[8]
Nos yeux sont faits pour voir les formes sous la lumière; les ombres et les
clairs révèlent les formes; les cubes, les cônes, les sphères, les cylindres ou
les pyramides sont les grandes formes primaires que la lumière révèle bien;
l'image nous en est nette et tangible, sans ambiguïté. C'est pour cela que ce
sont de belles formes, les plus belles formes.” Le Corbusier-Saugnier, trois
rappels à MM. Les Architectes. L’Ésprit Nouveau n.º 1, Revue Internationale
d’Esthetique Paris 1920. (pág.92).
3 Os arquitectos da geração de 90
Sublinhamos os que elaboraram projectos Art-Déco.
Da Escola de Belas
Artes de Lisboa
Luís (Ribeiro Carvalhosa) Cristino da Silva (1896-1976)
Porfírio Pardal
Monteiro (1897-1957)
Cassiano Branco (1897-1970)
(José Ângelo) Cottinelli Telmo (1897-1948)
Hermínio de Barros (1897-?)
Jorge Segurado
(1898-1990)
Paulino (António Pereira) Montez
(1897-1988)
Carlos (João
Chambers) Ramos (1897-1969)
Guilherme Rebelo de
Andrade (1891-1969) [o irmão Carlos Rebelo de Andrade (1887-1942)]
Vasco Regaleira (1897-1968)
António Maria Veloso dos Reis Camelo (1899-1985)
Raul Francisco Tojal (1899-1969)
Da Escola de Belas Artes do Porto
Manoel Marques (1890/1956)
Manuel Amoroso Lopes (1899-1953)
Rogério de Azevedo (1898-1983)
Baltazar Castro (1891-1967)
José Ferreira Peneda
(1893 ‑1940)
João Queiroz (1892-1982)
E os
arquitectos e engenheiros:
Antão
Almeida Garrett (1896-1978)
Júlio José de Brito (1896-1965)
E ainda da geração da 1ª
década do século XX, já menos influenciada pela Art-Déco e com outras
influências.
Miguel Jacobetty (1901-1970)
Arthur Almeida Júnior (1902-?)
Manuel
Lima Fernandes Sá (1903‑1980)
António
Júlio Teixeira Lopes (1903-?)
Adelino
Nunes (1903
- 1948)
António Maria Cândido de Brito (1904-1989)
Homero Ferreira Dias (1904-1960) esc.
1921/29
Alfredo Duarte leal Machado (1904-1954)
Ernesto Camilo Korrodi (1905-1985)
Mário (Augusto
Ferreira de) Abreu (1908-1969)
Manuel
da Silva Passos Júnior (1908‑?)
Arménio Taveira Losa
(1908-1988)
João Simões (1908-1994)
Raul
Rodrigues Lima (1909‑1979)
David Moreira da
Silva (1909-2002)
Francisco Keil do
Amaral (1910-1975)
Januário Godinho (1910-1990)
Os
arquitectos no Salão de Outono
Alguns destes arquitectos haviam já exposto os seus projectos no Salão de Outono na SNBA no início de
1925.
Como assinalámos neste blogue em “O 1.º Salão de Outono um apontamento sobre
o centenário” a crítica não deixou de referir esta
presença de arquitectos numa exposição de Belas Artes.
Artur Portela (1901-1959) no Diário de Lisboa, remata a sua crónica referindo os
arquitectos “A exposição
fecha – ou nós fechamos aqui – com os trabalhos de arquitectura que, tanto pelo
valor decorativo, como pelo manchado da aguarela, estão a pedir imediata
construção nesta sorna, pesada e pombalesca Lisboa.”
No Diário de Notícias em crónica não
assinada,“Carlos
Ramos, Cristino Silva, Gonçalves Melo Breiner, Jorge Segurado, Leo Welther (sic), Norberto Correia e Tertuliano
Marques demonstram brilhantemente que a arquitectura portuguesa existe, não já
em projectos, mas em definitivas realizações.”
Matos Sequeira (1880-1962) destaca Carlos Ramos, “Alguns arquitectos
concorreram também ao certame, representando-se bem, tais como Melo Breyner,
Segurado, Tertuliano (que está com os novos), Luís Cristino, Carlos Ramos, José
Pacheco, Norberto Correia, etc. Entre bastantes projectos notei
especialmente dois alçados de Carlos Ramos, de uma casa estilo do século XVIII,
inteligentemente projectada. Sim, senhor. Merece um largo parabéns.”
Aquilino Ribeiro cauteloso, afirma que “Os
arquitectos Carlos Ramos, Cristino da Silva, Melo Breyner, José Pacheco,
José [Jorge ?] Segurado, Leo Walgh (sic), Norberto Correia, Tertuliano
Marques trouxeram interessantes especulações do seu lápis e
esquadro.”
