quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Os Painéis das Estações Marítimas de Lisboa de Almada Negreiros 3

 

II PARTE

 

A Estação Marítima da Rocha do Conde de Óbidos

 

Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui…

(…) Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo. [1]

 

Inaugurada a Estação Marítima de Alcântara com os painéis de Almada Negreiros, em 1945 inicia-se a Estação Marítima da Rocha do Conde de Óbidos segundo o projecto de 1936 de Porfírio Pardal Monteiro.

A Estação Marítima da Rocha do Conde de Óbidos - que não agrada ao regime - é, por isso, discretamente, inaugurada em 19 de Junho de 1948, como refere a CML.

“19 - Sábado - O Eng.º Sá Nogueira, administrador geral do Porto de Lisboa, com a asslstência de elemento oficial, procedeu à inauguração da Estação Marítima da Rocha do Conde de Óbidos.”  [2]

 


fig. 1 - Mário Novais, A Estação Marítima da Rocha do Conde de Óbidos do lado de terra. Biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian.

 


fig. 2 - Mário Novais, A Estação do lado do cais. Biblioteca da F.C.G.

 

José de Almada Negreiros, que de novo colabora com Pardal Monteiro, termina os dois trípticos no Salão da Estação Marítima.

Almada, pese embora as críticas que os sectores mais retrógrados do regime formulam aos painéis de Alcântara, vai avançar ainda mais na Estação da Rocha do Conde de Óbidos, provocando ainda mais e mais fortes reacções, sendo considerada a hipótese de os painéis serem destruídos como em 46 havia acontecido no Cinema Batalha do Porto.

José Augusto França lembrava em 1954 que a pintura mural em Portugal “…só a fez Almada-Negreiros, nas Gares Marítimas de Lisboa. A sua autenticidade mede-se pelo susto que provocou e que só dificilmente se deixou acalmar num consentimento desconfiado.”  [3] 

Isso não sucedeu devido à intervenção de algumas personalidades do Regime, mas sobretudo ao facto da Estação Marítima ser inaugurada já no final da Guerra, e os painéis realizados entre 46 e 49, num momento em que o Regime - porque a isso estava obrigado – pretendia dar internacionalmente e internamente, uma aparência de abertura política.

Salazar define então o Estado Novo como uma "democracia orgânica" e promete eleições "tão livres como na livre Inglaterra".

Nesse breve momento de aparente liberdade, no plano interno, são numerosos os que pensam que a ditadura e o ditador, não poderão sobreviver ao final do conflito, já que as vitórias dos aliados e as Resistências aos regimes nazi e fascista, nesse “tempo sem graça, [de] um tempo de desgraça, que podemos situar real e simbolicamente entre Guernica e Hiroxima” [4], foram criando ao longo do período da guerra uma oposição interna cada vez mais organizada e actuante.

A história será bem diversa, mas essa breve e aparente Primavera de liberdade de expressão, irá permitir os painéis da Gare da Rocha do Conde de Óbidos.

 


[1] Álvaro de Campos, “Lisbon Revisited” (1926). Fernando Pessoa, Obra Poética, Companhia Aguilar Editora, Rio de Janeiro 1965. (pág. 360). Estes versos serão uns anos mais tarde retomados pelos arquitectos e fotógrafos Victor Palla (1922 – 2006) e Costa Martins (1922-1996), para em 1956 elaborarem um Álbum fotográfico “Lisboa, cidade triste e alegre…”, cujas imagens são expostas em 1958 na Galeria Diário de Notícias, em Lisboa e na Galeria Divulgação no Porto.

[2] Anais do Município de Lisboa 1948. C.M.L. Lisboa 1949. (pág. 422).

[3] (Acrescentado em 01 - 02 - 2021). José Augusto França, da não existência de pintura mural em Portugal in O Comércio do Porto de Terça-feira 12 de Janeiro de 1954. Acompanhado de uma fotografia do painel central do tríptico “Domingo lisboeta”.

[4] Eduardo Lourenço (1923-2020), Sentido e forma da poesia neo-realista. 2. ed. Lisboa: Publicações Dom Quixote,1983. (pág.16).


Os Painéis da Estação da Rocha do Conde de Óbidos (1946/1948).

 

“Creio não haver antes cumprido melhor, nem feito obra que fosse mais minha.”

Almada Negreiros [1]

 

Na gare da Rocha do Conde de Óbidos Almada cria dois trípticos um defronte do outro, bem diferentes dos de Alcântara.

O tema dos painéis

Desde logo do ponto de vista temático. Se bem que nos dois casos a temática: o Tejo, o Mar e a Lisboa ribeirinha, - como é lógico em duas gares marítimas – que nos painéis de Alcântara correspondia ao sonho de uma Lisboa aberta ao turismo, ao imaginário de um Portugal consagrado em lendas (D. Fuas e a Nau Catrineta) e aos aspectos da paisagem lisboeta (a referência a monumentos de Lisboa ou a uma zona ribeirinha tradicional (as fragatas, as varinas), já na Estação Marítima da Rocha do Conde de Óbitos, Almada vai abordar o tema Lisboa, o Tejo e o Mar de uma forma bem diferente e realista: a emigração.

E esta temática é apresentada numa visão desmitificada, crua, daqueles que partem ou são obrigados a partir, e dos que ficam agarrados ao cais apenas consolados pelos simples divertimentos populares.

O “estilo” dos painéis

Do ponto de vista “estilístico”, a composição, o espaço, a utilização de cores quase puras e o tratamento das figuras dos painéis, remetem para experiências da arte contemporânea, podendo ler-se referências a Fernand Léger (1881-1955), que no pós-guerra pinta a série Les constructeurs, e sobretudo a Picasso (1881-1973), que como muitos artistas saídos das Resistências, então na sua maioria ligados aos partidos comunistas, na década que sucede ao conflito mundial, e com o prestígio que então assumem, defendem que a arte e a literatura não se podem alhear da realidade social.

 


fig. 3 - Fernand Léger, Les Constructeurs 1950, óleo s/ tela 300 x 228 cm. Musée national Fernand Léger, Biot.

 

Picasso é o paradigma internacional, já que "...o seu passado é inatacável, a sua orientação política explícita (aderiu ao partido comunista), a sua obra recente é integral e ideológicamente empenhada..." [2] como refere Giulio Carlo Argan. [3]

Depois de em 37 ter pintado a Guernica, denunciando a violência da Guerra de Espanha, em 46 pinta La Joie de Vivre como exaltando agora, terminado o conflito, os valores da paz, da alegria e da vida.

Picasso, adere ao movimento pela Paz criando um conjunto de cartazes com a pomba o reconhecido símbolo da paz.

fig. 4 - Pablo Picasso (1881-1973), Guernica. Pavilhão da República Espanhola, na Exposição Internacional de Paris, 1937, óleo sobre tela 349 x 77,6 cm. Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, Madrid

 


fig. 5 - Pablo Picasso (1881-1973), La Joie de Vivre 1946 Óleo sobre fibrocimento 120 x 250 cm Musée Picasso, Antibes.


