sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

O Rosto da Cidade I

O Rosto da Cidade I

 

“uma realidade que transcende

a própria imagem sua debuxada

no rosto do mistério, nos abismos.”

Carlos Drummond de Andrade  [1]

 

Nem todas as cidades têm um rosto, um rosto nu na luz directa” [2], que nos permita de imediato reconhecê-las.

Nem em todas, uma simples imagem - no escorrer do tempo - pode condensar a sua fisionomia, a sua face, rosto onde se vão desenhando os velhíssimos pormenores da sua história e da sua vida.

O Rosto da Cidade é a sua “beleza / é essa luta de sombras / é o sobressalto da luz / num tremor de água[3].

É a sua identidade e a sua alma.


O rosto da cidade do Porto

 “Uma cidade pode ser

apenas um rio, uma torre, uma rua…”

Albano Martins [4]


 

fig. 1 – O Porto visto de Vila Nova de Gaia . Publicação de Porto photo. 16 de novembro 2014.

 O Porto é uma cidade com rosto, a face voltada na direção do sol, procurando deixar para trás, as suas sombras.

E se algumas vezes, em dias mais sombrios, a chuva cai de mansinho, essas gotas de água lavam suavemente o seu rosto cor de granito, enquanto o vento suave vai refrescando a sua invicta urbanidade.

A passagem do tempo imprime, na imagem da cidade, um mundo de que falam várias histórias, e é essa imagem que permanece na memória dos que, de coração aberto, dela se aproximam.

O rosto da cidade vai mudando dia a dia, mas apesar das diferenças, das rugas e cicatrizes que o tempo lhe imprime, a quem o sabe olhar, sempre o reconhece.

É essa imagem, esse Rosto do Porto, que como um espelho, emerge do abismo profundo, onde, na névoa que sempre o rio traz, nessa neblina onde o tempo se esconde, é esse rosto que permite que encontremos a nossa própria face, a nossa própria e singular identidade de tripeiros.


A criação de um rosto para o Porto

 “Quem desce de Gaia, com os olhos ainda presos à bonomia sólida e, às vezes, idílica dos subúrbios (…) quem traz ainda consigo essa indiferença que as coisas felizes nos provocam, suspende-se de repente ao encontrar a face da cidade.” Agustina Bessa Luís [5]

São duas, as primeiras imagens que - de início - nos aproximam e traçam um primeiro retrato da cidade do Porto: a Vista do Porto de Pier Maria Baldi de 1669 e a Vista do Porto de Humphrey Duncalf de 1733.

São já duas vistas viradas para o meio-dia, onde a cidade “cae sobre o Douro, que faz porto á cidade, e lava as muralhas, que decem a beber na agoa.” [6]

1 – A Vista do Porto de Pier Maria Baldi

“Seu rosto é de um desenho muito antigo”

Cecília Meireles. [7]


Esse primeiro esboço de um retrato do Porto, a cidade cabendo num só olhar, terá sido realizado por Pier Maria Baldi.[8]

O Porto é representado em dois desenhos que adicionados formam uma vista completa da cidade, desde a Serra do Pilar ao convento de Vale Piedade [9], na margem sul, e da colina do Seminário até à Torre da Marca [10], na margem norte.

 

fig. 2 - Pier Maria Baldi (c.1630-1686), Vista do Porto Estampa LXIV in Viaje de Cosme de Médicis por España y Portugal (1668-1669) / edicion y notas por Angel Sánchez Rivero y Angela Mariutti de Sánchez Rivero. - Madrid : Sucesores de Rivadeneyra, [1933]. Da Relazione ufficiale del viaggio di Cosimo III dei Medici da Biblioteca Medicea Laurenziana de Florença.

É o segundo desenho, com a parte oriental da cidade, que nos aproxima do rosto da cidade, onde “o morro granítico da Serra do Pilar, avançando, como se fora um promontório, parece unir-se com a escarpa do monte fronteiro e fechar alli o leito às aguas” [11].

Neste desenho, o Porto e Gaia dando as mãos, inclinam-se sobre o Douro, esse rio caudaloso que separa e une estas colinas, e cujas actividades, deram origem ao nome da cidade.






fig. 3 - Pier Maria Baldi (c.1630-1686),Desenho 2 da Vista do Porto Estampa LXIV in Viaje de Cosme de Médicis por España y Portugal (1668-1669) / edicion y notas por Angel Sánchez Rivero y Angela Mariutti de Sánchez Rivero. - Madrid : Sucesores de Rivadeneyra, [1933].Da Relazione ufficiale del viaggio di Cosimo III dei Medici da Biblioteca Medicea Laurenziana de Florença.

 

 2 – A Vista do Porto de Humphrey Duncalf 

"As verdadeiras imagens são gravuras. / A imaginação grava-as na memória. /Elas aprofundam lembranças vividas para se tornarem lembranças da imaginação." [12]  Gaston Bachelard A Poética do Espaço.

 No século XVIII, Humphrey Duncalf (1707?- 17..?), um inglês estabelecido no Porto pinta uma vista do Porto.



fig. 4 – Humphrey Duncalf, Vista do Porto 1730/33. óleo s/ 155 X 90 cm. AHMP Câmara Municipal do Porto.