Jaime Brasil (1896-1966)) depois de
atacar os pintores vai desculpando os arquitectos “(…) que
entram ali como Pilatos no Credo, a ver se alguém falava dêles, pois precisam
de ganhar a sua vida – e que todos apresentam trabalhos equilibrados e
sérios.”
E é João Castro (1887-1955) que lamentando a ausência de outros
arquitectos, considera que há já uma nova geração que propõe uma arquitectura
nova.“Posto isto e
colocaria esta manifestação de arte do Salão de Outono dentro do movimento
geral que anima a geração nova quero notar imediatamente uma das mais belas das
suas indicações.
Porque revela
ainda melhor que a pintura um espírito nacional em manhã segura para uma grande
realização apraz-me fazer notar antes de mais nada a existência de uma
grande geração de arquitectos.
Embora faltem
alguns arquitectos a esta exposição, já por ela se pode ver que há, na realidade, uma
geração de fortes criadores de arquitectura. Daqueles que expõem
depreende-se a marcha clara para uma arquitectura nova, mas portuguesa, já
pelos ensinamentos regionais, já pelas influências estrangeiras, já pela
tradição dos estilos históricos.”
4 Reflexos da Art-Déco em alguns edifícios de arquitectos
portugueses
Lisboa
Dos arquitectos havia os que estavam em Paris e outros que visitaram a Exposition. Por isso não surpreende, que
realizem, - influenciados pela Art-Déco -
os primeiros projectos que se queriam
modernos em Portugal.
Luís Cristino da Silva
(1896-1976), que com uma bolsa esteve em Paris entre 1920 e 1925, participou na Section Française da Exposição de Paris
com a fonte “L'Enfant au poisson”, em colaboração com a
escultora Madeleine de Lyée de Belleau (1873-1957).
fig.2 - Christino da Silva
architecte et Mme de Lyée de Belleau sculpteur. Fontaine. Section Française
Planche LXXXVI. Arc. Phot. Beaux-Arts. CNAM.
Cristino da Silva já
era conhecido porque em 1923 havia aparecido na revista Ilustração a propósito de uma sua exposição, realizada na SNBA. Foi
um dos expositores no Salão de Outono em 1925.
fig. 3 - Ilustração Portuguesa n.º 936 de 26 de Janeiro 1924.
(pág.117). na legenda: O arquitecto Luís Cristino da Silva dando os últimos
retoques na maquette do seu “Hotel situado num local pitoresco da Costa
Portuguesa” Cliché de João Segurado.
Cristino
da Silva (com o eng. Belard da Fonseca*), projecta em 1925 a
entrada do Parque Mayer (criado em 1922), e o Cinema Capitólio (1925/29,
inaugurado em 1931), de evidente influência Art-Déco,
por muitos considerado o 1º projecto moderno em Portugal.
[*José Mascarenhas Pedroso Belard da Fonseca
(1889-1969)]
Nesse mesmo ano (1931) a revista Ilustração, de 15 de Setembro, então dirigida por António Ferro (1895-1956), publica (acompanhado de
fotografias), um texto de Carlos Queiroz (1907-1949), “Uma noite no Parque Mayer” em que o poeta do Orpheu, da Presença e
do Litoral, escreve amargamente: “Guardei propositadamente para o fim os
teatros e o “Capitólio”. Os primeiros, apenas para dizer que não me sugerem
nada para dizer. Quanto ao “Capitólio”, para lamentar a minha impossibilidade
de trocá-lo com o monumento ao Adamastor, que é, em pura linguagem de
empresário de fenómenos, “um monstro que nada vê através do corpo dele”.
fig. 4 –Teatro Capitólio. Projecto do arquitecto Luís Cristino
da Silva. Fotógrafo: Mário Novais (1899-1967). Fotografia sem data.
[CFT003.62625] Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
fig. 5 – Entrada do Parque Mayer e O
aspecto nocturno da fachada do “Capitólio”. (Fotos de Horácio de Novais). Carlos
Queiroz, “Uma noite no Parque Mayer”
in Ilustração n.º 138 de 15 de Setembro de 1931. (pág. 35).
Porfírio
Pardal Monteiro (1897-1957)
O arquitecto Porfírio Pardal Monteiro será o que
permanecerá, até aos anos 40 do século XX, fiel ao “estilo” Art-Déco, quer nos exteriores quer nos
interiores, dos seus projectos e obras.
Logo em 1927 no Porto, projecta
a filial da Caixa Geral de Depósitos na Avenida das Nações Aliadas,
apresentando no exterior uma interpretação própria das regras a que então
obedeciam os projectos para a Avenida. No seu interior contudo apresenta um conjunto de pormenores com um desenho Art-Déco.
