1 O “estilo Art-Déco”
Depois de percorremos a Exposição comentada pelos seus críticos
contemporâneos e nos deter em algumas das participações de países e de
empresas, convêm identificar sucintamente, o que se chamou de Art-Déco.
De facto a Exposition des Arts
Décoratifs de 1925 consagrou uma estilística nova,
iniciada no pósguerra e que do título da exposição se denominou Art-Déco – estilo ou moda - correspondendo
ao gosto que se tornava dominante entre as elites burguesas, e que invadia, com
sucesso, o domínio dos objectos quotidianos – a moda (vestuário e acessórios),
a joalharia, o mobiliário, a decoração de interiores, as artes gráficas e o lettering - estendendo-se com
naturalidade à Arquitectura - pelo menos nos seus aspectos mais exteriores e
decorativos - em particular nos estabelecimentos comerciais e habitações.
A produção industrial de
objectos de uso quotidiano, mais do que a estética da forma, procurava então a
eficácia técnica e a reprodutibilidade, e que se irá constituir em linguagem ou
se se quizer em estilo.
O "moderno",
assim entendido, para se afirmar, necessita, cada vez mais, de se opor à
história, confrontando o mundo da criação ao mundo do museu.
A ArtDéco constitue, para alguns, um primeiro passo para uma radical
ruptura com o passado, a libertação das Artes do peso da história e das normas
da tradição, elaborando produtos a partir de raízes e de alicerces inteiramente
novos.
Na Arquitectura tem
particular importância a utilização de novos materiais, em particular o betão,
cuja novidade já anunciava Fernando Pessoa no primeiro número do Orpheu: "Olá tudo com que hoje se / constrói, /
com que hoje se / é diferente de ontem! / Eh, cimento armado, beton de cimento,
/ novos processos!” [1]
É uma época em que se generaliza o uso da
electricidade, em que são criadas novas redes de infraestruturas urbanas e se
aumenta o uso do automóvel, dos transportes motorizados (rodoviários, marítimos
e aéreos) e, sobretudo, em que se generaliza a difusão dos meios de comunicação
como a fotografia, a rádio e o cinema.
Estas novas condicionantes implicavam novos programas e transformações, novas
metodologias na elaboração dos projectos, um novo léxico de formas para os
adaptar a estas novas formas de vida.
A Art-Déco globalmente definia-se por:
- Composições simétricas,
com a utilização de formas geométricas, formas como o cubo, o
paralelepípedo e a esfera, ou com linhas rectas horizontais e verticais,
combinadas.
- Uma decoração com
representações solares e raios luminosos, nuvens e ondulações estilizadas.
- Uso de baixos-relevos,
vitrais e mosaicos, com a representação de animais como gazelas, galgos,
panteras e aves como pavões, pombas e garças, muitas delas como referência
à velocidade, e a representação de plantas sendo as mais utilizadas as estilizações
de cactos e palmeiras.
- A utilização de novos
materiais artificiais, de preferência polidos e espelhados, como o ferro
cromado, a baquelite, o alumínio e o plástico; e de materiais naturais
como a mármore, a pele de zebra, de tubarão e couro, as madeiras exóticas
como o ébano, e o jacarandá.
- Uma particular atenção
dada à iluminação exterior e interior com o desenho de novas formas de
candeeiros.
- O uso de motivos geométricos
das culturas pré-hispânicas (azteca, maia e inca), das civilizações egípcia
e mesopotâmica e ainda de objectos africanos, hindus, vikings e índios.
- A constante referência à máquina,
e aos modernos meios de transporte como automóveis, locomotivas, barcos,
aviões, representando o domínio da mobilidade e da velocidade.
[1]
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa), Ode Triunfal 1914 in Orpheu n. º1,
Janeiro/Fevereiro/Março 1915 (pág. 79). In Fernando Pessoa Obra Poética 2ª
edição Companhia Aguilar Editora. Rio de
Janeiro 1965. (pág.306).
2 A Exposição de Paris e a
Arquitectura em Portugal
Portugal que à crise europeia do final da Guerra acrescentou
a crise da República, não participou na Exposição.
Todavia muitos foram os que a ela assistiram e visitaram.
Para além da influência no desenho e nas artes plásticas, na moda e acessórios, na joalharia, no mobiliário, e nas artes gráficas, a Exposição foi impulsionadora de uma modernização da Arquitectura.
Os arquitectos da emergente nova geração, nascidos na
esquina dos séculos XIX e XX, em contacto com o Paris dos anos vinte, procuram nas
obras que realizam a partir dos finais da década de 20 e sobretudo na década
seguinte, modernizar as suas arquitecturas, particularmente no tratamento das
fachadas e dos pormenores.
E ainda (não por acaso, mas uma referência à iluminação
eléctrica) um candeeiro de Jean Perzel (1892-1986), o principal produtor de
candeeiros nos anos 20. Por fim, apresenta de Louis Doumergue (1888-1956) (Gabinete do Dr. A…). Todos participantes
na Exposição das Artes Decorativas de Paris.
Entre as fotografias dois pequenos, mas
mordazes, comentários: “Comparar com
as Avenidas Novas (?) de Lisboa…” e “Felicitar a Câmara e a Direção Geral de Belas Artes.” [1]
fig. 1 – Página da revista Contemporânea n.º
3 de 1926.
Entre esta nova geração de arquitectos, como estudantes contemporâneos nas Belas Artes, e que então terminavam os seus cursos e iniciavam a sua actividade profissional, começam a difundir-se as revistas internacionais.
Num país francófilo, em que muitos dos estudantes de
Belas Artes ainda tinham bolsas para concluir os estudos em Paris, surgem “certas
publicações francesas”, [2] que Raul Lino (1879-1974), da geração anterior e preocupado com o que, para
ele, representava essa aculturação, revistas que iam divulgando “entre
nós os tipos de construções inadequados ao nosso país e que não só enxameiam as
cidades, mas, o que é ainda pior, infestam também, juntamente com as pontes
metálicas das vias férreas, todas as nossas lindas paisagens” [3].
