sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Apontamentos sobre a Lisboa e Sevilha nos séculos XVI e XVII (10) 5ª parte

 

Apontamento 10 - Descrição de Sevilha a partir da imagem de Braun e Hogenberg 1588

 

Cap. 23

(25) Puerta de Triana. A Porta de Triana

 

fig. 72 – A Porta de Triana. Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).


A Porta de Triana, que dava acesso à ponte do mesmo nome, era apenas um discreto e pequeno acesso à cidade intramuros, mas foi totalmente reformulada em estilo renascença na segunda metade do século XVI, tornando-se também uma porta de cerimónia.

 

fig. 73 – Porta de Triana. Pormenor da pintura de Sanchez Coello.

 

Afirma Diego de Zuñiga:

La puerta de Triana, obra del ano de mil quinientos y ochenta y ocho, es entre todas la mas autoriçada, y sumptuosa, com magestuosa altura, y ornato a una y outra vista, de orden Dorico, com robustíssimas colunnas, coronanla sobre el ostentoso cornijamento, balcones voleados com igual ornato y frontispício, rematedo de estatuas; a la parte interior se vè entre escudos de las armas de el Assistente el de las de la Ciudad, a la exterior en lugar de ellas en blanco losa esta Inscripcion: [1]

A inscrição em latim é traduzida pelo autor da seguinte forma

“Siendo poderosíssimo, y gloriosísimo Rey de las Españas, y de muchas Provincias por las partes del Orbe Filipo Segundo, el amplísimo Regimiento de Sevilla, juzgó deber ser adornada esta nueva puerta de Triana, puesta en nuevo sitio, favorecendo la obra y asistiendo á su perfeccion Don Iuan Hurtado de

Mendoza y Guzman, Conde de Orgaz, Superior vigilantíssimo de la misma floreciente Ciudad, en el año de la salud Christiana 1588.” [2]

 

fig. 74 – Porta de Triana. Pormenor da pintura de Sanchez Coello.

 


[1] Diego de Ortiz de Zuniga, Annales eclesiasticos, y seculares de la muy noble, y muy leal civdad de Seuilla, metropoli de la Andaluzia. Que contiene sus mas principales memorias desde el año de 1246. En Madrid: en la Imprenta Real, por Iuan García Infançon. Acosta de Florian Anisson, Mercader de Libros. Madrid 1677. (Libro XVI pág. 653).

[2] Diego de Ortiz de Zuniga, Annales eclesiasticos, y seculares de la muy noble, y muy leal civdad de Seuilla, metropoli de la Andaluzia. Que contiene sus mas principales memorias desde el año de 1246. En Madrid en la Imprenta Real, por Iuan García Infançon. Acosta de Florian Anisson, Mercader de Libros. Madrid 1677. (Libro XVI pág. 653).


Cap. 24

 (39) Puente de Triana. A Ponte de Triana

No primeiro plano, em frente do Arenal, a Ponte de Triana (39) uma ponte de 13 barcas sobre as quais um passadiço de madeira, ligando as duas margens do Guadalquivir, construída em 1171 por ordem de Isbiliya Jucef Abu Jacub.

  

fig. 75 – Ponte de Triana. Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).

 

Andrea Navagero refere: “A quella parte del fiume se vi passa sopra un ponte fatto sopra barche, & passato il ponte si trova una parte de Sevilla che è bem habitata, & há molte case, ma non há il medesimo nome, anzi come luoco diverso si chiama Triana.” [1]

[ Naquela parte do rio passa-se sobre uma ponte pousada em barcas e passada a ponte encontramos uma parte de Sevilha bastante habitada e com muitas casas, mas que não tem o mesmo nome, e como lugar diferente chama-se Triana.]

 

fig. 76 -  A Ponte de Triana. Pormenor da Vista de Sevilha de Ambrosio Brambilla.


E Alonso Morgado escreve:

“Nõ deve de aver (segundo en esto soy unformado) alguna Puente, ni passo en general, màs frequentado, ni de tanto concurso de gente, Cavalgaduras, Ganados, Coches y Carretones como esta Puente de Triana, ni por donde entrê en ninguna outra ciudad, como en Sevilla, tantas recuas de Azeyte, y de Vino de solo su Axaraphe, ni que en tan poco trecho, como hasta el passaje de los Barcos, incluya tantas otras riquezas, y rentas, q por abreviar no digo.” [2]

 

Na pintura de Sanchez Coello, a ponte parece ilustrar a descrição de Alonso Morgado.

 

fig. 77 – A ponte de Triana. Pormenor da pintura de Sanchez Coello.