 Neste enquadramento, Almada, que já havia referido o pintor com uma “Dédicasse”

“Picasso,

Je vous invite à venir regler

Mes coups de volonté

Sur la ville de Paris” [4]


Em 1946, quando Almada inicia estes painéis, refere-se ao Picasso da Guernica e das pinturas durante a guerra;

“- Picasso é a pura coerência do seu próprio caso pessoal. A sua obra é amor. A sua arte é dar a ver a dôr. A sua arte não ataca os programas que trazem a dôr à humanidade. Picasso não perde o seu tempo. Em pintura, dá-nos a ver o que vê: só vê a dôr. Dar a ver a dôr é chamar cada um a si mesmo. E é o principal: que cada um esteja em si mesmo e não nos programas.“ [5]

E já em 1953, numa entrevista e perante uma significativa pergunta sobre Picasso, responde: “Picasso fez-me sempre pensar no que tão fundo caiu na minha vida: se houvesse na península um meio de arte vivida como Paris…”  [6]

No entanto, ás influências de Picasso, como refere José Augusto França, Almada vai responder com “… uma atitude diferente, de maior invenção plástica, arredada de toda e qual­quer sugestão naturalista e levando a estilização a uma situação de inteira independência formal.” [7]



[1] Entrevista a Almada Negreiros por E.C. no Diário de Lisboa de Quarta-feira, 28 de Janeiro de 1953.

[2] No original “…il suo passato è inattaccabile, il suo orientamento politico esplicito (há aderito al partito comunidta), la sua opera recente è tutta ideologicamente impegnata.”

[3] Giulio Carlo Argan (1909-1992), L’Arte moderna 1770 / 1970, G.C. Sansoni Editore Nuova S. p. A., Firenza 1977. (pág. 630).

[4] José de Almada Negreiros, Portrait de l’Artiste au Piano (entre 1923 e 1932). in Poemas. Assírio & Alvim – Porto Editora. Porto 2017. (pág.243).

[5] Autor desconhecido, Almada Negreiros talento multiforme em permanente actividade in Diário de Lisboa Quinta-feira,16 de Maio de 1946.

[6] Entrevista a Almada Negreiros por E.C. no Diário de Lisboa de Quarta-feira, 28 de Janeiro de 1953.

[7] José Augusto França - Almada, O Português sem Mestre, Editorial Estúdios Cor, SARL Lisboa 1974. (pág. 143).


Os Painéis

Para além das citações do próprio Almada – onde encontro nestes painéis subtis referências ao seu percurso e pensamento - acompanho os painéis com (demasiadas, talvez!) citações de Fernando Pessoa.

Mas, como escreve Fernando Pernes, a propósito destes painéis: “sentimos como Almada estabeleceu então simultaneamente o acordo mítico entre o maior poeta português do século XX e a própria actualidade nacional, a um e a outra se acordando também.” [1]

Os trípticos  

A composição dos trípticos não assenta em geometrias tão evidentes como nos painéis de Alcântara, mas evidencia-se no tratamento de algumas personagens.

Os fundos são ainda decompostos em planos geométricos à “maneira cubista”.

Almada vai executar dois trípticos a fresco nas paredes opostas do Salão de 1ª Classe da Estação Marítima.

Na parede poente. 


fig. 6António Passaporte (1901-1983), - Postal. Lisboa – Portugal. Sala de Espera da Gare Marítima da Rocha, com o tríptico poente. AFML

 

1.      O tríptico poente

“Toma-me pouco a pouco o delírio das coisas marítimas,
Penetram-me fisicamente o cais e a sua atmosfera,
O marulho do Tejo galga-me por cima dos sentidos,
E começo a sonhar, começo a envolver-me do sonho das águas
Começam a pegar bem as correias-de-transmissão na minh'alma
E a aceleração do volante sacode-me nitidamente.”
  [2]

 

fig. 7 -  O tríptico poente na Sala de espera da Estação Marítima da Rocha. (FRANÇA 1974).

Nos três painéis Almada coloca um navio, não o navio que chega carregado de turistas curiosos por conhecer Lisboa, mas agora “Um grande barco parte abandonando / As colunas dum cais ausente e branco”  [3] que parte levando emigrantes e os que no cais, dolorosamente se despedem.

 

Na parede nascente 


fig. 8 – Estúdio Mário Novais. O salão da Estação Marítima com o tríptico da parede nascente 1982. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

 

2. O tríptico nascente

“As muitas que aqui se ajuntam

em qualquer dia de festa,

com as ancoras no mar,

e as proas postas em terra,

fazem vista tão aprasivel,

e tão galharda presença,

que julgareis que Neptuno

coroado vos festeja.” [4]

 

  

fig. 9 – O tríptico nascente da Estação Marítima da Rocha do Conde de Óbidos. (FRANÇA 1974). 

Há um ambiente domingueiro e popular no tríptico. Em cada um dos painéis e no primeiro plano uma pequena embarcação do Tejo.



[1] Fernando Pernes (1936-2010), “Os frescos de Almada Negreiros nas Gares Marítimas”, in Colóquio, Revista de Artes e Letras, nº 60, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian 1970. (pág.18).

[2] Álvaro de Campos, “Ode Marítima” (1915). Fernando Pessoa, Obra Poética, Companhia Aguilar Editora, Rio de Janeiro 1965. (pág. 319).

[3]  Sophia de Mello Breyner Andersen (1919-2004), Barcos, de Coral (1950) in Obra Poética, Assírio & Alvim – Porto Editora 2015. (pág. 298).

[4] Júlio Castilho (1840-1919), Ribeira de Lisboa: descripção histórica da margem do Tejo desde a Madre de Deus até Santos-o-Velho, Imprensa. Nacional, Lisboa 1893. (Livro II Capitulo VI pag.137).


1. O tríptico do “embarque” [1]

“Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,…”
[2]


O tríptico apresenta o drama social dos que partem para novos horizontes de esperança. Ou como afirma Fernando Pernes, “Imagem plurifacetada de despedida (quiçá de emigração) é a primeira série dos frescos da Rocha do Conde de Óbidos, cheios de gestos de dor, de véus a encobrirem rostos, de chapéus abertos para o sol sentido, embora encobrindo-se pelo corpo maciço do paquete”. [3]

No seu conjunto um navio fundeado no momento da partida, sendo que no primeiro painel os que em terra se despedem, no segundo os que partem e no navio se debruçam na amurada enquanto é içada a escada de portaló e no terceiro, algo enigmático, a proa do navio e um andaime, em que um operário transporta cimento. 


 fig. 10 – O tríptico do "embarque" da Estação Marítima da Rocha do Conde de Óbidos. (FRANÇA 1974).

 


[1] Título atribuído.

[2] Álvaro de Campos, “Ode Marítima” (1915). Fernando Pessoa, Obra Poética, Companhia Aguilar Editora, Rio de Janeiro 1965. (pág. 315).

[3] Fernando Pernes (1936-2010), “Os frescos de Almada Negreiros nas Gares Marítimas”, in Colóquio, Revista de Artes e Letras, nº 60, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian 1970. (pág.18).


1.1   O primeiro painel

“O frio especial das manhãs de viagem,
A angústia da partida, carnal no arrepanhar
Que vai do coração à pele,
Que chora virtualmente embora alegre.”
  [1]

 


fig. 11 – O 1º painel do tríptico do embarque. (FRANÇA 1974).