O edifício da CGD do Porto é apresentado
na revista “Arquitectura” em 1931
mercendo o seguinte comentário: “O edifício da filial do Pôrto da Caixa Geral de Depósitos marca de uma maneira bem
clara o período da transição artística do seu autor: pois que exteriormente é
mais clássico de que modernista, enquanto que interiormente sucede precisamente
o contrário”.
fig. 6 – Porfírio Pardal Monteiro. Caixa Geral de Depósitos
Porto. In Arquitectura Ano IV, n. º21 Out-Nov. 1931.
fig. 7 - Porfírio Pardal Monteiro. O Hall da Caixa Geral de
Depósitos Porto. In Arquitectura Ano IV, n. º21 Out-Nov. 1931. Foto Mário
Novais (1899-1967).
Pardal Monteiro projecta entre 1925 e 1928 a Estação Ferroviária
do Cais de Sodré.
fig. 8 – Pardal Monteiro. Estação do Cais de Sodré 1925/28. Foto
Instituto Português do Património.
Pardal Monteiro projecta a moradia de 5 de Outubro 1926/29,
prémio Valmor de 1929, e que o júri classifica como “um belo exemplar de arquitectura moderna, impondo-se pelo equilíbrio
das suas proporções, pela harmonia da sua decoração e pelo cuidadoso estudo dos
pormenores, contribuindo largamente para a estética da cidade …”
fig. 9 – Moradia na Avenida 5 de Outubro, nº 207-215, Lisboa.
Prémio Valmor 1929. Arquitecto responsável: Pardal Monteiro (1926-1929).
Fotografia sem data. Produzida durante a actividade do Estúdio Mário Novais:
1933-1983.Album da Biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian.
A Ford Lusitânia de
1930
Em 1930 Pardal Monteiro projecta a Ford Lusitânea, num período em que cresce o
trânsito motorizado e em que o automóvel se vai democratizando, necessitando de
novos edifícios com novos programas as Garagens se iniciam os Salões Automóvel
do Porto e de Lisboa.
fig. 10 - .
E Pardal
Monteiro manterá um desenho de influência Art-Déco
em posteriores projectos para o Estado, como o Instituto Nacional de Estatística (1931/35) e o Instituto Superior Técnico de1927/35.
(1854-1940).
fig. 12 – Pardal Monteiro, Instituto Superior Técnico 1927/35/ Revista
Municipal publicação da Câmara Municipal de Lisboa. n.º especial dedicado à
memória do engenheiro Duarte Pacheco. Lisboa Janeiro de 1944. (pág.51).
O IST influencia a arquitectura da envolvente.
()Arquivo Municipal de Lisboa.
Em 1934/38
projecta a igreja de Nossa Senhora do Rosário
de Fátima (também Prémio Valmor
1938). Colaboração do arquitecto Raul Rodrigues Lima (1909-1979) e do
engenheiro Belard da Fonseca (1889-1969). E
ainda dos escultores Francisco Franco (1885-1955), Barata Feyo (1899-1990), Leopoldo
de Almeida (1898-1975), e dos pintores Henrique Franco (1883-1961), Lino
António (1898-1974), e de Almada Negreiros (1893-1970), que realiza os vitrais.
fig. 14– Porfírio Pardal Monteiro, Igreja de N. Sra. Do Rosário
de Fátima. In Arquitectos, revista do Sindicato Nacional dos Arquitectos n.º 7
Nov./Dez. 1938.
E em 1936/40 projecta o Edifício
do Diário de Noticias (prémio Valmor 1940).
fig. 15
– Porfírio
pardal Monteiro, Perspectiva do edifício-sede do jornal Diário de Notícias.
Foto Mário Novais (1899-1967). Fotografia reproduzida no catálogo "Os anos
40 na arte portuguesa". FCG, Lisboa (1982). Biblioteca da Fundação
Calouste Gulbenkian [CFT003.023755.ic]
Cassiano
Branco (1897-1970)
Cassiano Branco (1898/1969), que pela sua capacidade
inventiva e pela qualidade do seu desenho, consegue uma interpretação muito
pessoal desta linguagem,
Projecta o Eden Teatro entre 1929 e
1937.
fig. 16 – Cassiano Branco, Eden Teatro 1931. Catalogue de l’Exposition Les
Réalismes (1919-1939). Du 17 décembre 1980 au 20 Avril 1981. Centre Pompidou Paris. (pag.318).
fig. 17 – Cassiano Branco. Eden Teatro. Revista Municipal
publicação cultural da Câmara Municipal de Lisboa. Ano XXXIV n.º s 138 / 139.