O primeiro número, de 1923, inicia-se com uma frase do “Eupalinos ou de l’Architecte” de Paul Valery (1871-1945), então muito difundido entre os que se interessam pela Arquitectura, onde Phedra, a personagem que dialoga com Sócrates, exclama que “há edifícios mudos, outros que falam e os que mais raramente cantam.” [4]
E no editorial do primeiro número, o arquitecto Auguste Perret
(1874-1954) anuncia:
“A Architecture Vivante é aquela que expressa fielmente a sua
época. Procuraremos exemplos em todos os domínios da construção. Escolheremos
as obras que, estrictamente se subordinam ao seu uso, realizadas pelo emprego
judicioso da matéria, alcançam a beleza pela pelas disposições e proporções
harmoniosas dos elementos que as compõe.” [5]
Uma outra revista francesa dos anos 20, - a qual ainda com pouca tiragem e, por isso, pouca difusão - é “L’Esprit Nouveau” (1920-1925), fundada por Le Corbusier (Charles Édouard Jeanneret 1887-1965), que então assina Le Corbusier-Saugnier, e onde escreve textos que irá utilizar no seu “Vers une Architecture” publicado em1924. Coloca então a questão: “Como adornar a arquitetura com um elegante desprendimento, uma arquitetura resultante do espírito de uma época, quando esse espírito ainda está coberto pelo insuportável refugo de uma época moribunda?” [6]
“A Arquitectura nada tem a ver com os estilos. Os Luís XV, XVI, XIV ou o período gótico estão para a arquitetura como uma pena na cabeça de uma mulher; é por vezes bonito, mas nem sempre o é, e nada mais. A arquitetura tem destinos mais sérios; suscetível de sublimidade, toca os instintos mais brutais pela sua objetividade; solicita as mais altas faculdades, pela sua abstração própria. A abstração arquitectónica é particular e magnífica porque, enraizada no facto brutal, ela o espiritualiza, porque o facto brutal não é outra coisa senão a materialização, o símbolo da ideia possível.” [7]
E Le Corbusier escreve a tão conhecida frase
“L'architecture est le jeu savant, correct et magnifique des volumes assemblés sous la lumière.”
[“A Arquitetura é o jogo hábil, correcto e magnífico dos volumes reunidos sob a luz.”]
Le Corbusier termina o seu texto defendendo a utilização das formas
puras.
“Os nossos olhos são feitos para ver formas sob a luz; sombras e destaques revelam formas; cubos, cones, esferas, cilindros ou pirâmides são as grandes formas primárias que a luz revela bem; a imagem é clara e tangível para nós, sem ambiguidade. É por isso que são formas belas, as formas mais belas.” [8]
Assim, a Exposition des Arts Decoratifs irá ter grande impacto a
geração, dos nascidos na “esquina dos
séculos”, os anos 90 do século XIX e a primeira década do século XX.
[1]
Contemporânea
n.º 3 de Jul./Out. de 1926. (pág.142).
[2]
L’Art Vivant, La Construction Moderne, l’Architecture Vivant, La Revue de l’art
ancienne et moderne, L’Esprit Nouveau, etc.
[3] Raul Lino, A Nossa Casa. Apontamentos sobre o bom gosto
na construção das casas simples. Libânio Silva Lisboa (1918).
[4]
Paul Valery, Eupalinos ou L'architecte ; précédé de L'âme et la danse (44e
éd.), NRF Librairie Gallimard Paris 1924. (pág.106)
« PHEDRE. — Dis-moi (puisque tu est si sensible aux effets de l'Architecture), n’as-tu pas observé, en te promenant dans cette ville, que d'entre les édifices dont elle est peuplée, les uns sont muets, les autres parlent ; et d'autres enfin qui sont les plus rares chantent?
— Ce n’est pas
leur destination ou même leur figure générale qui les animent à ce point ou qui
les réduisent au silence. Cela tient au talent de leur constructeur ou bien à
la faveur des Muses. »
[5]
Auguste Perret, “L’ARCHITECTURE VIVANTE est celle qui exprime fidèlement son
époque. On en cherchera des exemples dans tous les domaines de la construction.
On choisira les oeuvres qui strictement subordonnés a leur usage réalisées par
l’emploi judicieux de la matière atteindron a la beauté par les dispositions et
les proportions harmonieuses des éléments necessaires qui les composent.” In
Architecture Vivante Out. Nov. Out. Nov.1923. Ed. Albert Morancé Paris 1923.
[6]
“Comment parer d'architecture avec un détachement élégant, d'architecture
résultante de l'esprit d'une espoque, au moment où cet esprit est encore
recouvert de la défroque insupportable d'une époque mourante?” Le
Corbusier-Saugnier, trois rappels à MM. Les Architectes. L’Ésprit Nouveau n.º
1, Revue Internationale d’Esthetique Paris 1920. (pág.91).
[7]
“L'architecture n'a rien à voir avec les « styles ». Les Louis XV, XVI, XIV ou
le Gothique, sont à l'architecture ce qu'est une plume sur la tête d'une femme;
c'est parfois joli, mais pas toujours et rien de plus. L'architecture a des
destinées plus graves; susceptible de sublimité elle touche les instincts les
plus brutaux par son objectivité; elle sollicite les facultés les plus élevées,
par son abstraction même. L'abstraction architecturale a cela de particulier et
de magnifique que se racinant dans le fait brutal, elle le spiritualise, parce
que le fait brutal n'est pas autre chose que la matérialisation, le symbole de
l'idée possible.” Le Corbusier-Saugnier, trois rappels à MM. Les Architectes.
L’Ésprit Nouveau n.º 1, Revue Internationale d’Esthetique Paris 1920. (pág.92).
