sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Janelas 5

 

A janela como desejo de liberdade

 

a mosca na vidraça

No interior, arrastada pelo vento, nesse fluído espaço entre a cortina e a vidraça, Alexandre O’Neil coloca, esvoaçando, a varejeira, a mosca-jornal que lhe traz as notícias do país.

“Entre a cortina e a vidraça
Vem o tempo de varejeira
entre a cortina e a vidraça.
O tempo assim à minha beira!
Que é que se passa?
E eu, que estava tão enredado
nos baraços do eternamente
nos lacetes do já passado
sou esfregado contra o presente.
A varejeira é nacional.
Terei, assim, de preferi-la?
Ora! É a mosca-jornal
e já agora vou ouvi-la...”
 [1]



fig. 1 - Maître du Jugement Dernier de Lüneburg (attr), portrait d’un jeune homme anonyme vers 1485, collection Thyssen-Bornemisza, Madrid.

 

E Julien Green usa a metáfora do insecto que persistentemente procura sair pela janela para a liberdade, o sol e o ar puro.

“Por dez vezes, cem vezes, esse pobre insecto sobe pelo vidro, onde tenta encontrar uma saída para o sol e o ar puro. Ele vê o céu através dessa espessura transparente que é como se ali não estivesse e, contudo, o mantém prisioneiro e ele não compreende o que o impede de voar para o espaço.” [2]



fig. 2 – Pormenor da fig. 1.

 

 



[1] Alexandre o' Neill (1924-1986) in Poesias Completas 1951/1986. Imprensa Nacional Casa da Moeda, 3ª ed. Lisboa 1995.

[2] Julien Green (1900-1998), Journal, Derniers beaux jours (1935-1939) in Œuvres complètes IV, Bibliothèque de la Pléiade, Gallimard. Paris1975. (11 août 1938, pág.480 e 481). 

[“Voilà dix fois, cent fois, que ce pauvre insecte grimpe le long de la vitre, où il s’efforce de trouver une issue vers le soleil et l’air pur. Il voit bien le ciel à travers cette épaisseur transparente qui est comme si elle n’était pas et qui pourtant le retient prisonnier, et il ne comprend pas ce qui l’empêche de voler dans l’espace.”]

 

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Janelas 4

 

A janela que se abre ao ar que se abre ao vento [1]

 

“Yo abrí las ventanas de mi casa al viento…

El viento traía perfume de rosas, dolor de campanas…”

Antonio Machado [2]

  

Se a janela na língua inglesa é window e na língua castelhana ventana, ambas remetem para vento, em inglês wind e em castelhano viento.

Ora não é possível ver nem pintar o vento, ou talvez apenas se possa fazê-lo na forma de um tornado.

Consegue-se sim pintá-lo no sorriso audível das folhas, ou nos efeitos do vento em uma vela de moinho ou de um barco, em árvores inclinadas, em panos que esvoaçam…

Contudo ao admirar este belíssimo quadro de Andrew Wyeth [3], significativamente intitulado Vento do mar, sente-se a brisa marítima no delicado esvoaçar da transparente cortina.

 

“¿No ves
la cortina estremecida,
ese papel revolado
y la soledad frustrada
entre ella y tú por el viento?
[4]



fig. 1 - Andrew Wyeth (1917-2009), Wind from the Sea (Vento do mar), 1947, tempera s/cartão 47 x 70 cm. National Gallery of Art, Washington.

 O espaço entre a janela (de guilhotina) e o interior da casa é um espaço de transição mediado pela cortina…

“As cortinas rasgadas balançam
É o vento que brinca
Ele escorre pela mão entra pela janela
volta a sair e vai morrer em qualquer lugar
O vento forte e sombrio tudo leva…” 
[5]

fig. 2 – Pormenor da imagem anterior.

 

 



[1] Já parcialmente publicado no meu Facebook em 26 de Agosto de 2018.

[2] António Machado (1875-1939), de Soledades in Poesias completas, Imprensa de A. Alvarez. Barco 20, Madrid 1903. (pág.91).

