domingo, 15 de junho de 2025

A Exposition des Arts Décoratifs et Industriels Modernes Paris 1925 7

 

Nota – Todos estes textos sobre a Exposição das Artes Decorativas 1925 em Paris, são apenas uma leitura sem pretensões “à Vol d’oiseau” (à Lavoisier como dizia o outro!). Por isso, em particular este texto sobre o Pavilhão de “L’Esprit Nouveau” de Le Corbusier, sobre o qual muito já foi escrito, é apenas uma referência ao que há cem anos Le Corbusier pensava e o que significava o pavilhão para os que o visitaram e sobre ele escreveram.

 

O Pavilhão do Esprit Nouveau



fig. 1 - Le Corbusier (Charles-Edouard Jeanneret (1887-1965) e Pierre Jeanneret (18916-1967 (1891-1973). Pavillon de L’Esprit Nouveau). Escultura « Baigneuse », de Jacques Lipchitz. Exposition internationale des arts décoratifs et industriels moderne.

 O Pavilhão de Le Corbusier e de Pierre Jeanneret figurou na Exposição das Artes Decorativas e Industriais como pavilhão da revista “L’Esprit Nouveau” (publicada entre1920 e 1925). [1]



fig. 2 – O N.º 1 de L’Esprit Nouveau. Revue Internationale d’Esthétique, Octobre 1920.

 

A revista “L’Esprit Nouveau” (1920-1925) tinha sido fundada por Le Corbusier (Charles Édouard Jeanneret 1887-1965), que assina Le Corbusier-Saugnier, pelo pintor Amédée Ozenfant (1886-1966) e pelo poeta e crítico literário Paul Dermée (1886–1951)

Neste número 1 de "L’Esprit Nouveau", Le Corbusier colocava a questão da Arquitectura moderna e da Arquitectura decorativa:

“Como adornar a arquitetura com um elegante desprendimento, uma arquitetura resultante do espírito de uma época, quando esse espírito ainda está coberto pelo insuportável refugo de uma época moribunda?” [2]

E ainda

 “A Arquitectura nada tem a ver com os estilos. Os Luís XV, XVI, XIV ou o período gótico estão para a arquitetura como uma pena na cabeça de uma mulher; é por vezes bonito, mas nem sempre o é e nada mais. A arquitetura tem destinos mais sérios; suscetível de sublimidade, toca os instintos mais brutais pela sua objetividade; solicita as mais altas faculdades, pela sua abstração própria. A abstração arquitectónica é particular e magnífica porque, enraizada no facto brutal, ela o espiritualiza, porque o facto brutal não é outra coisa senão a materialização, o símbolo da ideia possível.” [3]

 

E Le Corbusier escreve a tão conhecida frase:

 

“L'architecture est le jeu savant, correct et magnifique des volumes assemblés sous la lumière.”

(“A Arquitetura é o jogo hábil, correto e magnífico dos volumes reunidos sob a luz.”)


Le Corbusier termina o seu texto defendendo a utilização das formas puras.

Os nossos olhos são feitos para ver formas sob a luz; sombras e destaques revelam formas; cubos, cones, esferas, cilindros ou pirâmides são as grandes formas primárias que a luz revela bem; a imagem é clara e tangível para nós, sem ambiguidade. É por isso que são formas belas, as formas mais belas.” [4]

 


fig. 3 – Le Corbusier e Pierre Jeanneret. Pavilhão de « L’Esprit Nouveau » 1925. Fundação Le Corbusier.

 

Nos anos do pós-guerra, Le Corbusier (Charles-Edouard Jeanneret-Gris 1887-1965) era já conhecido como pintor. Em 1919 expõe com Ozenfant e escrevem “Après Le Cubisme”.

Fundam o “Purismo” a que se associam Fernand Léger (1881-1955) e Giorgio Morandi (1890-1964).

A pintura de Le Corbusier (e de Ozenfant) deste período “purista”, consistia essencialmente em naturezas mortas, compostas por objectos de uso quotidiano: copos, pratos, garrafas, livros, e instrumentos de música, etc. com formas que se foram aperfeiçoando e simplificando para favorecer o seu uso e a sua produção.

Valorizam-se as propriedades geométrica dos objectos pelos seus contornos.

Há um princípio de economia das formas em que a mesma curva ou a mesma linha recta podem pertencer a dois diferentes objectos.