3º e4º semestres de 1973 (pág. 14). E ainda Cassiano Branco, Cineteatro Éden,
Lisboa, 2ª proposta (não construída), 1930; desenho. In A.A.V.V.
– Cassiano Branco, uma obra para o futuro. Lisboa: Edições Asa, 1991.
(pág.127).
O Hotel Vitória em 1934/36.
fig. 18 – Cassiano Barnco, Hotel Vitória Av. da Liberdade.
Desenho no Catálogo da Exposição Cassiano Branco. Associação dos Arquitectos
Portugueses. SNBA 1986.
fig. 19
– Cassiano
Branco. Hotel Vitória na Avenida da Liberdade. foto Alvão. IMC 1936.
fig. 20
– Cassiano
Branco. Hotel Vitória (pormenor da fachada) Fondacion Docomomo. Ibérica.
E projecta diversos edifícios executados nos anos trinta e quarenta em Lisboa,
rematando no Coliseu do Porto
(1938/41), ultrapassando o carácter epidérmico e decorativo, para integrar essa
linguagem na concepção volumétrica e espacial de todo o projecto.
fig. 21 - Cassiano Branco, Coliseu do Porto: alçado principal,
1938, Arquivo Municipal de Lisboa AML -
PT/AMLSB/CB/06/03/16
Cottineli
Telmo (1897-1948)
projecta a Estação Sul e Sueste realizada em 1931.
fig. 22 – Cottinelli Telmo
Aspecto da fachada da Estação Sul e Sueste no Terreiro co Paço em
Lisboa. Revista Municipal ano XLVII, 2ª série n.º 15 Lisboa 1º trimestre
1986. (pág. 48).
Jorge Segurado (1896-1990)
fig. 23 - Camisaria Marques e C.ª. Projecto do arquitecto Jorge
Segurado (1898-1990). Fotógrafo: Mário Novais (1899-1967). Fotografia sem data.
Álbum Arquitectos e Engenheiros Portugueses. Biblioteca de Arte da Fundação
Calouste Gulbenkian.
Hermínio
de Barros (1897-?) Garagem Liz (1931/33)
fig. 24 – Hermínio Barros, Garagem Liz na rua da Palma
Lisboa. Foto de 1934. Arquivo do jornal O Século.
fig. 25 – Hermínio Barros, Arq, Garagem Liz 1933. In Guia
Urbanístico e Arquitectónico de Lisboa. Associação dos Arquitectos Portugueses
Lisboa 1987.
Adelino
Nunes (1903-1948)
The Anglo-Portuguese
Telephone Company no Estoril (1933/34)
fig. 26 – Arquitecto
Adelino Nunes. The Anglo-Portuguese Telephone Company no Estoril (exterior).
Projecto do arquitecto Adelino Nunes. Fotógrafo: Mário Novais (1899-1967).
Fotografia s/ data. Biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian. [CFT003.100914].
E na revista Arquitectos n.º 5 Junho
e Julho de 1938 do Sindicato Nacional dos Arquitectos. (pág.131).
Porto
Para além do edifício da Caixa
Geral de Depósitos de Pardal Monteiro já aqui tratado a Art-Déco no Porto irá ter a sua expressão arquitectónica em
diversos projectos, sobretudo de encomendas privadas.
José
Marques da Silva (1869-1947)
Refira-se, em
primeiro lugar,
o arquitecto José Marques da Silva (1869-1947), da geração
anterior, de quem era inaugurada a Sede da
Seguradora A Nacional (1919/24), o primeiro
edifício a ser concluído na Avenida das Nações Aliadas (Avenida dos Aliados) no
centro da cidade do Porto. E que no ano de 1925 concluía o edifício da
Rua Alexandre Braga.
O arquitecto Marques da Silva, acompanhado do 2º Conde de
Vizela (Carlos Alberto Cabral 1895/6-1968), o poderoso industrial têxtil,
visitou a Exposition des Arts Décoratifs onde terá conhecido as
realizações de Charles Siclis (1889-1942) e as criações de Jacques-Émile Ruhlmann (1879-1933). Este, em grande destaque na Exposição,
foi responsável, entre outras realizações, pela criação do Pavillon du Collectionneur, com o arquitecto Pierre Patou (1879-1965) tendo na
fachada um friso do escultor Joseph
Bernard (1866-1931).
A casa de Serralves (1925/43)
Marques da Silva
em 1925, inicia o projecto de reconversão da propriedade do Conde de Vizela,
projecto ampliado, após o alargamento do terreno disponível.
No projecto da
Casa de Serralves, concretizado por Marques da Silva, participou ainda o arquitecto Charles Siclis, configurando alguns pormenores
exteriores e o arquitecto Jacques Gréber no desenho do jardim.
