Apontamento 10 - Descrição de Sevilha a partir da imagem de Braun e Hogenberg 1588
Para além de Triana, Sevilha estendia-se para fora das muralhas.
Faremos um percurso através da Vista de Sevilha do Civitates, contornado a muralha no sentido contrário aos ponteiros do relógio, desde a Torre del Oro até ao mosteiro de las Cuevas.
fig. 1 - Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg(1535-1590).
Cap. 26
fig. 2 - Arrabalde sul (legendado). Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg(1535-1590).
De facto, na imagem, a cidade está rodeada pelo Guadalquivir, pelo seu afluente o rio Tagarete, correndo junto à muralha e atravessado por duas pequenas pontes, uma pequena ponte (alcantarilla) (B) junto à Porta de Xerez (35) e outra (C) junto à Torre del Oro (36). E aparece representado por um pequeno tramo na extremidade direita da imagem o outro afluente o Tamarguillo (D).
fig. 3 – Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg(1535-1590).
(35) Porta de Xerez
Como já se afirmou no Apontamento 8, segundo Rodrigo Caro, na
sua Antiguedades y Principiado de la Ilustrissima Ciudad de
Sevilla, publicada já em 1634, na porta de Xerez “en una tabla
de marmol blanco se vem estas letras.”
“Hercules me
edificò
Iulio Cesar
me cercò
De muros y
torres altas,
Y el Rey
Santo me ganò
Com Garcia Perez de Vargas.” [1]
[nota - O Rei
Santo era Fernando III (1201-1252) que conquistou a cidade aos mouros. E Garcia Pérez de
Vargas foi um dos 24 cavaleiros que acompanhou Fernando III na sua campanha da
Reconquista em Andaluzia.]
Sevilha, fundada por Hércules e povoada por Júlio
César, já era cantada por Alfonso Villasandino no século XIV.
“Hércoles
que hedificó
La cibdat muy
poderosa,
Su alma ssea
gozossa
Que tal
cibdat ordenó.
Por Sevilla
demostró
En su muy
alto ssaber
Que se avie
de noblezer
Por Julio que
la pobló.
Con ssaber é
poderío
Estos dos la
ordenaron,
E los que en
ella poblaron
Fué proeza é
muy grant brío,
Vigío é prez
é amoryo,
Lealtanca é
lindo amor:
Syenpre byve
syn pavor
Bryberas del su grant rryo.” [2]
O Arrabalde de São Bernardo
Na parte superior direita da imagem, o Arrabalde de São Bernardo com os campos e as povoações que pertenciam aos Condes de Olivares. Está desenhado o Mosteiro de Santo Telmo (E), e ainda um conjunto de edifícios funcionais que, embora perto da cidade, não era conveniente estarem no seu interior.
(E) O mosteiro de Santelmo
fig. 4 - Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).
Rodrigo Caro ao
descrever as campanhas de Cesar refere “en aquella parte del rio, que ay desde laTorre del
oro por el rio abaxo, donde oy estan edificadas algunas casas que llaman S. Telmo;” [3]
Santelmo refere-se ao dominicano Pedro Gonçalves
Telmo (Pedro González Telmo) (c.1190-1246), que acompanhou Fernando III (1201-1252) na conquista de Cordova e Sevilha. Foi nomeado
prior do Convento de Guimarães. É o santo padroeiro
dos homens do mar e dos barqueiros.
Em 1569, com estatutos aprovados por Felipe II foi criada a Universidade
dos Mareantes. Em 1682, foi iniciada a construção do palácio de
Santelmo.
(11) El Quemadero. O Crematório da Inquisição.
fig. 6 – Crematório. Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).
O Quemadero de San Diego, assim chamado pela proximidade do convento franciscano, era onde se realizavam os autos de fé, queimando os que a Inquisição declarava hereges. Iniciou a sua actividade em 1481.
[1] Rodrigo Caro, Antiguedades y Principiado de la Ilustrissima Ciudad de Sevilla. Y Chorographia de su Convento Iuridico, o antigua Chancilleria. En Sevilla, por Andres grande. Impressor de Libros. Sevilla Año 1634. (pág. 6).