As cores utilizadas limitam-se a tonalidades esbatidas e terrosas, ocres e tons de pastel.

 No número 24 de L’Esprit Nouveau Le Corbusier (assinando Jeanneret) e Ozenfant publicam um longo artigo em que procuram fundamentar o Purismo.

 

“O purismo, saído do cubismo, cujas noções gerais aceitava, limitava, contudo, os direitos que dava ao pintor; para alcançar uma arte com vontade universal e voluntariamente purificada de tudo o que é apenas agradável, não se baseava naquelas fraquezas do homem a que chamamos sentimentalismo, sensibilidade, afectação e também sensualidade, licenciosidade, desordem dos sentidos; - procurava ser uma arte que, ao contrário da moda, deve dar origem a manifestações constantes sobre as quais o tempo nada pode fazer. (*)

É na tentativa de distinguir os meios de concretização deste desejo que nos focamos, em primeiro lugar, nos seguintes pontos: Purificação da linguagem plástica. A triagem de formas e cores para criar um teclado de meios expressivos necessários e suficientes (economia, intensidade) teclado com reações bem definidas e o mais universal possível.

Determinação de ideias e sentimentos naturalmente associados às formas e às cores.

Representação ou não representação. Pode a pintura ser pura criação sem qualquer ponto de partida no mundo dos objetos?” [5]

(*) Maurice Raynal

[Maurice Raynal (1884-1954), crítico de arte foi um dos teorizadores do Cubismo.]

 



[1] L’Esprit Nouveau. Revue Internationale d'esthetique (nos 1-3). Paris, Société des Editions de L'Esprit Nouveau, 15 Outubro de 1920. A partir dos n. os 4 a 28, passa a ter como subtítulo, Revue Internationale illustrée de I'activité contemporaine até ao n. º 28 de Janeiro de 1925.

[2] “Comment parer d'architecture avec un détachement élégant, d'architecture résultante de l'esprit d'une époque, au moment où cet esprit est encore recouvert de la défroque insupportable d'une époque mourante ?”. Le Corbusier-Saugnier, trois rappels à MM. Les Architectes. L’Esprit Nouveau revue internationale d’esthétique n.º 1, Octobre Paris. 1920 (pág.91).

[3] “L'architecture n'a rien à voir avec les « styles ». Les Louis XV, XVI, XIV ou le Gothique, sont à l'architecture ce qu'est une plume sur la tête d'une femme ; c'est parfois joli, mais pas toujours et rien de plus. L'architecture a des destinées plus graves ; susceptible de sublimité elle touche les instincts les plus brutaux par son objectivité ; elle sollicite les facultés les plus élevées, par son abstraction même. L'abstraction architecturale a cela de particulier et de magnifique que se racinant dans le fait brutal, elle le spiritualise, parce que le fait brutal n'est pas autre chose que la matérialisation, le symbole de l'idée possible.” Le Corbusier-Saugnier, trois rappels à MM. Les Architectes. L’Esprit Nouveau n. º 1, revue internationale d’esthétique Octobre Paris 1920. (pág.92)

[4] Nos yeux sont faits pour voir les formes sous la lumière ; les ombres et les clairs révèlent les formes ; les cubes, les cônes, les sphères, les cylindres ou les pyramides sont les grandes formes primaires que la lumière révèle bien; l'image nous en est nette et tangible, sans ambiguïté. C'est pour cela que ce sont de belles formes, les plus belles formes.” Le Corbusier-Saugnier, trois rappels à MM. Les Architectes. L’Ésprit Nouveau n.º 1, revue internationale d’esthetique Octobre Paris 1920. (pág.92)

[5] Le Purisme, issu du Cubisme dont il accepte les notions générales a cependant limité les droits qu'il donnait au peintre ; en vue d'atteindre à un art a volonté universelle et volontairement épuré de tout ce qui n'est qu'agrément, il fut basé non pas sur ces faiblesses de l'homme que l'on nomme sensiblerie, afféterie, affectation et encore sensualité, licence, dérèglement des sens ;- il cherche à être un art qui au contraire de la mode doit donner naissance.à des manifestations constantes sur lesquelles le temps ne peut rien. C'est pour tenter de distinguer les moyens permettant de réaliser ce désir que nous nous sommes attachés d'abord aux points suivants : Purification du langage plastique. Le triage des formes et des couleurs en vue de créer un clavier de moyens expressifs nécessaire et suffisants (économie, intensité) clavier à réactions bien définies et aussi universelles que possible. Détermination des idées et des sentiments associés naturellement aux formes et aux couleurs. Représentation ou non représentation. La peinture peut-elle être de pure création sans aucun point de départ dans le monde des objets ? Jeanneret e Ozenfant Idées Personelles L’Esprit Nouveau n. º 27 Novembre 1924. (pág. 84).


