consultor Urbanista do Gabinete do Plano de Urbanização e Expansão
da Câmara Municipal do Porto “(…) o ilustre arquitecto urbanista italiano G.
Muzio, que aceitou orientar os trabalhos do Gabinete do Plano de Urbanização e
Expansão da cidade do Porto, gabinete que funciona na Câmara Municipal.
Congratula-se com o facto, informando que se tomaram as disposições para que as
linhas gerais do plano estejam concluídas até ao fim do ano corrente e sendo
conveniente que a colaboração do académico Muzio prossiga nos três anos
seguintes." (GRAVATO 2004).
Giovanni Muzio (1893-1982) que chega ao Porto em 7 de Abril de 1940,
para uma primeira de sucessivas visitas entre 1940 e 1941. Muzio foi
apresentando diversas propostas para, em colaboração com os Serviços Técnicos
da CMP, ir elaborando até 1943 o ambicionado Plano para a cidade. O evoluir da
guerra e, sobretudo, a morte do
ministro Duarte Pacheco a 16 de Novembro, veio pôr termo à colaboração de
Giovanni Muzio com a CMP e condicionar a elaboração do plano.
Importa salientar que a intervenção dos arquitectos italianos se debruçaram
sobre aquelas urgentes questões da cidade, mas onde a mobilidade e os
transportes eram uma das principais condicionantes.
O automóvel e a Avenida dos Aliados e a Praça da Liberdade
É neste enquadramento dos efeitos que o tráfego motorizado provoca na
cidade que devemos apreciar a fotografia da Foto Beleza.
O eléctrico, de que a Praça da
Liberdade é ainda o local de distribuição, era o único meio de transporte
colectivo de passageiros dentro da cidade.
Mas para os núcleos
periféricos de habitação nos limites exteriores à cidade (Areosa, Ermesinde,
Rio Tinto, Matosinhos e Gaia) para onde se estendia a rede do eléctrico, ia
surgindo a concorrência com as empresas de camionagem.
Na Avenida dos Aliados
e na sua envolvente foram então instaladas diversas firmas e stands de
automóveis, camiões e motocicletas, mostrando o crescimento da motorização na
cidade e a Avenida como um espaço privilegiado e moderno para aí se irem
concentrando os estabelecimentos dedicados a este ramo de actividade.
Na
Praça da Liberdade e a Avenida dos Aliados, pelo considerável número de automóveis
que nelas circulam ou estacionam, mostram que elas constituem já o núcleo da área
central da cidade.
Assim,
podemos assim assinalar um total aproximado de 111 viaturas (nem todas são
visíveis).
Na
Avenida dos Aliados, 30 na via poente, 33 na via nascente e um camião na Praça
do Município.
fig. 7
– Avenida dos Aliados. Pormenor da Foto Beleza.
Os automóveis na Praça da Liberdade
Aos
automóveis da Avenida somam-se os 47 automóveis na Praça da Liberdade que são
os que tentaremos identificar.
fig. 8
– Foto Beleza. A Praça da Liberdade com os 47 automóveis numerados.
São
modelos que vão dos anos vinte com as suas formas rectilíneas até aos modelos
dos anos trinta com as suas formas aerodinâmicas.
Com
efeito, nos meados da década de trinta, os automóveis eram já estudados no
túnel de vento, com formas inspiradas nos aviões (o famoso DC3 é de 1936) e nos
dirigíveis (o Zeppelin esteve em Portugal em 1935 e 1936 e sobrevoou o Porto),
e essas formas aerodinâmicas estendem-se ainda às locomotivas então já
eléctricas e da diesel.
Havia
uma procura, com estas formas aerodinâmicas, de uma maior velocidade e consequentemente
de uma maior economia em tempo e em combustível.
E
a forma aerodinâmica, mesmo sem qualquer funcionalidade, estendeu-se a muitos
outros objectos quotidianos apenas como um sinal de modernidade.