[2] Alfonso Alvares de Villasandino (c.1345- c. 1424) in antologia de poetas líricos castelhanos, ordenada por D. Marcelino Menendez Pelayo [1856-1912] Madrid 1890. (pág. 94).
[3] Rodrigo Caro (1573-1647), Antiguedades y Principiado de la Ilustrissima Ciudad de Sevilla. Y Chorographia de su Convento Iuridico, o antigua Chancilleria. En Sevilla, por Andres grande. Impressor de Libros. Sevilla Año 1634. (Libro primero, pág. 31 e 31v.)
Cap. 27
Vista de Sevilha Execution de Justitia
de los cornudos patientes
fig. 7
– Joris Hoefnagel (1542-1600). Vista de Sevilha no Civitates orbis terrarum de Georg Braun y Frans Hogemberg. Vol. V 1598.
fig. 8 – Pormenor de Joris Hoefnagel (1542-1600). Vista de Sevilha no Civitates orbis terrarum de Georg Braun y Frans Hogemberg. Vol. V 1598.
Sevilha é vista ao
longe, de sudeste, a partir do arrabalde de São Bernardo.
Na margem inferior: “D. NICOLAO MALEPART AMICO VETERI ET CONGERRONI HISPALENSI LEPIDISSIMO GEORGIVS HOVFNAGLIVS AMICITIE, MONVMENTVM D. ANNO M D XCIII. FRANCOF. AD MOENVM”
Em cada canto os
pontos cardeais.
No canto superior esquerdo, correspondendo a Occidens, o Quemadero assinalado com a letra A (realçada a vermelho).
fig. 9 - Pormenor de Joris Hoefnagel (1542-1600). Vista de Sevilha no Civitates orbis terrarum de Georg Braun y Frans Hogemberg. Vol. V 1598.
Estão
ainda legendados neste pormenor da imagem
B – Nuestra Signora de abondanza C - St. Elmo. CC Rio Tagarette D- Fuente de Calderon E - Rio guadalquivir. F – S.t Juan del foratcc G – Torre del oro H - El Real Alcaçer casi Real KK - quartos (cc) - El arroyo Tagaret
Execution de Justitia de los cornudos patientes.
fig. 10
– O cortejo do cornudo. Pormenor de Joris Hoefnagel (1542-1600). Vista de
Sevilha no Civitates orbis terrarum de Georg
Braun y Frans Hogemberg. Vol. V 1598.
Assim
a figura central da imagem é um homem cavalgando um muar, de mãos atadas e com
umas enormes hastes encimadas por bandeirinhas e campainhas.
À sua frente montada também sobre um
burro a mulher adúltera, nua da cintura para cima, rodeada de moscas já que os
populares vão-lhe lançando lama e excrementos.
Ao lado do “cornudo
patiente” cavalga uma mulher com a cabeça tapada por uma touca e pelos
próprios cabelos fustigando-o com um feixe cheio de espinhos.
Segue-se o pregoeiro, identificado pela sua
trombeta e que também fustiga o cornudo. E finalmente a autoridade, um
cavaleiro com uma vara, possivelmente um vereador.
Cap. 28
(34) Puerta de la Carne. El Matadero (10).
fig. 11
– Porta da Carne e Matadouro. Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates
Orbis Terrarum de Georg
Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).
(34) Puerta de la Carne
Alonso Morgado refere, entre as portas de Sevilha, “La de la Carne, porque entra por ella toda la carne del Matadero para las Carnecerias de Sevilla, llamada assi por esta causa, por la misma razón que el repartimienta la nombra de luderia, porq se entrava y se entra tambien agora por ella primero, y forçosamente a las Collaciones de Sancta Cruz y de San Bartholome, que fueron Iuderia antiguamente.” [1]
E Diego de Zuñiga, indica uma inscrição em latim, na Puerta
de la Carne, que o autor dos Annales traduz por: “O fausto y feliz suceda:
el varon clarísimo Don Francisco Zapata, Conde ilustrísimo, Asistente de
Sevilla, cuidó de restaurar á mejor forma la
puerta de la Carne, arruinada de la antigüedad en el año de 1577.” [2]
[Francisco Zapata y Cisneros (1520-1594), 1º Conde de Barajas em 1572 e Assistente de Sevilha entre 1573 e 1579.]