[8]
Nos yeux sont faits pour voir les formes sous la lumière; les ombres et les
clairs révèlent les formes; les cubes, les cônes, les sphères, les cylindres ou
les pyramides sont les grandes formes primaires que la lumière révèle bien;
l'image nous en est nette et tangible, sans ambiguïté. C'est pour cela que ce
sont de belles formes, les plus belles formes.” Le Corbusier-Saugnier, trois
rappels à MM. Les Architectes. L’Ésprit Nouveau n.º 1, Revue Internationale
d’Esthetique Paris 1920. (pág.92).
3 Os arquitectos da geração de 90
Sublinhamos os que elaboraram projectos Art-Déco.
Da Escola de Belas Artes de Lisboa
Luís (Ribeiro Carvalhosa) Cristino da Silva (1896-1976)
Porfírio Pardal
Monteiro (1897-1957)
Cassiano Branco (1897-1970)
(José Ângelo) Cottinelli Telmo (1897-1948)
Hermínio de Barros (1897-?)
Jorge Segurado
(1898-1990)
Paulino (António Pereira) Montez
(1897-1988)
Carlos (João
Chambers) Ramos (1897-1969)
Guilherme Rebelo de
Andrade (1891-1969) [o irmão Carlos Rebelo de Andrade (1887-1942)]
Vasco Regaleira (1897-1968)
António Maria Veloso dos Reis Camelo (1899-1985)
Raul Francisco Tojal (1899-1969)
Da Escola de Belas Artes do Porto
Manoel Marques (1890/1956)
Manuel Amoroso Lopes (1899-1953)
Rogério de Azevedo (1898-1983)
Baltazar Castro (1891-1967)
José Ferreira Peneda
(1893 ‑1940)
João Queiroz (1892-1982)
E os
arquitectos e engenheiros:
Antão
Almeida Garrett (1896-1978)
Júlio José de Brito (1896-1965)
E ainda da geração da 1ª década do século XX, já menos influenciada pela Art-Déco e com outras influências.
Miguel Jacobetty (1901-1970)
Arthur Almeida Júnior (1902-?)
Manuel
Lima Fernandes Sá (1903‑1980)
António
Júlio Teixeira Lopes (1903-?)
Adelino
Nunes (1903
- 1948)
António Maria Cândido de Brito (1904-1989)
Homero Ferreira Dias (1904-1960) esc.
1921/29
Alfredo Duarte leal Machado (1904-1954)
Ernesto Camilo Korrodi (1905-1985)
Mário (Augusto
Ferreira de) Abreu (1908-1969)
Manuel
da Silva Passos Júnior (1908‑?)
Arménio Taveira Losa
(1908-1988)
João Simões (1908-1994)
Raul
Rodrigues Lima (1909‑1979)
David Moreira da
Silva (1909-2002)
Francisco Keil do
Amaral (1910-1975)
Januário Godinho (1910-1990)
Os
arquitectos no Salão de Outono
Alguns destes arquitectos haviam já exposto os seus projectos no Salão de Outono na SNBA no início de
1925. [1]
Como assinalámos neste blogue em “O 1.º Salão de Outono um apontamento sobre o centenário” a crítica não deixou de referir esta presença de arquitectos numa exposição de Belas Artes.
Artur Portela (1901-1959) no Diário de Lisboa, remata a sua crónica referindo os arquitectos “A exposição fecha – ou nós fechamos aqui – com os trabalhos de arquitectura que, tanto pelo valor decorativo, como pelo manchado da aguarela, estão a pedir imediata construção nesta sorna, pesada e pombalesca Lisboa.” [2]
No Diário de Notícias em crónica não assinada,“Carlos Ramos, Cristino Silva, Gonçalves Melo Breiner, Jorge Segurado, Leo Welther (sic), Norberto Correia e Tertuliano Marques demonstram brilhantemente que a arquitectura portuguesa existe, não já em projectos, mas em definitivas realizações.” [3]
Matos Sequeira (1880-1962) destaca Carlos Ramos, “Alguns arquitectos concorreram também ao certame, representando-se bem, tais como Melo Breyner, Segurado, Tertuliano (que está com os novos), Luís Cristino, Carlos Ramos, José Pacheco, Norberto Correia, etc. Entre bastantes projectos notei especialmente dois alçados de Carlos Ramos, de uma casa estilo do século XVIII, inteligentemente projectada. Sim, senhor. Merece um largo parabéns.” [4]
Aquilino Ribeiro cauteloso, afirma que “Os arquitectos Carlos Ramos, Cristino da Silva, Melo Breyner, José Pacheco, José [Jorge ?] Segurado, Leo Walgh (sic), Norberto Correia, Tertuliano Marques trouxeram interessantes especulações do seu lápis e esquadro.” [5]
Jaime Brasil (1896-1966)) depois de atacar os pintores vai desculpando os arquitectos “(…) que entram ali como Pilatos no Credo, a ver se alguém falava dêles, pois precisam de ganhar a sua vida – e que todos apresentam trabalhos equilibrados e sérios.” [6]
E é João Castro (1887-1955) que lamentando a ausência de outros arquitectos, considera que há já uma nova geração que propõe uma arquitectura nova.“Posto isto e colocaria esta manifestação de arte do Salão de Outono dentro do movimento geral que anima a geração nova quero notar imediatamente uma das mais belas das suas indicações.
Porque revela
ainda melhor que a pintura um espírito nacional em manhã segura para uma grande
realização apraz-me fazer notar antes de mais nada a existência de uma
grande geração de arquitectos.
Embora faltem
alguns arquitectos a esta exposição, já por ela se pode ver que há, na realidade, uma
geração de fortes criadores de arquitectura. Daqueles que expõem
depreende-se a marcha clara para uma arquitectura nova, mas portuguesa, já
pelos ensinamentos regionais, já pelas influências estrangeiras, já pela
tradição dos estilos históricos.” [7]
[1]
Ver neste Blogue o Salão de Outono na SNBA 1925.