Na
Europa, a partir do meio da década de trinta, a que não eram alheias as
motivações políticas dos regimes autoritários, procurava-se aumentar o mercado
tornando o automóvel mais acessível a uma maior população, com um carro
pequeno, económico e fiável, um carro acessível para todos, um Carro para o
Povo.
De
facto, nunca se tornaram verdadeiramente acessíveis e a ideia, suspensa pelo
eclodir da 2ª Guerra Mundial, será retomada após o conflito.
Os automóveis
estacionados na Praça da Liberdade e numerados de 1 a
47 na fotografia da Foto Beleza 1938
A - Os automóveis estacionados na placa sul da Praça.
A placa sul da Praça em 1933
Nesta
placa estiveram no início dos anos trinta estacionadas as motos com sidecar, que
serviam então como táxis, mostrando que não era apenas o automóvel que ocupava
e conformava o espaço público da cidade.
É
conhecida uma outra fotografia da Foto Beleza, realizada às 15 e 40 horas, como
se vê no relógio do edifício da Companhia de Seguros A Nacional de um dia enevoado entre 1932 e 1933.
Sabemos a data da fotografia porque o edifício
dos Paços do Concelho ainda tem em construção o 2º piso, já está colocada a
escultura de Os Meninos (25 de
Fevereiro de 1932) na Avenida dos Aliados e porque na Praça da Liberdade está
já construído o edifício onde se instalou o remodelado Café Suiço, mas ainda permanece
o edifício vizinho com o Café Central e onde em seu lugar será construído o edifício
do Café Imperial (1936).
Se
um já razoável número de automóveis, estacionam na Avenida dos Aliados, na
Praça da Liberdade, perante a quase ausência de automóveis (apenas dois), podemos
observar três destes motociclos-táxis da marca Harley-Davidson, no primeiro
plano estacionados na placa sul da praça.
fig. 9
- Foto Beleza. c.1933. (CLAUDIO 1994).
fig. 10
– Pormenor da Foto Beleza. c.1933. (CLAUDIO 1994).
Os automóveis estacionados na placa sul da Praça da Liberdade (1 a 6)
fig. 12
- A placa sul da Praça da Liberdade. Pormenor da Foto Beleza de 1938.
São visíveis e identificáveis seis automóveis, mas ainda
podemos entrever mais três que não consideramos.
Carro n.º 1–
Um DKW Meisterklasse de 1934/39
Carro de fabrico alemão com os pormenores identificativos visíveis:
Para brisas com moldura
(para permitir a sua abertura);
Friso lateral ao longo
do carro e friso junto da capota.
fig. 14
- DKW F5 Meisterklasse 1934/39.
A popularidade deste
modelo DKW no Porto verifica-se pelo número de carros (7) que surgem na
fotografia estacionados na Praça da Liberdade. (Carros 1,
3, 9, 16, 25, 30 e 35).
A marca DKW pertencia
à Auto-Union, marca resultante da fusão em 1932 da marca DKW com as marcas
Audi, Horch e Wanderer.
No Porto os veículos
DKW eram vendidos pela Sociedade de
Representações Niepoort, sediada na Avenida dos Aliados, n.º 200, a qual
era a concessionária dos automóveis Auto-Union que incluía a Audi, a Horch, e a
Wanderer, e ainda as motocicletas DKW.
O DKW modelo Meisterklasse
- de grande sucesso – tinha sido apresentado no Salão de Berlim de 1934. *
fig. 15
- O stand da Auto-Union no Salão de Berlim de 1934.
*O Salão
Automóvel do Porto fará parte de um texto O Automóvel no Porto entre as duas Guerras, a
publicar.
No prestigiado Salão
de Paris de 1935, o DKW também figura no conjunto das marcas Auto-Union.
fig. 16
- O stand da Auto-Union no Salão de Paris de 1935 com as marcas que
representava.
Carro n.º 2 – Um Renault Celtaquatre
sedan 4 portas de 1935 com a matrícula MN-62-[36?]
fig. 17
- O carro n.º 2.
