sexta-feira, 29 de maio de 2020

Uma fotografia da Foto Beleza II Parte 2.º episódio



Os automóveis na Praça da Liberdade

Uma tentativa de identificação com várias e dispersas derivas por outras imagens do Porto na véspera da 2.ª Guerra Mundial 1938-1940

B - Os carros estacionados na placa central em torno da estátua de D. Pedro IV (7 a 34)

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fig. 71 – Os automóveis em torno da placa central da Praça da Liberdade. Pormenor da fotografia da Foto Beleza. (cl. RF)

Carros n.º 7 e 8 – Ford modelo Y Tudor Saloon 1933.

Fabricado pela Ford UK entre 1932 e 1937.


 
fig. 72 - Os Carros 7 e 8.


 
fig. 73 - Ford model Y Tudor Saloon 1933.



Os pormenores exteriores identificativos do Ford Y são:
Friso duplo lateral e posterior;
Portas abrindo para trás;
Estribo unindo os guarda-lamas;
Duas janelas laterais;
Ventilação do motor em ranhuras verticais;
Roda sobresselente na traseira.



fig. 74 - Desenho de Ford model Y Tudor Saloon 1933.

Carro n.º 9 – Um DKW Meisterklasse de 1934/39

fig. 75 – Carro n.º 9.

(ver Carros 1, 3, 9, 16, 25, 30 e 35).

 fig. 76 - DKW F5 de 1935.

Pormenores identificativos:
Friso lateral ao longo do carro;
Friso junto da capota;
Aberturas laterais de ventilação do motor verticais;
Friso central do capot;
Portas abrindo para trás;
Roda sobresselente na traseira;
Duas janelas laterais.

Publicidade ao DKW no jornal O Comércio do Porto em 1937.
“…um carro económico e seguro, confortável e estável, amplo, prático e moderno…”


 
  
fig. 77 - Publicidade ao DKW no jornal O Comércio do Porto de Quinta-Feira 19 de Agosto de 1937.

Outra imagem da mesma época

Uma fotografia de Bonfim Barreiros do Arquivo Histórico Municipal de 1940


Na fotografia vemos na Rua Formosa o Mercado do Bolhão, edifício inaugurado em 1916 segundo um projecto de António Correia da Silva ((1880-1963).
A poente, junto à entrada do Mercado do Bolhão, a Casa das Botas.
No cruzamento com a Rua Sá da Bandeira um sinaleiro dirige o trânsito.

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fig. 78 – Guilherme Bonfim Barreiros (1894-1973), Fotografia da Rua Formosa e do Mercado do Bolhão c. 1940.  CMP Relatório de Gerência de 1940. AHMP.

Na entrada do Mercado está estacionado um DKW e, um pouco mais à frente junto da Casa das Botas, um Morris 12.


fig. 79 - Pormenor da imagem 2 com um DKW (1) e um Morris Twelve (2).


fig. 80 - Um Morris 12 Serie III de 1937/39.

O Morris 12 foi fabricado entre 1934 e 1939. O modelo da série III foi fabricado entre 1937 e 1939.

Ao fundo, no edifício do gaveto da Rua Formosa com a Rua Alexandre Braga, a Sucursal dos Armazéns do Anjo ocupa o rés-do-chão.

fig. 81 – Pormenor da imagem 2. O edifício de gaveto entre a Rua Formosa e a Rua Alexandre Braga.

 
fig. 82– Publicidade dos Armazéns do Anjo.

Por cima uma grande tabuleta indicando a Casa Ricardo Lemos representante em Portugal da discográfica Odeon.

fig. 83 – Publicidade às Grafonolas e Discos Odeon.

 
fig. 84 – Um cartaz de publicidade à casa Ricardo Lemos e aos discos e grafonolas Odeon.


À direita na fotografia uma tabuleta indica a Pensão Tivoli (depois “Chic Pensão na rua Formosa em frente ao Bolhão” como anunciava a rádio!) e mais adiante a Confeitaria do Bolhão fundada em 1896 remodelada em 1928 com um projecto do arquitecto Amoroso Lopes (1899-1953).

fig. 85 – A Pensão Tivoli.

O carro que se encontra estacionado em frente à Pensão Tivoli parece ser um Hillman Minx de 1936 (ver carro n.º 29).

Um Morris 12 surge numa outra fotografia de 1939 circulando na Rua de Serpa Pinto.

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fig. 86 - A Rua de Serpa Pinto c.1939. (PACHECO 1998).

 
fig. 87 - Anúncio ao Morris no O Comércio do Porto de 18 de Junho de 1936.


fig. 88 - Publicidade ao Morris procurando um público feminino. 1939.

Os automóveis Morris eram comecializados por A. M. Almeida, L.da em Lisboa e no Porto pela firma Lopes Cardoso, Lda. na Avenida dos Aliados 210.

Carro n.º 10 – Um Opel Kadett de 1937

fig. 89 - O carro 10.


Pormenores identificativos do Opel, visíveis na Foto Beleza:
Faróis embutidos na carroceria;
Traseira com porta bagagens saliente;
Roda sobresselente acoplada na traseira;
Forma do óculo traseiro;

Pormenores não visíveis:
Três janelas laterais;
Quatro portas;
Friso lateral;
Pequenas janelas de ventilação nas portas dianteiras.

 
fig. 90 - Um Opel Kadett 1937.

Os Opel, com os Vauxhall, Pontiac e Chevrole eram vendidos por A. M. da Rocha Brito Lda. na Rua de Sá da Bandeira, 112.

  
fig. 91 – Publicidade da A. M. Rocha Brito no jornal O Comércio do Porto de Sábado 16 de Junho 1934.


O Opel Kadett foi apresentado no Salão Automóvel do Porto * em 1937.

 
fig. 92 - O Stand da Opel no Salão Automóvel do Porto de 1937.

*O Salão Automóvel do Porto fará parte de um texto O Automóvel no Porto entre as duas Guerras a publicar.

Repare-se na colocação de diversos instrumentos musicais no centro do palco rodeado pelos diversos modelos Opel com destaque para o Kadett.

Uma publicidade mostrando as características técnicas do Opel-Kadett referindo o consumo e o preço.
fig. 93 - Publicidade ao Opel-Kadett no O Comércio do Porto de Quinta-feira 19 de Agosto de 1937.


O stand Opel no Salão de Berlim em 1938.

fig. 94 - Salão Automóvel de Berlim 1938.

O fabrico deste modelo do Opel Kadett, que com o modelo Olympia foram muito usados no período da guerra, prolongou-se para além do final do conflito.

Outras imagens da mesma época

1 - Uma fotografia da Rua de Santa Catarina, do Arquivo Histórico de cerca de 1940, tendo ao fundo a esquina com a Rua de Santo António (31 de Janeiro) onde estavam instaladas de um lado a Tabacaria Africana e do outro a Ourivesaria Reis & Filhos, mostra um Opel de 1937 estacionado.

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fig. 95 - Um Opel de 1937 na Rua de Santa Catarina. Foto c.1940. AHMP.

 
fig. 96 - Um Opel de 1937 na Rua de Santa Catarina. Pormenor da imagem 4.

O Opel está estacionado junto ao estabelecimento A Meia d’Ouro (com o toldo às riscas) projectado por João Queiroz (1892-1982) em 1928.

A frente do estabelecimento Meia d’Ouro como se apresentava em 1928, num desenho de Luís Aguiar Branco. (BRANCO 2009).

fig. 97 – Luís Aguiar Branco, desenho da frente do estabelecimento Meia d’Ouro. (BRANCO 2009).

Na foto vê-se ainda a loja “Por-fi-ri-o” estabelecimento de roupa. (anunciada na rádio: “Quem diz praias diz areias, quem diz Porfírio diz Meias”!).

fig. 98 - Anúncio da Loja POR-FI-RI-O no jornal O Comércio do Porto
de Segunda-feira, 22 de Junho de 1936.

2 – Uma fotografia de 1934 do edifício da Bolsa do Pescado em Massarelos, em construção, mostra um Opel Kadett estacionado à porta.

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fig. 99 – A Bolsa do Pescado em construção 1934. AHMP.