[3] Diz o pintor sobre o seu quadro: "Nesse verão de 1947, estava num dos sótãos a sentir a secura de tudo, e estava tanto calor que abri uma janela. Um vento de oeste ondulou as cortinas de renda empoeiradas e gastas, e os delicados pássaros de croché começaram a esvoaçar e a voar... A minha ideia é manter-me aberto a este algo fugaz que me pode apanhar desprevenio (...). Fiz um esboço muito rápido e tive de esperar semanas por outro vento de oeste para fazer mais estudos."

[4] Pedro Salinas y Serrano (1891-1951), Far West in ABC de 19 de Abril de 1972, Madrid (pág.120).

[5] Pierre Reverdy (1889-1960), Il reste toujours quelque chose in La Lucarne ovale, 15 novembre 1916. Imprimerie Paul Birault, Paris 1916.

“Les rideaux déchirés se balancent
C'est le vent qui joue
Il court sur la main entre par la fenêtre
Ressort et s'en va mourir n'importe où
Le vent lugubre et fort emporte tout (…)”

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Janela 3

 

A janela aberta para respirar

É a janela que permite um respirar feliz.

Por isso o poeta brasileiro Mário Quintana compara a janela aberta com o poema já que ambos nos fazem felizmente respirar.

“Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.”
[1]

Para mostrar como uma janela aberta, como um poema, faz respirar, o cubista Juan Gris pinta um quadro intitulado A Janela Aberta onde o subtil pormenor da nuvem que entra é disso testemunho.


fig. 1- Juan Gris (José Victoriano Carmelo Carlos González-Pérez 1887-1927). A  janela aberta 1921, óleo s/tela 66 x 100 cm. Museo Nacional Reina Sofia Madrid.

E Juan Gris ao pintar uma guitarra pousada sobre pautas parece querer fazer ouvir a música que faz vibrar o ar.

E sente-se e respira-se o cheiro das outonais castanhas junto com o odor da maresia, que a janela aberta deixa entrar vindo do mar calmo.

Finalmente Paul Klee pinta uma janela aberta, com uma austera caixilharia de ferro (própria dos anos 30) por onde se respira o ar do mar do Norte.

 


 fig. 2 - Paul Klee (1879-1940). Fensterausblick (Nordseeinsel), Vue d’une fenêtre (Ile de la mer du Nord), 1923. Aguarela e guache sobre papel e cartão 33 x 22,5 cm. Col. particular.

E o poeta Rainer Maria Rilke questiona esta estranha janela que o convida a esperar.

Propões-me estranha janela eu esperar;
Já quase se move a tua cortina bege.
Devo eu, ó janela, ao teu convite me render?
Ou me defender, janela? Quem vou eu esperar?
Não sou eu intocável, com esta vida que escuta,
Com este peito tão cheio que a perda completa?
Com esta estrada que defronte passa, e a dúvida
Que tu possas também dar esse excesso que o sonho
me faz parar?”
 
[2]





[[1] Mário (de Miranda) Quintana (1906-1994), Emergência in Apontamentos de história sobrenatural Ed. Globo S. Paulo 2005. (pág. 46)

.2] Rainer Maria Rilke (1875-1926), Fenêtre Étrange de La Fenêtre (1924-25), in Œuvres poétiques et theatrales, Colection de la Pléiade Gallimard, Paris 1987. (pág.1104).

“Tu me proposes, fenêtre étrange, d’attendre;
Déjà presque bouge ton rideau beige.
Devrais-je, o fenêtres, a ton invite me rendre?
Ou me défendre, fenêtre? Qui attendrais-je ?
Ne suis-je intact, avec cette vie qui écoute,
Avec ce coeur tout plein que la perte complète?
Avec cette route qui passe devant, et le doute
Que tu puisses donner ce trop dont le rêve
m’arrête?”


segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Janelas 2

 

A janela entre dentro e fora

 

 

On perce des portes et des fenêtres pour faire une maison.