Miguel de Cervantes no Coloquio de Perros das Novelas Ejemplares, a sua personagem Berganza também refere, de passagem, o Matadero e a Puerta de la Carne.
“Berg. Paréceme q la primera vez q vi el Sol, fue en Sevilla, y en su matadero, q está fuera de la puerta de la carne;” [3]
(10) El Mattadero. O Matadouro.
No Matadero matavam-se bois, cordeiros e outros animais cuja carne era depois distribuída pela porta da Carne para consumo dos sevilhanos, das populações dos arredores e para abastecimento das naus.
fig. 12 – Matadouro. Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).
Afirma Alonso Morgado: “Y por
aquella misma parte del Mediodía, fuera de la ciudad a la Puerta de la Carne está el
Matadero en forma de gran Caseria con sus Corrales, y Naves, y todas
pertenencias. Y unos Miradores que descubren una buena Plaça, donde se corren,
y alancean Toros de verano ordinariamente.” [4]
Na vista de Hoefnagel o Matadero, assinalado com a letra K, ocupa uma
posição central.
fig. 13 – O Matadero (K). Pormenor de Joris Hoefnagel (1542-1600). Vista de Sevilha no Civitates orbis terrarum de Georg Braun y Frans Hogemberg. Vol. V 1598.
Junto ao edifício do Matadero eram corridos os touros, acirrados por cães, como mostra a imagem.
[1] Alonso
Morgado, Historia de Sevilla en la cual se contienen sus antigüedades,
grandezas y cosas memorables en ella acontecidas desde su fundación hasta
nuestros tiempos, Compuesta y ordenada por Afonso Morgado, indigno
Sacerdote, natural de la villa de Alcantara, en Estremadura. En la Imprenta de
Andrea Perscioni y Ioan de Leon Sevilla 1587. (libro segundo pág.133).
[2]
Diego
de Ortiz de Zuñiga, Annales eclesiasticos, y seculares de la
muy noble, y muy leal civdad de Seuilla, metropoli de la Andaluzia. Que
contiene sus mas principales memorias desde el año de 1246. En Madrid: en la
Imprenta Real, por Iuan García Infançon. Acosta de Florian Anisson, Mercader de
Libros. Madrid 1677. (libro XVII pág. 329).
[3] Miguel
de Cervantes, Coloquio que pasó entre Cipión y Berganza perros del hospital de
la Resurrecion, que està en la Ciudad de Valladolid, fuera de la Puerta del Campo,
à quien comunmente llaman los perros de Mahudes. Novelas Ejemplares En Madrid,
Por Iuan de la Cuesta Año 1613. BNE.
[4] Alonso
Morgado, Historia de Sevilla en la cual se contienen sus antigüedades,
grandezas y cosas memorables en ella acontecidas desde su fundación hasta
nuestros tiempos, Compuesta y ordenada por Afonso Morgado, indigno
Sacerdote, natural de la villa de Alcantara, en Estremadura. En la Imprenta de
Andrea Perscioni y Ioan de Leon Sevilla 1587. (libro segundo pág.159).
Cap. 29
A Forca e o Moinho de vento
Um pouco mais acima na imagem encontra-se uma forca,
assinalada com a letra (F).
O poeta Juan de la Cueva (1543-1612), pediu pela vida do sentenciado num poema “A don Bernardino de Avellaneda, asistente de Sevilla, queriendo ahorcar a Alonso Álvarez de Soria”:
“No des al febeo Alvarez la muerte,
Oh gran don Bernardino, así te veas
Conseguir todo aquello que desea
En aumento y mejora de tu suerte.
El cruel odio en piedad convierte,
Qu’en usar del tu calidad afeas:
Cierra el oído, ciérrale, no creas
Al vano adulador que te divierte.
De ese que tienes preso, el dios Apolo
Es su juez, no sufraganeo tuyo:
Ponlo en libertad, dalo a su foro
Que de hacelo así, de polo a polo
Irá tu insigne nombre, y en el suyo
Hispalis te pondrá una estatua de oro.” [1]
fig. 15 – Forca. Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).
O Moinho de vento (G)
fig. 16 – Moínho de vento. Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).