 Desta pintura é elaborada, em 1736, uma gravura (água-forte), significativamente intitulada “OPORTO”, desenhada por Duncalf e impressa por William Henry Toms ( c.1700–1765).


fig. 5 - H. Duncalf, OPORTO. Água-forte colorida 38 x 61 cm. H. Duncalf delin. H. Toms sculp. Publish'd According to Act o f Parliament Augt. 3. 1736.  

Tem uma legenda bilingue com dez números em Português e Inglês dos principais edifícios. 

1   -Os frades de S. Bento 2   -A Igreja da Vittória 3   -Os Agostinhos 4   -Os Congregados 5   -S. Domingos 6   -S. Francisco 7   -A Igreja da Sé 8   -O Paço do Bispo 9   -Os padres da Companhia 10 -A Igreja de S. Nicolau

 Nesta e noutras “gravuras tão inglesas com o panorama do Porto, o rio, os barcos ancorados e a muralha da cidade” [13], Humphrey Duncalf traça, com maior precisão, um retrato do Porto, a imagem do Rosto da Cidade.

O tratado “dos panos e dos vinhos” [14], trouxe para o Porto os ingleses e acrescentou à sua imagem o Vinho do Porto

Por isso, e porque agora “o Douro é um rio de vinho” [15], Duncalf na sua gravura desloca para poente o ponto de vista do autor, conferindo ao Douro e às actividades portuárias o principal protagonismo.

Quatro grandes navios de longo curso, ancorados sobre as águas de uma pequena enseada, lembram o comércio com a Inglaterra. [16]

E no rio, por entre diversos escaleres, uma tartana e um rabelo, este lembrando o Vinho do Porto transportado rio abaixo.

Na margem sul diversas personagens dedicam-se às actividades do rio: do lado esquerdo da imagem, pescadores lançam uma rede sob o olhar atento de uma personagem de casaca, dois frades e um serviçal com uma cesta.

Ao centro e à direita diversas personagens como carregadores, tanoeiros e comerciantes, ligadas ao comércio do vinho, que assume já uma importância fundamental na economia da cidade.


fig. 6 – Pormenor da gravura de H. Duncalf.

 Na zona ribeirinha destaca-se a praia de Miragaia, a Porta Nova, com o fortim de D. Manuel, e uma reentrância correspondente à Porta de Banhos.

A muralha “com a cintura rodeada de nevoeiros, generosa e tímida, com a sua coroa provinciana e a luva suja na mão descalça…” [17] está, a ocidente, interrompida para a expansão da cidade que então, anda “à procura de espaço / para o desenho da vida” [18].

Correspondendo à cidade joanina e barroca, no Rosto do Porto destaca-se o papel da Igreja.

Assim, por entre grandes zonas não edificadas, a gravura está centrada na colina da Vitória, dominada pelo convento de S. Bento (construído ao longo do século XVII) e a igreja da Vitória (correspondendo à edificada em 1638), junto ao vale das Virtudes onde corre o Rio Frio.

Na cidade baixa, o mosteiro dos “Agostinhos” de S. João Novo, cuja fachada foi refeita em 1726.

E os conventos de S. Domingos e de S. Francisco, este com o portal da igreja já modificado adquirindo a sua expressão barroca.

Ainda na zona ribeirinha a igreja de S. Nicolau edificada entre 1671 e 1676. (será reconstruída em 1758, após um incêndio).

 A colina da Sé - a acrópole da cidade – é remetida para o plano de fundo.

A Sé com as transformações barrocas como as cúpulas bolbosas e as balaustradas nas torres, o frontão entre elas sobre o portal principal.

Na imagem é visível a Casa do Cabido construída entre 1717 e 1719 e o Paço do Bispo ainda na sua versão primitiva.

Destaque ainda para “Os padres da Companhia”, ou seja, igreja e o Colégio de S. Lourenço (Grilos).

Para nascente da muralha, “a tapeçaria bela e fina/Com que se cobre o rústico terreno…”,[19]  das Fontaínhas e do verdejante vale de Campanhã.

 

Duas gravuras que criam o rosto da cidade

 A gravura de Teodoro de Sousa Maldonado

“Que diz além, além montanhas,
O Rio Doiro à tarde, quando passa?
Não há canções mais fundas, mais estranhas,
Que as desse rio estreito, de água baça!...
Que diz ao vê-lo o rosto da cidade?”
[20] 


A cidade ganha, por fim, uma inconfundível imagem que se irá consolidando como a face da cidade e o Rosto do Porto. [21]

E mesmo ganhando algumas rugas e cicatrizes, mesmo envelhecendo, irá manter-se até hoje para os que a querem apresentar ou resumir a uma só imagem.



fig. 7 - Teodoro de Sousa Maldonado (1759-1799), T. S. Maldonado delin.; Godinho sculp.. na Officina de António Alvares Porto 1789.

Na parte superior dois anjos seguram uma fita com “C.ª DO PORTO”.

Em baixo rodeando a legenda de 56 números, as Armas da Cidade com a imagem de Nossa Senhora da Vandoma entre duas torres e o dístico: “Civitas Virginis”.