 

O primeiro painel divide-se em duas partes distintas:

Na parte superior o navio com os que partem e na parte inferior os que ficam no cais e se despedem. 

             

     

fig. 12 -  As duas partes do 1º painel do tríptico do embarque. (FRANÇA 1974).

 

A parte superior do painel

Chaminés de vapores, hélices, gáveas, flâmulas,
Galdropes, escotilhas, caldeiras, colectores, válvulas;…”
[2]

Na parte superior do painel, o navio - que irá partir - do qual vemos apenas uma parte, oculto pela escada do portaló Almada expressa a modernidade do navio.

 


fig. 13 – A parte superior do 1º painel do tríptico do embarque. (FRANÇA 1974).

 

Essa modernidade dos novos transatlânticos, é sublinhada por Fernando Pessoa (Álvaro de Campos) na sua “Ode Marítima”.


“Maravilhosa vida marítima moderna,

Toda limpeza, máquinas e saúde!

Tudo tão bem arranjado, tão espontaneamente ajustado,

Todas as peças das máquinas, todos os navios pelos mares,

Todos os elementos da actividade comercial de exportação e importação

Tão maravilhosamente combinando-se

Que corre tudo como se fosse por leis naturais,

Nenhuma coisa esbarrando com outra!” [3]

 

E enfatizada por Almada no desenho dos apetrechos do navio: tombadilho, coberta, amuradas, lanterna, canos, baleeiras, roldanas e sobretudo pela profusão e precisão dos rebites das peças metálicas.

Apenas um tripulante e dois passageiros em cada uma das vigias deste novo navio, os quais se apresentam “Limpos, regulares, modernos, como um escritório com guichets em redes de arame amarelo.” [4]

 


fig. 14 – Uma passageira na vigia como um guichet. (FRANÇA 1974).

 

Almada tinha inicialmente desenhado diversos passageiros em várias vigias num estudo preparatório em que a vista parcial do navio ocupava a totalidade do painel, apenas cortado pelo poderoso braço da grua que sustenta a escada de portaló.

 


fig. 15 -  Almada Negreiros. Cartão preparatório do 1º painel. Guache e grafite s/ papel 99,5 x 55cm. (MNAC 2011).



[1] Álvaro de Campos, O frio especial das manhãs de viagem, 9-10-1927. In Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). - 87. Arquivo Pessoa http://arquivopessoa.net/textos/2498

[2] Álvaro de Campos, “Ode Marítima” (1915 ). Fernando Pessoa, Obra Poética, Companhia Aguilar Editora, Rio de Janeiro 1965. (pág. 318).

[3] Álvaro de Campos, “Ode Marítima” (1915 ). Fernando Pessoa, Obra Poética, Companhia Aguilar Editora, Rio de Janeiro 1965. (pág. 332).

[4] Álvaro de Campos, “Ode Marítima” (1915). Fernando Pessoa, Obra Poética, Companhia Aguilar Editora, Rio de Janeiro 1965. (pág. 333).


A parte inferior do painel

Na parte inferior do painel, no primeiro plano um grupo heterogéneo e de costas para o espectador, despede-se dos que partem.

  


fig. 16 – A parte inferior do 1º painel do tríptico dos emigrantes. (FRANÇA 1974).

 

O grupo dos que se despedem está pintado em tons de terra: ocres e verdes, pontuados por azuis.

Sob os chapéus de sol, distingue-se um casal burguês, ele de fato domingueiro e chapéu, e ela de saia-casaco, chapéu e sapatos de tacão sublinhando as diversas classes dos que se despedem dos que partem. 

Junto ao casal, uma menina de chapelinho, que José Augusto França descreve da seguinte forma: “…ela de traseiro baixo, à portuguesa, e, ao lado, entre a mulher e o marido, uma petiza de pés certinhos no chão, o chapelinho pousado na cabeça, com as duas fitas penduradas atrás, e a cinturinha apertada num vestido azul de roda para ser mostrado na Baixa…” [1]

 


fig. 17 – O casal com a menina. (FRANÇA 1974).

 

À sua esquerda contrastando, uma mãe de xaile, calçando chinelas, abraça uma filha que o noivo ou o marido deixaram para seguir viagem.

 


fig. 18 – A mulher do povo abraçando a filha. (FRANÇA 1974).



[1] José Augusto França, Almada, O Português sem Mestre, Editorial Estúdios Cor, SARL Lisboa 1974. (pág. 145 e 146).


1.  O painel central

“E a palidez das manhãs em que se parte,
Quando as nossas entranhas se arrepanham
E uma vaga sensação parecida com um medo
- O medo ancestral de se afastar e partir,…”
[1]


fig. 19 – O painel central do tríptico dos emigrantes. (FRANÇA 1974).

 

O segundo painel é ocupado no seu centro pela escada de portaló já recolhida e suspensa da grua, marcando o momento da partida do navio.

Vê-se, comparando o guache preparatório com o painel definitivo, como Almada mantendo a concepção geral, vai aperfeiçoando os detalhes.

 


fig. 20 – Almada Negreiros, Estudo para o painel central. Guache sobre papel, 0,82x0,40 cm.  (MNAC 2011) e Painel central do tríptico (FRANÇA 1974).

 

A bordo e no cais

Na parte inferior do painel, o navio com os que partem pensativos e ansiosos e se debruçam e se acotovelam sobre a amurada e os que no cais da Estação se despedem.

 


fig. 21 – A parte inferior do painel central. (FRANÇA 1974).

 

Os que partem 

“Só encontram o longe que se afasta,

O apelo do silêncio que os arrasta,

As aves estrangeiras que os trespassam,

E o seu corpo é só um nó de frio

Em busca de mais mar e mais vazio.” [2]

 

fig. 22 – Os que partem. (FRANÇA 1974).

Os que partem estão debruçados na amurada entre tristes da partida e a eventual alegria do regresso.

“……………………………………………

Aquelas brandas, mal pronunciadas

Palavras de saudosa despedida

Entre lagrymas rotas, & quebradas,

E aquellas alegrias esperadas

Da boa tornada, já antes da partida,

Vivas as trago, não representadas.” [3]

 

Do grupo distingue-se uma mulher com um xaile verde, o rosto como uma máscara, uma mão que avança na amurada.

Compare-se o tratamento dos rostos, como máscaras ou com a sobreposição do perfil sobre o rosto visto de frente, como na pintura de Picasso.

 


fig. 23 -  As figuras debruçadas na amurada. Picasso, Femme au miroir 1932. Óleo s/tela 162,3 x 130,2 cm. Museum of Modern Art, New York.


Almada, nestes anos, vai ensaiando uma expressão plástica, seja no tratamento da figura feminina seja na sua relação com os fundos, que irá aplicar nos painéis da Estação da Rocha.

 


fig. 24 - Almada Negreiros, Interior 1948. Guache e óleo sobre papel 43 x 57 cm. (MNAC 2011).



[1] Álvaro de Campos, “Ode Marítima” (1915). Fernando Pessoa, Obra Poética, Companhia Aguilar Editora, Rio de Janeiro 1965. (pág. 317).