[1] Juan de la Cueva de Garoza
(1543-16129, soneto “A don Bernardino de Avellaneda,
asistente de Sevilla, queriendo ahorcar a Alonso Álvarez de Soria”, in Ensayo de una Biblioteca Española de
Libros Raros y Curiosos. Formado con los Apuntamientos de Don Bartolomé José
Gallardo, coordinados y aumentados por D. M. R. Zarco del Valle y D. I. Sancho
Rayon. Obra premiada por la Biblioteca Nacional en la junta publica del 5 de
Enero de 1862. E Impresa à Expensas del Gobierno. Tomo Segundo. Imprenta y
Estereotipia de M. Rivadeneyra. Madrid 1866. (pág. 679)
Cap. 30
(H) O arrabalde de São Bernardo (Sanbernardo) e as Hortas do Rei (Guerta del Rey)
O Arrabalde de São Bernardo, com os campos e as povoações, pertencia aos Condes de Olivares.
Zuñiga refere o mosteiro de São Domingos a Horta real e o arrabalde de São Bernardo.
“El Convento de Santo Domingo de Portaceli, extramutos de Sevilla, y segundo de su Religion en ella, junto a la huerta del Rey, y Arrabal de San bernardo, fue fundado, como dixe en el año de mil quatrocientos y cinquenta; es de buenos edifícios en Templo, y habitacion, y de numerosa Comunidad, de que há avido muchos hijos loables en todas las prendas de su estado.” [1]
fig. 18 – San Bernardo. Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).
As Hortas do rei (Guerta del Rei) (I)
Alonso Morgado também descreve o lugar:
“(…) que por aquella parte del Mediodía confina com Tablada, y huertas del Rey, ordeno el mismo Cabildo de treynta años a esta parte, que tambien alli uviesse outra Iglesia Parrochial com Titulo de San Bernardo.” [2]
fig. 19 – Huertas del Rey. Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).
[1] Diego
de Ortiz de Zuñiga, Annales eclesiasticos, y seculares de la
muy noble, y muy leal civdad de Seuilla, metropoli de la Andaluzia. Que
contiene sus mas principales memorias desde el año de 1246. En Madrid: en la
Imprenta Real, por Iuan García Infançon. Acosta de Florian Anisson, Mercader de
Libros. Madrid 1677. (Libro XVII pág. 727).
[2] Alonso Morgado, Historia de Sevilla en la cual se contienen sus antigüedades, grandezas y cosas memorables en ella acontecidas desde su fundación hasta nuestros tiempos, Compuesta y ordenada por Afonso Morgado, indigno Sacerdote, natural de la villa de Alcantara, en Estremadura. En la Imprenta de Andrea Perscioni y Ioan de Leon Sevilla 1587 (libro quarto pág.110).
Cap. 31
Puerta de Carmona, Caños de Carmona (Aqueduto), Cruz (Ermida da Cruz de el Campo) e Casas del Duq de Alcala
(33) Porta de Carmona
fig. 20
– Porta de Carmona.
A Porta de Carmona,
era uma das portas principais de Sevilha já que por ela a cidade era abastecida
de produtos agrícolas entre os quais se destacava o vinho.
Junto da Porta vê-se um depósito da água vinda de Alcalá de Guadaira pelos Canos de Carmona, e que daí era distribuída pela cidade. A Porta de Carmona será reconstruída e monumentalizada em 1578.
(9) Caños de Carmona (Aqueduto)
O Aqueduto chamado de Caños de Carmona, uma das principais construções, é destacado na
imagem do Civitates, como sendo uma
monumental estrutura de abastecimento de água à cidade de Sevilha.
fig. 21 - Caños de Carmona. Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).
Na Vista de Sevilha, a partir da Porta de Carmona (33) o caminho que se dirige para essa povoação é acompanhado por um aqueduto. A norte do aqueduto o Mosteiro de Santo Agostinho e a ermida da Cruz.
(Hieronymus Monetarius) Jerónimo Münzer (1437-1508), um austríaco que viajou por Espanha e Portugal entre Setembro de 1494 e Fevereiro de1495, logo no início do seu texto dedicado a Sevilha, considera que a cidade vista da “altísima torre de la catedral”, aparenta uma “forma casi circular”.