Relacionado com as actividades portuárias, em Massarelos junto ao Douro, a Bolsa do Pescado é um notável e inovador projecto de 1932/34, do jovem arquitecto Januário Godinho (1910-1990).
Foi construído pela então criada construtora OPCA (Obras Públicas e Cimento Armado), a que estão associados os nomes dos engenheiros Manuel António Godinho de Almeida (1898-1969) irmão de Januário, e José Augusto Rodrigues Praça (1900-1952).
Foi inaugurado em 19 de Janeiro de 1935.
Tem um conjunto de baixos-relevos de Henrique Moreira alusivos à pesca e à venda de peixe.

fig. 100 - Januário Godinho. Perspectiva da Bolsa do Pescado. Desenho a carvão sobre papel col. particular (SOARES 1992).

fig. 101 – Januário Godinho. Projecto de Fachada para a Bolsa do Pescado, variante apresentada pela Sociedade de Engenharia “OPCA”. Desenho a carvão sobre papel col. particular (SOARES 1992).


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fig. 102 – Guilherme Bonfim Barreiros, A Bolsa do Pescado em Massarelos 1936.


3 - Uma fotografia da Rua 31 de Janeiro (então Rua de Santo António por imposição do Estado Novo), onde estão estacionados à porta do estabelecimento Alemanha, dos Caminhos de Ferro Alemães, um Opel Olympia e um Opel limousine super 6 de 1937.

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fig. 103 - A Rua Santo António (31 de Janeiro) com dois Opel estacionados em frente da Casa Alemanha. 1944. AHMP.

fig. 104 - Pormenor com o  Opel Olympia 1938 estacionado na Rua de Santo António.

Lembremos que em 1944, os Aliados ganhavam terreno na guerra contra a Alemanha. 
Por isso parece uma propaganda anacrónica dos Caminhos de Ferro Alemães, ao turismo na Alemanha, ocupados como estavam com  os execráveis transportes que sabemos.

fig. 105 – Anúncio dos Caminhos de Ferro Alemães 1944.

Lembremos que a colónia alemã, então residente no Porto, manifestava a sua simpatia pelo nacional-socialismo na Deutsche Shule conhecida como Casa dos Alemães, na Rua Guerra Junqueiro não longe da Sinagoga do Porto, esta, curiosa e oportunamente, inaugurada em 16 de Janeiro de 1938 como assinalava o jornal O Facho de Março de 1938. (PACHECO 1998).

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fig. 106 - A Casa Alemã e Escola Alemã (Deutsche Shule) (PACHECO 1998).

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fig. 107 – A Sinagoga na Rua Guerra Junqueiro em 1938.

O Opel Olympia

Foi lançado em 1936, ano em que se realizaram os Jogos Olímpicos de Berlim, usados por Hitler para uma enorme campanha de propaganda do regime nazi.


fig. 108 – Propaganda associando o Opel aos Jogos Olímpicos de Berlim 1936.

O automóvel na banda desenhada

Se na década de 30 o automóvel pouco figura nas artes plásticas aparece, contudo, na Banda Desenhada.
(Georges Prosper Remi) Hergé (1907-1983), o criador das personagens e das aventuras de Tintin, desenha nos seus diversos livros alguns dos automóveis da época e do lugar em que se desenrolam as suas histórias.

No livro O Ceptro de Ottokar (Le Sceptre d’Ottokar), cuja versão colorida data de 1947, mas cuja aventura se passa antes da 2ª Guerra, Hergé desenha um Opel Olympia.

fig. 109 – Um Opel Olympia em O Ceptro de Ottokar 1947.

Nos Estados Unidos, em 1938 e 1939, surgem as conhecidas bandas desenhadas de super-heróis como o Superman de Jerry Siegel (1914-1996) e Joe Shuster (1914-1992) e o Batman de Milton “Bill” Finger (1914-1974) e Robert “Bob” Kane (1915-1998).
Na capa do n.º 1 da revista Action Comics de Junho de 1938 (recentemente vendida por um preço astronómico), surge a figura do Superman erguendo e destruindo um V8 da época.
E o carro do super-herói Batman surge nas suas primeiras histórias de 1938, mas o famoso Batmobile, como é conhecido o seu carro, apenas surge em 1941 inspirado num modelo do Cord de 1936.


fig. 110 – Action Comics n.º 1 Junho de 1938.

fig. 111 – O primeiro Batmobile de 1941.



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Carro n.º 11 –Um BMW 326 4 portas de 1938

 
fig. 112 – O Carro n.º 11.

O BMW era fabricado na Alemanha pela Bayerische Motoren Werke (Fábrica de Motores da Baviera).

 
 
fig. 113 - BMW 326 4 portas de 1938.

Pormenores identificativos do BMW 326:
Grelha do radiador com a forma que sempre manteve (e mantém) dividida em duas partes estreitas e verticais;
Para-choques dianteiros duplos e divididos em 2 partes;
Ventilação lateral do motor ovalada;
Para-brisas duplo;
Três janelas laterais;
4 portas;
Estribo.
 
fig. 114 - Desenho do BMW 326.  www.carblueprints.info


Os BMW eram vendidos no Porto pela firma de António Marques da Fonseca, automóveis B.M.W. na Rua Augusto Rosa 180-184, no antigo stand da REO remodelado por José Ferreira Peneda com um projecto apresentado na CMP em 19 de Abril de 1939 no prédio vizinho do assinalável edifício projectado pelo mesmo arquitecto e construído em 1937.

Um outro BMW na cidade do Porto

Acompanhando uma foto do BMW “que Alfredo Rêgo nos tem mostrado nas ruas do Pôrto”, o jornal O Primeiro de Janeiro de 15 de Agosto de 1938 publica uma pequena notícia sobre o IIº Concurso de Elegância- Automóveis no Palácio de Cristal que se realizou em 11 de Agosto de 1938.
Alfredo Rêgo era um conhecido piloto tendo conseguido vencer as Rampas do Cabo da Roca e do Buçaco em 1936, a Rampa da Boa Viagem Figueira da Foz em 1937 e a 4ª Rampa do Cabo da Roca.
Em 1937 e 1938 obtém um 3º lugar em BMW nas corridas de Vila Real.

Alfredo Rego conduzia então um BMW 327 preto e cinzento cabriolet 1938.

 
fig. 115 - Alfredo Rego junto do seu BMW. Foto de O Primeiro de Janeiro de 15 de Agosto de 1938.

 
fig. 116 – Cruz Caldas, anúncio do IIº Concurso de Elegância - Automóveis no Palácio de Cristal 11 de Agosto de 1938.
Revista Sporting bissemanário n.º 1377 de 8 de Agosto de 1938.


 
fig. 117 - BMW 327 cabriolet 1938.

O BMW 326 foi apresentado no Salão Automóvel de Berlim que se realizou de 15 de Fevereiro a 1 de Março de 1936, no ano dos Jogos Olímpicos de Berlim, eventos que serviram para uma forte propaganda do regime nazi.


 
fig. 118 – Cartaz do Salão Automóvel de Berlim 1936.

O BMW de Manoel de Oliveira

Manoel de Oliveira (1908- 2015), o conhecido actor e cineasta - que com o seu irmão Casimiro de Oliveira (1907-1970), eram então pilotos de corridas de automóveis * - tripulando um BMW 315 de 1934 foi 2º classificado na categoria “Sport” no 5º Circuito Internacional de Vila Real realizado em 21 de Junho de 1936.

*As competições de automóveis no Porto faram parte de um texto O Automóvel no Porto entre as duas Guerras.

 
fig. 119 – Manoel de Oliveira ao volante do seu BMW no Circuito de Vila Real
Foto do Centro de Documentação do ACP no blogue Um Olhar sobre as Corridas de Manuel Diniz.

Este BMW 315 tinha sido apresentado no Salão de Frankfurt de 1934 e no Salão de Paris do mesmo ano.
 
fig. 120 - O Stand BMW no Salão de Paris de 1934.

De regresso à imagem 1

Carro n.º 12 – Um Renault Celtaquatre de 1937




 

fig. 121 – Carro n.º 12.




fig. 122 - Renault Celtaquatre de 1937.



Pormenores exteriores identificativos do Renault Celtaquatre:

Porta bagagens saliente com dois fechos superiores;
Placa identificativa e matrícula quadrada central;
Óculo traseiro em forma de amêndoa;
Duas janelas laterais;
Fechos das portas afastados;
Porta da frente abrindo para a rectaguarda.

fig. 123 - Publicidade francesa do Renault Celtaquatre em 1937.

Carro n.º 13 – Um Citroën traction avant (“arrastadeira”) 1934/1957



 
fig. 124 – Carro n.º 13.

O Citroën traction avant, conhecido em Portugal por “arrastadeira”, foi pela sua concepção inovadora o carro que marcou definitivamente a evolução do automóvel europeu.
Com uma imagem única e facilmente identificável foi considerado como um carro revolucionário por um conjunto de características técnicas.
A tracção nas rodas dianteiras, os travões hidráulicos, a caixa de velocidades sincronizada, a suspensão independente nas quatro rodas e a carroceria monobloco foram responsáveis pelo grande sucesso do Citroën até ao final da década. Interrompido o seu fabrico durante a guerra, onde aliás foi muito utilizado, a sua produção foi retomada após o conflito.