[2] Sophia de Mello Breyner Andersen (1919-2004), Homens à beira-mar, de Poesia I, in Obra Poética, Assírio & Alvim – Porto Editora 2015.  (pág.115).

[3] António Ferreira (1528-1569), Soneto XLV in Livro I Poemas Lusitanos do Doutor Antonio Ferreira. Impresso com licença Por Pedro Crasbeeck. Lisboa M. D. XCVIII. (pág. 12).


Os que no cais se despedem

“– De quem o lenço que acena,
acolá,
do cais?”
[1] 


fig. 25 - Os que no cais se despedem. (FRANÇA 1974).

 

Na ponta do cais um grupo que vê o navio partir. Deste grupo, que por pertencerem a um outro nível social, tem direito ao terraço da Estação, fazem parte: uma mulher que se agarra à balaustrada; um casal que se despede; uma figura com um extraordinário chapéu enfeitado com um cisne e alguém que de costas, acena um lenço branco.

Fernando Pessoa num poema intitulado Marinha evoca os “Ditosos de quem acena / Um lenço de despedida!” [2]

 


fig. 26 – Os que no cais se despedem. (FRANÇA 1974).



[1] Pedro da Silveira (1922-2003), Fui ao mar buscar laranjas, Angra do Heroísmo, Direção Regional da Cultura, 1999. (pág. 179).

[2] Fernando Pessoa, Marinha in Obra Poética, Companhia Aguilar Editora, Rio de Janeiro 1965. (pág. 147).


1.3.   O terceiro painel

“Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as asas
Que lhe brotavam da mão.

…………………………………” [1]

 


fig. 27 – O 3º painel do tríptico dos emigrantes. (FRANÇA 1974).

 

No terceiro painel uma construção com os seus andaimes de madeira, uma estrutura complexa e dinâmica, onde surge apenas a figura dum servente de pedreiro transportando uma tábua de cimento na cabeça, e olhando para os que partem. (Há quem veja nesta personagem um fogueiro transportando carvão para o navio).

O andaime esconde o navio onde, apenas figura um tripulante que sente, porventura, como  “Faz frio no peito lá em cima no tombadilho…” [2]

Comparando, também com um guache preparatório, vê-se que o andaime (agora de madeira) vai ganhando presença na composição, do mesmo modo que a proa do navio se perde por entre as tábuas do andaime.

 


fig. 28 – Almada Negreiros. Estudo para o 3º painel Guache sobre papel, 0,82x0,40 cm. (MNAC 2011). e 3º painel do tríptico dos emigrantes (FRANÇA 1974).

 

A construção que se realiza no cais poderá significar, para os que partem Tejo abaixo, a vista que vão tendo de uma Lisboa que se moderniza com a construção das Estações Marítimas.

 


fig. 29 – Mário Novais. Gare Marítima de Alcântara: construção. 1940/43. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

 

O operário da construção civil


“Eu nasci do povo e na classe operária da cidade. De bom não herdei, como pode imaginar, nem a condição, nem as circunstâncias. (…) Fui operário, trabalhei, vivi uma vida apertada; fui, em resumo, o que a maioria da gente é naquelle meio. Não digo que absolutamente passasse fome, mas andei lá perto.” [3]

 


fig. 30 – O operário no 3º painel. (FRANÇA 1974).



[1] Vinícius de Moraes (1913-1980), O operário em construção. Escrito em Paris nos anos 50, e publicado em 1956, na primeira edição do quinzenário Para Todos. In Vinícius de Moraes Poesia Completa e Prosa. Ed. Nova Aguilar Rio de Janeiro 1998 (pág. 252)

[2] José de Almada Negreiros, Cinzentania in Poemas. Assírio & Alvim – Porto Editora. Porto 2017. (pág. 211).

[3] Fernando Pessoa, O Banqueiro Anarchista, in Contemporanea n.º 1 de Maio de 1922.


2. Tríptico de “Domingo lisboeta” [1]

 

“A água dos rios

Costuma correr

Tranquila e monotonamente.

Os dias da nossa vida

Assim correm também…” [2]

 

O tríptico representa um banal e tranquilo Domingo lisboeta junto ao Tejo, “dia de não contar / como tantos!” [3]

Em cada um dos painéis e no primeiro plano uma pequena embarcação das muitas que navegam no Tejo.   

 


 

fig. 31 – O tríptico da Lisboa ribeirinha. (FRANÇA 1974).


[1] Título atribuído.

[2] Irene Lisboa (1892-1958), Um dia e outro dia… (1936) in Obras de Irene Lisboa, vol. I. Ed. Presença Lisboa 1991. (pág.37).

[3] José de Almada Negreiros, Descrição Coitada de Reprodução Colorida de Paisagem sem Figura (1935). In Poemas. Assírio & Alvim – Porto Editora. Porto 2017. (pág.157).

  

2.1 o primeiro painel

Nem nuvem cobreo ceo, nem na gente anda

Trabalhoso cuidado, ou peso grave,

Nova cor torna o Sol, ou se erga, ou lave

No claro Tejo, & nova luz nos manda.

Tudo se ri, se alegra, & reverdece.

Todo o mundo parece se renova.

Nem há triste planeta, ou dura sorte.  [1]




fig. 32 – O 1º painel do tríptico da Lisboa ribeirinha. (FRANÇA 1974)

 

O primeiro painel, organiza-se com o barco no primeiro plano, um edifício de que se vê uma janela aberta, um terraço e uma traineira (ou rebocador).

Na comparação com o cartão preparatório pode-se ver como a composição ganha dinâmica, com o barco do primeiro plano e com a eliminação de alguns elementos, como o rochedo onde chegou a figurar uma gaivota.

 


fig. 33 – Estudo para o 1º painel. Guache sobre papel, 0,82 x 0,40 cm. (MNAC 2011).

1º Painel do tríptico “Domingo lisboeta” (FRANÇA 1974).



[1] António Ferreira (1528-1569), Soneto XLV Livro I Poemas Lusitanos do Doutor Antonio Ferreira. Impresso com licença Por Pedro Crasbeeck. Lisboa M. D. XCVIII. (pág. 14).

 

A parte inferior do painel

No barco do primeiro plano uma família inteira faz um pequeno passeio de tarde de domingo.

São nove figuras: um pescador, de barrete e de cachimbo, que dirige o bote; três mulheres, de xaile e lenço, uma protegida do Sol declinante por uma sombrinha de interior azul; três rapazes e duas raparigas.

 


fig. 34 – Pormenor da parte inferior do painel com a embarcação do primeiro plano. (FRANÇA 1974).

 

No desenho preparatório Almada esboça já as figuras que se passeiam no batel.

Repare-se no tratamento dos rostos das mulheres.

À proa, duas das mulheres e um miúdo, procuram apanhar o chapéu a boiar na sombra e que a criança deixou cair na água do rio.

 

 

 

fig. 35 – Almada Negreiros, Sem título. Estudo para a Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos c. 1946, tinta da China e guache s/papel s/papel 73,4 x 59,2 cm. (F.C.G. 2017).

Pormenor do 1º painel (FRANÇA 1974).