[2] Artur Portela (1901-1959) escreve na “A Arte
Moderna - O Salão de Outono inaugurou-se na Sociedade Nacional de
Belas-Artes” no “Diário de Lisboa” de 24 de Janeiro 1925,
[3]
Não assinado “Salão de Outono” no “Diário
de Notícias” em 28 de Janeiro.
[4]
Matos Sequeira (1880-1962) “O Salão de Outono na
S.N.B.A.” no “O Mundo” de 25 de Janeiro 1925.
[5]
Aquilino Ribeiro (1885-1963) “O Salão de
Outono” no “O Século” de 26 de Janeiro 1925.
[6]
J.B. Jaime Brasil (1896-1966), “O Salão de Outono
continua brilhantemente as tradições do Palácio das Belas-Artes” A
Batalha” em 2 de Fevereiro 1925.
[7]
João Castro (1887-1955) “A geração nova e o Salão de
Outono” no “Diário de Lisboa” em 29 de Janeiro 1925.
4 Reflexos da Art-Déco em alguns edifícios de arquitectos
portugueses
Lisboa
Dos arquitectos havia os que estavam em Paris e outros que visitaram a Exposition. Por isso não surpreende, que realizem, - influenciados pela Art-Déco - os primeiros projectos que se queriam modernos em Portugal.
Luís Cristino da Silva
(1896-1976), que com uma bolsa esteve em Paris entre 1920 e 1925, participou na Section Française da Exposição de Paris
com a fonte “L'Enfant au poisson”, em colaboração com a
escultora Madeleine de Lyée de Belleau (1873-1957).
fig.2 - Christino da Silva architecte et Mme de Lyée de Belleau sculpteur. Fontaine. Section Française Planche LXXXVI. Arc. Phot. Beaux-Arts. CNAM.
Cristino da Silva já era conhecido porque em 1923 havia aparecido na revista Ilustração a propósito de uma sua exposição, realizada na SNBA. Foi um dos expositores no Salão de Outono em 1925.
fig. 3 - Ilustração Portuguesa n.º 936 de 26 de Janeiro 1924. (pág.117). na legenda: O arquitecto Luís Cristino da Silva dando os últimos retoques na maquette do seu “Hotel situado num local pitoresco da Costa Portuguesa” Cliché de João Segurado.
Cristino
da Silva (com o eng. Belard da Fonseca*), projecta em 1925 a
entrada do Parque Mayer (criado em 1922), e o Cinema Capitólio (1925/29,
inaugurado em 1931), de evidente influência Art-Déco,
por muitos considerado o 1º projecto moderno em Portugal.
[*José Mascarenhas Pedroso Belard da Fonseca (1889-1969)]
Nesse mesmo ano (1931) a revista Ilustração, de 15 de Setembro, então dirigida por António Ferro (1895-1956), publica (acompanhado de
fotografias), um texto de Carlos Queiroz (1907-1949), “Uma noite no Parque Mayer” em que o poeta do Orpheu, da Presença e
do Litoral, escreve amargamente: “Guardei propositadamente para o fim os
teatros e o “Capitólio”. Os primeiros, apenas para dizer que não me sugerem
nada para dizer. Quanto ao “Capitólio”, para lamentar a minha impossibilidade
de trocá-lo com o monumento ao Adamastor, que é, em pura linguagem de
empresário de fenómenos, “um monstro que nada vê através do corpo dele”.
fig. 4 –Teatro Capitólio. Projecto do arquitecto Luís Cristino
da Silva. Fotógrafo: Mário Novais (1899-1967). Fotografia sem data.
[CFT003.62625] Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.
fig. 5 – Entrada do Parque Mayer e O
aspecto nocturno da fachada do “Capitólio”. (Fotos de Horácio de Novais). Carlos
Queiroz, “Uma noite no Parque Mayer”
in Ilustração n.º 138 de 15 de Setembro de 1931. (pág. 35).
Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957)
O arquitecto Porfírio Pardal Monteiro será o que
permanecerá, até aos anos 40 do século XX, fiel ao “estilo” Art-Déco, quer nos exteriores quer nos
interiores, dos seus projectos e obras.
fig. 6 – Porfírio Pardal Monteiro. Caixa Geral de Depósitos
Porto. In Arquitectura Ano IV, n. º21 Out-Nov. 1931.
fig. 7 - Porfírio Pardal Monteiro. O Hall da Caixa Geral de
Depósitos Porto. In Arquitectura Ano IV, n. º21 Out-Nov. 1931. Foto Mário
Novais (1899-1967).
Pardal Monteiro projecta entre 1925 e 1928 a Estação Ferroviária do Cais de Sodré.
fig. 8 – Pardal Monteiro. Estação do Cais de Sodré 1925/28. Foto Instituto Português do Património.
Pardal Monteiro projecta a moradia de 5 de Outubro 1926/29,
prémio Valmor de 1929, e que o júri classifica como “um belo exemplar de arquitectura moderna, impondo-se pelo equilíbrio
das suas proporções, pela harmonia da sua decoração e pelo cuidadoso estudo dos
pormenores, contribuindo largamente para a estética da cidade …” [2]
fig. 9 – Moradia na Avenida 5 de Outubro, nº 207-215, Lisboa.
Prémio Valmor 1929. Arquitecto responsável: Pardal Monteiro (1926-1929).
Fotografia sem data. Produzida durante a actividade do Estúdio Mário Novais:
1933-1983.Album da Biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian.
A Ford Lusitânia de 1930
Em 1930 Pardal Monteiro projecta a Ford Lusitânea, num período em que cresce o
trânsito motorizado e em que o automóvel se vai democratizando, necessitando de
novos edifícios com novos programas as Garagens se iniciam os Salões Automóvel
do Porto e de Lisboa.
fig. 10 - Fachada do Ford Lusitana.