 
 
fig. 125 - Citroën Traction Avant 7cv. 1934. Foto da época.

Foi apresentado no Salão de Paris de 1934, no ano da falência de André Citroën e da nova gerência de Pierre Michelin, em três versões: o 7cv. (produzido entre 1934 e 1941), o 11cv. (produzido até 1957) e o 15cv. (produzido até 1956). Foi ainda apresentado um 22cv. que não teve continuidade.

 
fig. 126 - O stand Citroën no Salão de Paris 1934.

 
fig. 127 - O stand Citroën no Salão de Paris 1934 sem a presença do público.

 
 
fig. 128 – Folheto com o esquema da apresentação dos diversos modelos Citroën no Salão de Paris de 1934.

fig. 129 - Publicidade do Citroën 11cv. 1934.


Na cidade do Porto foram muito utilizados como táxis antes e depois da guerra. A sua produção durará até 1957.

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fig. 130 – Postal Vista da Avenida dos Aliados. 1949.

Hergé já depois da guerra publica nos anos 50, L’Affaire Tournesol, primeiro em fascículos na revista Tintin a partir de 1954 e finalmente em livro pela Casteman em 1956.
Nele introduz um Citroën traction avant de 1934, que mostra como nos anos 50 era ainda um carro de sucesso e em circulação.

 
fig. 131 – Hergé. Citroën Traction Avant. L’Affaire Tournesol. 1954/56.

Outra imagem com carros semelhante

Na imagem da Praça dos Leões da Foto Beleza - já mostrada no carro n.º 4 na I Parte - para além do Citroën que então aparecia surge um outro estacionado na placa das palmeiras no enfiamento da Rua do Carmo.

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fig. 132 - Foto Beleza Praça dos Leões c.1938. Pormenor com um Citorën.



fig. 133 – Pormenor da imagem 11.

Os agentes Citroën e Marmon no Porto

Numa fotografia de Alvão (que pelos automóveis podemos datar de 1929) vemos o stand da Citroën quando ainda se situava na Rua de Sá da Bandeira 355. (fig.134).
Da esquerda para a direita na fotografia: o Café Madrid, um estabelecimento de Máquinas Eléctricas e Industriais, A Casa da África, A Nova Mercearia do Bolhão e o Stand Citroën.

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fig. 134 – Casa Alvão. Rua de Sá da Bandeira. c.1929. (TAVORA 1984)

fig. 135 – Pormenor da imagem anterior.

À porta do Stand da Citroën um conjunto de automóveis com matrículas da série N-7200 a 7600.

Um Citroën da Escola de Condução do ACP

Com a matrícula N- 7100, portanto desta série, um Citroën Torpedo de 1926, do Automóvel Clube de Portugal (ACP) * que o utilizava quando criou em 1935 a sua Escola de Condução no Porto. (fig.134).

*O Automóvel Clube de Portugal também fará parte de um texto O Automóvel no Porto entre as duas Guerras a publicar.


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fig. 136 - Os carros da Escola de Condução do ACP.

Dois carros da escola de condução do ACP, com o Citroën Torpedo de 1926 atrás de um Ford 4 portas de 1932 com a matrícula N-12449, estacionados, julgo eu, junto ao jardim da Praça 9 de Abril (Arca d’Água), jardim inaugurado em 9 de Abril de 1928.

Quanto ao Stand da Citroën em 22 de Fevereiro de 1930, a Agência Citroen, Lda. instalou-se na Rua de Santa Catarina, 82.

E finalmente os Automóveis Citroën, no final da década de 30, passaram a ser expostos no stand do mesmo nome na Avenida dos Aliados 17-27 cuja ampliação foi projectada pelo mestre de obras António Domingos Faria dos Santos.


Numa outra fotografia da Casa Alvão da Rua de Sá da Bandeira,  imagem 14, esta tirada de norte para sul por volta de 1929, vemos da esquerda para a direita: o Stand Citroën, um estabelecimento comercial não identificado e o estabelecimento do popular Calçado Atlas.

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fig. 137 – Casa Alvão. Rua de Sá da Bandeira c. 1929. (TAVORA 1984)


 
 
fig. 138 –  Publicidade do Calçado Atlas de 1935.

Ao centro da fotografia, com o n.º373, o Stand Freitas, Filho & C.ª representantes dos automóveis Marmon no Porto, com um cartaz colado no vidro anunciando a exposição dos carros Marmon.


Os automóveis Marmon eram fabricados pela Nordyke & Marmon Company fundada em 1851, mas refundando-se como Motor Car Company em 1933. Fabricou os Marmon até 1939.
Tiveram grande projecção nos anos 20 no Porto.


À porta do Stand Freitas, Filho & C.ª estão estacionados, para exibição, quatro modelos:
1 – Marmon model E-75 limousine 1926
2 – Marmon model E-75 cabriolet 1926
3 - Marmon model 34 de 1927
4 - Marmon 8 de 1927.

Um anúncio dos Marmon de 1926.

 
fig. 139 – Publicidade ao Marmon 1928.

E um anúncio de 1929 do Stand de Freitas, Filho e C.ª no Porto que refere a Semana Automobilista da Foz, uma das primeiras provas de automóveis, realizadas no Porto.

 
fig. 140 - Anúncio dos automóveis Marmon no Guiauto Ilustrado n.º 3 de 30 de Setembro de 1929.

Neste número 3 do Guiauto Ilustrado de 30 de Setembro de 1929, na rubrica A Grande Atracção, refere-se esta Semana Automobilista da Foz.
“Em festas de caridade ou simples diversões «chics» ao ar livre, o numero mais sensacional - o “clou” da festa – é, hoje em dia, uma prova de velocidade automovel. E' que, com o aperfeiçoamento destas viaturas, desenvolveu-se no povo portuguez, como aliaz no de qualquer outra nacionalidade civilisada, o gôsto pelas exibições em que a bravura e o sangue frio predominam, a admiração pelos homens que, governando um carro, se lançam na vertiginosa carreira que a tantos, lá fóra, tem custado a vida.”
E após defender a necessidade de um autódromo refere a prova da Foz.

“Portanto, aquelas a que assistimos na Avenida Brazil, aquando da “Semana Automobilista da Foz” ficaram longe de merecer todo o aplauso.”
E prossegue pensando na possibilidade de um acidente que tiraria todo o entusiamo dos portuenses às provas de automobilismo.

De regresso à imagem 1

Carro n.º 14 – Um Fiat 508 Balilla 2 portas 1932

     
fig. 141 – Carro n.º 14.

Balilla refere-se a Giambattista Perasso (1735-1781) dito o Balilla, que com 11 anos iniciou a revolta contra a ocupação austríaca da Itália. Referido no Hino nacional Italiano “I bimbi d'Italia/Si chiaman Balilla” foi usado pelo regime de Mussolini em 1926 para criar a Opera Nazionale Barilla uma instituição que visava enquadrar a juventude italiana e que inspirou dez anos depois a criação da Mocidade Portuguesa.
Em 1934 a figura do Balilla é utilizada pela Fiat para promover o seu automóvel com esse nome.

fig. 142 – Cartaz de publicidade ao Fiat Balilla 1934.

 
fig. 143 – Um Fiat 508 Balilla 2 portas de 1932.

Pormenores exteriores identificativos do Fiat 508 Balilla:
Duas janelas laterais;
Duas portas;
Roda sobresselente apoiada no para lamas lateral;
Estribo;
Faróis unidos por um arredondado cabo de aço.



 
fig. 144 - Um Fiat 508 Balilla 2 portas de 1932.

 
fig. 145 - Anúncio com o Fiat 508 Balilla 2 portas 1932. Fiat Portuguesa S.A.R.L. na Rua de Santa Catarina 122.


No cartaz a Fiat Portuguesa SARL estava instalada na Rua de Santa Catarina 122. (ver Carro n.º 5 no 1º episódio).

A Fiat mudará em 1941 para a Avenida dos Aliados 173 para o estabelecimento do antigo Café Monumental alterado pelo arquitecto Manuel da Silva Passos Júnior (1908-?).

As Esplanadas das Praias na década de 30 com automóveis semelhantes

(Ver Parte I)

Um Fiat 508 (e um Ford) aparecem no postal que mostra a Esplanada da Praia de Banhos da Póvoa do Varzim num concorrido passeio num fim da tarde de Verão.

 
fig. 146 – Postal Foto Beleza. Póvoa do Varzim - Esplanada da Praia de Banhos c.1939.

fig. 147 – Postal. Póvoa do Varzim – Esplanada.