Na legenda à direita: 29 Caza Antiga da Moeda 30 Hospital de S. Crispim 31 Igreja da Lapa 32 Congregados do Orat. 33 Agostinhos descalços 34 Senado 35 Praça Nova da Ribeira 36 Senhora do Ó 37 Cathedral 38 Paço do Bispo 39 Pelourinho 40 Patibulo 41 Caridade 42 Porta de Sima da V.ª 43 Recolhime.to do Ferro 44 Igreja de S. Ildefonso 45 Convento de S. Clara 46 Porta do Sol 47 Capuchos 48 Recolhim.to das Orfas 49 Escadas dos Guindaes 50 Muro da Cidade 51 Rio Douro 52 Estaleiro 53 Santa Marinha 54 Armazens 55 Villa Nova 56 Convento da Serra

Na legenda à esquerda: 1 Torre da Marca 2 Convento de Monchique 3 Passeio de Miragaya 4 Quarteis Militares 5 Parochia de S. Pedro 6 Forte da Porta Nova 7 Fabrica de Louça 8 Hospital dos Inglezes 9 Porta dos Banhos 10 Gracianos 11 Porta das Virtudes 12 Hospital Novo 13 Terceiros Francisc.os 14 Franciscanos 15 Benedictinos 16 Praça da Victoria 17 Igreja da Victoria 18 Igreja de S. Nicolao 19 Terceiros Trinitários 20 Relação 21 Porta do Olival 22 Terceiros Carmelitas 23 Dominicos 24 Collegio dos Orfãos 25 Igreja dos Clérigos 26 Mizericordia 27 Porta da lingoeta 28 Alfandega

Na legenda à direita: 29 Caza Antiga da Moeda 30 Hospital de S. Crispim 31 Igreja da Lapa 32 Congregados do Orat. 33 Agostinhos descalços 34 Senado 35 Praça Nova da Ribeira 36 Senhora do Ó 37 Cathedral 38 Paço do Bispo 39 Pelourinho 40 Patibulo 41 Caridade 42 Porta de Sima da V.ª 43 Recolhime.to do Ferro 44 Igreja de S. Ildefonso 45 Convento de S. Clara 46 Porta do Sol 47 Capuchos 48 Recolhim.to das Orfas 49 Escadas dos Guindaes 50 Muro da Cidade 51 Rio Douro 52 Estaleiro 53 Santa Marinha 54 Armazens 55 Villa Nova 56 Convento da Serra.

Em 1789, o padre Agostinho Rebelo da Costa (17..?-1791) publica a sua “Descripçaõ Topografica e Historica da Cidade do Porto”. Em subtítulo escreve “Que contém a sua origem, situaçaõ e antiguidades: a magnificencia dos seus templos, mosteiros, hospitaes, ruas, praças, edificios, e fontes...&tc.”

Um livro que descreve e promove a cidade do Porto, mostrando todas as suas vantagens e características, com a preocupação de a valorizar nacional e internacionalmente. [22]

No livro, Teodoro de Sousa Maldonado [23] insere esta imagem que, acompanhando a descrição literária, pretende promover o Porto como cidade portuária de “Commercio e Navegação”, dar-lhe uma personalidade com o objectivo claro da sua afirmação económica e política com “o immenso cabedal, que enriquece a negociaçaõ da Praça do Porto” [24]

À cidade da primeira metade do século VIII “barroca na forma, nos volumes e no movimento do seu casario, na forma túrgida do burgo, nos mean­dros do rio, nas perspectivas várias dos múltiplos planos“ [25], acrescenta-se a cidade iluminista e neoclássica dos Almadas [26], que com os “cabedais” da Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro (fundada em 1756), “que é sem exageração, a base principal do comércio desta cidade, um dos maiores e mais fecundos ramos que o promove, e a grande alma que o anima, assim como na indústria como nos interesses gerais.” [27]

Para promover as obras na cidade é criada em 1758 a Junta das Obras Públicas, sendo o seu financiamento obtido com um imposto lançado sobre o comércio do vinho. Aos arquitectos-artistas do Barroco, substituem-se agora os engenheiros-militares, com uma visão mais racional e estratégica do desenvolvimento e embelezamento urbano.

Esta gravura, a primeira gravura feita por portuenses, acrescenta ao rosto da cidade, uma torre, a Torre da Igreja dos Clérigos, “…hum dos maiores Obeliscos”, que servindo “de Balisa, ou Marca para se dirigirem por elle todas as embarcações que entraõ na barra do rio Douro.” [28].

Por isso Sousa Maldonado desenha a Torre ocupando uma posição central, mostrando que ela ao assumir um incontornável papel na estruturação visual e urbana do Porto, altera e consolida o perfil e a imagem da cidade, para quem de fora dela se aproxima e/ou para quem nela circula.

E assim se completa o Rosto da Cidade, com a presença da Torre dos Clérigos, esse rosto onde a “luz terá a cor do granito” [29].


fig. 8 – A Torre dos Clérigos. Pormenor da gravura de Teodoro de Sousa Maldonado.

