A janela como desejo de liberdade
a mosca na vidraça 
No interior, arrastada pelo vento, nesse fluído espaço
entre a cortina e a vidraça, Alexandre O’Neil coloca, esvoaçando, a
varejeira, a mosca-jornal que lhe traz as notícias do país.
“Entre a cortina e a vidraça
Vem o tempo de varejeira
entre a cortina e a vidraça.
O tempo assim à minha beira!
Que é que se passa?
E eu, que estava tão enredado
nos baraços do eternamente
nos lacetes do já passado
sou esfregado contra o presente.
A varejeira é nacional.
Terei, assim, de preferi-la?
Ora! É a mosca-jornal
e já agora vou ouvi-la...” [1]
fig. 1 - Maître du Jugement Dernier de Lüneburg (attr), portrait
d’un jeune homme anonyme vers 1485, collection Thyssen-Bornemisza, Madrid.
E Julien Green usa a metáfora do insecto que persistentemente procura sair pela janela para a liberdade, o sol e o ar puro.
“Por dez vezes, cem
vezes, esse pobre insecto sobe pelo vidro, onde tenta encontrar uma saída para
o sol e o ar puro. Ele vê o céu através dessa espessura transparente que é como
se ali não estivesse e, contudo, o mantém prisioneiro e ele não compreende o
que o impede de voar para o espaço.” [2]
fig. 2 –
Pormenor da fig. 1.
[1]
Alexandre o' Neill (1924-1986) in Poesias Completas 1951/1986. Imprensa
Nacional Casa da Moeda, 3ª ed. Lisboa
1995.
[2] Julien Green (1900-1998), Journal, Derniers beaux jours (1935-1939) in Œuvres complètes IV, Bibliothèque de la Pléiade, Gallimard. Paris1975. (11 août 1938, pág.480 e 481).
[“Voilà dix fois, cent
fois, que ce pauvre insecte grimpe le long de la vitre, où il s’efforce de
trouver une issue vers le soleil et l’air pur. Il voit bien le ciel à travers
cette épaisseur transparente qui est comme si elle n’était pas et qui pourtant
le retient prisonnier, et il ne comprend pas ce qui l’empêche de voler dans
l’espace.”]


 
Sem comentários:
Enviar um comentário