De facto foi o Despacho publicado no Diário do Governo, II Série, n.º 212, de 14 de Setembro de 1928, que permitiu a edificação dos Casinos – na Póvoa do Varzim e em Espinho - publicitados na fotografia da Foto Beleza de 1938, que promoveu o turismo balnear nestas praias das estâncias a norte e a sul do Porto.

Procurou-se então equipar e embelezar estas Esplanadas (promenades em francês e lungomare em italiano) - em Portugal popularmente conhecidas como picadeiros - ao longo das marginais das praias, os locais onde os veraneantes se passeavam para ver os outros e por eles ou por elas ser visto.

No Passeio Alegre da Póvoa do Varzim, com o incremento do turismo balnear impulsionado pela edificação do Casino, foi inaugurado em 1936 o Palace Hotel (hoje Grande Hotel), projectado por Rogério de Azevedo entre 1929 e 1936.

  
fig. 148 – Postal - O Palace Hotel no Passeio Alegre Póvoa do Varzim 1936.

No postal em primeiro plano o Monumento ao Cego de Maio inaugurado em 1909 e ao fundo o Casino de 1934.

Em frente da porta do Hotel estão estacionadas três viaturas de luxo.

 
fig. 149 – As três viaturas à porta do Palace Hotel.

Os automóveis são um Buick 60 Club sedan de 1935 (1); um Adler standard de 1933 (2); e um Fiat 521 de 1929/1931 (3).

 3 - O Fiat 521 de 1929.

 
fig. 150- Um Fiat 521 semelhante ao estacionado à porta do Palace Hotel na Póvoa do Varzim.

Uma publicidade de 1930 valorizando a tradição dos automóveis Fiat à Janela Manuelina do Convento de Cristo em Tomar. 
fig. 151 – Publicidade do Fiat 521 in Ilustração, n.º 120, de 16 de Dezembro de 1930.

2 - O Adler standard de 1933.

 
fig. 152 - Um Adler semelhante ao estacionado à porta do Palace Hotel na Póvoa do Varzim.

Lembremos o clássico Adler desenhado em 1931 pelo arquitecto Walter Gropius (1883-1969) o fundador da Bahaus e projectista do edifício da Escola em Dassau em 1925.

fig. 153 – Walter Gropius  e o Adler desenhado em 1931. Photo Adler-Club. Frente do Adler standard 8 cabriolet 1931.

O Adler no Salão de Berlim de 1936. Repare-se nas suásticas que decoram o pavilhão.

fig. 154 – Salão de Berlim de 1936.

O representante dos automóveis Adler de fabrico Alemão (Adler em alemão quer dizer Águia), dos automóveis Hotchkiss e dos automóveis e camiões Citroën era a firma Mário Ferreira Limitada na Rua de Sá da Bandeira, 328.

1 - O Buick 60 Club sedan de 1935.



fig. 155 - Um Buick semelhante ao estacionado à porta do Palace Hotel da Póvoa do Varzim.

A revista Ilustração n.º 217 de 1 de Janeiro de 1935 apresenta um idêntico Buick 60 Club sedan de 1935, quando foi apresentado no Salão de Lisboa de 1934.

fig. 156A sumptuosa limousine Buick in Ilustração n.º 217 Janeiro de 1935.

A legenda que acompanha a imagem da Ilustração refere:
“A sumptuosa Limousine Sedan “Buick”, modelo preferido e ao serviço dos vários Ministérios e das Presidências da República e do Conselho. É equipada, como os demais modêlos, com a célebre “acção rotular”, travões “Dual-Servo”, direcção independente, amortecedores hidráulicos duplos e de inércia, equilibrador de viragens, e muitos outros aperfeiçoamentos de notável eficiência.”

Um desses Buick foi utilizado pelo engenheiro Duarte Pacheco (1900-1943) na sua visita à obra dos Sifões do Alviela em 1934, como se vê no filme do mesmo nome de Paulo Brito Aranha (1904-1951) existente na Cinemateca Portuguesa.

 
fig. 157 – Fotograma do filme Sifões do Alviela estreado em 20 de Fevereiro de 1934
 realizado por Paulo Brito Aranha (1904-1951). Cinemateca Portuguesa.

O Buick Imperial na propaganda do Estado Novo

Em 1938 o SPN (Secretariado de Propaganda Nacional) dirigido por António Ferro (1895-1956), numa evidente acção de propaganda do regime, edita uma série de 7 cartazes intitulada "A Lição de Salazar" desenhados por Jaime Martins Barata (1899-1970).

fig. 158 – Notícia de O Século Quarta-feira 27 de Abril de 1938.

Esses cartazes foram distribuídos por todas as escolas primárias do país, palco privilegiado para a propagação dos valores defendidos pelo Estado Novo entre as crianças.

 
fig. 159 - Uma sala de aula com os cartazes afixados nas paredes.

O primeiro desses cartazes, era destinado a valorizar o regime de Salazar pela acção da JAE (Junta Autónoma das Estradas criada em 1927) e do Ministro das Obras Públicas Duarte Pacheco (1900-1943), mostra um Buick de 1937.
Com a legenda " Onde eram escalvados os montes, ressequidos os campos e intransitáveis os caminhos, já reverdecem pinhais, brilham louras searas e magníficas estradas cortam Portugal de lés a lés!" era, por isso, significativa a utilização de imagens de dois automóveis: um Ford T de 1926 num caminho empedrado a ser puxado por uma junta de bois; e o outro, um Buick de 1937, rolando sobre uma impecável estrada asfaltada e sinalizada.

 
fig. 160 – Martins Barata, A Lição de Salazar. SPN.1938.

O carro nos intransitáveis os caminhos era um Ford T de 1926.

 
fig. 161 – Ford T convertible 1926.

Este Ford T do cartaz de Martins Barata parece uma ilustração do poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), evocando a sua infância no início do século XX, no livro BoitempoEsquecer para lembrar, publicado em 1973.

“Que coisa-bicho
que estranheza preto-lustrosa
e vem-vindo pelo barro afora?

É o automóvel de Chico Osório
é o anúncio de nova aurora
é o primeiro carro, o Ford primeiro
é a sentença do fim do cavalo,
do fim da tropa, do fim da roda
do carro de boi

Lá vem puxado por junta de bois.”

Para se perceber melhor a parte superior da imagem onde o Ford caminha numa estrada em péssimo estado refira-se, também, o início de um texto assinado Repórter X, pseudónimo de Reinaldo Ferreira (1897-1935), intitulado À volta da Santinha de Fafe publicado no n.º 44 da revista Ilustração de 16 de Outubro de 1927.
“Do Porto a Guimarães, o auto é sacudido, levantado, afundado nos milhares de covas que transformam os caminhos num mar revolto, encapelado de ondas de terra e pedra e lama…”

Quanto ao automóvel que circula pela estrada impecavelmente asfaltada é um Buick sedan de 2 portas de 1937.

 
fig. 162 – Um Buick sedan two door 1937.

 E no seu texto continua o Reporter X: “Mas de Guimarães em diante as estradas alizam-se, abonecadas e floridas, e acabam por se encaracolar num sacarôlhas de apertada espiral, cercado pela scenografia altiva das montanhas…”

Ainda na Póvoa do Varzim, em 1940, cumpre referir o Diana Bar (hoje biblioteca), inaugurado em 7 de Julho, que tornou a Esplanada o local privilegiado dos veraneantes sobretudo a partir do final da 2ª Guerra Mundial.

 
fig. 163 – Postal dos anos cinquenta mostrando o Diana Bar.

Em Espinho para além da Esplanada junto à Praia, desenvolve-se um outro local de passeio na Avenida 8 junto ao Casino.

 
fig. 164 - Anúncio da Praia de Espinho in Guiauto Ilustrado n.º3 de 30 de Setembro de 1929.

fig. 165 - Postal Espinho – Esplanada. Anos 30.

fig. 166 – Postal. Espinho Avenida 8. Finais dos anos 40. Foto Evaristo.

E no Porto – sem o ambicionado Casino - também entre 1929 e 1932 é concluída e inaugurada (em 28 de Julho de 1929), a Esplanada 28 de Maio (hoje Esplanada do Molhe) na Foz do Douro.
Na foto (ver I Parte) junto da bomba de gasolina vê-se estacionado o que parece ser um Fiat 508 e circulando um Ford A de 1929.
Na fotografia já está construída a Pérgula (ou Pérgola) que o jornal O Comércio do Porto de 15 de Fevereiro refere como “Esse friso de colunatas que se está levantando ali ao pé da praia do Molhe, a meio da Avenida, tem um nome próprio e esquisito. Chama-se “Pérgola”. (MONTEREY 2006). 