 

Na popa da embarcação “com o sopro do vento, a levantar a cara e a escutar a voz do rio” [1] um casal abraçado com o chapéu da jovem empurrado pelo vento e apenas seguro pela fita, o pescador com o seu cachimbo, e um jovem que ergue o seu camaroeiro.

 


fig. 36 -  Pormenor do painel com o casal, o jovem com o camaroeiro e o pescador. (FRANÇA .1974).



[1]  Cesare Pavese (1908-1950) Paesaggio VIII (9-8-1940) in Lavorare Stanca, Giulio Einaudi Editore 1943. (pág. 87). No original: “sotto il fiat o del vento a levare il volto / e ascoltare la voce del fiume”.


A parte superior do painel

  


fig. 37 – A parte superior do1º  painel. (FRANÇA 1974).

 

A janela sobre o cais

Minha janela deita para a névoa

E a névoa é tudo, e o Universo ao meio”  [1]

 

No segundo plano à esquerda e parcialmente Almada coloca uma habitação.

Desta construção em tijolo, vê-se uma janela e um terraço que se abrem para o Tejo.

 


fig. 38 – Pormenor da janela do 1º painel. (FRANÇA 1974).

 

A janela com as portadas abertas, sem cortinas, mas com uma gelosia levantada, abre para uma varanda com grade.

Tem junto a ela, uma mesa de pé de galo, coberta com uma toalha e onde estão pousados uma jarra de flores e um livro.

A janela, joga naquela ambiguidade entre interior /exterior que refere Bachelard: “O exterior e o interior são os dois íntimos; estão sempre prontos a inverter-se, a trocar sua hostilidade. Se existe uma superfície como limite entre um interior e um exterior, essa superfície é dolorosa para ambos os lados.” [2]

Almada havia já apontado esta duplicidade citando Hermes Trimegista em A Invenção do Dia Claro:

“- O pequeno é como o grande.

- O que está em cima é análogo ao que está em baixo.

- O interior é como o exterior das coisas.

- Tudo está em tudo.” [3]

E a janela estabelece, também, o limite entre o interior e o exterior ou como assinala Pessoa Entre mim e a vida há um vidro ténue. Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, eu não lhe posso tocar.” [4]

Inserido no painel este pormenor da janela, por si só, constitui uma espécie de quadro dentro de um quadro, em que o dentro e o fora de certo modo se confundem.

 

A janela aberta

“…pela janela aberta,

Há uma paisagem toda incerta

E um sonho todo a apetecer?” [5]

  


fig. 39 – A Janela. Pormenor do 1º painel. (FRANÇA 1974).

 

Almada havia já desenhado para a capa do livro “o fulgor das Cidades” de Joaquim Manso [6], o tema da mesa e uma cadeira junto da janela aberta,

 


fig. 40 – Almada Negreiros, capa para  o fulgor das Cidades de Joaquim Manso. 1924.

 

Na capa do livro, uma janela, com as cortinas afastadas, e aberta sobre a rua, tendo, no interior, uma mesa pé-de-galo com uma ânfora com flores e um livro de poemas.

Junto à mesa uma cadeira Thonet de 1859 (n.º 14) [7], um símbolo de modernidade nos finais do século XIX e ao longo do século XX. 

Para Almada estas cadeiras “…estão sentadas / nunca estiveram de pé / são femininas, são magras (…) [8]

Mas para Pessoa, a necessária presença da cadeira, lembra que deve sempre haver “Ao pé duma janela aberta / Uma cadeira predileta / Onde se sentem, lendo os meus versos.”  [9]


O tema da mesa de pé-de-galo (com ou sem as suas conotações ao espiritismo) face à janela aberta, é um tema recorrente do Cubismo.

Picasso trata-o diversas vezes, e esta metáfora da própria pintura, será um tema seguido por muitos outros artistas.

 


fig. 41 - Pablo Picasso, “Table devant la fenêtre” 1919. Aguarela sobre cartão 31 x 22.2 cm. Galerie Rosengart.

 


.fig. 42 - Ismael González de la Serna (1897-1968), “mesa e janela” 1927. Óleo sobre tela. 92 x 72 cm. Col. particular.



[1] Fernando Pessoa, A ilha deserta in Fernando Pessoa, Vinte Anos de Poesia Ortónima. I - 1915-1920, edição de João Dionísio, ed. digital gratuita. Lisboa, Imprensa Nacional, 2020. (pág.22).

[2] Gaston Bachelard (1884-1962), La Poétique de l’Espace (1957). Les Presses universitaires de France, 3e édition, Paris 1961. (pág. 243). No original: “L'en dehors et l'en dedans sont tous deux intimes; ils sont toujours prêts à se renverser, à échanger leur hostilité. S'il y a une surface limite entre un tel dedans et un tel dehors, cette surface est, douloureuse des deux côtés.”

[3] José de Almada Negreiros, A Invenção do Dia Claro, Olisipo apartado 145, Lisboa 1921 [facs]. (pág. 14).

[4] Bernardo Soares (Fernando Pessoa), Fragmento 80 Intervalo Doloroso in O Livro do Desassossego. Composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. Assírio & Alvim. Lisboa 2018.

33 Fernando Pessoa. Em plena vida e violência in Fernando Pessoa Obra Poética, Companhia Aguilar Editora, Rio de Janeiro 1965. (pág. 546).

[6] Joaquim Manso (1877-1956), “o fulgor das Cidades (Espanha e França)”. Livrarias Aillaud e Bertrand, Lisboa 1924. Capa de Almada Negreiros.  

[7] Michel Thonet (1796-1871). Desenvolveu em Viena na década de 60 do século XIX o fabrico de mobiliário de madeira curvada. A cadeira n.º 14 de 1859, pelo fabrico em série e pelo seu baixo preço, tornou-se extremamente popular quer para casas privadas que, sobretudo, para espaços públicos e comerciais. Em França pela sua enorme difusão em cafés e restaurantes ficou conhecida como “chaise bistrot”.

[8] José de Almada Negreiros, Chez Moi (1915) in Poemas. Assírio & Alvim – Porto Editora. Porto 2017. (pág. 41).

[9] Alberto Caeiro, O guardador de Rebanhos, in Fernando Pessoa Obra Poética, Companhia Aguilar Editora, Rio de Janeiro 1965. (pág. 204).

 

O terraço

Por cima desta janela, um terraço onde, apoiado a uma balaustrada que termina com um vaso, um casal observa o rio, à sombra dum toldo listado de amarelo e vermelho, talvez meditando nos

“…sonhos que vêm ter conosco ao crepúsculo, à janela,

Dos propósitos que nos acariciam

Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas

Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto,

E que doem por sabermos que nunca os realizaremos…” [1]

  


 fig. 43 – O terraço. Pormenor do 1º painel. (FRANÇA 1974).

 

Almada havia já desenhado um guache “Menina à varanda” que parecia ilustrar os versos do poema “Realidade” de Álvaro de Campos:

“Daquela janela do segundo andar, ainda idêntica a si mesma,

Debruçava-se então uma rapariga mais velha que eu, mais lembrada-

mente de azul.”  [2]

 


fig. 44 - Almada Negreiros, Menina à varanda 1933, guache s/papel. Modernismos – Arquivo Virtual da Geração de Orfeu.



