A janela aberta à luz e ao sol [1]
“Quando o sol aquece e docemente
enxuga,
A pureza de vidro e de ouro de uma
janela.”
Emile
Verhaeren [2]
No primeiro uma ampla janela -
correspondendo à arquitectura da época - abre-se generosamente à luz do sol
deixando entrever o mar, apenas o mar.
É como um jogo elementar: Ar (Janela), Água (Mar), Terra (Casa), Fogo (Sol), e assim se organiza todo o espaço da composição onde para além da entrada da luz e da brisa, e da música e odor da maresia, todos os murmúrios do lugar dando acesso ao mundo.
Até porque, como diz Drummond de Andrade “O mundo é grande e cabe / nesta janela sobre o mar.” [3]
[1] Recuperado, revisto e aumentado de
antigos textos publicados neste blogue.
[2] Emile Verhaeren (1855-1916), Les Heures du Soir, précédées de Les Heures claires, Les Heures d'après-midi. 12.e Édition. Mercvre de France, XXVI, Rue Condé Paris MCMXXII. (Pag.120).
[“Quand le soleil le chauffe et doucement l'essuie,
La pureté de verre et d'or d'une fenêtre.” ]
[3] Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), O Mundo é grande. De Amar se Aprende Amando In Poesia e prosa. Nova Aguilar, Rio de Janeiro 1983.
Sol num quarto vazio
Hopper depura ainda o tema numa outra conhecida
pintura “Sol num quarto vazio”, onde a janela (de dimensões e forma mais
clássicas) se abre para o exterior de que se vê a copa de uma árvore criando
uma espessa sombra.
No interior a “insistente /e Constante / Lãmina aguda / do sol…” [1], essa forte luz do sol matutino que penetra num quarto totalmente vazio, e, literalmente, bate nas paredes, criando zonas fortemente iluminadas e outras com gradações de sombra.
O poeta americano Louis Edward Sissman (curiosamente
também autor de um poema denominado Trás os Montes) descreve este quadro
da seguinte forma:
"…deixando apenas um tangível monumento
Da sua vida e do modo em que a viveu:
Uma verde árvore sopra no lá fora internando-se
Pela janela de duas folhas, formando rectângulos de cor creme
Sobre a parede com o nicho e sobre
O soalho de madeira nua, um raio de sol matutino
Povoa o vazio com luz americana." [2]
[1] António Pedro (1909-1996), Canção quebrada a certa luz violenta in Antologia Poética, edição de Fernando Matos Oliveira. Angelus Novum editora, Braga 1998. Coimbra 1999. (pág. 20). Instituto Português do Livro e das Bibliotecas.
[2] Louis
Edward Sissman (1928-1976), poema sobre o quadro Sun in a empty room in Hello,
Darkness: The Collected Poems of L.E. Sissman, edited and with a pref. by Peter
Davison. Ed. Little Brown Company, Boston 1978.
“…leaving
a sizeable memorial
To his life and to the state he lived in:
A green tree blowing outside; streaming in
Through the two-light window, forming cream oblongs
On window wall and alcove wall and on
The bare wood floor, a shaft of morning sun
Peoples the vacuum with American light.”
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