[Nota – Surgiu recentemente na série A Espia transmitida pela RTP1 para criar um ambiente dos anos de Guerra]

Porto imagem 15

 
fig. 167 - Postal. Porto (S. João da Foz do Douro) Avenida Brazil. c. 1932. Ed. JO.



O mesmo postal, numa imagem de melhor qualidade, e que permite uma melhor leitura.  Publicado em 20/o6/2020 em https://www.facebook.com/PortoDesaparecido/

Nos finais da década de 30 a Câmara Municipal preocupou-se em equipar e embelezar a Esplanada 28 de Maio (hoje Esplanada do Molhe).
Em 19 de Dezembro de 1937 havia sido inaugurada a escultura “O Lobo-do-Mar” ou o “Salva-Vidas”, nome porque ficou conhecida, da autoria de Henrique Moreira (1890 - 1979) no Jardim da Avenida Brasil.
fig. 168 - Henrique Moreira, O Lobo do Mar ou Salva-Vidas. Foto de Bonfim Barreiros (1894-1973). (CMP 2001).

Encavalitado e agarrado à proa da embarcação, lambida pelas ondas, está prestes a lançar na direcção de um náufrago, com um gesto competente do braço direito, a boia de salvação que segura na mão direita.
Henrique Moreira, na sua escultura procura exprimir as preocupações de ordem social e humanitária que a figuração de um homem do mar, na sua actividade quotidiana, e que por isso, porque salva vidas, ganha o estatuto de herói.

A Câmara Municipal do Porto deliberou em 1938, também colocar, um pouco mais a norte, a “Estátua do Marinheiro” da autoria do escultor Américo Gomes (1880-1964), que com uma temática algo semelhante, tinha figurado na Exposição Colonial de 1934.
A escultura então conhecida pelo nome de “O Homem do Leme”, foi colocada num novo pedestal, desenhado pelo arquitecto Manuel Marques (1890 -1956) e inaugurada em 27 de Janeiro de 1938.

 
fig. 169 – Américo Gomes, O Homem do Leme Foz do Douro 1938. (AAVV 1938).

Nesse mesmo ano de 1938, foi publicado um livro com o título de “O Homem do Leme, com textos, poemas, desenhos e partituras de composições musicais, datados entre 1936 e 1938, de diversos autores e personalidades.
Dos diversos textos aí publicados retiramos os versos de Eugénio de Castro (1869-1944), datados de 1936, e que bem definem o carácter do marinheiro que a escultura representa.

“O Homem que vai ao leme
Olha atento para o mar:
Não tem medo de morrer,
Tem medo de naufragar.”

De regresso à imagem 1

Carro n.º 15 – Um Ford V-8 Fordor (Four doors = 4 portas) de 1936

 
fig. 170 – Carro n.º 15.

fig. 171 - Um Ford V8 de 1936.

Pormenores identificativos do Ford V8:
Carroceria arredondada;
Para-choques dianteiro em V;
Grelha do radiador em forma de escudo convexo;
Ventilação do motor por grelhas longitudinais;
4 portas com as traseiras abrindo para trás;
Três janelas laterais;
Estribo.

Uma publicidade “Lady, Relax!” do Ford V8 dirigida ao crescente número de condutoras.

 
fig. 172 - Anúncio ao Ford V8, Lady, Relax! destinado ao crescente número de condutoras nos Estados Unidos.

Os automóveis Ford eram comercializados no Porto no Palácio Ford na Avenida dos Aliados, 165 junto ao Café Monumental. 

Em Lisboa o arquitecto Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957) projecta em 1930 o moderno edifício da Ford Lusitana, inaugurado em 22 de Junho 1932, um dos primeiros edifícios concebidos para a exposição de automóveis. Repare-se no tratamento escultórico e publicitário do corpo no ângulo do edifício e nos corpos laterais - com amplos envidraçados no rés-de-chão e janelas en longueur no 1.º piso – rematados em corpos mais elevados. E note-se ainda a clareza da estrutura e a cobertura plana.

 
fig. 173 - A Ford Lusitana na Rua de Rosa Araújo. Lisboa.

No seu interior, onde se procura evidenciar a valorização estética da estrutura do edifício, podemos observar os modelos Ford de 1936 e 1937 entre os quais no primeiro plano um Ford V8 de 1936.

 
fig. 174 - Foto Mário Novais Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian FCG.

Na fotografia vê-se em 4º lugar um Ford V8 de 1937 caracterizado pelos faróis embutidos nos guarda-lamas.

O Ford 1937 na BD de Hergé Tintin Au Pays de L’Or Noir de 1939/40 e publicado pela Casterman em livro em 1950.

 
fig. 175 – Hergé, Les Aventures de Tintin. Au Pays de L’Or Noir. Casterman 1950.

Em 1939, na 8ª Volta a Portugal, organizada pelos Diário de Notícias e Sports, que terminou numa etapa disputada entre Amarante e o Porto no Domingo dia 20 de Agosto, o carro da organização era também um Ford V8 Sedan de 1937 com a matrícula HB-10-(1?).

 
fig. 176 – Um Ford de 1937 da Organização da VIII Volta a Portugal de Bicicleta. Notícias magazine. Pt

Na fotografia o carro da organização numa chegada a Lisboa com os panos anunciando a chegada dos corredores ao Campo 28 de Maio (Campo Grande). No radiador, nas janelas e nas portas também outros panos publicitam os patrocinadores como o Diário de Notícias.
E no tejadilho um amplo sistema de altifalantes publicita o conhecido fertilizante Nitrato do Chile.

O Nitrato do Chile era comercializado pela Companhia União Fabril (C.U.F.) que espalhou, na década de 30, a publicidade criada em 1929 por Adolfo López-Durán Lozano (1902-1988).
Em Portugal muita dessa publicidade consistia em painéis de azulejo (por isso alguns ainda se conservam) e foram espalhados por muitas das estradas do País.
Pela natureza da Volta a Portugal, que percorria muitas dessas estradas, era lógico e compensador para a C.U.F. fazer publicidade ao produto.

fig. 177 – Painel de azulejo de publicidade ao Nitrato do Chile da CUF.

Numa outra fotografia de Alvão já de 1942 ou 1943, um Ford-8 de 1937, servindo de carro de praça (táxi) na Praça da Batalha.

Porto imagem 16

fig. 178 – Foto Alvão. Praça da Batalha (TAVORA 1984)

O Ford é o terceiro carro saindo da Rua de Santo Ildefonso.

fig. 179 – Pormenor da imagem 16.

A Praça da Batalha era animada pela presença das casas de espectáculo salientando-se o
São João-Cine (Teatro S. João), o Cine-Águia d’Ouro e o Cinema Batalha (antigo Hight-Life), todos, nos finais da década de trinta, dedicando-se sobretudo à exibição de fonofilmes, como então se designavam os filmes sonoros.

Embora o Cinema Batalha pareça já encerrado, no Águia d’Ouro está em exibição o filme de 1942 Dois Malucos à Solta realizado por Alfred Werker (1896-1975), com Stan Laurel (1890-1965) e Oliver Hardy (1892-1957), os populares Bucha e Estica. Na fachada do Águia d’Ouro ainda a indicação que o filme está em exibição na 2ª Semana e com Matinés todos os dias.

fig. 180 – Pormenor da fotografia da imagem 16.

fig. 181 – Cartaz do filme A-Haunting We Will Go (Dois malucos à Solta) 1942.

Entre as duas casas de espectáculo vê-se a Papelaria Académica tendo na cobertura um reclame da Pelikan, com a reprodução de uma enorme “caneta de tinteiro transparente” Pelikan, lançada em 1929.

fig. 182 – Pormenor da imagem 16.

fig. 183 – Publicidade da caneta Pelikan 1929.


Na fotografia seguinte (imagem 17), esta da Foto Beleza, vemos na Praça da Batalha à esquerda uma parte do antigo Cinema Batalha e o edifício dos Correios. Ao fundo a Messe dos Oficiais (antigo Hotel Universal) e à direita o Cine–S. João (Teatro S. João).

Porto imagem 17
 
fig. 184 – Foto Beleza. Praça da Batalha c.1940. (CLAUDIO 1994 e 2001).

No S. João estava em exibição o filme O Sinal do Zorro (The Mark of Zorro) de 1940, de Rouben Mamoudian (1897-1987).  

fig. 185 – Cartaz do filme O Sinal do Zorro de 1940.