Trata-se de um Renault
Celtaquatre de fabrico francês com os seguintes pormenores identificativos:
Traseira em “rampa” com
fecho central;
Óculo traseiro em
amêndoa:
Forma linear do para-choques
traseiro;
Sem estribo lateral;
Fechos das portas
separados indicando que a porta dianteira abre para trás;
Aberturas de
ventilação do motor horizontais;
Faróis dianteiros
destacados do para lamas.
fig. 18
- Renault Celtaquatre 4 portas 1937.
fig. 19
- Cartaz francês de um Celtaquatre 1937.
A marca Renault era
representada pela empresa Manuel da Silva
Carmo & C.ª - Automóveis Renault situada na Rua de Santa Catarina.
Em 1939 instalou-se,
na Rua da Constituição n.º 219 a 225, a Garagem Renault.
Carro n.º 3 – Um DKW Meisterklasse 1934/39
(ver Carros 1, 3, 9, 16, 25, 30 e 35).
fig. 20
– Carro n.º 3
São visíveis para além
dos já referenciados mais pormenores identificativos:
Para brisas com
moldura;
Friso lateral ao longo
do carro;
Friso junto da capota;
Aberturas laterais de
ventilação do motor verticais;
Friso central do capot;
Ausência de estribo.
fig. 21
- Anúncio alemão do DKW Meisterklasse limousine 1938.
Numa publicidade de
1938 a Auto-Union considerava o DKW “O
carro utilitário diferente”, e aproveitava (-se) do prestígio das suas
vitórias nas competições internacionais de automobilismo, na época muito usadas
pelo regime nazi para se propagandear.
Para isso, refere
Tazio Nuvolari (1892-1953) “em Auto-Union
a caminho da vitória no Grande Pémio de Donnington-Park, Inglaterra”.
fig. 22
- Anúncio da Soc. Rep. Niepport no jornal O
Comércio do Porto de 30 Outubro de 1938.
No
Salão de Berlim de 1938 repare-se na ostentação das suásticas.
fig. 23
– O Salão de Berlim de 1938.
Carro n.º 4 - Um
Austin York Eighteen de 1936
Este é o único
automóvel estacionado na Praça da Liberdade que possui visível uma matrícula
anterior a 1 de Janeiro de 1937: N-15905.
Em 1936 as matrículas eram constituídas por uma
letra correspondente à região N-norte,
C-centro e S-sul, seguida do número de 4 dígitos da matriculação.
Este número, pelo aumento dos veículos, atingiram
os 5 dígitos, (como é o caso), o que tornava difícil a leitura provocando demasiados
equívocos.
Criou-se então uma nova matrícula automóvel que
entrou em vigor no dia 1 de Janeiro de 1937 e que consistia em três grupos de dois
caracteres, separados por dois traços e que utilizava a sequência AA-00-00.
fig. 24
- Carro n.º 4 com a matrícula N-15905 anterior a 1937.
O Austin, carro de
fabrico britânico, apresenta como pormenores identificativos:
Porta bagagens
saliente;
Forma ovalada do óculo
traseiro;
Para choques simples e
recto;
Posição da placa da matrícula;
Três janelas laterais;
Estribo;
Fechos das portas ao
centro o que indica que são as portas traseiras que abrem para trás.
fig. 25
- Um Austin 18 circulando nas ruas de Londres. Foto da época.
fig. 26
- Publicidade do Austin York 1936.
fig. 27
– Austin York 1936. Foto da época.
O
Austin York no Salão de Paris de 1935.
fig. 28
- O Stand Austin no Salão de Paris de 1935.
Outra imagem da mesma época com uma viatura semelhante.
Um Austin semelhante
(ou o mesmo com a nova matrícula) está estacionado na Praça dos Leões (na época
Praça da Universidade e hoje Praça Gomes Teixeira), junto à Igreja do Carmo. Ao
lado um Citroën traction avant (ver
carro 13).
fig. 29
- Foto Beleza, Praça dos Leões (da Universidade) c.1938.