[1] Álvaro de Campos, Dois Excertos de Odes (1914) in Fernando Pessoa Obra Poética, Companhia Aguilar Editora, Rio de Janeiro 1965. (pág. 312).

[2] Álvaro de Campos, Realidade in Fernando Pessoa Obra Poética, Companhia Aguilar Editora, Rio de Janeiro 1965. (pág. 386).


O navio

“Andam barcos no mar

Cheios de fumo a sonhar…” [1]

 


fig. 45 – Pormenor do painel com o navio a vapor. (FRANÇA 1974).

 

Do lado direito da parte superior do painel, navega uma embarcação, que parece ser uma traineira ou um rebocador, a chaminé soltando espirais de fumo, e uma bandeira com as cores nacionais hasteada na popa.

A curva da proa e as âncoras que pendem no casco do navio dão um ar sorridente ao barco a motor, contrastando com o ar triste do inacabado barco de madeira do painel central.

 


fig. 46 – Pormenor de Estudo para o o 1º painel c. 1946. Note-se o navio em cor-de-rosa e a gaivota oceupando o pequeno rochedo. (F.C.G. 2017).

Pormenor do 1º painel do tríptico do “Domingo Lisboeta”. (FRANÇA 1974).

O desenho deste navio, com esta forma antropomórfica, tem algo dos desenhos de animação da época, e lembremos que em 1938, Almada Negreiros havia, a convite da Empresa do Cinema Tivoli, escrito um texto sobre Walt Disney intitulado “Desenhos Animados, Realidade Imaginada” para a apresentação do filme "Branca de Neve e os sete anões". O texto foi então publicado.

Nele Almada assinala que “É uma demonstração de sentimentos humanos na linguagem da nova arte. Walt Disney não nos força a caberem nessa linguagem; pelo contrário, é tão evidente que a plasticidade da nova linguagem excede tôda a espectativa que Walt Disney com o ar de estar em sua casa a conversar com as vizitas, conta os sentimentos humanos pelos dedos, diz o que quere e até onde quere.” [2]

 


[1] José de Almada Negreiros, Panorama (s/d) in Poemas. Assírio & Alvim – Porto Editora. Porto 2017. (pág. 173).

[2] Almada Negreiros, Desenhos Animados Realidade Imaginada, Ed. Ática LTD. 1938. Capa do autor. Museu Gulbenkian.



2.2 o painel central

 

fig. 47 – O painel central do tríptico (FRANÇA 1974).

 

O painel central organiza-se também a partir de uma embarcação no primeiro plano, duas varinas uma de pé e outra sentada, e ao fundo um barco escorado e em construção.

Neste caso são evidentes e importantes as transformações introduzidas por Almada no painel, se o compararmos com o cartão preparatório.

De uma composição mais (ou demasiado) realista, passa-se para uma interpretação mais vigorosa, expressando mais a condição dos que trabalham na zona ribeirinha.

Veja-se o barco da parte superior agora isolado, o tratamento das varinas e mesmo as alterações na embarcação do 1º plano.

 


fig. 48 – Almada Negreiros, Estudo para o painel central, guache sobre papel, 0,82x0,40 cm. (MNAC 2011).

O painel central do tríptico “Domingo lisboeta” (FRANÇA 1974).

 

A embarcação

No pequeno barco do primeiro plano, uma pesca amadora, com uma mulher que vai remando enquanto o companheiro utiliza um grande camaroeiro.

 


fig. 49 – Pormenor da embarcação no primeiro plano. (FRANÇA 1974).

 

Note-se, comparando o cartão com a versão definitiva a construção (ou a desconstrução…) do fundo em planos sobrepostos, triangulares, em tons de verde, azul e amarelo.

 


fig. 50 – Almada Negreiros, Sem título. Estudo para a Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos c. 1946, guache e grafite s/papel 63,5 x 51,1 cm. (F.C.G. 2017).

 

As varinas

No centro do painel chama a atenção a presença de duas varinas, uma sentada, outra de pé com uma canastra à cabeça.

Com corpos e rostos robustos, acentuados pela geometrização e decomposição em planos, como estátuas de deusas primitivas.

 


fig. 51- O painel central do tríptico e pormenor das varinas. (FRANÇA 1974).

 

Desaparecem as elegantes varinas antes desenhadas por Almada como aquelas dos painéis da Estação Marítima de Alcântara. (Ver a I Parte ).

 


fig. 52 – Almada Negreiros, Varina in Modernismos – Arquivo Virtual da Geração de Orfeu.

 


fig. 53 –Almada Negreiros, Varina 1946, lápis s/papel 69 x 46 cm. (MNAC 2011).

 


fig. 54 - Varina, Estudo para os painéis da Estação da Rocha do Conde de Óbidos in Modernismos - – Arquivo Virtual da Geração de Orfeu.

 

Agora, Almada retrata com um “vigor tenebroso de ameaça contida[1], as varinas como mulheres rudes e corpulentas, esculpidas em planos, rostos como máscaras, com mãos e pés enormes, significando que são gente de vida difícil.

Formas que, sem excluir a influência de Picasso, se aproximam da pintura do brasileiro Cândido Portinari (1903-1962), e dos muralistas mexicanos José Orozco (1883-1949), Diego Rivera (1886-1957) e David Alfaro Siqueiros (1896-1974), e mesmo dos artistas neorrealistas portugueses das Exposições Gerais de Artes Plásticas, realizadas entre 1946 e 1956.

Aproximação que em 1953, Almada justifica em entrevista ao Diário de Lisboa, revelando que “O “realismo social” será uma das metamorfoses em arte, terá o interesse das pessoas que o vivam como arte, e sem ser um adepto, todo o artista faz conscientemente “realismo social”.” [2]



fig. 55 – Estudo para a varina sentada. (VIEIRA 2010).

A varina sentada no painel central do tríptico. (FRANÇA 1974).

  


   

fig. 56 – Almada Negreiros, Sem título. Estudo para a Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos c. 1946, grafite, guache e aguada s/papel 63,5 x 51,2 cm. (F.C.G. 2017).

A varina de pé no painel central do tríptico “Domingo lisboeta” (FRANÇA 1974).

 

Os rostos são desenhados em traços vigorosos enfatizando as rugas



fig. 57 - Almada Negreiros, Sem título. Estudo para a Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos c. 1946, lápis de cera s/cartão 50 x 50 cm. (F.C.G. 2017).

Pormenor da varina no painel. (FRANÇA 1974).

 


[1] Fernando Pernes (1936-2010), “Os frescos de Almada Negreiros nas Gares Marítimas”, in Colóquio, Revista de Artes e Letras, nº 60, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian 1970. (pág.18).

[2] Entrevista a Almada Negreiros por E.C. no Diário de Lisboa de Quarta-feira, 28 de Janeiro de 1953.


O estaleiro com um barco, de ohos tristes, em construção

“Dormem na praia os barcos pescadores
Imóveis mas abrindo
Os seus olhos de estátua

E a curva do seu bico
Rói a solidão.”
[1]

 

 

fig. 58 – A parte superior do painel central do tríptico “Domingo Lisboeta” (FRANÇA 1974).

 

Almada esboça o painel com o barco no estaleiro e com as duas figuras no bote.