Na porta lateral do Cinema Batalha estão estacionados 3 carros.

fig. 186 – Pormenor da imagem 17.

A fotografia torna difícil identificar os carros estacionados junto da porta lateral do cinema mas parecem ser um Chrysler, um Alfa-Romeo e um Minerva.

No outro lado da Praça é fácil identificar um DKW estacionado.

fig. 187 –Pormenor da fotografia da fig.183.

 De regresso à imagem 1

Carro n.º 16 – Um DKW F7 Meisterclass de 1934/38

 
fig. 188 – Carro n.º 16.

fig. 189 – DKW Meisterklasse.

(ver Carros 1, 3, 9, 16, 25, 30 e 35).

 
fig. 190 - Publicidade ao DKW Meisterklass limousine. 

Carro n.º 17 – Um Minerva de 1936?

 
fig. 191 – Carro n.º 17.

Pormenores identificativos:
Grelha do radiador dividida e em quilha;
Sem para choques dianteiros;
Para brisas basculante.
 
fig. 192 – Minerva 1936.

O Minerva era fabricado pela empresa belga fundada em 1897 e foi produzido até 1939.
Em 1908 o Stand Minerva de Casal, Irmãos & C.ª situava-se na Rua de D. Carlos (depois Rua José Falcão) n.º 74 -84.

 
fig. 193Garage Minerva na Rua de D. Carlos (José Falcão) 1909. Guia do Porto Illustrado. (MAGALHÃES 1910).

fig. 194 – Publicidade da Grande Garage Automobilista do Porto.

Outra imagem com um Minerva

Um Minerva de 1933 à porta da Igreja de Santo Ildefonso.

Porto imagem 18 
 
fig. 195 - Postal. Porto Fachada da Egreja de Santo Ildefonso.

fig. 196 – Minerva 25cv 1933.

Carro n.º 18 – Um Humber 16 saloon de 1938.

fig. 197 – Carro n.º 18

Pormenores identificativos:
4 portas com fechos separados;
Três janelas laterais;
Estribo;
Traseira arredondada;
Óculo traseiro dividido.

 
fig. 198 - Humber 16 de 1938.

Os Humber eram comercializados por António Sardinha, Lda. Rua de Santa Catarina 253.


Carro n.º 19 – Um Peugeot 202 berline de 1938

 
fig. 199 – Carro n.º 19.

fig. 200 - Um Peugeot 202 de 1938 nas ruas de Paris cruzando com um Peugeot 402.

Após a apresentação em 1934 do Peugeot 402 (na imagem de frente), a primeira viatura da marca com os faróis dentro da grelha do radiador, foi apresentado em 1938 um carro mais pequeno o Peugeot 202 que obteve grande sucesso.

O Peugeot 202 tinha como pormenores identificativos:
Óculo traseiro ovalado;
Roda sobresselente embutida no porta bagagens;
Para choques traseiro direito e cromado;
Farolins traseiros no espaço destinado à matrícula;
Rodas traseiras cobertas pelos guarda-lamas.

O Peugeot 202 foi apresentado em 2 de Março de 1938 no Salão de Paris, e fabricado e comercializado com sucesso de 1938 até 1942 e após interrupção devida à Guerra de 1945 a 49.

fig. 201 - O Stand da Peugeot no Salão de Paris 1938.

 
fig. 202 - Stand da Peugeot no Salão de Paris 1938.

fig. 203 -  Um Peugeot 202 no filme Fric-Frac de 1939 com os actores Fernandel (1903-1971) e Michel Simon (1895–1975)

Os Peugeot eram comercializados no Porto pela Agência Orey Antunes, automóveis Packard e Peugeot, situada na Avenida dos Aliados n.º 59 a 69.

fig. 204 – Publicidade Peugeot Porto.


Um Peugeot 402, de matrícula LE-10-17, adquirido; como revela o filme, na Casa Orey, Antunes  de Lisboa, surge no filme publicitário Sorte Grande de Erico Braga (1889-1962) e Salazar Diniz (1900?-1955?), realizado em 1938 e recentemente exibido na RTP Memória.


 
fig. 205 – Fotograma de Sorte Grande, filme publicitário de 1938. Cinemateca Portuguesa e RTP.


A empresa "Rui d'Orey e Cia” foi fundada em 1886 tendo como actividade a venda de ferro e aço no mercado português. Em 1900, associa-se a António Antunes dos Santos, passando o nome da firma para "Orey Antunes & Cia", e inicia a sua actividade como agente de navegação, mantendo a venda de ferro e aço, mas estendendo também a sua atividade ao negócio de peças para a construção, indústrias metalomecânicas e à venda de automóveis.

Outra imagem com carros semelhantes

 Numa fotografia de do engenheiro Guilherme Bonfim Barreiros (fig.192) de 1939, surge um Peugeot 202 (DF-10-88) estacionado junto das obras, então realizadas, para a abertura da futura Praça de D. João I.

Porto imagem 19

fig. 206 – Bonfim Barreiros, obras de abertura da futura Praça de D. João I. 1939. (CMP 2001).

fig. 207 - – O Peugeot 202 estacionado na Praça D. João I.

À frente do Peugeot 202 de 1938 de matrícula DF-10-88, está estacionado um Austin MS-10-06.

fig. 208 – O Austin MS-10-06

Vê-se ainda um outro Austin 7 de 1937, saindo na direcção da Rua Sá da Bandeira junto ao Rivoli.
Ao fundo, na direção do Rivoli, um Citroën traction avant (arrastadeira).

fig. 209 – Austin 7 1937.

Do lado esquerdo desta fotografia de Bonfim Barreiros, um  Ford 1932, ainda com matrícula anterior a 1937.
fig. 210 – Ford 1932.


No primeiro plano, estacionado atrás do Peugeot, um Chrysler Imperial 1937/38.

 
fig. 211 – O Chrysler Imperial 1937/38.


Um Chrysler idêntico na Praça da Batalha

Numa fotografia de Domingos Alvão da Praça da Batalha vemos, no primeiro plano à direita, as traseiras de um Chrysler de 1937/38 que se reconhecem pelo friso duplo que se estende ao longo do carro até ao porta-bagagem.

Porto imagem 20
fig. 212 – Postal. Fotografia de Alvão. Praça da Batalha 1938.

 
fig. 213 - Chrysler Imperial 1937.

A Praça da Batalha pela sua situação constituía um espaço privilegiado para quem chegava ao Porto pela via férrea e desembarcava na Estação de Campanhã ou para quem atravessava o Douro pela ponte Luís I e se dirigia à área central da cidade.
Por isso aí se situavam alguns dos principais hotéis como o Hotel Sul Americano (Grande Hotel do Império em 1945) e o Grande Hotel da Batalha. Este remodelado com um projecto de 1937 do arquitecto José Porto (1883-1965), reabriu em 20 de Maio de 1940.

fig. 214 - Publicidade do Grande Hotel da Batalha mostrando a entrada remodelada.

 
fig. 215 – Publicidade do Hotel Sul – Americano em 1935.

fig. 216 – O Hotel Sul-Americano num postal antigo.

Existia ainda o Hotel Continental (inaugurado em 1888) na entrada da Rua de Entre Paredes e o antigo Hotel Universal que em 15 de Setembro de 1926 passou a Messe dos Oficiais.

fig. 217 – Publicidade do Hotel Continental.

fig. 218 – Postal – O Hotel Universal antes da I Guerra Mundial.

Os Hoteis e os Cinemas dão vida aos cafés como o Café Chave d’Ouro (inaugurado em 23 de Dezembro de 1920 e renovado em 1933 por Júlio de Brito) e o Café Leão d’Ouro (reabriu em 12 de Outubro de 1929 e foi renovado em 1934) na fotografia na frente virada a nascente com diversos automóveis ali estacionados.

Um Chrysler idêntico junto da escadaria dos Paços do Concelho na Avenida dos Aliados

A escadaria numa fotografia de Bonfim Barreiros

Em 1939 está já concluída a escadaria de acesso à entrada principal dos Paços do Concelho, então utilizada então como uma bancada privilegiada para assistir a um qualquer evento, cortejo ou desfile, na Avenida. (Nos anos 50 o arquitecto Carlos Ramos encarregado de adaptar e concluir o edifício substituirá a Escadaria por uma simétrica rampa de acesso mostrando a influência do automóvel).

Guilherme Bonfim Barreiros, como engenheiro municipal, fotografa diversas obras dos edifícios e espaços públicos da cidade.
Mas as suas fotografias não são apenas um registo documental.
Nesta fotografia, aparentemente para fixar esse momento da edificação dos Paços do Concelho, o técnico camarário vai muito mais longe, criando uma atmosfera algo inquietante que lembra algumas pinturas contemporâneas.