E nasce ainda a descrição da cidade como um anfiteatro sobre o rio:“O prospecto da Cidade observado da parte meridional do Rio Douro, he bem similhante a hum grande Amphitheatro”  [30] .

Na gravura, o Porto surge assim, como uma urbe debruçada sobre o Douro em anfiteatro por cima dos telhados de Gaia e tendo à direita a Serra do Pilar, e estendendo-se entre a Torre da Marca e o Recolhimento da Órfãs (Na. Sra. da Esperança).

A imagem do Porto de Teodoro de Sousa Maldonado estabelece e consagra, a decisiva intervenção dos Almadas [31], criando esta nova e completa visão da cidade, onde no dizer de Paulino de Cabral (1719-1789), Abade de Jazente, “se extendem ruas, se sustentaõ pontes” [32]  e se faz sentir a inadiável necessidade e vontade de um atravessamento do Douro, consagrando “que os precipícios /Já saõ Cidade, e deixaõ de ser môntes”. [33]
A cidade já então bracejara amplamente para fora do recinto das suas espessas muralhas, “Havendoce aumentado no prezente seculo o commercio desta cidade ao auge a que se acha, cresceu com elle igualmente a sua povoação e opulência e nam sendo ja suficiente o lemitado âmbito que lhe constituirão as suas muralhas para comprehender todos os moradores fundarão estes para sua habitação novos bairros que lhe sam contíguos e hoje maiores que a cidade antiga…” [34]

A cidade apresenta ainda alguns panos da sua muralha que “discorre ao Meio dia, quasi em linha recta pela margem do Rio Douro; e depois de formar huma varanda espaçosa de dous mil pés de comprimento, faceada de bellissimos, e disposta em forma, que serve de agradavel passeio Publico, chega aos Guindais…”. [35]

À cidade chega-se pelo rio e nela se entra pelas Portas ribeirinhas. Nela estão assinaladas “as maiores Portas, e as de maior concurso”: a Porta Nova, a Porta dos Banhos, a Porta da Lingueta, a Porta do Peixe e a Porta da Ribeira que faceaõ com o Rio”. [36]

Mas, das cinzas da memória, emerge na gravura “Junto d’uma d’estas portas, a da Ribeira, estavam d’um lado a forca e do outro o pelourinho da cidade, terríveis insígnias da idade média, permanentemente de pé em todas as terras importantes.” [37]

A Forca, deslocada em 1714 do “sitio chamado Mija-velhas, e arvorar-se no caes da Ribeira. Em 14 de junho de 1725 se tomou assento ácerca das ruas por onde haviam de transitar os padecentes; redusiram-se as ruas mais breves e direitas á Ribeira.” [38]

 

 A gravura de Manoel Marques de Aguilar 1791

 “O sol, que pelas ruas da cidade / Revela as marcas do viver humano / Sobre teu belo rosto soberano / Espalha apenas pura claridade.” Vinicius de Moraes [39]


fig. 9 - Manoel Marques de Aguilar (1767/8-1816/7) Vista da Cidade do Porto, desde a Torre da Marca athe as Fontainhas, tomada da parte de Filia Nova do sítio chamado Choupello. Dedicada Ao Ulmo. e Exmo. Senhor JOZE DE SE ABRA DA SILVA, Ministro e   Secretario de Estado de Sua MAGESTADE FIDELÍSSIMA da Repartição dos Negócios do Reyno. Por Manoel Marques de Aguilar Alumno das Aulas Regias, Náutica, e Dezenho, estabelecidas na dita Cidade. Aguilar Delin e Esculp no Anno de 1791 e da por Completos os Edifícios dos Números seguintes: No. 11. 28. 29. 34. Gravura aberta a buril 35x103 cm. Exemplar colorido da Biblioteca Nacional Digital.

Na parte inferior, ao centro, o brasão dos Seabras  com dois leões virados um para o outro e ao centro um S coroado.

É dedicada ao Senhor JOZE DE SEABRA DA SILVA, Ministro e Secretario de Estado de Sua MAGESTADE FIDELÍSSIMA da Repartição dos Negócios do Reyno. [40]

 

A gravura de Marques de Aguillar, do final do século XVIII, consolida este retrato da cidade do Porto como o Rosto da Cidade.

A cidade, vista de Gaia, estende-se da Torre da Marca até às Fontaínhas

A cidade muralhada está centrada na Torre dos Clérigos, (definitivamente o ex-libris da cidade), que se ergue entre os morros da Vitória com o convento de S. Bento e o morro onde a Sé repousa.

 

fig. 10 - A gravura reproduzida na Edição Comemorativa da Inauguração da Ponte da Arrábida 1963 - CMP

 Como se estivessem acabados, estão representados alguns edifícios, em construção, como o Hospital de S. António (com a torre prevista no projecto de John Carr), a igreja da Lapa e o Paço Episcopal.