 


fig. 59 - Estudo para o tríptico da Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos. Modernismos - Arquivo Virtual da Geração de Orfeu

  

No plano de fundo um barco humanizado abrindo / Os seus olhos de estátua” [2], dois grandes olhos tristes no casco incompleto, em que as balizas do cavername, como costelas, e as escoras como débeis braços, sublinham o ambiente algo melancólico ou mesmo triste, que reflecte a embarcação.

 


fig. 60 – Pormenor do barco em construção.

 

                                                              Os olhos do barco são uma figuração do olho de Hórus (Udjat) que Júlio Castilho ao vê-los nos barcos dos pescadores, lembravam “a um estudantinho de humanidades (como eu era) a esquadra grega dos cercadores de Troia, prófugos longos annos de roda dos mares...maria omnia circum.” [3] [4]

Os olhos de Hórus da embarcação, cheios de mar, esses “olhos que tudo veem”, são os olhos de Almada: “Narciso do Egipto” [5] e de Almada “Menino d’ Olhos de Gigante” [6] que como o barco também sabe que anda “…atrás dos meus olhos / ’té aonde forem parar” [7]

 


fig. 61 – (Autorretrato),sem data, grafite e tinta da China s/papel 43,5 x 58,3 cm. (F.C.G. 2017).

 


fig. 62 – Pormenor dos “olhos” do barco. (FRANÇA 1974).

 

Almada que, numa Conferência de Maio 1920, provocava a assistência perguntando:

“Já repararam nos meus olhos? Reparem bem nos meus olhos, não são meus, são os olhos do nosso século!

Os olhos que furam para detrás de tudo.

Estes meus grandes olhos de Europeu, cheios de todos os antecedentes; com o passado, o presente e o futuro numa única linha de côr, escrita aqui na palma da minha mão esquerda.” [8]


[1] Sophia de Mello Breyner Andersen, Barcos, de Coral (1950) in Obra Poética, Assírio & Alvim – Porto Editora 2015. (pág. 278).

[2] Sophia de Mello Breyner Andersen, Barcos, de Coral (1950) in Obra Poética, Assírio & Alvim – Porto Editora 2015. (pág. 278).

[3] Júlio de Castilho (1840-1919) A Ribeira de Lisboa Descripção Histórica da Margem do Tejo desde a Madre-De-Deus até Santos-O-Velho, Imprensa Nacional Lisboa MDCCCXCIII Livro I Capitulo XIII (pág. 81).

[4] “…maria omnia circum” é o verso 23 do Livro I da Eneida de Virgílio, “errabant, acti fatis, maria omnia circum.” Que em português se pode traduzir por “erravam por todos os mares levados pelo destino.”

[5] José de Almada Negreiros, “A Scena do Ódio” por José d'Almada-Negreiros. Poeta Sensacionista e Narciso do Egipto 1915. Colaboração inédita para o nº 3 de Orpheu, publicada na Separata da revista Contemporanea n.º 7 de Janeiro 1923. A Separata tem na capa um retrato de Almada por D. Vazquez Diaz. (pág.6).

E Cena d´Odio (14 de Maio de 1915), in Poemas. Assírio & Alvim – Porto Editora. Porto 2017. (pág. 22).

[6] José de Almada Negreiros, O Menino d’Olhos de Gigante 1921 in Poemas. Assírio & Alvim – Porto Editora. Porto 2017. (pág. 100).

[7] José de Almada Negreiros, O Menino d’Olhos de Gigante 1921 in Poemas. Assírio & Alvim – Porto Editora. Porto 2017. (pág. 106).

[8] José de Almada Negreiros, “A Conferência nº 1”, publicada com um desenho no Diário de Lisboa, de Sábado, 9 de Julho de 1921.

 

2.3 o terceiro painel

“As muitas que aqui se ajuntam em qualquer dia de festa, com as ancoras no mar, e as proas postas em terra, fazem vista tão aprasivel, e tão galharda presença, que julgareis que Neptuno coroado vos festeja.” [1]

  


fig. 63 – O 3º painel do tríptico “Domingo lisboeta” (FRANÇA 1974).

   

Almada elabora um estudo em que vai fixando as personagens que pretende introduzir na composição do painel. No primeiro plano o barco em terra coma posição das personagens já definida, mas ainda com um desenho realista.

Ao centro, se parecem já definidas as personagens do acrobata e do malabarista, a bailarina ainda é tratada de uma forma bastante realista, não ocupando a posição central.

Na parte superior a trapezista ainda não apresenta o desenho final que lhe confere um esvoaçante dinamismo.

O público é desenhado agora com precisão e o navio esbate-se no fundo.

Toda a composição ganha uma outra dinâmica pela inclinação dos postes e a torção da escada de corda do recinto do circo.



fig. 64 – Estudo para o 3º painel do tríptico, guache e grafite 99,5 x 55 cm. (MNAC 2011)

O 3º painel do tríptico “Domingo lisboeta” (FRANÇA 1974).

 

A embarcação

O barco de pesca, com uma significativa estrela pintada no casco, transporta três personagens, possivelmente actores intervenientes no espectáculo que se desenrola ao fundo. Dois, vestidos de estrelas, parecem descansar e um terceiro vai rufando no tambor ritmando as quatro actuações.

  


fig. 65 – Pormenor do barco de pesca na parte inferior do painel. (FRANÇA 1974).


O popular espectáculo do circo

“Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.

Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...” [2]

     


fig. 66 – A parte superior do painel. (FRANÇA 1974).

 

Ocupando a parte superior do último painel, um espectáculo de circo, onde ao som do rufar do tambor, actuam quatro artistas: uma bailarina, um contorcionista, um malabarista e uma trapezista.

 

A bailarina


 Almada que foi bailarino, figurinista e coreógrafo [3] e, portanto, conhece por dentro a arte do ballet, desenha uma bailarina, que no estudo preliminar se encostava à esquerda, tímida e discreta, ocupando na versão final do painel o centro da composição, sonhando-se talvez prima ballerina, numa correcta posição de bailado.

O pé direito avançando sobre o esquerdo, os braços cruzados nas costas e a cabeça erguida e inclinada parece apresentar o espectáculo.

  


fig. 67 -  Pormenor da bailarina. (FRANÇA 1974).

 

Ladeando a bailarina uma acrobata, dobrada sobre si mesma, vai-se contorcendo enquanto um malabarista se exibe jogando ao ar bolas e facas….

 


fig. 68 - Almada Negreiros, Sem título. Estudo para a Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos c. 1946, grafite s/ papel 50 x 50 cm. (F.C.G. 2017).

 


fig. 69 – As mesmas personagens no painel. (FRANÇA 1974).

 

O malabarista

O musculado malabarista “vestido de atleta nu e escrito no peito e nas costas e nos inchaços dos braços” [4] executa o seu número manuseando facas e bolas que volteiam no ar.


fig. 70  – Pormenor do malabarista. (FRANÇA 1974).

 

No estudo a personagem está já definida.

 


fig. 71 – Pormenor da fig. 70.

Pormenor do malabarista no 3º painel.(FRANÇA 1974)

 


fig. 72 – Almada Negreiros, Acrobatas 1947. Guache e grafite s/ papel 51 x 63,5 cm. Museu do Chiado. MNAC

  

O contorcionista

 


 

fig. 73 – Pormenor da contorcionista. (FRANÇA 1974)

 


fig. 74 – O Estudo para o contorcionista e a versão definitiva.