Porto imagem 21

 
fig. 219 - Guilherme Bonfim Barreiros, A escadaria dos Paços do Concelho.
Relatório de Gerência da Câmara Municipal do Porto, de 1939. AHMP.

Assim, para além da escadaria dos Paços do Concelho que então é concluída, fotografa três personagens de chapéu, trancados nos seus próprios pensamentos, que dão escala ao espaço, e que caminham intencionalmente em três diferentes direcções, criando uma atmosfera um pouco inquietante.
Para norte para a então aberta Rua António Sardinha (hoje António Luís Gomes), afasta-se com um passo vigoroso uma anónima e solitária personagem lembrando as figuras negras que percorrem os quadros de Dominguez Alvarez (1906-1942).
Para ocidente caminha apressado uma outra figura idêntica.
E para oriente vemos, caminhando na nossa direcção, uma terceira personagem, neste caso identificável pelo rosto, com um olhar e com um passo determinado.
Ao fundo junto da escadaria dois operários executam os seus acabamentos.


Na fotografia seguinte (imagem 22) - datada de 1939 ou 1940, mas de origem não identificada - vemos a utilização da escadaria do edifício dos Paços do Concelho a ser utilizada como bancada para um qualquer evento (Cortejo da Exposição do Mundo Português?), tendo um conjunto de viaturas oficiais (?) estacionadas à porta. Repare-se que há alguns privilegiados espectadores nas varandas do Salão Nobre (hoje sala das sessões do Executivo e da Assembleia Municipal).
E vemos entre os carros estacionados em frente da escadaria do edifício dos Paços do Concelho, um Chrysler Imperial com a matrícula RP-10-61. (n.º 7).

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fig. 220 - Autor Desconhecido. Evento na Avenida dos Aliados c.1940.

Os carros estacionados junto à escadaria

  
fig. 221 – Pormenor da fotografia da imagem 22.

Dos carros estacionados cremos reconhecer da esquerda para a direita:

1 –  Um Plymouth four door sedan de 1939.

 
fig. 222 - Plymouth four door sedan 1939.

2, 4 e 5 – Três Citroën traction avant “arrastadeira”
(ver Carro n.º 13).

fig. 223 – Citroën traction avant.

3 – Um Hudson Terraplane super six sedan 1934.

 
fig. 224 - Hudson Terraplane 1934.

A Sociedade Indústria & Comércio de Automóveis Lda. era a representante dos automóveis Hudson.

6 – Um Studebacker Dictator de 1934 com a matrícula N-14569 (anterior a 1 de Janeiro de 1937).

 
fig. 225 - Studebacker Dictator 1934.

Os Studebacker com os Hanomag eram representados pela Auto Omnia Importadora na Rua Magalhães Lemos.

7 – E um Chrysler Imperial 1938 matrícula RP-10-61.



  
fig. 226 – Chrysler  Imperial 1938.

Um Chrysler Imperial na Rua do Breiner 

À porta de umas ruínas, para onde o arquitecto Almeida Júnior projectava em 1937 um novo edifício, estava estacionado um Chrysler Imperial de 1938.

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fig. 227 – Fotografia do processo n.º 964 de 1937. AHMP.


Em 1939/40 o prolongamento da Rua de Passos Manuel e a abertura das Praças de D. João I e de D. Filipa de Lencastre

Numa fotografia aérea de 1938/39 ainda não está aberto, do lado oriental, o prolongamento da Rua de Passos Manuel e a Rua Magalhães Lemos termina na Rua do Bonjardim.
Do lado ocidental também a Rua Elísio de Melo termina na Rua do Almada junto da Garagem de O Comércio do Porto.

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fig. 228 – Vista aérea da Avenida dos Aliados 1939.

O prolongamento de Passos Manuel até à Avenida dos Aliados e a abertura da Praça D. João I

O troço da Rua de Passos Manuel, no final da década, para ocidente terminava na Rua de Sá da Bandeira, apesar de desde o inicio do século XX, estar previsto o seu prolongamento até à Avenida dos Aliados.

A fotografia da Rua de Passos Manuel antes da abertura do prolongamento, pelos cartazes que anunciam a Lotaria de Santo António e a festa do São João no Palácio de Cristal, será de Maio ou Junho de 1937 ou 1938.

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fig. 229 – Foto Alvão. A Rua Passos Manuel antes da abertura do prolongamento.  (TÀVORA 1984)

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fig. 230 – Foto Alvão. A Rua de Sá da Bandeira antes do prolongamento da Rua Passos Manuel. (TÁVORA 1984)

No outro sentido em 1932 estava já aberto o troço entre a Avenida dos Aliados e Rua do Bonjardim a que se chamou Rua Dr. Magalhães Lemos (1855-1931). (Foto Alvão fig. 201).
À direita em frente da fachada lateral do Rivoli a Casa Vinagre & Borges Limitada e o edifício de José Ferreira Peneda (1893 ‑1940), edifício misto de habitação, escritório e comércio licenciado em 1932.

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fig. 231 – Foto Alvão. A Rua Magalhães Lemos antes da abertura da Praça D. João I. (TÁVORA 1984).


Em 1938 iniciaram-se as obras da demolição dos edifícios da Rua Sá da Bandeira para o prolongamento da Rua de Passos Manuel.

Porto imagem 28
fig. 232 – A Rua Passos Manuel durante as demolições para o seu prolongamento 1938.

Na fotografia vemos ainda os edifícios da Rua Sá da Bandeira apenas parcialmente demolidos.
 Na Rua de Passos Manuel estão estacionados um Ford V8 1932 de matrícula AC-59-16, à porta da vidraria Bisália, tendo atrás de si uma camioneta de passageiros.

fig. 233 – Publicidade ao Ford V8 de 1932.

fig. 234 - Anúncio da Bisália 1934. Catálogo da Exposição Colonial no Porto. 1934.

A camioneta de passageiros, cuja marca não consigo identificar (uma Saurer?), é semelhante à primeira (com matrícula PT-10-00) deste conjunto de quatro.

 fig. 235 – 4 camionetas de uma empresa de viação.

Com o arrastar das obras de prolongamento da Rua de Passos Manuel, havia ainda quem, se queixasse da sua morosidade.  Na reunião do Executivo da Câmara Municipal em 13 de Julho de 1939 o vereador Dr. Ferreira Loureiro lamenta-se deixando “…aqui bem patente o meu desgosto posso mesmo a minha profunda tristeza, por continuar a ver paradas as obras de urbanização no prolongamento da Rua Passos Manuel e na parte norte da Rua Sá da Bandeira. O aspecto que a cidade apresenta neste centro da cidade, pode V. a Exª estar certo de que faz corar de vergonha todo o portuense que o é de coração, mesmo que como eu o não seja de berço. E muito se desprestigia esta Câmara com tão vergonhoso espectáculo que indecorosamente se vem arrastando há já longos meses. Enquanto me não convencer com argumentos irrespondíveis que não é possível agir doutra maneira, eu reprovo abertamente o processo que se vem seguindo nas expropriações para novos arruamentos, procedendo-se a demolições aqui e além deixando de permeio prédios de pé a ostentarem, por vezes, num impudor repugnante, os seus interiores para vergonha de todos nós perante quem nos visite. (…) (GRAVATO 2004)


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fig. 236 – Foto Alvão. As demolições para o prolongamento da Rua de Passos Manuel. (TAVORA 1984)

E só em 7 de Janeiro de 1939 o jornal O Comércio do Porto noticia que a Rua Passos Manuel já se prolonga até à Avenida dos Aliados e são iniciadas as demolições para a abertura do largo fronteiro ao Teatro Rivoli a que no ano seguinte (1940) será dado o nome de Praça de D. João I por despacho do Presidente da Câmara de 31 de Maio desse ano.

Na fotografia datada de 22 de Novembro de 1939 do centro da Cidade do Levantamento Aéreo podemos observar o estado das obras nos finais de 1939.

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fig. 237 - O Centro da cidade na Fotografia aérea da cidade do Porto: 1939-1940. Fiada 19 n.º 409. AHMP.

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fig. 238 - Demolições para a abertura da Praça D. João I. AHMP.

A Rua de Passos Manuel vista no sentido poente-nascente, da Praça de D. João I até à Praça dos Poveiros.

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fig. 239 - Guilherme Bonfim Barreiros (1894-1973), Foto Rua Passos Manuel vista da Praça D. João I. 1939. AHMP.