Depois de referir que “al pie de sus murallas, hacia el occidente,
corre el Betis” Münzer destaca que “Hay en Sevilla mucha agua potable y un acueducto de trescientos noventa arcos, algunos
duplicados por un cuerpo superior, para vencer el desnivel del terreno; va por
este artificio gran cantidad de agua y presta muy buen servicio para el riego
de jardines, limpieza de calles y viviendas, etc.” [1]
Em 1563, também o viajante e embaixador veneziano Andrea
Navagero já se surpreendia pelo aqueduto que abastecia Sevilha.
“Da questa parte del rio, nella strada che va à Carmona, vi è un aqueduto, per il quale viene un’acqua da Carmona, i volti del aqueduto durano circa un miglio, o poco più fora di Sovilla, il resto del caminho da Carmona fin lì, vien l’acqua per canali, parte sotto terra, & alle volta di sopra, in capo gli archi verso Carmona si vede un pezzo di substruttion antiqua rovinata, per laqual si compreende che ancho antiqui conducevano quell’acqua.” [2]
[deste lado do rio, na estrada que vai para Carmona,
existe um aqueduto, que traz a água de Carmona, água que vem em canais, em
parte subterrâneos e por vezes por cima, e no final estão os antigos arcos por
vezes arruinados, os quais nos fazem compreender, que também os antigos assim
transportavam a água.]
E no texto que acompanha a estampa de Sevilha do Civitates Orbis Terrarum, de 1572 pode
ler-se:
“Um dos mais belos adornos desta cidade é o gracioso aqueduto construído pelos mouros no passado com um incrível custo, em forma de abóbada, que, através de um canal feito à mão, percorre meia milha, abastecendo de água os habitantes, algo extraordinário de se ver. Deste aqueduto derivam várias fontes que atendem às necessidades da cidade. É maravilhoso ver como, por um caminho tão longo, ou seja, a seis quilômetros da cidade de Carmona, as águas das nascentes são canalizadas para o subsolo por essa conduta. Por isso os espanhóis chamam-na de Los Caños de Carmona.”
[“Vehementer Hispalensium civitatem commendat aquæductus
insignis, à Mauris incredibilibus impensarum sumptibus opere fornicato
cõstructus, qui excavato rivo to di midia miliaris spatio, incundam incolis
aquationem præber, unde quam plurimi
fontes ad civitatis necessitates derivantur. Mirabile dictu, quanto itinere,
nimirum fex miliarium, per cæcos
terre meatus à Carmona civitate, scaturientes fontes in hunc aquæductum, deducantur. Unde Los Cannos de
Carmona Hispanis dicitur.”]
Alonso Morgado dedica um capítulo aos Caños de
Carmona destacando que
“Muchos sumptuosos edificios labraron los Moros
(…) Entre los quales se deve contar por demas vtilidad, y provecho en el
particular, que se va prossiguiendo, el de los famosos Caños de Carmona, que los mismos Moros fabricaron a grandissima
costa suya, pudiendo juntamente hazer notable mencion deste Insigne
Aqueducto, y referirle por señalada grandeza de Sevilla (…) tiene su Origen en la Villa de Carmona, siendo la verdad (segun yo he visto) lo que escrive Iuan de Malalara, de que entre las cosas, que tiene de notar la Villa de Alcala de Guadayra (distante como ya se dixo dos leguas de Sevilla) es la Fuente de los Caños, que llaman de Carmona, no porque vengan de Carmona, sino porque desde Torre Blanca (pequeña legua de Sevilla) vienen por el mismo camino, y calçada, que va a Carmona.” [3]
De facto, a água vinha de Alcalá de Guadaira pelos Caños de Carmona, o aqueduto elevado sobre numerosos arcos, de edificação árabe.