O Conde de
Vizela encomendou à Casa Ruhlmann, um conjunto de mobiliário, que pela morte em
1933 do seu fundador é substituído pelo seu sobrinho, o arquitecto Alfred
Porteneuve (1896-1949), também ele intervindo na Casa de Serralves.
fig.
27
– José Marques da Silva, Casa de Serralves . Foto Arquivo pessoal.
fig. 28 - Casa de Serralves e o seu jardim
Negativo; vidro; p&b; 8,8x12 cm. Fundação Instituto Arquitecto José
Marques da Silva. (FIMS_MSMS_Foto0681_141).
E ainda podemos notar
alguma influência Art Déco no
projecto da igreja da Penha em Guimarães em 1936.
Manoel
Marques (1890-1956)
O arquitecto Manoel Marques (1890-1956), nos anos 20 a 25 em Paris, também projecta em 1927
com o engenheiro e arquitecto Júlio José de Brito (1896-1965), a casa de Domingos
Fernandes na praça Mouzinho de Albuquerque (Rotunda da Boavista).
fig. 29
– Manoel
Marques e Júlio de Brito, Casa Domingos Fernandes na Praça Mouzinho de
Albuquerque. 1927. Foto arquivo pessoal.
Manoel Marques, para
além das lojas comerciais: Barbearia Tinoco de 1929 e Camisaria Elegante
de 1932, projecta a renovação da fachada
dos Armazéns Cunha 1932, na então Praça da Universidade (depois praça Gomes
Teixeira) mas sempre conhecida por Praça dos Leões.
fig. 30 – Projecto de reconversão da fachada dos Armazéns Cunha. Praça da
Universidade (Praça dos Leões). Arquivo Histórico Municipal do Porto. AHMP.
Na fachada é exibido um enorme pavão de
cauda aberta, que dá a esta fachada um caracter Art-Déco
e publicitário.
fig. 31 – Manoel Marques, fachada do edifício dos Armazens Cunhas e pormenor
do Pavão. Arquivo pessoal.
A Farmácia Vitália de 1932/33, na Praça da Liberdade também
exibe esse carácter publicitário, sendo a sua fachada desenhada como um grande
cartaz incluindo o lettering.
fig. 32
– Manoel
Marques e Amoroso Lopes. Fachada da Farmácia Vitália. Foto arquivo pessoal.
E ainda os pedestais do monumento aos "Mortos
da Grande Guerra" na praça Carlos Alberto em 1924, e da “Fonte da Juventude”, a "Menina Nua”
como ficou conhecida, inaugurada na Avenida dos Aliados em Dezembro de1929,
ambos com esculturas de Henrique Moreira (1890-1979).
fig. 33 - Fonte decorativa do insigne
escultor Henrique Moreira, ultimamente inaugurada na nova Avenida dos Aliados
Pôrto. Foto Francisco Viana. Ilustração n.º 105 de 1 de Maio de 1930.
Rogério de Azevedo
(1898-1983)
Associado a Baltazar de Castro projecta em 1930, a Creche do jornal O Comércio do Porto.
fig. 34
– Rogério de
Azevedo. Projecto de Creche. O Comércio do Porto a construir na Avenida Fernão de Magalhães. 1930. AHMP.
fig. 35
– Rogério de Azevedo e Baltazar de Castro. Creche “O Comércio do Porto”,
Avenida Fernão de Magalhães/ Travessa da Póvoa,1930 in ”Creches de a Filial do
Bonfim” in O Comércio do Porto, de 1 de Janeiro de 1931.
fig. 36 – Rogério de Azevedo e Baltazar de Castro.Creche do jornal O Comércio
do Porto 1930. In O Comércio do Porto: 100 anos, 1854-1954: resumo da sua
história. Porto: O Comércio do Porto, 1954.
A Sede do Jornal O
Comércio do Porto
E Rogério de Azevedo projecta a Sede do jornal O Comércio do Porto 1928/30
na Avenida dos Aliados no Porto.
fig. 37
– Rogério de
Azevedo. “Alçado voltado à Avenida”. Aditamento ao projecto. 1929. AHMP.
fig. 38 – A sede do jornal O Comércio do Porto. Por trás vê-se a Garagem, que
pela arquitectura resultante de um programa de garagem, se tornou um exemplar
único de arquitectura moderna. Blogue Restos de Colecção.
Na Praça da Liberdade
esquina com Sampaio Bruno em 1928/29 o prédio onde se instalará o café Suiço e
a farmácia Birra.
fig. 39 – Rogério de Azevedo,
Projecto a construir no angulo de Sampaio Bruno e Praça da Liberdade. AHMP.