Esquina da rua Marquês de Subserra com a rua Castilho, Lisboa. Arquiteto
responsável: Porfírio Pardal Monteiro (1930-1932). Fotógrafo: Horácio Novais
(1910-1988) Fotografia sem data. Produzida durante a actividade do Estúdio
Horácio Novais, 1927-1988. Álbum Comércio. Biblioteca de Arte Fundação Calouste Gulbenkian.
fig. 11
- Pardal Monteiro, Instituto Nacional de Estatística. Projecto do arquitecto
Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957). Revista Municipal publicação da Câmara
Municipal de Lisboa. n.º especial dedicado à memória do engenheiro Duarte
Pacheco. Lisboa Janeiro de 1944. Fotografia de H. Novais (1854-1940). (pág.
57)
fig. 12 – Pardal Monteiro, Instituto Superior Técnico 1927/35/ Revista
Municipal publicação da Câmara Municipal de Lisboa. n.º especial dedicado à
memória do engenheiro Duarte Pacheco. Lisboa Janeiro de 1944. (pág.51).
O IST influencia a arquitectura da envolvente.
fig. 14– Porfírio Pardal Monteiro, Igreja de N. Sra. Do Rosário
de Fátima. In Arquitectos, revista do Sindicato Nacional dos Arquitectos n.º 7
Nov./Dez. 1938.
E em 1936/40 projecta o Edifício
do Diário de Noticias (prémio Valmor 1940).
fig. 15
Cassiano
Branco (1897-1970)
Cassiano Branco (1898/1969), que pela sua capacidade
inventiva e pela qualidade do seu desenho, consegue uma interpretação muito
pessoal desta linguagem,
fig. 16 – Cassiano Branco, Eden Teatro 1931. Catalogue de l’Exposition Les Réalismes (1919-1939). Du 17 décembre 1980 au 20 Avril 1981. Centre Pompidou Paris. (pag.318).
O Hotel Vitória em 1934/36.
fig. 18 – Cassiano Barnco, Hotel Vitória Av. da Liberdade.
Desenho no Catálogo da Exposição Cassiano Branco. Associação dos Arquitectos
Portugueses. SNBA 1986.
fig. 19
fig. 20
fig. 21 - Cassiano Branco, Coliseu do Porto: alçado principal,
1938, Arquivo Municipal de Lisboa AML -
PT/AMLSB/CB/06/03/16
Cottineli
Telmo (1897-1948)
projecta a Estação Sul e Sueste realizada em 1931.
fig. 22 – Cottinelli Telmo
Aspecto da fachada da Estação Sul e Sueste no Terreiro co Paço em
Lisboa. Revista Municipal ano XLVII, 2ª série n.º 15 Lisboa 1º trimestre
1986. (pág. 48).
Jorge Segurado (1896-1990)
fig. 23 - Camisaria Marques e C.ª. Projecto do arquitecto Jorge
Segurado (1898-1990). Fotógrafo: Mário Novais (1899-1967). Fotografia sem data.
Álbum Arquitectos e Engenheiros Portugueses. Biblioteca de Arte da Fundação
Calouste Gulbenkian.
Hermínio
de Barros (1897-?) Garagem Liz (1931/33)
fig. 24 – Hermínio Barros, Garagem Liz na rua da Palma
Lisboa. Foto de 1934. Arquivo do jornal O Século.
fig. 25 – Hermínio Barros, Arq, Garagem Liz 1933. In Guia
Urbanístico e Arquitectónico de Lisboa. Associação dos Arquitectos Portugueses
Lisboa 1987.
Adelino
Nunes (1903-1948)
The Anglo-Portuguese Telephone Company no Estoril (1933/34)
fig. 26 – Arquitecto
Adelino Nunes. The Anglo-Portuguese Telephone Company no Estoril (exterior).
Projecto do arquitecto Adelino Nunes. Fotógrafo: Mário Novais (1899-1967).
Fotografia s/ data. Biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian. [CFT003.100914].
E na revista Arquitectos n.º 5 Junho
e Julho de 1938 do Sindicato Nacional dos Arquitectos. (pág.131).
[1]
Revista Arquitectura Ano IV, n.º 21 Out-Nov. 1931. (pág. 90).
[2] Citado
em José Manuel Pedreirinho, 100 anos do Prémio Valmor Edições Imagem e
Comunicação Lisboa 2003. (pág.135).
Porto
Para além do edifício da Caixa Geral de Depósitos de Pardal Monteiro já aqui tratado a Art-Déco no Porto irá ter a sua expressão arquitectónica em diversos projectos, sobretudo de encomendas privadas.
José Marques da Silva (1869-1947)
Refira-se, em
primeiro lugar,
o arquitecto José Marques da Silva (1869-1947), da geração
anterior, de quem era inaugurada a Sede da
Seguradora A Nacional (1919/24), o primeiro
edifício a ser concluído na Avenida das Nações Aliadas (Avenida dos Aliados) no
centro da cidade do Porto. E que no ano de 1925 concluía o edifício da
Rua Alexandre Braga.
A casa de Serralves (1925/43)
Marques da Silva
em 1925, inicia o projecto de reconversão da propriedade do Conde de Vizela,
projecto ampliado, após o alargamento do terreno disponível.
No projecto da
Casa de Serralves, concretizado por Marques da Silva, participou ainda o arquitecto Charles Siclis, configurando alguns pormenores
exteriores e o arquitecto Jacques Gréber no desenho do jardim.
fig.
27
– José Marques da Silva, Casa de Serralves . Foto Arquivo pessoal.
E ainda podemos notar
alguma influência Art Déco no
projecto da igreja da Penha em Guimarães em 1936.