 


[1] Andrea Navagero (1483-1529), Il Viaggio fatto in Spagna, et in Francia, dal Magnifico M. Andrea Navagiero, fu oratore dell’Ilustrissimo Senato Veneto, alla Cesarea Maesta di Carlo V. Com la descrittione particolare delli luochi, & costumi delli popoli di quele Provincie. In Vinegia apresso Domenico Farri. 1563.(pág. 14a)

[2] Alonso Morgado Historia de Sevilla en la qual se contienen sus antiguidades, grandezas, y cosas memorables en ella acontecidas, desde su fundacion hasta nuestros tempos. Compuesta y ordenada por Afonso Morgado, indigno Sacerdote, natural de la villa de Alcantara, en Estremadura. En la Imprensa de Andrea Fescioni y Iuan de Leon Sevilla 1587.(Libro segundo, pág. 57v e 58).

 

Sevilha extramuros

 

Cap. 25

O Arrabalde de Triana

 

“Sevilla y Triana

y el río en medio:

así es tan de mis gustos

tu ingrato dueño.”  [1]

 

A ponte de Triana dava acesso ao arrabalde do mesmo nome, que se considerava mais como bairro com uma identidade própria do que uma extensão de Sevilha.

Diz Rodrigo Caro: “de la otra vãda del rio está el arrabal llamadoTriana, y se junta con una puente de madera sobre barcos a la ciudad.” [2]

 

fig. 78 - Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).

 A estrutura urbana do arrabalde assentava nas ruas perpendiculares ao rio (Calle de Castilla, de Santa Catalina e de Cadenas), que entroncavam no eixo longitudinal, a Calle de Santa Ana.

O pintor flamengo Anton Van den Wyngaerde (c.1525-1571), nos anos 60 do século XVI desenhou, por encomenda de Felipe II, uma série de panorâmicas de cidades espanholas. Num desses desenhos vemos Triana vista do Arenal.

 

fig. 79 – Anton Van den Wyngaerde (c.1525-1571), Triana vista do Arenal.1567 desenho 10,8 x 90 cm. Biblioteca Nacional Viena. Austria.

 

fig. 80 – O cais de Triana. Pormenor da pintura de Sanchez Coello.

 

E Miguel de Cervantes canta as delícias de Triana:

“O uvas albarazadas,

Qu en el pago de Triana

Por la noche sois cortadas,

Y os hallais à la mañana

Tan fresca, y aljofaradas,

Que no hay cosa mas hermosa,

Ni fruta, que à la golosa

Voluntad ansi despierte!” [3]

 

Triana era também conhecida pelas fábricas de sabão (Almonas), pelas olarias, e ainda pelo fabrico de pólvora.

 O sabão

Essas Almonas de Triana fabricavam o sabão branco, como assinala Alonso Morgado:

“Yo me acuerdo, que de sola la Xaboneria, que es en la Collacion de San Salvador, se sacaron compradas en solo un dia quatrocientas y quarenta y cinco arrobas de Xabon de lo prieto, llamado assi a diferencia de lo Blanco, que se haze en panes en la outra Almona deTriana. (…) Desto Blanco provee tambien Sevilla a muchas partes de España, de las lndias y de Flandes, y de Inglaterra.” [4]

 

A louça

Como já foi afirmado, era conhecido o fabrico e venda de louça, como assinala Agustin Rojas:

“Ra. Por lo dixistes de Triana: aueys notado, la loza q a yen ella?

Ri. A propósito fray jarro.

So. Por esso q dezis de albarda, mi padre tiene una ratonera de golpe.

Ro. Oydo he dezir q ay mas de sessenta tendas, dõde se haze y vende, andi vedriado como amarillo y blanco, y aun muy buenos azulejos de diferêtes colores.” [5]

A pólvora

E como refere Alonso Morgado em triana também se situavam as fábricas de pólvora.

“Y en su Triana ay MoIinos de Pólvora; donde se haze tanta della, que de mas de sus Armadas puede Sevilla bastecer a muchas otras Artillerias.” [6]

E Morgado refere ainda a explosão que destruiu um conjunto de edifícios na Segunda feira 18 de Maio de 1579, como aparece desenhada na vista de Sevilha de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590), Hispalis, Sevilla Taraphae, celebre et pervetustum in Hispania 1572, publicada no Volume I do Civitates Orbis Terrarum. (ver o Apontamento 8).

 

S. Ynquisitione (Inquisição), inscrito na imagem.

 O Castelo de São Jorge (A)

No arrabalde de Triana, onde as edificações chegavam quase ao rio, à entrada da ponte situava-se o Castelo de S. Jorge ocupado até 1280 pela Ordem Militar de S. Jorge e depois abandonado até 1481, quando foi entregue à Inquisição (La S. Ynquisition) Bíven enel castillo deTriana los juezes Y officiales deste sancto officio”[7] que aí se manteve até 1626 e de seguida entre 1639 e 1785. 

fig. 81 – Castelo de São Jorge. Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).

 

fig. 82 – O Castelo de S. Jorge (19). Pormenor de Ambrosio Brambilla, vista de Sevilla,1585. Biblioteca Nacional de España.


A Igreja de Santa Ana (B)

Ao centro a Igreja de Santa Ana (B) “rica y de grande vecindad”, ao fundo da rua central por onde um homem com um cesto duplo ao ombro caminha em direção ao Guadalquivir.

 

fig. 83 – Igreja de Sant Ana. Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).