 

Datado de 1922, Almada tinha já desenhado um contorcionista “sobre um tapete de feirante (…) de joelhos e dobrado para trás, procura apanhar com a boca uma bola colocada sobre um gargalo de garrafa, ela própria assente no tampo de um tambor, por terra.[5]

 



fig. 75 - Almada, Sem título, 1922, grafite s/ papel 32,8 x 23,8 cm. (FRANÇA 1974 e F.C.G. 2017).


E em 1940 havia pintado um acrobata, muito mais contorcido, numa composição com um grafismo muito mais próximo do painel da Estação Marítima.



fig. 76 – Almada Negreiros, Sem título, 1940(?), óleo s/tela 92 x 73 cm. (F.C.G. 2017).

 

A trapezista 

No plano de fundo, a trapezista “ co’o seu maillot vermelho esfarrapado” [6] esvoaça por cima do olhar atento e espantado da assistência, como todos os trapezistas, pássaros ou anjos / atravessando a sombra da tarde!” [7]

 


fig. 77- Pormenor da trapezista. (FRANÇA 1974).



[1] Júlio de Castilho (1840-1919) A Ribeira de Lisboa Descripção Histórica da Margem do Tejo desde a Madre-De-Deus até Santos-O-Velho, Imprensa Nacional Lisboa MDCCCXCIII Livro II Capitulo VI (pág. 137).

[2] Álvaro de Campos, Adiamento in Fernando Pessoa Obra Poética, Companhia Aguilar Editora, Rio de Janeiro 1965. (pág. 368 e 369).

[3] Em 1918 no São Carlos, são exibidos dois bailados: O Bailado do Encantamento e A Princeza dos Sapatos de Ferro, ambos com a participação de Almada como bailarino. No primeiro desses bailados é referido o conjunto de “…bailarinos notaveís como José de Almada Negreiros e mademoiselle Street Caupers, Continelli Telmo e Reis Santos e as pequeninas Melo Breyner;…”, com uma fotografia de Almada como bailarino na Ilustração Portugueza (II Série n.º 638 de 13 de Maio de 1918).

No segundo bailado onde a participação de Almada se estende à coreografia é referida por Nuno Simões a “…gimnástica endemoninhada de Negreiros com seus saltos diabólicos”, no Suplemento da revista Atlântida (Anno III 1918), com fotografias dos vários intervenientes incluindo Almada Negreiros.

[4] José de Almada Negreiros, Saltimbancos (1916) in Ficções Escolhidas Assírio & Alvim – Porto Editora 2016. (pág. 83).

[5] José Augusto França, Almada - O Português sem Mestre, Editorial Estúdios Cor, SARL Lisboa 1974. (pág.62)

[6] José de Almada Negreiros, Saltimbancos (1916) in Ficções Escolhidas Assírio & Alvim – Porto Editora 2016. (pág. 81).

[7] Cecília Meireles (1901-1964), Trapezista in Canções. Livros de Portugal, Rio de Janeiro 1956. (pág. 101).

 

Para terminar

Ao longo deste percurso pelos painéis das Estações Marítimas de Alcântara e (sobretudo) da Rocha do Conde de Óbidos, torna-se evidente a frase de Almada Negreiros que inicia este texto.

“Creio não haver antes cumprido melhor, nem feito obra que fosse mais minha.” [1]

De facto, Almada nestes painéis resume muitas das suas intervenções ao longo do seu percurso artístico e literário, desde a década de 10 do século XX até ao final da década de 40.

Nos painéis, mais ou menos explícitas, encontramos referências à sua colaboração no Orfeu e à leitura atenta de Fernando Pessoa; à sua participação em bailados e ao convívio com os Ballets Russos; à atracção exercida pelos saltimbancos e pelo Circo; ao fascínio pela Commedia del’Arte e pelo teatro; pelo Cinema e pelos Desenhos Animados, à sua estadia em Paris e Madrid onde se sente como um emigrado; e à sua dedicação à cidade de Lisboa como se nela houvera nascido e onde ao Portugal do século XX que sempre se esforçou por criar...

José Augusto França sintetiza os painéis apontando neles um lirismo popular de Lisboa-beira-rio, um saudosismo de emigrante, um sonho de ilhas encantadas – que é tudo isso coisa nossa, hoje, e mostra, tudo isso o divórcio do tempo, apartamento do mundo. Esses são os propositados painéis da nossa solidão.” [2]


[1] Entrevista a Almada Negreiros por E.C. no Diário de Lisboa de Quarta-feira, 28 de Janeiro de 1953.

[2] (Acrescentado em 01 - 02 - 2021). José Augusto França, da não existência de pintura mural em Portugal in O Comércio do Porto de Terça-feira 12 de Janeiro de 1954. 


Bibliografia citada no texto

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ARGAN, Giulio Carlo (1909-1992), - L’Arte moderna 1770 / 1970, G.C. Sansoni Editore Nuova S. p. A., Firenza 1977.

BACHELARD, Gaston (1884-1962), - La Poétique de l’Espace (1957). Les Presses universitaires de France, 3e édition, Paris 1961.

CAMÕES, Luís Vaz de, - Obras de Luís de Camões, Lello & Irmão - Editores. Porto 1970.

CASTILHO, Júlio, - Ribeira de Lisboa: descripção histórica da margem do Tejo desde a Madre de Deus até Santos-o-Velho. Imprensa. Nacional, Lisboa 1893.

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F.C.G. – Catálogo da Exposição Os Anos 40 na Arte Portuguesa. Fundação Calouste Gulbenkian. 1982.

F.C.G.- Catálogo da Exposição José de Almada Negreiros – Uma maneira de ser moderno. Museu Calouste Gulbenkian 2017.

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COLOQUIO, Revista de Artes e Letras, n.º 60, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.

DIÁRIO DE LISBOA - Sábado, 9 de Julho de 1921.

DIÁRIO DE LISBOA -  Quinta-feira, 16 de Maio de 1946.

DIÁRIO DE LISBOA -  Quarta-feira, 28 de Janeiro de 1953.

CONTEMPORÂNEA - n.º 7 de Janeiro 1923. 

ILUSTRAÇÃO PORTUGUEZA - n.º 638 de 13 de Maio de 1918.

O COMÉRCIO DO PORTO - Terça-feira, 12 de Janeiro de 1954.

 

NET

Arquivo Pessoa http://arquivopessoa.net/textos/2498

BND – Biblioteca Nacional Digital https://bndigital.bnportugal.gov.pt/

BNP - Biblioteca Nacional de Portugal Lisboa http://www.bnportugal.gov.pt 

Hemeroteca Digital de Lisboa http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/

MNAC Museu Nacional de Arte Contemporânea. http://www.museuartecontemporanea.gov.pt/

FCG https://gulbenkian.pt/biblioteca-arte/

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F.C.G. Fundação Calouste Gulbenkian Lisboa https://gulbenkian.pt/ 

Modernismos - Arquivo Virtual da Geração de Orfeu https://modernismo.pt/