segunda-feira, 1 de abril de 2024

poemas recuperados 15


Gaspar David Friedrich (1774-1840), caminhante sobre um mar de névoa c.1817. Óleo s/tela 98 x74 cm. Hamburger Kunsthalle.


preso ao peso da idade

De onde vem a vagabunda, profunda e podre tristeza

que floresce em mim e não cresce em mais ninguém?

A doentia dúvida que me destrói, a estranha incerteza,

que não se sabe porquê, como se forma e d’onde vem.

 

Será da infância onde não havia ainda tantos enganos?

havia melhor tempo, havia outro espaço, havia mais luz.

Tempos sem amarguras que não estavam envenenados

aos quais o desejo a vontade de voltar ainda me conduz?

 

Onde se diluiu o descuidado entusiasmo com que traçava

lúcido futuro naquele amplo acontecer - com que energia?

Porque sinto agora este cansaço preso ao peso da idade?

 

Perdidas estão aquelas lutas solidárias em que acreditava

poder criar com entusiasmo e alegria tudo o que perseguia,


com essa ávida vontade de me ir construindo em liberdade!

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