A Igreja de Santa Ana foi edificada na segunda metade do século XIII, correspondendo a uma promessa de Alfonso X perante uma doença nos olhos. Com o terramoto de 1356 teve de ser reedificada e nos séculos XV e XVI foi aumentada a capela-mor e construídas outras capelas nas naves laterais.

Assim o afirma Rodrigo Caro:

“Es tan grande este populoso arrabal, que en otra parte hiziera de per si una ilustre ciudad con su Parrochia de Santa Ana, fundación del Rey dõ AIonso el Sabio.” [8]

 

E Mal Lara elenca as igrejas de Triana:

“En Tríana ay una yglesia de sancta Ana, rica y de grande vezindad, el monasterio de la Victoria, las Monjas de Cosolaciõ, la yglesia de sant Iorge dentro del Castillo…” [9]


O Mosteiro de Nossa Senhora da Vitória (C)

Na extremidade à direita o mosteiro de Nossa Senhora da Vitória (C), que assinala Augustin Rojas na sua El Viagem entretenido:

“Solano. Estuvistes en el monasterio de la Vitoria?

Rojas. Es un têplo muy bueno.

Rios. No es temeridad los q tiene Sevilla, ansi de frayles, como monjas.” [10]

 

fig. 84 – Nossa Senhora da Vitória. Pormenor de Sevilha 1588 no Civitates Orbis Terrarum de Georg Braun (1542-1622) e Franz Hogenberg (1535-1590).



[1] Lope de Veja Carpio (1562-1635), El amante agradecido in Decimaseptima parte de Las Comedias de Lope de Veja Carpio.En Madrid por la viuda de Alonso Martin de Balboa, a costa de Miguel de Siles, 1618 (Acto III, pág.125). BNE.

[2] Rodrigo Caro, Antiguidades y Principiado de la Ilustrissima Ciudad de Sevilla. Y Chorographia de su Convento Iuridico, o antigua Chancilleria. En Sevilla, por Andres grande. Impressor de Libros. Sevilla Año 1634. (pág. 47v).

[3] Miguel de Cervantes, El rufián dichoso in Ocho Comedias Y Ocho Entremeses nunca representados compuestas por Miguel de Cervantes Saavedra. Viuda de Alonso Martin, Madrid 1615. (pág.177).

[4] Alonso Morgado, Historia de Sevilla en la qual se contienen sus antiguidades, grandezas, y cosas memorables en ella acontecidas, desde su fundacion hasta nuestros tempos. Compuesta y ordenada por Afonso Morgado, indigno Sacerdote, natural de la villa de Alcantara, en Estremadura. En la Imprensa de Andrea Fescioni y Iuan de Leon Sevilla 1587. (libro segundo pág. 157).

[5] Agustin Rojas (1572-c,1635), El viagem entretenido de Agustin de Rojas, natural de Madrid. En la Empreta Real Madrid M. DC. III. BNE. (pág. 57).

[6] Alonso Morgado, Historia de Sevilla en la qual se contienen sus antiguidades, grandezas, y cosas memorables en ella acontecidas, desde su fundacion hasta nuestros tempos. Compuesta y ordenada por Afonso Morgado, indigno Sacerdote, natural de la villa de Alcantara, en Estremadura. En la Imprensa de Andrea Fescioni y Iuan de Leon Sevilla 1587. (pág.177)

[7] Juan de Mal Lara (1524-1571), Recibimiento que hizo la muy noble y muy leal ciudad de Sevilla a la C. R. M. del Rey don Felipe N. S. Con una breve descripción de la ciudad y su tierra. En casa de Alonso Escrivano, Sevilla, 1570. (pág. 33).

[8] Rodrigo Caro, Antiguidades y Principiado de la Ilustrissima Ciudad de Sevilla. Y Chorographia de su Convento Iuridico, o antigua Chancilleria. En Sevilla, por Andres grande. Impressor de Libros. Sevilla Año 1634. (pág. 47v).

[9] Juan de Mal Lara (1524-1571), Recibimiento que hizo la muy noble y muy leal ciudad de Sevilla a la C. R. M. del Rey don Felipe N. S. Con una breve descripción de la ciudad y su tierra. En casa de Alonso Escrivano, Sevilla, 1570. (pág. 145)

[10]  Agustin de Rojas, El viagem entretenido de Agustin de Rojas, natural de Madrid. En la Empreta Real Madrid M. DC. III. BNE. (pág. 57).


 

1 comentário:

  1. Olá, caríssimo Senhor.
    Ando à procura de um antepassado que viveu na Rua Gualdim Pais, nº 1 , me deparei com seu blog desvendando a história das Ruas de Lisboa. Tem lembranças ou foto dessa casa em 1942, minha trisavó Antónia Maria faleceu nessa casa, era natural de Chãs de Tavares. Li que houve diversas modificações nesse local, porém dentro do seu conhecimento. talvez possa me ajudar com alguma informação.
    Com meus melhores cumprimentos,
    Meire Braz

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