Manoel Marques (1890-1956)
O arquitecto Manoel Marques (1890-1956), nos anos 20 a 25 em Paris, também projecta em 1927
com o engenheiro e arquitecto Júlio José de Brito (1896-1965), a casa de Domingos
Fernandes na praça Mouzinho de Albuquerque (Rotunda da Boavista).
fig. 29
Manoel Marques, para
além das lojas comerciais: Barbearia Tinoco de 1929 e Camisaria Elegante
de 1932, projecta a renovação da fachada
dos Armazéns Cunha 1932, na então Praça da Universidade (depois praça Gomes
Teixeira) mas sempre conhecida por Praça dos Leões.
fig. 30 – Projecto de reconversão da fachada dos Armazéns Cunha. Praça da
Universidade (Praça dos Leões). Arquivo Histórico Municipal do Porto. AHMP.
Na fachada é exibido um enorme pavão de cauda aberta, que dá a esta fachada um caracter Art-Déco e publicitário.
fig. 31 – Manoel Marques, fachada do edifício dos Armazens Cunhas e pormenor
do Pavão. Arquivo pessoal.
A Farmácia Vitália de 1932/33, na Praça da Liberdade também exibe esse carácter publicitário, sendo a sua fachada desenhada como um grande cartaz incluindo o lettering.
fig. 32
E ainda os pedestais do monumento aos "Mortos
da Grande Guerra" na praça Carlos Alberto em 1924, e da “Fonte da Juventude”, a "Menina Nua”
como ficou conhecida, inaugurada na Avenida dos Aliados em Dezembro de1929,
ambos com esculturas de Henrique Moreira (1890-1979).
fig. 33 - Fonte decorativa do insigne
escultor Henrique Moreira, ultimamente inaugurada na nova Avenida dos Aliados
Pôrto. Foto Francisco Viana. Ilustração n.º 105 de 1 de Maio de 1930.
Rogério de Azevedo
(1898-1983)
fig. 35
– Rogério de Azevedo e Baltazar de Castro. Creche “O Comércio do Porto”,
Avenida Fernão de Magalhães/ Travessa da Póvoa,1930 in ”Creches de a Filial do
Bonfim” in O Comércio do Porto, de 1 de Janeiro de 1931.
fig. 36 – Rogério de Azevedo e Baltazar de Castro.Creche do jornal O Comércio do Porto 1930. In O Comércio do Porto: 100 anos, 1854-1954: resumo da sua história. Porto: O Comércio do Porto, 1954.
A Sede do Jornal O
Comércio do Porto
fig. 37
fig. 38 – A sede do jornal O Comércio do Porto. Por trás vê-se a Garagem, que
pela arquitectura resultante de um programa de garagem, se tornou um exemplar
único de arquitectura moderna. Blogue Restos de Colecção.
fig. 40 – Rogério de Azevedo, Fachada Principal do edifício Hunberto Ferreira Borges na rua de Santa Catarina 531/533. 1931/32. AHMP.
José
Ferreira Peneda (1893 ‑1940)
Casas geminadas na Avenida dos Combatentes da Grande Guerra (1929/)
fig. 41 – José Ferreira Peneda, Projecto de Habitações geminadas Mattos
Almeida 1929. Av. dos Combatentes. Fachadas lateral e principal. Gisa AHMP.
José Ferreira Peneda
projecta em 1935 uma habitação na rua de Santa Catarina 1538 evoluindo para uma
arquitectura mais “Loosiana” mas mantendo nos mosaicos a influência Art-Déco. A
Comissão de Estética da CMP solicitou a apresentação de um desenho que
esclarecesse a forma da fachada, que Peneda apresentou no seguinte aditamento
ao projecto.
fig. 42 – José Ferreira Peneda, Fachada da Casa na rua de Santa Catarina, 1538. 1935.AHMP.
fig. 43 – José Ferreira Peneda. na rua de Santa Catarina, 1534. Foto de José
Manuel Rodrigues 2001. em (in) formar a modernidade. Arquitecturas portuenses,
1923-1943: morfologias, movimentos, metamorfoses. Faup 2001. (pág. 46).
fig. 44 – José Ferreira Peneda. Habitação na rua de Santa Catarina 1534/38.
Google Earth. 2025.
Mário
Abreu (1908-1969)
A Garagem de Passos Manuel, na rua do mesmo nome.
fig. 45 – Mário Abreu, Garagem na Rua Passos Manuel, nº 178, Porto. Fotografia reproduzida no catálogo "Os anos 40 na arte portuguesa". FCG, Lisboa (1982). Arquitecto responsável: Mário de Abreu (1897-1970) (inauguração 1939).
Artur Almeida Júnior
(1902-?)
fig. 46 - Artur Almeida Júnior, Fachada principal do edifício Imperial. AHMP.
fig. 47 – Edifício do café Imperial na Praça da Liberdade. foto de 1944 AHMP.
Os vitrais do Ciclo do Café de Riccardo Leone (1891-1971) [1]
fig. 49
- Riccardo Leone, Vitrais do Café Imperial na praça da
Liberdade.
Januário
Godinho (1910-1990)
Projecto do estabelecimento Feira Grande (1934)
fig. 50 – Januário
Godinho no atelier de António Peres Dias Guimarães (1877-1950), Projecto de
entrada , a que se refere o requerimento do Sr. José Corrêa do Amaral para a
rua 31 de Janeiro (salão Imperial). Junho 1934. Arquivo Histórico Municipal do
Porto.
fig. 51 – Januário Godinho. Estabelecimento Feira Grande 1934. Espólio
Fotográfico Português. Foto Beleza/Mário Ferreira.
O
Quiosque dos STCP na Praça da Liberdade.
O uso deste léxico arquitectónico estendeu-se a pequenas
construções de mobiliário urbano como é o caso da Cabine- Kiosque dos STCP na Praça da Liberdade de 1930.
fig. 52 – 3.ª Repartição (técnica) da Câmara municipal do Porto. Projecto da
cabine-kiosque. 24 de Abril de 1930. Praça da Liberdade no Porto. AHMP.
fig. 53 – Foto Manuel de Sousa. Quiosque dos STCP. Praça da
Liberdade Porto. Wikipédia 2007.