Nota
- Na fotografia da Foto Beleza também de c.1938 (pelos edifícios, pelas
palmeiras e pelos automóveis) vê-se ao fundo o edifício da Faculdade de
Medicina.
No
ano de 1925 quando a Faculdade comemorou o Iº Centenário, o seu director, o
médico e professor José Alfredo Mendes de Magalhães (1870-1957) que foi Presidente da Câmara
entre 1933 e 1936, encomendou ao arquitecto holandês Gerardus Samuel van
Krieken (1864-1933), então radicado em Portugal, um primeiro projecto para o
edifício da Faculdade. O projecto foi retomado pelos arquitectos Rogério de Azevedo
(1898-1983) e Baltazar Castro (1891-1967) e o edifício foi inaugurado
em 1935.
O concessionário da
Austin no Porto era a empresa J. J.
Gonçalves, Sucrs. - Automóveis Austin, na Rua Alexandre Braga, 130, num
edifício licenciado em 31 de Dezembro de 1926 e projectado pelo arquitecto e
engenheiro Júlio de Brito (1896-1965).
A rua, que se chamava
Rua Oriental do Bolhão em 5 de Outubro de 1921, foi dado o nome de Rua Alexandre
Braga, em homenagem ao republicano Alexandre José da Silva Braga (1829-1895),
advogado, poeta e jornalista. (FREITAS 1999).
fig. 30
- Anúncio da Austin e da J. J. Gonçalves Suc.res de 1935.
fig. 31
- Publicidade Austin em O Comércio do
Porto de Domingo, 30 de Outubro de 1938.
O Austin Seven
Estas
publicidades ao Austin referiam em 1935 “o
carro inglês mais vendido em Portugal” e em 1938 “o famoso” Austin Seven.
O
Austin Seven, fabricado entre 1922 e 1939, foi pelo preço, um carro
verdadeiramente popular no Reino Unido. Em Portugal se nem todos a ele tinham acesso
foi, contudo, para muitos portugueses da classe média o seu primeiro carro.
fig. 32
- Austin Seven RK Saloon1928
Assim
o mostra um texto assinado Zé Veloz, no
número 1 da Guiauto Ilustrado, Automobilismo, Sports mecanicos, Turismo,
de 31 de Julho de 1929, revista publicada no Porto (apenas 5 números).
O
texto narra como se fazia um percurso pessoal, para uma cada vez melhor e mais
potente meio de locomoção, na ânsia de maior velocidade, para alcançar um estatuto
social e uma ostentação de modernidade.
Assim
uma personagem vai utilizando os diversos meios de locomoção, desde o começar a
andar até ao triciclo da infância e de seguida desde a bicicleta da
adolescência até à moto da juventude.
Depois
já na maturidade, como necessidade, a personagem adquire primeiro um Austin
Seven, automóvel ainda modesto, e depois um Ford e finalmente um V8:
“Andou… andou… e
comprou um Austin 7…
Anda por chuva e sol,
sempre na lufa-lufa da vida, e com os proventos de quem se inicia com segurança
e economia.
Dois anos andados e eis
o nosso homem, galhardamente, num Ford,
com o desejo já dos 100 à hora… E foi subindo, subindo, até que hoje possue um
8 cilindros, em voga.”
(Conservou-se
a ortografia).
Outra imagem com Austin Seven
Um Austin Seven, numa
fotografia de Bonfim Barreiros com uma vista da Rua de António Patrício no
sentido norte-sul.
fig. 33
– Guilherme Bonfim Barreiros (1894-1973), Rua António Sardinha 1939. AHMP.
Note-se o Austin Seven,
o ciclista, as mulheres de trouxa na cabeça, e a fachada norte da Rua da
Cancela Velha onde está estacionado um camião.
Apesar das demolições
falta edificar um dos edifícios emblemáticos do Estado Novo, o
Palácio dos Correios.
Carro n.º 5 – Um Fiat 508 Balilla
berline 2 portas 1934/37 com matrícula MN-21-08
Os Fiat eram (e são)
fabricados pela Fabrica Italiana de Automóveis de Turim (Fabbrica Italiana Automobili Torino
fundada em 11 de Julho de 1899).
fig. 34
- Carro n.º 5.