C’est de leur vide que dépend l’usage de la maison.

Lao Tse [1]

 

A janela não é, nunca é um simples buraco na parede.

 


fig. 1 - Le Corbusier (1887-1965), Villa Le Lac 1923/24, lago Leman Suisse.

 

Assim o entendeu Le Corbusier quando na Villa Le Lac, que projectou em 1923, criou este recanto, com um muro onde abriu uma janela com vista para o lago, lembrando o soneto de Alberto de Oliveira.

“É um velho paredão, todo gretado,
Roto e negro, a que o tempo uma oferenda
Deixou num cacto em flor ensangüentado
E, num pouco de musgo em cada fenda.
Serve há muito de encerro a uma vivenda;
Protegê-la e guardá-la é seu cuidado;
Talvez consigo esta missão compreenda,
Sempre em seu posto, firme e alevantado...” 
[2]

 

Álvaro Siza desenhou esta mesma janela da Villa Le Lac vista do interior do recinto.

fig. 2 - Álvaro Siza desenhando na Villa Le Lac. 1981. Apuntes de Proyectos 1, Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Sevilla


O problema que se põe ao fazer uma abertura é conseguir criar um espaço que seja habitável e habitado, um espaço feliz na relação entre o interior e o exterior, entre o artificial e o natural, entre o fechado e o aberto.

E a janela é o elemento fundamental de ligação visual entre o interior - o estar dentro (dedans); e o exterior - o estar fora (dehors).

Ao olhar pela janela acede-se ao mundo exterior, mas, ao mesmo tempo, ela permite ou impede que alguém devasse a intimidade doméstica penetrando no interior.

Assim a janela separa radicalmente esses dois mundos, esses dois espaços: público e privado, mundano e íntimo, multidão e solidão, ruído e silêncio, frio e calor…

 

 Gaston Bachelard ao desenvolver a fenomenologia do dehors e do dedans, considera que a janela, como limite entre estas duas intimidades, tem sempre dois lados que se podem sempre trocar.

“O exterior e o interior são os dois íntimos; estão sempre prontos a inverter-se, a trocar sua hostilidade. Se existe uma superfície como limite entre um interior e um exterior, essa superfície é dolorosa dos dois lados.” [3]

E René Magritte pinta um quadro intitulado l’éloge de la dialectique (o elogio da dialéctica) que justifica:

"Para a casa, mostrei através da janela aberta na fachada de uma casa uma divisão que continha uma casa. É o elogio da dialéctica."  [4]



    fig. 3 - René Magritte L'éloge de la dialectique 1937, oil on canvas, 65.5 × 54.0 cm National Gallery of Victoria, Melbourne


Na iconografia católica a janela separa o sagrado do profano.

No Altar de Pesaro, o painel central mostra por trás das figuras de Cristo e da Virgem, acompanhadas dos Santos, uma janela que se abre para uma povoação fortificada.

 


fig. 4 - Giovanni Bellini (c. 1430-1516), Coroação da Virgem do Altar de Pesaro 1474, óleo s/painel 262 × 240 cm. Musei Civici Pesaro.

 

E a janela pode ainda separar o Bem do Mal, o Santo do Demónio, a pureza da tentação.

Como no Painel lateral do retábulo de Issenheim, de Grünewald (1475/80-1528), onde junto da figura de Santo Antão surge na janela de vidros de “fundo de garrafa” o Demónio que depois de vencido, não deixou de lhe colocar armadilhas. Ele rondava à sua volta como um leão à procura da oportunidade de surpreender a sua presa.” [5]

 


 fig. 5 - Mathis Gothart Nithart dit Grünewald (1475/80-1528), Santo Antão e o Demónio. Pormenor do Painel lateral (232 x 75 cm.) do Le Retable d'Issenheim, 1512-1516. Óleo e têmpera sobre madeira de tília, 3,30 x 5,90 m. Musée d'Unterlinden, Colmar. França.