 A gravura mostra sobretudo a intensa actividade no Douro e nas suas margens,

No “Douro, meu belo país do vinho e do suor” [41], destaca-se a rota do Vinho do Porto desde o Alto Douro até Vila Nova de Gaia, que os “barcos rabelos carregavam pelo rio sossegado seus largos barris.” [42]

 1 - Na gravura, Marques de Aguilar desenha um primeiro rabelo de “espadella longa e esguia estirando- se ao lume d'agua como a cauda de um cetáceo.[43], transportando rio abaixo o vinho que “logo que as pipas que o contéem são carregadas no barco, que as ha de trazer aos vastos armazéns de Gaya, o vinho deixa de ser do Douro, e passa a ser do Porto, sem que os cultivadores protestem contra a uzurpação de um titulo, que certamente lhes daria honra.” [44]

O rabelo apronta-se “a chegar ao término da sua viagem, carregado de cascos cheios, com água rasando as bordas, a carga arrumada a preceito [45]


fig. 11 -  O rabelo descendo o rio. Pormenor da gravura de Marques de Aguilar.

2 - Após atracar ao cais de Gaia, o “barco rabelo descarrega pipas pelo processo ainda usado nos nossos dias (os cascos passados sobre as pranchas de carga, puxados por cabos, e manobrados com o auxílio dos paus ou travessas de carga, usados como alavancas)…” [46]


fig. 12 – Descarregando o rabelo na margem de Gaia. Pormenor da gravura de Marques de Aguilar.

 Descarregada a carga para os armazéns de Gaia, o rabelo, “vela branca, rio acima” [47], de regresso às terras do Alto-Douro,”com o arrais a governar nas apegadas e, à proa, três marinheiros, dois em descan­so (um parece estar a beber), e o terceiro, vigiando o percurso, como proeiro.” [48]

fig. 13  – O barco rabelo rio acima de vela enfunada,

E, para além deste ciclo do rabelo, a gravura mostra a importância da cidade na construção e na manutenção das embarcações de longo curso.



fig. 14 – As actividades náuticas nas margens do Douro. Pormenor da gravura de Marques de Aguilar.

No lado esquerdo da gravura Marques de Aguilar desenha uma fragata em construção…” [49], e mais para a direita uma outra embarcação com o casco adornado a querenar. [50]

E no Douro, o rio que é porto da cidade, estão ancoradas diversas fragatas, navegam valboeiros, e ainda, um bergantim e uma lancha poveira, uma galeota e diversos botes e escaleres.


Concluindo esta I Parte e antes de observar o Rosto do Porto nos séculos posteriores, terminámos com Agustina Bessa Luís, sentindo nesta “admirável e antiquíssima gravura uma sim­plicidade dramática, como se ela contivesse uma só forma moral, apesar dos seus imbricados mundos de classes, dos seus preconceitos, das suas confidências de vizinhança impas­sível a todas as leis, excepto à da não-semelhança com o seu próximo.” [51]

 

 CONTINUA


[1] Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) a máquina do mundo in Claro Enigma (1951) 10ª edição Editora Record Rio de Janeiro (pág. 122)

[2] Sofia de Mello Breyner (1919-2004), Rosto do livro Coral in Sophia de Mello Breyner Andressen. Obra Poética. Assirio & Alvim, Porto Editora. Porto 2015. (pág.301).

[3] Mia Couto (1955), no teu rosto (Janeiro de 1981) in Raíz de Orvalho e outros poemas (1ª edição 1999). Editorial Caminho 2010. (pág. 48).

[4] Albano Martins (1930-2018), "Castália e Outros Poemas". Campo de Letras. Porto 2001.

[5] Agustina Bessa Luís (1922-2019), A Muralha, Guimarães Editores, Lisboa 1957. (pág. 40).

[6] Frei Luís de Sousa (c.1555-1632), História de São Domingos. Livro III cap. XIII. (1623/26) Na Officina de Antonio Rodrigues Galhardo Lisboa 1767. (pág. 302).

[7] Cecília Meireles (1901-1964), Paisagem com figuras in Poesia Completa Volume II. Edição Nova Fronteira. Rio de Janeiro 2001. (pág. 1370)

[8] Portugal, passara, em 23 de Novembro de 1667, pela sucessão no trono de D. Pedro após afastar o seu irmão D. Afonso VI, casando com a cunhada Maria Francisca Isabel de Saboia. Em 1668-1669 o príncipe Cosme (Cosimo) III de Medicis (1642-1723), Grão-Duque da Toscana, realiza uma viagem pela Europa incluindo a Espanha (1668) e Portugal (1669), tendo aqui permanecido de 9 de Janeiro a 1 de Março de 1669. Nesta visita aos países ibéricos, o príncipe faz-se acompanhar do conde Lorenzo Magalotti (1637-1712), pensador, diplomata e poeta, que escreve então uma Relação, e onde Pier Maria Baldi (1630-1686), insere um conjunto de 71 aguarelas de vistas de cidades ibéricas, sendo 34 de Portugal, entre as quais o Porto. Os originais encontram-se na Biblioteca Laurenciana de Florença e foram publicados (não coloridos), pelo Centro de Estudos Históricos de Madrid, com o título de Viaje de Cosme de Médicis por España y Portugal (1668-1669).