Pormenores
identificativos do Fiat 508 Balilla:
Palavra Balilla no radiador;
Radiador em forma de
escudo;
Para choques dianteiro
em duas peças;
Duas janelas laterais;
Estribo;
Aberturas verticais de
ventilação do motor.
fig. 35
- Fiat 508 Balilla 1937. Foto da época.
O Fiat 508 Balilla
tornou-se conhecido por um célebre cartaz 1934 de Marcello Dudovitch
(1878-1962) La nuova Balilla per tutti
eleganza della Signora, que o promovia. Repare-se que à presença
estática do automóvel de cor avermelhada contrapõe-se o dinamismo do passo
enérgico e determinado da elegante figura feminina trajando de azul.
fig. 36
- Marcello Dudovitch (1878-1962), La
nuova Balilla per tutti. Eleganza della Signora.
Cartaz cromo litografia 195 x 140 cm. 1934.
A Fiat Portuguesa SA estava
instalada, em 1938, na Rua de Santa Catarina, 122.
Mudará em 1941 para a
Avenida dos Aliados 173 para o estabelecimento do Café Monumental alterado pelo projecto do arquitecto Manuel da
Silva Passos Júnior (1908-?).
Este primeiro Stand da Fiat Portuguesa, situado na Rua de
Santa Catarina 122, era vizinho da Casa Alvão.
Esta, por sua vez, confrontava a sul com o Café Majestic (como
está inscrito na fachada) inaugurado na Sexta-feira, dia 1 de Dezembro de 1922, e aberto ao
público no dia seguinte.
Numa fotografia destes
anos - obviamente da Casa Alvão - vê-se (ou entrevê-se) a garagem da Fiat com
um Fiat 500 (Topolino). (ver Carro n.º 41).
fig. 37
- Foto Alvão. Rua de Santa Catarina. A Fiat Portuguesa, a Casa Alvão e o Café Majestic.
(TÁVORA 1984).
No 2.º piso do edifício
da Casa Alvão estava instalado o estabelecimento Pinheiro da Rocha, fundado em 1920, e que pertencia a Manuel
Pinheiro da Rocha (1893-1973), um conhecido e procurado alfaiate, mas também
ele um competente fotógrafo.
fig. 38
– Alfaiataria Pinheiro da Rocha no 2.º piso do edifício da Casa Alvão na Rua de
Santa Catarina n.º 118 e 120.
No
prédio à direita, onde uma personagem de colete observa tranquilo do 2º andar o
que se passa na rua, estava (e está) instalado o Café Majestic (assim escrito na fachada) que, segundo O Comércio do Porto de 2 de Dezembro de
1922, teria sido projectado pelo arquitecto José Pinto de Oliveira (?) e
inaugurado em 1 de Dezembro de 1922. (MONTEREY 2008).
Mas
a quem, de facto, é atribuído o projecto é ao arquitecto João Queiroz
(1892-1982) o qual, em 15 de Julho de 1925, apresentou na CMP um requerimento
para - no prolongamento do requintado salão
do café - a construção de “um Bar,
nos seus terrenos com frente para a Rua de Passos Manoel, onde seja pôsto à
venda vinho do Porto (…) no estilo regional da nossa arquitectura”.
fig. 39
- Pormenor da fachada do Café Majestic.
Num
artigo datado de 10 de Março de 1923, acompanhado de 2 fotografias e publicado
no n.º 890 da Ilustração Portugueza,
André de Moura, sob o título “O Exemplo
Portuense”, escreve “que vem de
inaugurar-se num dos grandes pontos centraes do Porto, à entrada da rua de
Santa Catarina. É um dos mais nobremente suntuosos que conhecemos, pelo que se
justifica bem o seu título: Magestic.”
fig. 40
- Fotografia in Ilustração Portugueza
de 10 de Março de 1923.
E
continua o articulista “Tem um salão
grandioso de cubagem e beleza decorativa e um serviço em que se revela uma
distinção e uma urbanidade incomparáveis.”
