Francis Bacon (1909-1992), autorretrato 1973. Óleo s/tela 198 x 147 cm.
col. particular
Narciso decadente me fabrico no espelho
“Ayer se fue; mañana no ha llegado
hoy se está yendo sin parar un punto;
soy
un fue, y un seré y un es cansado”. Francisco de Quevedo*
ácidas ânsias em cada ano que a vida me foi dando
arrebatamentos que por vezes vivi quase ao acaso
em aventuras sem rasgo que sempre fui quebrando.
Discreta, confusa e banal personagem adormecida
vencido naquilo que não
fui e no que pudera ter sido
obscura figura sem grandeza apenas distante na vida
meditando
pelo que me calhou podia
não ter nascido.
No correr
da vida o que pudera ter sido e que não fui
púrpuras penumbras que vão ofuscando a
claridade
miséria disfarçada no desdém de um agora já velho
Delicada alta montanha da esquecida dor
do que vivi
que só no cume se sabe o lesto passar finito da idade
quando em narciso decadente me fabrico ao espelho.
*Francisco de Quevedo (1580-1645), Represéntase
la brevedad de lo que se vive, y cuán nada parece lo que se vivió In Obras Completas de
Don Francisco de Quevedo Villegas. Tomo terceiro y segundo de las poesias. Sociedad
de Bibliofilos Andaluces. Imp. De Francisco de P. Diaz. Sevilla 1902 (pág.
382).
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