António Carneiro (1872-1930) povoação com barcos Vila do Conde 1905
óleo s/painel 20 x 25,5 cm. Art Net.
Não há nada lento.
Roubaram ao tempo
O tempo que êle teve.
Tudo agora· é breve
Só dura um
momento.
Carlos Queiroz canção depressa*
impressão
Súbita inquietação no olhar desse longe ausente
muro do cais onde voa tanta fatal poeira imunda
ancorados estão pelo paredão cansados barcos
perto do jardim de uma casa antiga e moribunda.
A encher o ar brandas nuvens de brisas a soprar
murmura na praça arruinada uma fonte sonolenta
sentindo a luz calma do sol com luminoso apetite
esmorecendo o lugar vai caindo a tarde poeirenta
Vigiando horizontes que não poderemos alcançar
jorra em canção lenta, monótona, suave melodia
que rompe os ritmos perfeitos do lugar ano a ano
Réstia de sol tremendo declina a luz frágil do
estio
já só se ouve esse cantar de uma balada sombria
a solene ilusão que sempre engana o desengano.
*Carlos Queiroz (José Carlos Queiroz Nunes Ribeiro
1907-1949) canção depressa* in Altura Cadernos de Poesia n.º 2, direc. Maya
Vilaça. Enciclopédia Portuguesa Limitada Ed. Altura. Porto Maio de 1945. (pág.
7).
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