E Rodrigo Caro salienta que o aqueduto abastece de água as
fontes da cidade:
“En toda la ciudad en común, se derivan de los caños de Carmona, y acueductos del Arzobispado tantas fuentes que casi no hay casa principal que las tenga, con muchos huertos y jardines: lo cual, con otros reparos, en el mas ardiente verano, junto con las suaues mareas que correden de ordinario, hazen la ciudad notablemente apacible, fresca y regalada.” [4]
E Rodrigo Caro prossegue:
“Mas aunque Sevilla dentro de si tenia agua bastance, no es creíble, que creciendo la ciudad en grandeza y policía de vezindad, y edificios, dexaise de tener otras fuentes derivadas por aqueductos de fuentes de la parte de ticria. Vemos oy el famoso aqueducto de los caños que llaman de Carmona, que teniendo su principio en la villa de Alcala de Guadaira dos leguas de Sevilla, (porque entra en ella por la puerta de Carmona) toma su nombre, siendo ingrato a la tierra que le dio principio, y ser. No se contentaron los que emprendieron esta gran hazaña con el agua, que espontaneamente las fuentes brotavan, sino que con trabajo Herculeo taladraron aquel gran cerro lleno de peñascos, y hizieron de sus escondidas venas, y mineros un rio artificial debaxo de la tierra, tan abundante, y impetuoso, que muelen con el seys molinos de pan, y caminando por varios rodeos; unas vezes por debaxo de tierra, y otras por cima, liega a una milla poco mas, o menos de Sevilla, a la parte Oriental, donde lo comiençan a recebir arcos de ladrillo, y canteria, hasta entrar en la ciudad por cima de las murallas, como que triunfa de tantas dificultades. [5]
E Alonso Morgado nota que:
“Tiene sus Acequias, que
duran mas de legua y media. El Maestro Pedro de Medina en su libro de las
grandezas de España dize, que viene mas de
quatro léguas por baxo de tierra, por Minas hondas hechas a mano, y como llega
quanto algo mas de una legua de la ciudad, parece el agua sobre la tierra, y de
alli deciende haziendo una buelta casi en arco, donde ay muchos Molinos; que
muelen cõ esta agua. Y luego torna su: corrida hazia la ciudad hasta la Cruz,
que es un Humilladero de mucha devoción en el mismo caminho de Carmona, poco
trecho antes de llegar a Sevilla.
Llegada pues el agua a la ciudad, y subiêdo por cima de la Puerta de Carmona, donde se haze su repartimiento, va desde alli mucha parte della por los Muros, que encaminan a la Puerta de la Carne hasta el Alcaçar Real.” [6]
Os Caños de Carmona
na Vista de Sevilla de Joris Hoefnagel.
fig. 22 - Pormenor de Joris Hoefnagel (1542-1600). Vista de Sevilha no Civitates orbis terrarum de Georg Braun y Frans Hogemberg. Vol. V 1598.
La Cruz (inscrito na imagem). Ermida da Cruz de el Campo.
A Cruz era um pequeno templo que marcava a aproximação à cidade pelo caminho que, acompanhando os Caños de Carmona, levava
até à Porta do mesmo nome.
Segundo Diego de Zuñiga, terá sido erguido por ordem de Don Diego de Merlo (14??-1482), para assinalar aquele aqueduto que abastecia de água a cidade de Sevilha. Uma “pequeña ermita hay junto a la Cruz del Campo, único humilladero, pero muy celebre por su gran devocion y freqüencia, y por su fundador el famoso Asistente Diego de Merlo, como dixe en el año de 1482.” [7]
Alonso Morgado assinala a sua localização.
“Y luego torna su corrída hazia la ciudad hasta la Cruz, que es un
Humilladero de mucha devoción en el mismo caminho de Carmona, poco trecho antes
de llegar a Sevilla.” [8]
fig. 23
– Mosteiro de Santo Agostinho e La Cruz.
Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz
Hogenberg (1535-1590).
A sua forma resulta de uma intervenção em 1520. E em 1571 foi erguida uma cruz em mármore com uma imagem da Virgem de um lado e do Crucificado do outro. Esta Cruz é atribuída a Juan Bautista Vásquez o Velho (1510 ou 1525-1588).
Para se ter uma ideia da Cruz
e da sua relação com a cidade, socorremo-nos de uma pintura do século XIX, um
quadro de Joaquin Bécquer. O quadro mostra o pequeno templo da Cruz do Campo,
tendo ao fundo a cidade de Sevilha, numa tarde ensoleirada.
fig. 24 - Joaquin Dominguez Bécquer (1817-1879), La Cruz del Campo 1854, óleo s/tela 60 x 100 cm. Museo San Telmo.