Com linguagem
semelhante no exterior, Rogério de Azevedo projecta dois edifícios na Rua de
Santa Catarina. o primeiro 531 a 533, na esquina com a rua Firmeza 445 para
Humberto Ferreira Borges em 1930 e o segundo na rua Santa Catarina 568-594 de 1931/32.
fig. 40 – Rogério de Azevedo, Fachada
Principal do edifício Hunberto Ferreira Borges na rua de Santa Catarina
531/533. 1931/32. AHMP.
José
Ferreira Peneda (1893 ‑1940)
Casas
geminadas na Avenida dos Combatentes da Grande Guerra (1929/)
fig. 41 – José Ferreira Peneda, Projecto de Habitações geminadas Mattos
Almeida 1929. Av. dos Combatentes. Fachadas lateral e principal. Gisa AHMP.
José Ferreira Peneda
projecta em 1935 uma habitação na rua de Santa Catarina 1538 evoluindo para uma
arquitectura mais “Loosiana” mas mantendo nos mosaicos a influência Art-Déco. A
Comissão de Estética da CMP solicitou a apresentação de um desenho que
esclarecesse a forma da fachada, que Peneda apresentou no seguinte aditamento
ao projecto.
fig. 42 – José Ferreira Peneda, Fachada da Casa na rua de Santa Catarina,
1538. 1935.AHMP.
fig. 43 – José Ferreira Peneda. na rua de Santa Catarina, 1534. Foto de José
Manuel Rodrigues 2001. em (in) formar a modernidade. Arquitecturas portuenses,
1923-1943: morfologias, movimentos, metamorfoses. Faup 2001. (pág. 46).
fig. 44 – José Ferreira Peneda. Habitação na rua de Santa Catarina 1534/38.
Google Earth. 2025.
Mário
Abreu (1908-1969)
A Garagem
de Passos Manuel, na rua do mesmo nome.
fig. 45 – Mário Abreu, Garagem na Rua Passos Manuel, nº 178,
Porto. Fotografia reproduzida no catálogo "Os anos 40 na arte
portuguesa". FCG, Lisboa (1982). Arquitecto responsável: Mário de Abreu
(1897-1970) (inauguração 1939).
Artur Almeida Júnior
(1902-?)
Edifício na Praça da Liberdade (1934/36)
com o café Imperial e os seus vitrais de Riccardo Leone (1891-1971).
fig. 46 - Artur Almeida
Júnior, Fachada principal do edifício Imperial.
AHMP.
fig. 47 – Edifício do café Imperial na Praça da Liberdade. foto de 1944 AHMP.
Os vitrais do Ciclo do
Café de Riccardo Leone (1891-1971)
fig. 48
– Riccardo
Leone, Vitrais do Café Imperial na praça da Liberdade.
fig. 49
- Riccardo Leone, Vitrais do Café Imperial na praça da
Liberdade.
Januário
Godinho (1910-1990)
Projecto
do estabelecimento Feira Grande (1934)
fig. 50 – Januário
Godinho no atelier de António Peres Dias Guimarães (1877-1950), Projecto de
entrada , a que se refere o requerimento do Sr. José Corrêa do Amaral para a
rua 31 de Janeiro (salão Imperial). Junho 1934. Arquivo Histórico Municipal do
Porto.
fig. 51 – Januário Godinho. Estabelecimento Feira Grande 1934. Espólio
Fotográfico Português. Foto Beleza/Mário Ferreira.
O
Quiosque dos STCP na Praça da Liberdade.
O uso deste léxico arquitectónico estendeu-se a pequenas
construções de mobiliário urbano como é o caso da Cabine- Kiosque dos STCP na Praça da Liberdade de 1930.
fig. 52 – 3.ª Repartição (técnica) da Câmara municipal do Porto. Projecto da
cabine-kiosque. 24 de Abril de 1930. Praça da Liberdade no Porto. AHMP.
fig. 53 – Foto Manuel de Sousa. Quiosque dos STCP. Praça da
Liberdade Porto. Wikipédia 2007.
As
Exposições: dois exemplos
A Exposição das Artes
Decorativas criou um modelo de arquitectura para as exposições que nos anos
seguintes se realizaram.
O arquitecto Paulino Montês
(1897-1988) encarregou-se de planear em 26 de Agosto de 1927 (data de elevação da
vila a cidade) a V Exposição Agrícola,
Pecuária e Industrial das Caldas da Rainha em que esse modelo Art-Déco foi seguido quer na entrada
quer em alguns pavilhões.
fig. 54 – Vista exterior da entrada
da exposição in Ilustração n. º 41 1 de Setembro de 1927.(pág. 20).
A Exposição Colonial do Porto 1934
Mas a Art-Déco
afirmou-se no Porto, na realização da Exposição
Colonial de 1934
Nesse ano, o Regime do Estado Novo que se queria consolidado, inspirado
pela Exposição Colonial de Paris de 1931, promoveu no Porto a primeira das suas
grandes exposições - a Exposição Colonial do Porto – destinada a propagandear o
Estado Novo como um regime moderno e activo num Portugal Imperial.