O
salão do Majestic numa fotografia da Foto Beleza anterior a 15 de Julho de
1934.
fig. 41
– Foto Beleza. O Salão do Café Majestic. (CLAUDIO 2001).
Esta
fotografia da Foto Beleza serve uma publicidade de 1934 (ano da Exposição
Colonial no Porto), assinalando a Cervejaria
no seu Terraço Privativo.
fig. 42
- Publicidade ao Café Magestic, in Revista Ultramar n.º 12 de 15 Julho 1934.
Na
fotografia de Alvão o café chama-se Majestic
mas na Ilustração Portugueza e na Revista Ultramar passa a Magestic.
A Rua de Passos Manuel entre a Rua de Santa Catarina e a Praça dos Poveiros.
A “Cervejaria” do Majestic
Aquela
“Cervejaria” situada no terraço do Café Majestic abria para a Rua de Passos
Manuel.
A
janela correspondia a um quiosque de venda de tabaco e jornais.
fig. 43
– Fachada do Terraço do Café Majestic na
Rua de Passos Manuel.
Fotografia actual adaptada.
Vizinho do Café
Majestic, na Rua Passos Manuel do lado norte do troço entre a Rua de Santa
Catarina e a Praça dos Poveiros, estava o Cinema Olympia, também projectado em
1912 pelo arquitecto João Queiroz.
fig. 44
– O Cinema Olympia e os tapumes da demolição do Jardim Passos Manuel.
fig. 45 – Anúncio do Salão Olympia “o melhor e mais luxuoso animatógrafo do
Porto”. 1921.
Na
fotografia de 1938, em que se vê parcialmente um Chevrolet 1929, a seguir ao
Cinema Olympia os tapumes que encobrem a demolição do Jardim Passos Manuel que
aí funcionava desde 1908.
fig. 46 – O Chevrolet de 1929.
O Coliseu do Porto
Estava então demolição o Jardim Passos Manuel para construir o Coliseu do Porto então em projecto.
fig. 47
– A fachada do Jardim Passos Manuel para a rua do mesmo nome.
No primeiro dia de
Julho de 1939, a revista Ilustração no seu número 325, publica um desenho “A fachada do projectado Coliseu do Pôrto
que será inaugurado no ano próximo”, sem fazer referência ao autor do
projecto.
fig. 48
- Projecto do Coliseu na Ilustração n.º 325 de 1 de Julho de 1939.
Na
verdade, os primeiros estudos foram realizados, ainda em 1937, pelo arquitecto
José Porto (1883-1965).
fig. 49 - José Porto Ante
projecto do Coliseu do Porto 1937.
Segue-se o arquitecto holandês Jan Wills (1891-1972), com um
arrojado projecto. (GOMES 2007).
O dessenho da Ilustração deve ser de Jan Wills.
fig. 50
- Jan Wils (1891-1972), Projecto para o Coliseu do Porto 1938. (GOMES 2007).
Mas será o arquitecto Cassiano Branco (1897/1970) a elaborar o
projecto definitivo do Coliseu, entre 1938 e 1941. Cassiano Branco (1897/1970), procurava um sentido publicitário expresso
pelo próprio autor: “...o seu aspecto
inteiramente moderno deve exprimir um espectáculo permanente de formas, de luz e de publicidade”.
Contudo, por divergências entre o arquitecto e o dono da
obra (a Companhia de Seguros Garantia), o edifício é concluído pelos
arquitectos Mário de Abreu (1908-1969)
e Júlio de Brito (1896-1965).
fig. 51
- Cassiano Branco (1897/1970). Projecto do Coliseu do Porto 1938/1941.
