Nos Labirintos da Memória
Passado é o labirinto:
seus jardins afloram
Ε do fundo da memória sobem as escadas [1]
Sophia de Mello Breyner Andresen
Fevereiro de 1962
No contexto da agitação política que marcou o final da década de 50 (com a campanha de Humberto Delgado) e durante o ano de 1961 (o desvio do Santa Maria, o início da Guerra colonial, o golpe fracassado de Botelho Moniz, o desvio do avião da TAP, a ocupação indiana dos territórios de Goa, Damão e Diu e finalmente o assalto ao quartel de Beja no último dia de 1961) e já no 31 de Janeiro de 1962, as grandes manifestações no Porto e em Lisboa, contra o regime e a guerra colonial, constituíram factores de mobilização dos estudantes do secundário e do ensino superior na luta contra o regime.
Assim, em Fevereiro de 1962, na minha efémera passagem pelo curso de engenharia, a então constituída Comissão Organizadora da Pró-Associação de Ciências do Porto, - da qual eu fazia parte – elaborou um longo documento intitulado “Comunicado aos Professores e Alunos da Faculdade de Ciências do Porto”.
Este Comunicado inicia-se por um primeiro ponto “O que é uma Associação de Estudantes” em
que se constata que “o estudante de hoje encontra-se ainda, desprovido, na sua esmagadora
maioria, de um espírito verdadeiramente universitário” e revelando uma
verdadeira intenção política o documento prossegue “É uma verdade amarga que o estudante
não cuida da sua preparação integral, como homem que na realidade é: os
aspectos artísticos, filosóficos, sociais, etc. da vida, são-lhe completamente
alheios”.
E insiste que, só com as Associações de Estudantes, democráticas e representando os estudantes, se poderá resolver os problemas especificamente estudantis e em colaboração com os professores, criar um ambiente universitário de cultura e cidadania.
O Documento prossegue especificando “O que é a Comissão Organizadora da
Pró-Associação de Ciências do Porto”
com vista à criação de uma Pró-Associação que poderia contribuir para a
solução de um conjunto de problemas da Faculdade de Ciências do Porto
(instalações, número de docentes e aumento dos estudantes, reforma dos cursos,
etc.).
Segue-se uma carta dirigida ao Exmo.
Senhor Director da Faculdade de Ciências do Porto, em que se resumem os problemas atrás expostos e se contesta o
C.U.P. (Centro Universitário do Porto) na sua pretensão de representar os
estudantes da Universidade do Porto.
Seguem-se as assinaturas dos 340 Alunos que
subscreveram o documento, o qual no fim é assinado pelos 25 membros da Comissão
Organizadora.
A Comissão pretendeu ainda organizar para a
Quarta-feira dia 28, uma Reunião Geral de Estudantes, tendo em vista o Dia do Estudante
(23 de Março). Esta reunião que foi inicialmente autorizada, veio a ser “por
ordem superior cancelada” na véspera, dia 27 de Fevereiro.
[1] Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética Assírio & Alvim (pág.611)
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