Na arquitectura, na decoração, nas artes gráficas e no lettering, utiliza-se
a linguagem da época, o estilo Art-Déco, criando na Exposição um
ambiente que se pretende moderno e avançado. Assim, predominam as linhas rectas
ou circulares estilizadas, as formas geométricas e os volumes simples e
encastrados. Este vocabulário moderno e modernista explora ainda o exotismo nas
contribuições das artes coloniais africana e oriental, exibidas na Exposição.
São várias as
influências da Exposição de Paris de 1925. A realização de um plano geral com a
utilização de uma grande nave, o Palácio de Cristal, à semelhança do Grand
Palais.
Segundo esse plano, no recinto
do Palácio, a edificação de monumentos e dos pavilhões quer os dedicados às
colónias quer os das empresas privadas. E ainda os serviços diversos:
restaurantes, teatro, correio, rádio, etc.
Para facilitar a
visita o Comboio Turístico e o Cabo Aéreo.
No centro da Exposição o Palácio das Colónias, com uma fachada art-déco,
revestindo a fachada do Palácio de Cristal, tornando-o assim “…moderno, elegante, arrojado, até.”
Esta fachada arts-déco, foi projectada pelo engenheiro Henrique Mouton
Osório e “parece
erguer, nas suas linhas direitas, o grito da Raça, que desperta para novos e
vastos empreendimentos. Dir-se-ia, olhando-a, que o Passado vem até nós com os
seus feitos audazes.”
fig. 55 - Mouton Osório, Fachada do Palácio de Cristal na Exposição Colonial
1934. O monumento ao Esforço Colonizador e o Palácio das Colónias. De salientar
os canteiros trabalhados em torno do monumento. Arquivo Nacional de Fotografia
Instituto Português dos Museus.
O corpo do lado poente é encimado por um elemento muito utilizado nos anos
20 e 30, (veja-se por exemplo, o cinema Capitólio em Lisboa ou os Armazéns do
Anjo no Porto), um “castelo” de vidro iluminado.
Do lado nascente um outro corpo cúbico, encimado por uma escultura de
Armando Correia, representando um “gigantesco
elefante, símbolo da força e da lealdade, o verdadeiro “rei da selva”.
No interior do Palácio, as estruturas metálicas estavam dissimuladas por
elementos decorativos, também com um desenho Art-Déco
O Monumento “ao Esforço Colonizador”
Logo à entrada, no centro da então denominada Praça do Império, foi erigido o monumento “Ao Esforço
Colonizador Português” de Alberto Ponce de Castro (? - ?) e de José de
Sousa Caldas (1894-1965): “Sintetizando
o Esfôrço Colonizador Português, através dos mais altos heróis da Epopeia
Nacional, ergue-se, como símbolo magnífico, à entrada, mesmo, dos jardins, a
coluna que a gravura mostra e que parece formar a Cruz que os nossos mareantes
levaram às cinco partes do mundo.”
fig. 56 - A Praça do Império e o
Monumento ao Esforço Colonizador. Foto Alvão Álbum Fotográfico .
Com uma linguagem Art-Déco (compare-se a sua base com o pedestal da Juventude na Avenida da
Liberdade, seu contemporâneo) era constituído por um conjunto de paralelepípedos
de granito encastrados, elevando-se a cerca de 10 metros de altura, onde
estavam “inscritos os nomes ilustres dos homens que maiores serviços prestaram à
obra portuguesa de colonização nos últimos cincoenta anos.” No topo as
armas de Portugal. Na base, sustentando esse paralelepípedo, seis figuras
simbolizando o esforço colonizador. “A cada face do poliedro associou o escultor
uma figura de austeras linhas, alegórica das virtudes da Grei e dos agentes na
empresa mais essenciais: a mulher, o soldado, o missionário, o pioneiro, o
colono, o cientista, finalmente: médico, agrónomo, veterinário.”
fig. 57
- O
Monumento ao Esforço Colonizador. Foto Alvão. Album Fotográfico.
À noite “O deslumbramento da luz apoteotiza o monumento ao Esforço
Colonizador.”
“Os jardins do
Palácio de Cristal, onde amiude se deparam típicas aldeias indígenas e “stands”
vários das nossas províncias ultramarinas, oferecem
de noite um espectáculo maravilhoso. A iluminação é grandiosa. Todo o
enorme recinto ressurge sob um deslumbramento de luz, rodiado [sic] de numerosos e potentes projectores
eléctricos, das gigantescas fontes luminosas e das feéricas iluminações, de
feição artística e decorativa, e ornamentam e se alinham pelas avenidas e áleas
dos parques e jardins do antigo Palácio de Cristal.”
fig. 58 - Um aspecto nocturno do monumento ao
Esforço Colonizador Português Foto
Alvão, Álbum Fotográfico .
