II Parte Sevilha
Apontamento 7 – Sevilha em três poetas portugueses no século
XVI
Sevilha no século XVI,
com as descobertas, tornou-se como Lisboa, uma das cidades mais ricas e
cosmopolitas da Europa.
Sevilha cuja população
terá crescido de 60 000 habitantes em 1500 para 120 000 no final do
século. Desta população faziam parte nobres e clérigos, militares,
comerciantes, marinheiros, artesãos, cristãos novos, mouros, ciganos, escravos (predominantemente
negros e apenas uma minoria de índios), e mendigos, ladrões, burlões e
prostitutas.
A cidade torna-se, segundo Lope de Vega, “la mas bella y populosa ciudad, un infierno soñado” [1] exercendo um fascínio e uma atracção para os portugueses, do mesmo modo como Lisboa para os espanhóis.
Três poetas portugueses referem Sevilha:
Francisco de Sá de Miranda (1481-1558) na Carta VI dirigida a D. Francisco de Menezes (c.1510-c.1583) fala sobre Sevilha, desconfiando das coisas que “vós ó bom Ioam, vós de Menezes”, lhe conta que por lá viu e viveu, e que por serem “tamanhas” parecem ser “patranhas” e prevenindo-o das tentações desta cidade “onde a vida em prazer desaparece”
“Mas isso assi, direy que mais parece
As cousas de Sevilha soterranhas,
Onde a vida em prazer desaparece.
Quem nam dirá também que saõ patranhas
As cousas que alli vistes ser verdade,
Sabeis que lhe vem de ser tamanhas.” [2]
E mais adiante o poeta fala do ouro e da prata e mais riquezas
que chegam a Sevilha:
…
“Mas tornemos ás novas que me dais
Das senhoras, das cazas & das sedas,
Pedraria, que cega os avençais.
Para onde correm todas as moedas,
As douro poderoso & prata fina,
Em ricas praças, ricas almoedas.” [3]
Outro poeta, o imortal Luís
de Camões, num registo diferente e histórico, também não esquece Sevilha em Os Lusíadas, publicados um ano depois da
batalha de Lepanto.
Assim, na narrativa da História de Portugal, que Vasco da Gama (1469-1524) faz ao rei de Melinde em Os Lusíadas (do Canto III até ao Canto V), no episódio em que D. Afonso Henriques (11--?-1185), já velho e cansado, manda o filho D. Sancho I (1154-1211) combater os mouros em 1178, junto ao Guadalquivir:
(…)
“Sancho, d'esforço e d'ânimo sobejo,
Avante passa e faz correr vermelho
O rio que Sevilha vai regando,
Co sangue Mauro, bárbaro e nefando. [4]
E Camões prossegue esta narrativa, até ao tempo de D. João I (1357-1433), onde depois da batalha de Aljubarrota (1385), os portugueses comandados por Nun’Álvares Pereira (1360-1431), derrubam a bandeira de Sevilha.
(…)
“Já de Sevilha a Bética bandeira,
E de vários senhores, num momento
Se lhe derriba aos pés, sem ter
defesa,
Obrigados da força Portuguesa.” [5]
Por seu lado cabe a Gil Vicente (c.1465-c.1536), elogiar a cidade de Sevilha no Auto dos quatro Tempos de 1503, quando coloca na fala e no cantar de um pastor, (personificando o Inverno, e que mais não é do que uma alegoria de Portugal), os versos que evocam os seus primeiros amores em Sevilha:
“Los
mis amores primeros
en Sevilla quedan presos,
los mis amores,
mal
aya quien los enbuelve.
En
Sevilla quedan presos,
per cordón de mis cabellos,
los mis amores,
mal aya quien los enbuelve.
En
Sevilla quedan ambos
los mis amores,
mal aya quien los enbuelve.
En
Sevilla quedan ambos,
sobre ellos armavan bandos,
los
mis amores,
mal aya quien los
enbuelve.” [6]
[1] Lope de
Vega (1562-1635), La Dorotea, Accion en prosa de Frey Lope Felix de Vega
Carpio. Publicado em 1632. Edição de 1634. A costa de Iuan Antonio Bones,
Mercador de Libros. Madrid 1634. (acto quarto escena primera pág. 139)
[2]
Francisco de Sá de Miranda (1481-1558). A D. Fernando de Menezes, Carta VI in
As Obras de Francisco de Sá de Miranda. Agora de novo impressas. A custa de
António Leite, Mercador de Livros, na rua nova. Lisboa M.DC. LXXVII. (pág. 250).
[3]
Francisco de Sá de Miranda (1481-1558). A D. Fernando de Menezes, Carta VI in
As Obras de Francisco de Sá de Miranda. Agora de novo impressas. A custa de
Antonio Leite, Mercador de Livros, na rua nova. Lisboa M.DC. LXXVII. (pág. 251).
[4] Luís de Camões, Os Lusíadas, Est. LXXV, Canto III, in
Obras de Luís de Camões. Lello & Irmão. Editores, Porto 1970. (pág. 1195).
[5] Luís de Camões, Os Lusíadas, Est. LXXV, Canto IV in Obras
de Luís de Camões. Lello & Irmão. Editores, Porto 1970. (pág.1224).
[6] Gil Vicente
(c.1465-c.1536), Auto dos Quatro Tempos, in Compilaçam de todalas obras de gil
vicente a qual se reparte em cinco Livos. Foy impresso em a muy nobre, &
sempre leal Cidade de Lixboa, por Andres Lobato. Anno de M. D. XXXVI. (pág.
22).
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