A Casa Inglesa
Do
lado sul da Rua de Passos Manuel para além do edifício da Casa Inglesa,
um projecto do arquitecto Francisco Oliveira Ferreira (1884-1957), concluído em
1929.
fig. 52
- Capa da partitura da canção Espera-me
na Casa Inglesa, one step marcha, música de Júlio Pontes. (PACHECO
1998)
A Relojoaria Marcolino
No
prédio vizinho a nascente a Relojoaria Marcolino um projecto do arquitecto
Homero Ferreira Dias (1904-1960) de 1936. Repare-se no
publicitário relógio inserido perpendicularmente à fachada.
fig. 53 – Relojoaria Marcolino, 1936.
(BRANCO 2009).
O Restaurante Escondidinho
E
mais acima o conhecido Restaurante Escondidinho projectado pela ARS equipe
formada pelos arquitectos (António Fortunato Cabral (1903-1978), Fernando Leão
(1909-1990) e Mário Morais Soares (1908-1975).
fig. 54
– Postal publicitário do Restaurante “Escondidinho”.
A Garagem Passos
Manuel
Mas a Rua Passos Manuel é nestes anos marcada pela
portentosa Garagem Passos Manuel projectada
por Mário de Abreu (1908-1969) e inaugurada em
18 de Março de 1939 que à Garagem do O Comércio do Porto projectada por
Rogério de Azevedo entre 1928/1932,
vem somar-se na moderna tipologia das grandes Garagens da área central do
Porto.
fig. 55
- Garagem
Passos Manuel em 1939. Foto Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
fig. 56 - Artigo em “O Comércio do Porto” sobre a
inauguração, no dia 18 de Março de 1939.
Carro n.º 6 – Um Ford A Tudor (two door) de matrícula
MN-23-27
fig. 57
– Carro n.º 6
Carro fabricado entre
1929 e 1931 com os seguintes pormenores no exterior identificativos:
- Óculo traseira
ractangular de cantos arredondados;
- Friso separando a
parte superior da inferior (por vezes de cores ou tons diferentes) e estendendo-se
para as partes laterais;
- Roda suplente
encaixada na parte de trás;
- Com ou sem a grelha
de suporte de bagagem;
- Porta abrindo para
trás;
- Largo estribo unindo
os guarda lamas.
fig. 58
- Publicidade ao Ford Tudor (2 portas) sedan 1932.
fig. 59
- Desenho de um Ford Tudor sedan
Os automóveis Ford
eram comercializados no Porto no Palácio
Ford na Avenida dos Aliados, 165.
fig. 60
- Publicidade aos automóveis Ford no jornal O Comércio do Porto de Domingo 2 de Abril
1933.
E
tinham uma oficina Super Serviço Ford
de Manoel Alves de Freitas situada na Rua do Heroísmo 291.
fig. 61
– Postal Super Serviço “Ford” na Rua do Heroísmo 291 de Manoel Alves de Freitas
& Cia. Biblioteca Pública Municipal do Porto BPMP.
Outra imagem da mesma época com viaturas semelhantes.
Uma Fotografia de
Alvão, de cerca de 1932, mostra uma movimentada Rua de Sá da Bandeira, na
esquina com a Rua 31 de Janeiro, com carros da mesma marca.
fig. 62
- Foto Alvão. Rua de Sá da Bandeira c. de 1932. (CASTRO 2002).
Destaca-se, ao centro
da fotografia, a mancha branca da trouxa de roupa transportada na cabeça por
uma lavadeira, presença muito frequente na cidade durante estes anos e mesmo
depois da 2ª Guerra Mundial.
fig. 63
– Postal. Costumes Portugueses Lavadeira do Norte. Postal. Porto. Lavadeira. A partir de uma fotografia de Emílio Biel publicada em 1885.
E
a mesma imagem, que em alguns postais vem referida como Lavadeira de S. Mamede de Infesta, reproduzida num dos painéis de
azulejo por Leopoldo (Luigi) Battistini (1865-1936) na Estação do
Caminho-de-ferro de S. Mamede de Infesta (1931/1934), da então chamada Linha de
Cintura do Porto.
fig. 64
- Leopoldo Battistini, azulejo na Estação CF de S. Mamede de Infesta c.1936.