Num momento da concretização da iluminação eléctrica nos edifícios e nos
espaços públicos, onde os reclamos luminosos começam a ter um importante papel
publicitário, e a propaganda política utiliza com sucesso os efeitos luminosos,
a iluminação eléctrica, foi fundamental para o sucesso da Exposição. A
instalação eléctrica foi concessionada à firma Carlos dos Santos, Lda.
e aos Serviços Municipais de Gás e Electricidade, então dirigidos pelo
engenheiro Ezequiel de Campos.
fig. 59 - Note-se o desenho dos candeeiros colocados ao longo da Avenida das Tílias (então
chamada de avenida da Índia). Fotos de Alvão, de dia no Álbum fotográfico e a Avenida
numa foto nocturna no Boletim
Geral das Colónias . X - 109, [Número especial dedicado à Iª Exposição Colonial
Portuguesa] Agência Geral das Colónias, Vol. X - 109, Julho 1934.
O Monumento aos mortos na
obra da colonização
fig. 60 - Monumento aos
portugueses mortos na obra de colonização. Foto Alvão Álbum fotográfico .
“Sumaria a
realização escultórica, talvez uma nave, a nave do nosso destino, designada
pelo signo da Cruz na dupla vela…Ao alto, Portugal nas suas quinas…Duma base de
cinco vastos degraus figurativos doutras tantas partes do Mundo, um génio
irrompe num vôo energicamente desferido para o alto, a proclamar a glória do
Império para além das penas e do martírio de soldados, missionários e
pioneiros, de muitos portugueses, brancos e negros, - a glória de cinco séculos
de epopeia, de bom serviço e sacrifício…”
O monumento era constituído por um conjunto de paralelepípedos, de
progressiva altura, onde se escreviam as datas mais significativas da
colonização portuguesa, e duas velas com a cruz de Cristo. Na perpendicular um
pedestal com uma lápide onde se lia “ AOS PORTUGUESES DE TODAS AS RAÇAS
MORTOS NAS 5 PARTES DO MUNDO PELA OBRA PORTUGUESA DE COLONISAÇÃO.”
Na Exposição as diversas empresas
públicas e privadas edificaram pequenos pavilhões sendo que muitos deles
utilizavam uma arquitectura Art-Déco.
fig. 61 O Boch & Bayliana e o stand dos vinhos do
Porto de Constantino de Almeida Lda. Foto
E ainda a utilização da Art-Déco na
publicidade gráfica “cartazes,
“placars”, “plaquetes” com informações de turismo, selos, etiquetas,
calendários, fotografias,..”
fig. 62 – Publicidade de A Fosforeira
Portuguesa 1934. Biblioteca Pública Municipal do Porto.
fig. 63
- Cartaz da Vista Alegre. Exposição Colonial do Porto 1934.
[1]
Da fotografia vai encarregar-se a Casa Alvão de Domingos Alvão (1872-1946), que
realizará todas as fotografias oficiais da Exposição e que irá publicar um
“Álbum fotográfico da 1ª Exposição Colonial Portuguesa” com 101 clichés
fotográficos de Alvão - Porto, fotógrafo oficial da Exposição Colonial, editado
no Porto pela Litografia Nacional. Deste Álbum foi realizada parcialmente uma
cópia Exposição Colonial de 1934
Fotografias da Casa Alvão, Centro Português de Fotografia, Ministério da
Cultura Arquivo Português de Fotografia, Setembro de 2001
[2]
No Porto, nestes anos são muitos os exemplos de arquitectos, artistas plásticos
e gráficos, que nas suas obras utilizam esta linguagem, nascida da Exposition
des Arts Décoratifs et Industriels Modernes realizada em Paris em 1925.
[3] A Câmara Municipal do Porto,
então presidida por Alfredo Magalhães (1870-1957) adquiriu à Associação
Industrial, no início de 1934, o recinto (aliás bastante degradado) do Palácio
de Cristal, sendo a Exposição Colonial um meio e uma justificação para a sua
reabilitação.
[8]
Este monumento foi colocado 50 anos depois (1984) na actual Praça do Império,
pelo então Presidente da C.M.P. eng. Paulo Vallada (1924-2006).
[15]
Ezequiel Pereira de Campos (1874- 1965) foi director dos Serviços
Municipalizados de Gás e Electricidade (SMGE) do Porto entre 1927 e 1935. Em
1932 tinha publicado o Prólogo do Plano da Cidade do Porto.