 



[1] Lao Tse (604-517 a.C.), Tao Te King Le Livre de la Voie et de la Vertu. Traduction Stanislas Julien (1797-1873). A l’Imprimerie Royale, Paris 1842. (Cap.11 pág.38). [Abrimos portas e janelas para fazer uma casa. É do seu vazio que depende o uso da casa.]

 [2] Alberto de Oliveira (1857-1937), de Alma Livre (1898-1901) in Poesias, segunda série 1892-1903, Livraria Garnier, 109 rua do Ouvidor, Rio de Janeiro 1912. (pág. 123).

[3] Gaston Bachelard (1884-1962), La Poétique de l’Espace (1957). Les Presses universitaires de France, 3e édition, Paris 1961. (pág. 243). [L'en dehors et l'en dedans sont tous deux intimes; ils sont toujours prêts à se renverser, à échanger leur hostilité. S'il y a une surface limite entre un tel dedans et un tel dehors, cette surface est, douloureuse des deux côtés.]

[4]  René Magritte [Pour la maison, je fis voir par la fenêtre ouverte dans la façade d’une maison une chambre contenant une maison. C’est l’éloge de la dialectique.]

[5] Vie de Saint Antoine par Saint Athanase. Traduction littérale du texte grec par M. Charles De Rémondage. Imprimerie Émile Protat. Macon 1874. (pág.15). [...après avoir vaincu le démon, Antoine ne se relâcha pas, et le démon, après sa défaite, ne cessa pas de lui dresser des embûches. Il rôdait autour de lui comme un lion cherchant l'occasion de surpendre sa proie.]

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Ser ou não ser


René Magritte (1898-1967), Elseneur, 1944. Óleo s/ tela 73 x 60 cm. Vedovi gallery.Bruxelas.


Ser ou não ser [1]

 

“… quem não tem no fundo do coração

um sombrio castelo de Elsinor ? [2]

 

“Habitantes delicados das florestas que são em nós”, [3] quem não teve, quem não tem, dentro de si, esses castelos imaginários do nosso interior, esses castelos de coragem, depositados e murmurando na nossa memória e no nosso inconsciente.

Quem nunca se procurou sem se encontrar, quem nunca se sonhou, nesses castelos de vento, desertos e solitários, nesses castelos sem fundamento?

Quem nunca sentiu, príncipe de uma qualquer dinamarca, por entre essas paredes vazias e por onde escorre em calafrio na memória, um seu Elsinor, miragem de liberdade, onde as roucas longínquas vozes de uma antiga tradição apelam ao fim da tirania que em nós habita.

Quem nunca hesitou em lutar para pôr fim a esse mar de dificuldades, obstáculos e provocações, que a vida dentro de nós coloca, pondo-lhes fim em implacáveis e gloriosos combates?

E quem nunca, pelo cansaço que traz a sabedoria, acabou por desistir suportando os golpes pungentes de um destino adverso e partir num gesto resignado, limite em silêncio de um sonho e por esse sonho dizer que o combate acabou, ambicionando, por fim, uma noite eterna para em paz e aí em Elsinor “dormir, dormir, talvez sonhar…”

 



[1] To be, or not to be : that is the question:

Whether 't is nobler in the mind to suffer

The slings and arrows of outrageous fortune,

Or to take arms against a sea of troubles,

And by opposing end them? To die: to sleep; 60

No more; and by a sleep to say we end

The heart-ache and the thousand natural shocks

That flesh is heir to, 't is a consummation

Devoutly to be wish'd. To die, to sleep;

To sleep: perchance to dream.

William Shakespeare (1564-1616), The tragedy of Hamlet Prince of Denmark, in The Warwick Shakespeare, edted by sir Edmund K. Chambers Blackie & Don Limited London and Glasgow (pág. 79)

[2] Qui n'a pas au fond de son coeur / Un sombre château d'Elseneur…   Vincent do Rego Monteiro (1899-1970), poeta e artista plástico brasileiro viveu alguns anos em Paris. in Vers sur verre, ed. P. Seghers Paris, 1953 (pág.76).