[1]
Riccardo Leone (1891-1971)
e a sua oficina efectuaram um conjunto notável de vitrais no Porto: Ourivesaria
Marques 1926, na escadaria do Hotel Infante de Sagres de Rogério de Azevedo, mosaicos na CGD de
Pardal Monteiro, e em Lisboa na fachada da Papelaria Fernandes 1929, no Hotel
Vitória de Cassiano Branco de 1936, “AS Colónias” segundo um desenho de Jorge
Barradas no café Portugal de Cristino da Silva em 1938, os vitrais de Almada
Negreiros para a Igreja de Nossa Senhora de Fátima de Pardal Monteiro em 1938,
e ainda nas Termas do Luso de Pardal Monteiro em 1931. Mas a sua principal
intervenção foi no restauro dos vitrais do Mosteiro da Batalha.
As
Exposições: dois exemplos
fig. 54 – Vista exterior da entrada
da exposição in Ilustração n. º 41 1 de Setembro de 1927.(pág. 20).
A Exposição Colonial do Porto 1934
Nesse ano, o Regime do Estado Novo que se queria consolidado, inspirado
pela Exposição Colonial de Paris de 1931, promoveu no Porto a primeira das suas
grandes exposições - a Exposição Colonial do Porto – destinada a propagandear o
Estado Novo como um regime moderno e activo num Portugal Imperial. [1]
São várias as
influências da Exposição de Paris de 1925. A realização de um plano geral com a
utilização de uma grande nave, o Palácio de Cristal, à semelhança do Grand
Palais. [3]
Segundo esse plano, no recinto
do Palácio, a edificação de monumentos e dos pavilhões quer os dedicados às
colónias quer os das empresas privadas. E ainda os serviços diversos:
restaurantes, teatro, correio, rádio, etc.
Para facilitar a
visita o Comboio Turístico e o Cabo Aéreo.
No centro da Exposição o Palácio das Colónias, com uma fachada art-déco, revestindo a fachada do Palácio de Cristal, tornando-o assim “…moderno, elegante, arrojado, até.” [4]
Esta fachada arts-déco, foi projectada pelo engenheiro Henrique Mouton
Osório [5] e “parece
erguer, nas suas linhas direitas, o grito da Raça, que desperta para novos e
vastos empreendimentos. Dir-se-ia, olhando-a, que o Passado vem até nós com os
seus feitos audazes.” [6]
fig. 55 - Mouton Osório, Fachada do Palácio de Cristal na Exposição Colonial 1934. O monumento ao Esforço Colonizador e o Palácio das Colónias. De salientar os canteiros trabalhados em torno do monumento. Arquivo Nacional de Fotografia Instituto Português dos Museus.
O corpo do lado poente é encimado por um elemento muito utilizado nos anos 20 e 30, (veja-se por exemplo, o cinema Capitólio em Lisboa ou os Armazéns do Anjo no Porto), um “castelo” de vidro iluminado.
Do lado nascente um outro corpo cúbico, encimado por uma escultura de
Armando Correia, representando um “gigantesco
elefante, símbolo da força e da lealdade, o verdadeiro “rei da selva”. [7]
No interior do Palácio, as estruturas metálicas estavam dissimuladas por elementos decorativos, também com um desenho Art-Déco
O Monumento “ao Esforço Colonizador” [8]
fig. 56 - A Praça do Império e o Monumento ao Esforço Colonizador. Foto Alvão Álbum Fotográfico da 1ª exposição Colonial Portuguesa. Litografia Nacional. Porto 1934.
Com uma linguagem Art-Déco (compare-se a sua base com o pedestal da Juventude [10] na Avenida da
Liberdade, seu contemporâneo) era constituído por um conjunto de paralelepípedos
de granito encastrados, elevando-se a cerca de 10 metros de altura, onde
estavam “inscritos os nomes ilustres dos homens que maiores serviços prestaram à
obra portuguesa de colonização nos últimos cincoenta anos.” [11] No topo as
armas de Portugal. Na base, sustentando esse paralelepípedo, seis figuras
simbolizando o esforço colonizador. “A cada face do poliedro associou o escultor
uma figura de austeras linhas, alegórica das virtudes da Grei e dos agentes na
empresa mais essenciais: a mulher, o soldado, o missionário, o pioneiro, o
colono, o cientista, finalmente: médico, agrónomo, veterinário.” [12]
fig. 57
“Os jardins do
Palácio de Cristal, onde amiude se deparam típicas aldeias indígenas e “stands”
vários das nossas províncias ultramarinas, oferecem
de noite um espectáculo maravilhoso. A iluminação é grandiosa. Todo o
enorme recinto ressurge sob um deslumbramento de luz, rodiado [sic] de numerosos e potentes projectores
eléctricos, das gigantescas fontes luminosas e das feéricas iluminações, de
feição artística e decorativa, e ornamentam e se alinham pelas avenidas e áleas
dos parques e jardins do antigo Palácio de Cristal.”[14]
fig. 58 - Um aspecto nocturno do monumento ao Esforço Colonizador Português Foto Alvão, Álbum Fotográfico da 1ª exposição Colonial Portuguesa. Litografia Nacional. Porto 1934.