[9] O mosteiro de Vale da Piedade foi fundado em 1569, pelos religiosos franciscanos (antoninos) da província da Soledade, ou reformados menores de S. Francisco.
“Ao lugar onde se fundou este mosteiro (em frente de Miragaia, na margem esquerda do Douro) se chamava até então Vale de Amores. Deu-se-lhe este nome, porque sendo um matagal, com árvores silvestres, era a alcoice (local de prostituição) dos moradores do Porto e Gaia. Os frades mudaram o nome para o de Vale da Piedade.” Francisco Ferreira Barbosa, Elucidário do Viajante no Porto. Coimbra 1864.

[10] A Torre da Marca que servia para orientação dos navios que entravam na barra do Douro. Foi construída pela Câmara em 1542, a pedido do rei D. João III, em substituição de um pinheiro que ali existia com as mesmas funções.

[11] Júlio Máximo d’Oliveira Pimentel (1809-1884) Visconde de Villa Maior, in O Douro Illustrado. Álbum do Rio Douro e Paiz Vinhateiro, [com texto em Português, Francês e Inglês], Porto, Livraria Universal de Magalhães & Moniz – Editores 12-Largo dos Loyos-14, Porto 1876. (pág. 156).

[12] [Les vraies images sont des gravures. L'imagination les grave dans notre mémoire. Elles approfondissent des souvenirs vécus, elles déplacent des souvenirs vécus pour devenir des souvenirs de l'imagination.]. Gaston Bachelard(1884-1962), La Poétique de l’Espace (1957) 3e édition, Bibliothèque de philosophie contemporaine. Les Presses universitaires de France, Paris. 1961, (pág. 58).

[13] Agustina Bessa Luís (1922-2019), A Muralha. Guimarães Editores Lisboa 1957 (pág. 108).

[14] O tratado de Methuen 1703 entre Portugal e a Inglaterra. Negociado por John Methuen (1650-1706) e assinado pelo filho Paul Methuen (1672-1757) e pelo Marquês de Alegrete (1682-1736) no ano de 1703.

[15] Joaquim Namorado (1914-1986), Portwine, in A Poesia Necessária. Cancioneiro. Vértice. Coimbra 1966

[16] Para aceder ao porto fluvial e perante dificuldades na entrada da barra do Douro, os navios de grande capacidade tinham de esperar pela maré cheia..

[17] Agustina Bessa Luís (1922-2019), A Muralha Guimarães Editores Lisboa 1957 (pág.41 e 42).

[18] Cecília Meireles (1901-1964), in Obra poética, 3ª edição, 5ª impressão, Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1986. (pág.148).

[19] Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto IX, est. LX, in Obras de Luís de Camões, Lello & Irmãos, Editores, 144, Rua das Carmelitas, Porto 1970. (pág.1353)

[20] Pedro Homem de Melo (1904-1984), in Estrela Morta, Poesias Escolhidas, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1983.

“Que diz além, além montanhas,
O Rio Doiro à tarde, quando passa?
Não há canções mais fundas, mais estranhas,
Que as desse rio estreito, de água baça!...
Que diz ao vê-lo o rosto da cidade?
Ó ruas torturadas e compridas,
Que diz ao vê-lo o rosto da cidade,
Onde as veias são ruas com mil vidas?...
Em seus olhos de pedra tão escuros
Que diz ao vê-lo a Sé, quase sombria?
E a tão negra muralha à luz do dia?
E as ameias partidas sobre os muros?
Vergam-se os arcos gastos da Ribeira...
Que triste e rouca a voz dos mercadores!...
Chegam barcos exaustos da fronteira
De velas velhas, já multicolores...
Sinos, caixões, mendigos, regimentos,
Mancham de luto o vulto da cidade...
Que diz o rio além? Porque não há-de
Trazer ao burgo novos pensamentos?
Que diz o rio além? Ávido, um grito
Surge, por trás das aparências calmas...
E o rio passa torturado, aflito,
Sulcando sempre o seu perfil nas almas!...”

[21] Ver Ricardo Figueiredo, A arquitectura da cidade e a cidade de arquitecturas in O Tripeiro Ano XXX n.º 5 Porto Maio de 2011 (pág. 135).

[22] Agostinho Rebello da Costa (17?-1791), , Descripçaõ topográfica, e histórica da Cidade do Porto Officina de António Alvarez Ribeiro Anno de M.DCC.LXXX.IX.

[23] Teodoro de Sousa Maldonado (1759-1799), foi o primeiro arquitecto da cidade, cargo que começou a desempenhar a partir de 1792, ainda que trabalhasse para a Junta das Obras Públicas desde 24 de Abril de 1789. Entre 1789 e 1792 executou diversas tarefas para a Junta. As qualidades demonstradas entre 1789 e 1792 por Teodoro de Sousa Maldonado levariam a que o Senado da Câmara do Porto o nomeasse arquitecto da cidade. Esta resolução seria tomada numa vereação extraordinária efectuada em 30 de Maio de 1792. A partir de 1792, j á então arquitecto da cidade, a sua actividade foi intensa. A ele se devem inúmeras plantas algumas delas relacionadas com as obras mais importantes que entre aquela data e o ano em que faleceu se executaram no Porto, das quais destacamos: as da rua de Santo António, calçada dos Clérigos e rua da Boavista. Devem-se-lhe também diversos projectos para casas que tinham que ser construídas segundo as plantas que a Junta das Obras Públicas aprovasse.
Teodoro de Sousa Maldonado, arquitecto, hábil no desenho e poeta foi a personagem, ao lado de Champalimaud de Nussane, que directa ou indirectamente mais marcou a arquitectura do Porto no último decénio do século XVIII. Joaquim Jaime Ferreira Alves, O Porto na Época dos Almadas, Porto 1988.