E no primeiro plano
também se vê um polícia sinaleiro que protege do trânsito uma rapariguinha com
um tabuleiro.
fig. 65
- Pormenor da fig. 62.
À direita no edifício
do gaveto (aprovado em 1 de Junho de 1916 e construído antes de 1918) estava no
r/chão a Confeitaria Palace (inaugurada
em 22 de Julho de 1918). Escreve O
Primeiro de Janeiro de 21 de Julho, na véspera da inauguração:
“A Confeitaria Palace,
que tem três portas de entrada pelas ruas do Bonjardim, 31 de Janeiro e Praça
da Liberdade, inaugura-se amanhã ((22 de Julho de 1918), à tarde, próximo ao
escurecer.” (MONTEREY 2008).
No primeiro piso do edifício estava instalado o Jornal O Século.
Por cima, contornando as bow-windows,
um painel assinala as instalações da Abecassis (Irmãos), Buzaglos & C.ª,
importadores e exportadores.
Vizinho, para norte da Rua de Sá da Bandeira, o edifício do Banco
Borges & Irmão e o edifício onde estava a Cupertino de Miranda & C.ª,
Banqueiros constituída em 30 de abril de 1931.
fig. 66 – A Casa Bancária Cupertino
de Miranda & C.ª na Rua Sá da Bandeira. in O Império Português na primeira
Exposição Colonial Portuguesa, álbum-catálogo oficial, 1934.
No primeiro plano à esquerda da fotografia da Foto Alvão o
edifício de 1923 com o anúncio de Várzea.
Cabeleireiro de Senhoras.
fig. 67
– Pormenor da fig.62.
Na fotografia vê-se,
também, ao fundo o Café A Brasileira (inaugurado
em 4 de Maio de 1903) no edifício projectado por Francisco d’Oliveira Ferreira
(1884
-1957) em 1915 e concluído em 1929
reabrindo em 22 de Junho desse ano.
O Café A
Brasileira foi renovado no seu interior em 1938 por Januário Godinho (1910-1990) com intervenções de Henrique Moreira (1890-1979)
e Guilherme Camarinha (1912-1994). (SANTOS 1991).
fig. 68
- A Brasileira. Pormenor da fig.62.
Os automóveis nesta fotografia
Todos os automóveis, nesta fotografia de Alvão, têm
matrículas do Norte, portanto anteriores a Julho de 1937.
- À esquerda alinham
estacionados 4 carros: no primeiro plano um Ford modelo A Tudor 1929/31 (ver
Carro n.º 6);
- À sua frente um
Chrysler Imperial 8 de 1931;
- De seguida um carro
impossível de identificar;
- Finalmente um Ford idêntico
ao primeiro.
fig. 69
- Pormenor do lado esquerdo da fig.62.
No lado direito da
fotografia um outro Ford 1932/37 com matricula anterior a 1937. (ver Carros 7 e 8)
À sua frente circula o
eléctrico com o nº 226 em branco (o que indica que é pintado de verde), um modelo
“Inglês” de 1925, na linha 9 (Praça da Liberdade - Areosa).
fig. 70
- Pormenor do lado direito da fig.62.
BIBLIOGRAFIA
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BRANCO, Luís Aguiar - Lojas
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do Risco Urbano – A arquitectura na cidade do Porto, nas décadas de 30 a 50 do
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Aliete Galhoz. Companhia Aguilar
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Anos do Automóvel Clube de Portugal, Chaves Ferreira – Publicações S.A.
Lisboa 2003.
Curioso. Confesso que quando vejo fotografias antigas, também me entretenho sempre a identificar as marcas dos automóveis e não há dúvida que este trabalho permite datar as fotografias facilmente. Um abraço
ResponderEliminarExtraordinária publicação.
ResponderEliminarÉ impressionante, olhando para o estado de degradação e abandono a que a Cidade do Porto foi submetida nos últimos sete anos, ler o seu artigo e visualizar as fotografias e imagens que o acompanham, leva qualquer cidadão Portuense a reflectir sobre o porquê desse retrocesso numa cidade que sempre se pautou pelo progresso.