terça-feira, 17 de setembro de 2024

poemas recuperados 32

 





António Carneiro (1872-1930) povoação com barcos Vila do Conde 1905 óleo s/painel 20 x 25,5 cm. Art Net.

 

Não há nada lento.

Roubaram ao tempo

O tempo que êle teve.

Tudo agora· é breve

Só dura um momento.

Carlos Queiroz canção depressa*

 

impressão

 

Súbita inquietação no olhar desse longe ausente

muro do cais onde voa tanta fatal poeira imunda

ancorados estão pelo paredão cansados barcos

perto do jardim de uma casa antiga e moribunda.

 

A encher o ar brandas nuvens de brisas a soprar

murmura na praça arruinada uma fonte sonolenta

sentindo a luz calma do sol com luminoso apetite

esmorecendo o lugar vai caindo a tarde poeirenta

 

Vigiando horizontes que não poderemos alcançar

jorra em canção lenta, monótona, suave melodia

que rompe os ritmos perfeitos do lugar ano a ano

 

Réstia de sol tremendo declina a luz frágil do estio

já só se ouve esse cantar de uma balada sombria

a solene ilusão que sempre engana o desengano.

 

*Carlos Queiroz (José Carlos Queiroz Nunes Ribeiro 1907-1949) canção depressa* in Altura Cadernos de Poesia n.º 2, direc. Maya Vilaça. Enciclopédia Portuguesa Limitada Ed. Altura. Porto Maio de 1945. (pág. 7).

 

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