[24] Agostinho Rebelo da Costa (17?-1791), Descripção Topographica Historica da Cidade do Porto 1789. (pág. 205).

[25] Reinaldo dos Santos (1880-1970) Conferência na Exposição Como Alguns Artistas Viram o Porto 1951 CMP Porto 1961.[26] João de Almada e Mello (1703-1786) em 1757 nomeado Governador de Armas do Reino e em 1764 Governador da Justiça e Relação do Porto, continuada pelo seu filho Francisco de Almada e Mendonça (1757-1804).

[27] Agostinho Rebello da Costa, Descripção Topographica Historica da Cidade do Porto 1789. (pág.239).

[28] Agostinho Rebello da Costa (17?-1791), , Descripçaõ topográfica, e histórica da Cidade do Porto Officina de António Alvarez Ribeiro Anno de MDCC LXXX IX (1789). (pág. 96).

[29] Eugénio de Andrade (1923-2005), Prefácio de Daqui ouve nome Portugal, ed. Inova Porto, 1968. (pág. 16).

[30] Agostinho Rebello da Costa (17?-1791), Descripção topographica e historica da Cidade do Porto. Na Officina de Antonio Alvarez Ribeiro, Porto 1789. (pág.21).

[31] João de Almada e Mello (1703-1786) foi em 1757 nomeado Governador de Armas do Reino e em 1764 Governador da Justiça e Relação do Porto, continuada pelo seu filho Francisco de Almada e Mendonça (1757-1804)

[32] Abade de Jazente in "Poesias de Paulino Cabral de Vasconcellos, abbade de Jazente" Porto Na Officina de Antonio Alvarez Ribeiro Anno de 1786. (pág. 105).

[33] idem. O Soneto

Dos teus, ó Porto, antigos Orizôntes

Apenas se descobrem os indícios;

Porque até dos penháscos nos refquícios

Se extendem ruas se sustentaõ pôntes.

Novos Cáes, novas Praças, novas Fôntes,

Torres, Templos, Palácios, Frontespícios

Te daõ tanta extensaõ, que os precipícios

Já saõ Cidade, e deixaõ de ser môntes.

.Cada vez cresces mais: Oh sempre cláro

Te assista o Céo, e tenha decretáda

Duraçaõ, que resista ao tempo aváro.

E serás immortal, se mensuráda

A vires pelo nome do Precláro

Teu fundador segundo, o Illustre Almada.

[34] Da “Conta” que João de Almada envia a D. José, na verdade a Sebastião José de Carvalho e Melo

[35] Agostinho Rebello da Costa (17..-1791), Descripçaõ topográfica, e histórica da Cidade do Porto Officina de António Alvarez Ribeiro Anno de MDCC LXXX IX (1789). (pág.21).

[36] Agostinho Rebello da Costa (17..-1791), Descripçaõ topográfica, e histórica da Cidade do Porto Officina de António Alvarez Ribeiro Anno de MDCC LXXX IX (1789). (pág.21).

[37] Arnaldo Gama (1828-1869) Um Motim há Cem anos. Chonica Portuense do Seculo XVIII, Typographia do Commercio. Porto 1861. (pág. 28). Arnaldo Gama no seu romance histórico Um Motim há Cem Anos publicado em 1861, descreve a revolta dos taberneiros em 1757 contra a Companhia das Vinhas do Alto Douro que provocou a vinda nesse ano para o Porto de João de Almada, e refere a rua de S. João e a praça da Ribeira, e ainda (provavelmente baseado na gravura de Maldonado), o pelourinho e a forca, instrumento da violenta repressão dessa revolta.

[38] Camillo Castello-Branco (1825-1890), Mosaico e Sylva de Curiosidades Historicas Litterarias e Biographicas Livraria Chardron de Lello & Irmão Porto 1868 (pág. 63 e 64).

[39] Vinícius de Moraes (1913-1980), in Livro de Sonetos. Edição Livros de Portugal S. A. Rio de Janeiro 1957. (pág.77[40] Manoel Marques de Aguilar nasceu no Porto em 1767 ou 1768 e morreu em Lisboa em 1816-1817. Começou os seus estudos artísticos na Aula de Desenho da Companhia dos Vinhos até 1793 e, a seguir, partiu para Londres, onde foi discípulo de Tomás Milton, cujo avô era neto do autor do Paraíso Perdido. O seu mestre era considerado paisagista de grande nomeada. Aí por 1796 regressou a Portugal, ingressando no Real Museu e no Jardim Botânico, para gravar objectos da História Natural e costumes da Ásia. (Xavier Coutinho).

