sábado, 11 de outubro de 2025

Janelas 1

 

A janela aberta à luz e ao sol [1]

 

“Quando o sol aquece e docemente enxuga,

A pureza de vidro e de ouro de uma janela.”

Emile Verhaeren [2]

 

 Em dois quadros de Edward Hopper (1882-1967),  é a janela que se abre à luz do mundo.

No primeiro uma ampla janela - correspondendo à arquitectura da época - abre-se generosamente à luz do sol deixando entrever o mar, apenas o mar.

É como um jogo elementar: Ar (Janela), Água (Mar), Terra (Casa), Fogo (Sol), e assim se organiza todo o espaço da composição onde para além da entrada da luz e da brisa, e da música e odor da maresia, todos os murmúrios do lugar dando acesso ao mundo.

Até porque, como diz Drummond de Andrade “O mundo é grande e cabe / nesta janela sobre o mar.” [3]


Edward Hopper (1882-1967), 1951, óleo s/tela 74,3 x 101,6 cm. Yale University Art Gallery.


[1] Recuperado, revisto e aumentado de antigos textos publicados neste blogue.

[2] Emile Verhaeren (1855-1916), Les Heures du Soir, précédées de Les Heures claires, Les Heures d'après-midi. 12.e Édition. Mercvre de France, XXVI, Rue Condé Paris MCMXXII. (Pag.120).

[“Quand le soleil le chauffe et doucement l'essuie

La pureté de verre et d'or d'une fenêtre.” ]

[3] Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), O Mundo é grande. De Amar se Aprende Amando In Poesia e prosa. Nova Aguilar, Rio de Janeiro 1983.


Sol num quarto vazio

Hopper depura ainda o tema numa outra conhecida pintura “Sol num quarto vazio”, onde a janela (de dimensões e forma mais clássicas) se abre para o exterior de que se vê a copa de uma árvore criando uma espessa sombra.


 Edward Hopper (1882-1967), Sun in a empty room 1963. 
Col. Particular.

No interior a “insistente /e Constante / Lãmina aguda / do sol…” [1], essa forte luz do sol matutino que penetra num quarto totalmente vazio, e, literalmente, bate nas paredes, criando zonas fortemente iluminadas e outras com gradações de sombra.

O poeta americano Louis Edward Sissman (curiosamente também autor de um poema denominado Trás os Montes) descreve este quadro da seguinte forma:

"…deixando apenas um tangível monumento
Da sua vida e do modo em que a viveu:
Uma verde árvore sopra no lá fora internando-se
Pela janela de duas folhas, formando rectângulos de cor creme
Sobre a parede com o nicho e sobre
O soalho de madeira nua, um raio de sol matutino
Povoa o vazio com luz americana." 
 [2]




[1] António Pedro (1909-1996), Canção quebrada a certa luz violenta in Antologia Poética, edição de Fernando Matos Oliveira. Angelus Novum editora, Braga 1998. Coimbra 1999. (pág. 20). Instituto Português do Livro e das Bibliotecas.

[2] Louis Edward Sissman (1928-1976), poema sobre o quadro Sun in a empty room in Hello, Darkness: The Collected Poems of L.E. Sissman, edited and with a pref. by Peter Davison. Ed. Little Brown Company, Boston 1978.

“…leaving a sizeable memorial
To his life and to the state he lived in:
A green tree blowing outside; streaming in
Through the two-light window, forming cream oblongs
On window wall and alcove wall and on
The bare wood floor, a shaft of morning sun
Peoples the vacuum with American light.” 



 


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