Na fotografia à esquerda um Lancia Aprilia 1936/49.


fig. 240 - Um Lancia Aprilia estacionado na Praça de D. João I. Pormenor da imagem 32.


fig. 241 - Lancia Aprilia 1939.


O Lancia Aprilia foi desenhado por Battista Farina conhecido como Pininfarina (1893-1966), utilizando o túnel de vento do Politécnico de Turim e apresentado em 1 de Outubro no Salão de Paris de 1936.

fig. 242 - Lancia Aprilia no Salão de Paris de 1936.


fig. 243 - O Lancia Aprilia LA-10-22 premiado no Salão do Porto.

No lado direito da fotografia estacionam 5 carros. Em primeiro plano um Dodge 4-door 1933, com matrícula do Sul anterior a 1937 e com a placa P de Portugal.

fig. 244 - Pormenor da imagem 32.

fig. 245 – Pormenor da traseira de um Dodge 1933.

Uma outra fotografia de Bonfim Barreiros de 1940 mostra a Praça D. João I, já mais organizada e preparada para nela se edificarem os dois edifícios concluídos no pós-guerra e que a vão conformar: a sul o edifício Maurício Macedo (onde se instalará o Café Rialto) -  conhecido à época pelo “arranha-céus” (dez pisos) - um projecto de Rogério de Azevedo; e a norte o edifício sede do Banco Português do Atlântico segundo um projecto da ARS que abarcará toda a praça.

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fig. 246 – Guilherme Bonfim Barreiros (1894-1973),  Abertura da Praça D. João I. 1940.  AHMP.

Na imagem 33 repare-se na bomba de gasolina no lado esquerdo da foto a que corresponde uma outra semelhante junto ao Rivoli.
No prédio de gaveto entre a Rua do Bonjardim e a Rua Magalhães Lemos, tem no topo um letreiro com a palavra Móveis e na vertical a palavra Nascimento.
(Neste edifício se instalará em 1949 o Café Rivoli)

Entre as várias viaturas estacionadas salienta-se, no primeiro plano à direita, um DKW F8 cabriolet de 1939, com os característicos 4 reforços longitudinais na traseira e óculo pequeno na capota. Tem a matrícula OM-10-52?
fig. 247 – Pormenor da imagem 33. O DKW F8 cabriolet de 1939.

Um DKW idêntico de matrícula holandesa.

fig. 248 – Um DKW F8 cabriolet 1939 de matrícula holandesa.

Ao fundo no Teatro Rivoli está em exibição o filme de animação Pinocchio de Walt Disney de 1938.


fig. 249 – O Cartaz do filme de animação Pinocchio na fachada do Rivoli.

Podemos datar estas fotografias de antes de 1940, porque sabemos que o Teatro Rivoli, que foi inaugurado a 20 de Janeiro de 1932, na fotografia conserva a platibanda onde tem escrito Teatro Rivoli e que só em 1940 - a pedido do arquitecto - se efectuaram as obras que visavam elevar a platibanda e as fachadas laterais “para poder elevar um baixo-relevo decorativo, da autoria de Henrique Moreira, pois nessa altura a Praça D. João I estava a tomar forma e várias casas tinham já sido demolidas”.
E justificava o arquitecto no requerimento à CMP, que a criação da praça do Teatro poria à vista, para quem descesse a Rua Passos Manuel, “as coberturas das diferentes partes do teatro, um efeito que desagrada”.
Nas duas imagens seguintes pode observar-se as alterações então introduzidas.

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fig. 250 – Foto Beleza. Teatro Rivoli. (CLAUDIO 1994/2001).

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fig. 251 –  Foto Beleza. Teatro Rivoli, com  relvo de Henrique Moreira. (CLAUDIO 1994/2001)


O prolongamento da Rua Passos Manuel. A Rua Elísio de Melo e a Praça D. Filipa de Lencastre

No prolongamento da Rua Passos Manuel, mas no lado ocidental da Avenida dos Aliados, a Rua Elísio de Melo estava aberta até à rua do Almada e edificada do lado sul com o edifício do Café Guarany, pelo edifício projectado pelo arquitecto José Emílio da Silva Moreira (1895-?) e pelo edifício de gaveto com a Rua do Almada cujo projecto é da autoria do mestre de obras Joaquim Faria Moreira Ramalhão. (SILVA 2018). 


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fig. 252 – A Rua Elísio de Melo antes da abertura da Praça D. Filipa de Lencastre.

Ao fundo na Rua do Almada 179- 1.º, um painel de publicidade ao Azeite Filtrado Santa Cruz.


fig. 253 - Anúncio do Azeite Santa Cruz na revista Reporter X n.º 85 18 de Março de 1932.

Já estavam iniciadas as demolições, junto da Garagem de O Comércio do Porto, para a abertura da praça a que será dado em 21 de Maio de 1940 o nome de D. Filipa de Lencastre.

Nesta fotografia de Bonfim Barreiros, onde se passeiam, num fim de tarde de inverno, aquelas figuras magrittianas de chapéu e sobretudo, repare-se nas camionetas estacionadas à porta da Garagem do Comércio do Porto pertencentes à carreira que servia a Póvoa do Varzim.

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fig. 254 – Bonfim Barreiros, Obras para a abertura da Praça D. Filipa de Lencastre. AHMP.

Numa outra fotografia de Bonfim Barreiros vemos a Rua Elísio de Melo já desafogada e a Praça já organizada, mas ainda sem estar arborizada. A Praça de D. Filipa de Lencastre serve já para o estacionamento das camionetas de passageiros. Um Morris 12 (ver fig.80) estaciona no centro da praça.

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fig. 255 – Bonfim Barreiros, Praça D. Filipa de Lencastre. 1940.

Nesta outra fotografia colhida um pouco mais tarde (veja-se a inclinação da luz de poente) à direita as demolições para a futura construção do Hotel Infante Sagres projectado por Rogério de Azevedo.
No centro da praça está estacionado um Citroën traction avant e uma Camioneta de passageiros. 

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fig. 256 - Bonfim Barreiros, Praça D. Filipa de Lencastre. 1940.

De regresso à imagem 1

Carro n.º 20 – Um BMW 326 berlina de 4 portas de 1936/39.

fig. 257 – Carro n.º 20.

Ver Carro n.º 11
fig. 258 - BMW 326 berlina de 4 portas de 1937.


Carro n.º 21 – Um Furgão (fourgon) de marca desconhecida.



fig. 259– Carro n.º 21.

Com os pormenores identificativos visíveis como as rodas traseiras cobertas e a janela lateral de forma trapezoidal não foi possível uma identificação.

Mas a presença de um furgão no centro da cidade indica que era já prática corrente a distribuição de mercadorias ser feita através de veículos comerciais motorizados.

Em 22 de Agosto de 1939 uma camioneta fechada substituiu a anacrónica carroça, que na cidade procurava os cães vadios, numa época em que existia o perigo real da propagação da raiva.


fig. 260 – Camioneta da CMP 1939. AHMP.

Outra imagem com viaturas de transporte

Numa outra fotografia de Bonfim Barreiros datada de 1939 – e já mostrada na I Parte - podemos ver a Rua Ramalho Ortigão tendo ao fundo o edifício dos Paços do Concelho com a escadaria da entrada.


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fig. 261 – Bonfim Barreiro, Rua Ramalho Ortigão 1938. AHMP.

Nesta fotografia do AHMP centrada na negra figura feminina que indica e sublinha a verticalidade da torre dos Paços do Concelho, é significativa a presença simultânea de 4 meios de transporte:

1 - Uma carroça puxada por um cavalo estacionada e em que uma criança segura as rédeas, em primeiro plano na Rua Ramalho Ortigão;
2 - Uma outra carroça caminhando no sentido poente-nascente ao fundo junto à escadaria dos Paços do Concelho;
3 - Uma camioneta de passageiros de 1937 de traseira na Rua Ramalho Ortigão;
4 – Um camião Chevrolet 1933 em primeiro plano (com matrícula anterior a 1937: N- 15864).
5 - Um outro camião semelhante ao fundo junto aos Paços do Concelho;


  
fig. 262 – Desenho de um Camião Chevrolet 1933 ao serviço da Câmara Municipal do Porto. 1939. AHMP.

6 - Um automóvel do qual apenas se vê metade da traseira. Com estribo, faróis destacados dos para-lamas, o friso separando a parte superior e inferior e o para choques duplo cortado pela roda suplente parece indicar tratar-se de um Ford da primeira metade dos anos 30.


7 – Um outro automóvel não identificável porque escondido por trás do camião (4).


CONTINUA no 3º episódio



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