José Seabra da Silva (1732-1813), Em 1763 foi desembargador do Porto quando ainda não completara 21 anos de idade. Foi secretário do Marquês de Pombal, e em 1765 foi nomeado procurador da coroa, e logo de seguida nomeado chanceler da Casa da Suplicação e guarda-mor da Torre do Tombo. A carta régia de 25 de Janeiro de 1770 fazia-o desembargador do Paço, e finalmente a 3 de Junho de 1771 era nomeado ministro de Estado adjunto ao marquês de Pombal. Em 1774, porém, o Marquês inexplicavelmente demitiu-o dizendo que cumpria ordens do rei. Foi para Vale de Besteiros e ali esteve três meses e depois preso no castelo de S. João da Foz no Porto. Finalmente foi desterrado para o presídio das Pedras Negras em Angola via Rio de Janeiro.Com a morte do rei e aclamação de D. Maria I em 1877, regressa a Portugal no ano seguinte. Em 1781 José de Seabra da Silva foi de novo chamado ao ministério do reino. Promoveu diversas obras públicas como, entre outras, as estradas de Lisboa ao Porto, do Porto à Foz, e a do Alto Douro. Em 1788, foi de novo demitido, devido à questão da Regência, e mandado para a sua quinta do Canal junto da Figueira com a proibição de voltar à corte.

[41] António Cabral (1931-2007), Poemas durienses. Opera Omnia Guimarães 2017. (pág. 35).

[42] Cecília Meireles (1901-1964), Saudade in Mar absoluto e outros poemas in Obra poética, 3ª edição, 5ª impressão, Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1986. (pág. 255)

[43] Alberto (Augusto de Almeida) Pimentel (1849- 1925), Espelho de Portugueses. Parceria António Maria Pereira Lisboa 1901. (pág. 137).

[44] Alberto Pimentel Espelho de Portugueses. Parceria António Maria Pereira Lisboa 1909. (pág. 138).

[45](as pipas dispostas no sentido longitudinal, tampo-contra-tampo, e em três andadas — o lastrado, a bortuna, a sobre-bortuna, às vezes a quarta, ou de glória) — traz dois remadores a pontear à proa, e o arrais a governar com a espadela, nas apegadas — todos eles debuxados nas devidas posturas; …” Octávio Lixa Filgueiras (1922-1996), Algumas Cenas e Cenários Ribeirinhos de Vila Nova de Gaia em Gravuras dos Séculos XVII a XIX. Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia 1984.Octávio Lixa Filgueiras realizou em 1983 nas Jornadas de História Local e Regional de Vila Nova de Gaia uma intervenção com o título “Algumas Cenas e Cenários Ribeirinhos de Vila Nova de Gaia em Gravuras dos Séculos XVII a XIX”, publicada em 1984 pelo Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia.

[46]como acontece com todos os outros figurantes, há o maior cuidado na indicação da indumentária dos marinhei­ros, do feitor que vigia a faina, do servente que se aproxima, rolando a pipa até ao cimo do cais… idem

[47] António Cabral, Poemas durienses. Opera Omnia. Porto 2017. (pág.38).

[48] Octávio Lixa Filgueiras (1922-1996), “Algumas Cenas e Cenários Ribeirinhos de Vila Nova de Gaia em Gravuras dos Séculos XVII a XIX”, Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia 1984.

[49]  “…marca bem a qualidade e o rigor da interpretação, se atentarmos no modo como está desenhada, desde a proa (com o beque, a figura de proa, as perchas do beque, as curvas, etc.) à popa, onde se destaca o alforge; enquanto alguns ociosos observam o curso dos trabalhos, o marinheiro de barrete catalão na cabeça «beija» a cabaça (do vinho), o mestre construtor, vestido a pre­ceito e empunhando a vara, dá ordens a dois obreiros que retiram duas escoras; atrás, o proprietário do navio e a mulher assistem compenetradamente ao que se passa; no convés, outro artífice manobra o cabo dum rudimentar aparelho de força; no chão, dispersos, canhões de bronze, pranchões, barrotame e uma grande âncora de ferro.” Octávio Lixa Filgueiras (1922- 1996), Algumas Cenas e Cenários Ribeirinhos de Vila Nova de Gaia em Gravuras dos Séculos XVII a XIX – Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia – 1984)

[50] …observe-se o cuidado posto na indicação do modo como se encontra espiado e sujeito o casco tombado e o remanes­cente da parte da armação; …o calafate, em posição adequada, para lograr altura conveniente, trabalha em cima da carga dum peque­no barco de transporte; dois homens vão embreando o casco, acompanhados pelo moço que, ao longo do verdugo, transporta a panela do breu; o mestre-calafate, vestido a rigor, abri­gado sob o guarda-sol, empunhando a vara, dirige o trabalho dos seus oficiais, um e outros nas jangadas de serviço (simples estrados assentes sobre barris);” Octávio Lixa Filgueiras (1922- 1996), Algumas Cenas e Cenários Ribeirinhos de Vila Nova de Gaia em Gravuras dos Séculos XVII a XIX – Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia – 1984)

[51] Agustina Bessa Luís (1922-2019), A Muralha Guimarães Editores Lisboa 1957 (pág. 42). 

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