[3] Habitants délicats des forêts de nous-mêmes poema / Toujours à la merci du moindre coup de vent …Jules Supervielle (1884-1960), poema Rien qu’ un cri (1972) in La Fable du monde, suivi de Oublieuse Mémoire, Éd. NRF Poésie / Gallimard n° 219 Paris 1987. (pág. 83).

 

 

sábado, 11 de outubro de 2025

Janelas 1

 

A janela aberta à luz e ao sol [1]

 

“Quando o sol aquece e docemente enxuga,

A pureza de vidro e de ouro de uma janela.”

Emile Verhaeren [2]

 

 Em dois quadros de Edward Hopper (1882-1967),  é a janela que se abre à luz do mundo.

No primeiro uma ampla janela - correspondendo à arquitectura da época - abre-se generosamente à luz do sol deixando entrever o mar, apenas o mar.

É como um jogo elementar: Ar (Janela), Água (Mar), Terra (Casa), Fogo (Sol), e assim se organiza todo o espaço da composição onde para além da entrada da luz e da brisa, e da música e odor da maresia, todos os murmúrios do lugar dando acesso ao mundo.

Até porque, como diz Drummond de Andrade “O mundo é grande e cabe / nesta janela sobre o mar.” [3]


Edward Hopper (1882-1967), 1951, óleo s/tela 74,3 x 101,6 cm. Yale University Art Gallery.


[1] Recuperado, revisto e aumentado de antigos textos publicados neste blogue.

[2] Emile Verhaeren (1855-1916), Les Heures du Soir, précédées de Les Heures claires, Les Heures d'après-midi. 12.e Édition. Mercvre de France, XXVI, Rue Condé Paris MCMXXII. (Pag.120).

[“Quand le soleil le chauffe et doucement l'essuie

La pureté de verre et d'or d'une fenêtre.” ]

[3] Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), O Mundo é grande. De Amar se Aprende Amando In Poesia e prosa. Nova Aguilar, Rio de Janeiro 1983.


Sol num quarto vazio

Hopper depura ainda o tema numa outra conhecida pintura “Sol num quarto vazio”, onde a janela (de dimensões e forma mais clássicas) se abre para o exterior de que se vê a copa de uma árvore criando uma espessa sombra.


 Edward Hopper (1882-1967), Sun in a empty room 1963. 
Col. Particular.

No interior a “insistente /e Constante / Lãmina aguda / do sol…” [1], essa forte luz do sol matutino que penetra num quarto totalmente vazio, e, literalmente, bate nas paredes, criando zonas fortemente iluminadas e outras com gradações de sombra.

O poeta americano Louis Edward Sissman (curiosamente também autor de um poema denominado Trás os Montes) descreve este quadro da seguinte forma:

"…deixando apenas um tangível monumento
Da sua vida e do modo em que a viveu:
Uma verde árvore sopra no lá fora internando-se
Pela janela de duas folhas, formando rectângulos de cor creme
Sobre a parede com o nicho e sobre
O soalho de madeira nua, um raio de sol matutino
Povoa o vazio com luz americana." 
 [2]




[1] António Pedro (1909-1996), Canção quebrada a certa luz violenta in Antologia Poética, edição de Fernando Matos Oliveira. Angelus Novum editora, Braga 1998. Coimbra 1999. (pág. 20). Instituto Português do Livro e das Bibliotecas.

[2] Louis Edward Sissman (1928-1976), poema sobre o quadro Sun in a empty room in Hello, Darkness: The Collected Poems of L.E. Sissman, edited and with a pref. by Peter Davison. Ed. Little Brown Company, Boston 1978.

“…leaving a sizeable memorial
To his life and to the state he lived in:
A green tree blowing outside; streaming in
Through the two-light window, forming cream oblongs
On window wall and alcove wall and on
The bare wood floor, a shaft of morning sun
Peoples the vacuum with American light.”