(3) Casas del Duq de Alcala
fig. 25
- Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates
Orbis Terrarum de Georg
Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).
De entre as propriedades dos duques de Alcalá sobressai o Palácio denominado Casa de Pilatos.
Iniciado em 1483 por D. Pedro Enríquez de Quiñones (c.1435-1492), IV Adelantado Mayor de Andalucia, a sua construção prolongou-se até 1571.
Importa assinalar que Fadrique Enríquez de Ribera
(1476-1539), 1º marquês de Taifa e VI Adelantado Mayor de Sevilha, depois de uma
viagem a Jerusalém (1518/19), descobriu que a distância entre o palácio de
Pôncio Pilatos e o monte Gólgota seria a mesma entre a sua casa de Sevilha e o
templeto da Cruz do Campo.
Por isso, na celebração da Semana Santa, iniciou-se
uma Via Crucis entre o seu Palácio -
que a partir de então se chamou Casa de Pilatos - e a Cruz do Campo, procissão
que se crê estar na origem das celebrações da Semana Santa em Sevilha.
Mas foi, Per (Pedro) Afán de
Ribera (c.1508-1571) sobrinho de Fadrique Enriquez de Ribera, e 2º Marquês de
Taifa, que recebeu em 1558 de Felipe II o título de Duque de Alcalá.
[1]
Jerónimo Münzer (1437-1508), Itinerarium siue peregrinatio excellentissimi viri
artium ac vtriusque medicine doctoris Hieronimi Monetarii de Feldkirchen ciuis
Nurembergensis (1495) in J. PUYOL, Jerónimo Münzer, Viaje por España y Portugal
en los años de
1494 y 1495, in «Boletín de la Real Academia de la Historia», 84.
Madrid 1924. (pág. 14).
[2] Andrea
Navagero (1483-1529), Il Viaggio fatto in
Spagna, et in Francia, dal Magnifico Andrea Navagiero, fu oratore
dell’Ilustrissimo Senato Veneto, alla Cesarea Maesta di Carlo V. Com la
descrittione particolare delli luochi, & costumi delli popoli di quele
Provincie. In Vinegia apresso Domenico Farri. 1563. (pág. 15).
[3] Juan
Mal Lara, (pág, 132).
[4] Rodrigo
Caro (1573-1647), Antiguedades y Principiado de la Ilustrissima Ciudad de Sevilla.
Y Chorographia de su Convento Iuridico, o antigua Chancilleria. En Sevilla, por
Andres grande. Impressor de Libros. Sevilla Año 1634.
[5] Rodrigo
Caro (1573-1647), Antiguedades y Principiado de la Ilustrissima Ciudad de
Sevilla. Y Chorographia de su Convento Iuridico, o antigua Chancilleria. En
Sevilla, por Andres grande. Impressor de Libros. Sevilla Año 1634. (libro
primero, pág. 26).
[6] Alonso
Morgado, Historia de Sevilla, en la cual se contienen sus antigüedades,
grandezas y cosas memorables en ella acontecidas desde su fundación hasta
nuestros tiempos, Compuesta y ordenada por Afonso Morgado, indigno
Sacerdote, natural de la villa de Alcantara, en Estremadura. En la Imprensa de
Andrea Fescioni y Iuan de Leon Sevilla 1587. (pág.50).
[7] Diego
de Ortiz Zuñiga, Annales eclesiasticos, y seculares de la muy noble, y muy leal
civdad de Seuilla, metropoli de la Andaluzia. Que contiene sus mas principales
memorias desde el año de 1246. En Madrid: en la Imprenta Real, por Iuan García
Infançon. Acosta de Florian Anisson, Mercader de Libros. Madrid 1677. (Libro
XVI. pág. 623).
[8] Alonso
Morgado, Historia de Sevilla en la cual se contienen sus antigüedades,
grandezas y cosas memorables en ella acontecidas desde su fundación hasta
nuestros tiempos, Compuesta y ordenada por Afonso Morgado, indigno
Sacerdote, natural de la villa de Alcantara, en Estremadura. En la Imprenta de
Andrea Perscioni y Ioan de Leon Sevilla 1587 (pág.).
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