Num momento da concretização da iluminação eléctrica nos edifícios e nos espaços públicos, onde os reclamos luminosos começam a ter um importante papel publicitário, e a propaganda política utiliza com sucesso os efeitos luminosos, a iluminação eléctrica, foi fundamental para o sucesso da Exposição. A instalação eléctrica foi concessionada à firma Carlos dos Santos, Lda. e aos Serviços Municipais de Gás e Electricidade, então dirigidos pelo engenheiro Ezequiel de Campos. [15]
fig. 59 - Note-se o desenho dos candeeiros colocados ao longo da Avenida das Tílias (então chamada de avenida da Índia). Fotos de Alvão, de dia no Álbum fotográfico e a Avenida numa foto nocturna no Boletim Geral das Colónias . X - 109, [Número especial dedicado à Iª Exposição Colonial Portuguesa] Agência Geral das Colónias, Vol. X - 109, Julho 1934.
fig. 60 - Monumento aos portugueses mortos na obra de colonização. Foto Alvão Álbum fotográfico da 1ª exposição Colonial Portuguesa. Litografia Nacional. Porto 1934.
“Sumaria a
realização escultórica, talvez uma nave, a nave do nosso destino, designada
pelo signo da Cruz na dupla vela…Ao alto, Portugal nas suas quinas…Duma base de
cinco vastos degraus figurativos doutras tantas partes do Mundo, um génio
irrompe num vôo energicamente desferido para o alto, a proclamar a glória do
Império para além das penas e do martírio de soldados, missionários e
pioneiros, de muitos portugueses, brancos e negros, - a glória de cinco séculos
de epopeia, de bom serviço e sacrifício…” [16]
O monumento era constituído por um conjunto de paralelepípedos, de progressiva altura, onde se escreviam as datas mais significativas da colonização portuguesa, e duas velas com a cruz de Cristo. Na perpendicular um pedestal com uma lápide onde se lia “ AOS PORTUGUESES DE TODAS AS RAÇAS MORTOS NAS 5 PARTES DO MUNDO PELA OBRA PORTUGUESA DE COLONISAÇÃO.”
Na Exposição as diversas empresas
públicas e privadas edificaram pequenos pavilhões sendo que muitos deles
utilizavam uma arquitectura Art-Déco.
fig. 61 – Exposição Colonial do Porto 1934. O Stand da Boch & Bayliana e o stand dos vinhos do Porto de Constantino de Almeida Lda. Foto Alvão Album fotográfico da 1ª exposição Colonial Portuguesa. Litografia Nacional. Porto 1934.
E ainda a utilização da Art-Déco na
publicidade gráfica “cartazes,
“placars”, “plaquetes” com informações de turismo, selos, etiquetas,
calendários, fotografias,..” [17]
fig. 62 – Publicidade de A Fosforeira
Portuguesa 1934. Biblioteca Pública Municipal do Porto.
fig. 63 - Cartaz da Vista Alegre. Exposição Colonial do Porto 1934.
[1]
Da fotografia vai encarregar-se a Casa Alvão de Domingos Alvão (1872-1946), que
realizará todas as fotografias oficiais da Exposição e que irá publicar um
“Álbum fotográfico da 1ª Exposição Colonial Portuguesa” com 101 clichés
fotográficos de Alvão - Porto, fotógrafo oficial da Exposição Colonial, editado
no Porto pela Litografia Nacional. Deste Álbum foi realizada parcialmente uma
cópia Exposição Colonial de 1934
Fotografias da Casa Alvão, Centro Português de Fotografia, Ministério da
Cultura Arquivo Português de Fotografia, Setembro de 2001
[2]
No Porto, nestes anos são muitos os exemplos de arquitectos, artistas plásticos
e gráficos, que nas suas obras utilizam esta linguagem, nascida da Exposition
des Arts Décoratifs et Industriels Modernes realizada em Paris em 1925.
[3] A Câmara Municipal do Porto,
então presidida por Alfredo Magalhães (1870-1957) adquiriu à Associação
Industrial, no início de 1934, o recinto (aliás bastante degradado) do Palácio
de Cristal, sendo a Exposição Colonial um meio e uma justificação para a sua
reabilitação.
[4]
Hugo Rocha (1907-1993) escritor e jornalista de O Comércio do porto, no O Comércio do Porto Colonial
[5]
Henrique Mouton Osório (1895-?), engenheiro e o cenógrafo participou no filme A
Menina da Rádio de Arthur Duarte de 1944
[6]
O Comércio do Porto Colonial n.º2 Junho 1934
[7]
Boletim Geral das Colónias . Vol. X - 105 Agência Geral das Colónias, Março de
1934.
[8]
Este monumento foi colocado 50 anos depois (1984) na actual Praça do Império,
pelo então Presidente da C.M.P. eng. Paulo Vallada (1924-2006).
[9]
O Comércio do Porto Colonial n.º 2 Junho 1934.
[10]
A Menina Nua nome porque é habitualmente conhecida.
[11]
O Comércio do Porto Colonial n.º 2 Junho 1934.
[12]
O Comércio do Porto Colonial n.º 2 Junho 1934.
[13]
Legenda da fotografia no Boletim Geral das Colónias .
X - 109, [Número especial dedicado à Iª Exposição Colonial Portuguesa] Agência
Geral das Colónias, Vol. X - 109, 1934.
[14]
Revista Ilustração, propriedade da Livraria Bertrand n.º 205 de 1 de Julho de
1934
[15] Ezequiel Pereira de Campos (1874- 1965) foi director dos Serviços Municipalizados de Gás e Electricidade (SMGE) do Porto entre 1927 e 1935. Em 1932 tinha publicado o Prólogo do Plano da Cidade do Porto.
[16]
Boletim Geral das Colónias . X - 109, [Número especial dedicado à Iª Exposição
Colonial Portuguesa] PORTUGAL. Agência Geral das Colónias, Vol. X - 109, 1934.
[17]
J. Mimoso Moreira (1892-1978), Chefe da Divisão de Propaganda e Publicidade da
Agência Geral das Colónias, A I.ª Exposição Colonial Portuguesa – O grande certame
do Pôrto, Palestra para ser divulgada pela radiofonia Boletim Geral das
Colónias . X - 103 . Agência Geral das Colónias, Vol. X - 103, Janeiro 1934.
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