A Arquitectura

Sobre a arquitectura Le Corbusier tinha já publicado, diversos textos na revista "L’Esprit Nouveau" os quais constituem a base do incontornável «Vers une Architecture» publicado em 1923 (E reeditado em 1924 e 1925). [1]

Publica "L'Art décoratif d'aujourd'hui" e com Amédée Ozenfant "La Peinture moderne", da colecção L'Esprit Nouveau nas Éditions Crès et Cie Paris.

 E Le Corbusier tinha já alguma experiência de arquitectura, tendo realizado diversos projectos, não realizados.

Em 1922 passa a ter como colaborador o arquitecto, seu primo, Pierre Jeanneret (1896-1967) com quem trabalhará até aos anos 40.

Dos projectos elaborados até 1925 destacamos os que se realizaram.

1 - De 1922/23, a Villa Besnus em Vaucresson.

Georges Denoinville Besnus (1864-1950), crítico de arte, impressionado pelo stand que Le Corbusier tinha apresentado no Salão de Outono de 1922, encomendou-lhe uma vivenda, a Villa Ker-Ka-Ré, também conhecida por Villa Besnus, em Vaucresson.



fig. 4
– Le Corbusier et P. Jeanneret, maquette Villa em Vaucresson 1922. in Architecture Vivante Hiver 1923 (planche 48).

 

Le Corbusier procura desenvolver na prática as suas ideias de arquitectura e o que serão, em 1926 os 5 pontos da arquitectura

“Descobrimos a “planta livre” (o quarto ser banho no meio do piso)

Definimos a forma da janela, o seu módulo (altura proporcionada à escala humana).

(…) “Percebemos que na arquitetura também podemos fazer especulação plástica; pode fazer boas ou más formas plásticas.

Nesta casa intervêm claramente os traçados reguladores.” [2]









fig. 5 – Le Corbusier, Villa Besnus Ker-Ka-Re 1922.Fundação Le Corbusier. FLC.

 

 2 - Em 1922/23, Le Corbusier e P. Jeanneret projectam e edificam, o Atelier d’Artiste Ozenfant na avenue Reille, 14e arrondissement em Paris.



fig. 6  – Le Corbusier e P. Jeanneret. Atelier d’Artiste (Ozenfant) avenue Reile Paris. (Architecture Vivante Printemps 1925. (planche 20).

 Jean Badovici comenta na “Architecture Vivante” a casa-atelier Ozenfant:

“O atelier construído por Le Corbusier e Pierre Jeanneret para Ozenfant é uma das aplicações mais puras das suas teorias. Os artistas conseguiram aproveitar de forma surpreendentemente prática e racional um terreno delimitado em quase todos os lados por muros. (...) nas condições que lhes foram impostas, Le Corbusier e Pierre Jeanneret construíram uma casa para um pintor; A aparência exterior sugere brutalmente a ideia de trabalho: linhas retas, panos onde se abrem grandes janelas salientes, uma shed, evocam a ideia de uma fábrica. Todas as superfícies são concebidas com uma habilidade impecável, o que subordina totalmente a aparência exterior à finalidade do edifício e ao seu interior. Este arranjo interior merece ser estudado cuidadosamente. Todos os elementos compõem uma unidade orgânica que traduz plasticamente a vida interior e as necessidades do artista, e que confere à sua atividade um enquadramento equilibrado e racional. [3]


3 - Em 1924 Le Corbusier projecta para os seus pais, uma pequena habitação, a Villa Le Lac, junto ao lago Léman na Suissa.


fig. 7  – Le Corbusier. Villa le Lac no Lac Léman (maison a Corseaux Suisse),1924 in L’Architecture Vivant automne- hiver 1925. (pág. 39).

 

Jean Badovici comenta a Villa Le Lac 

“Aqui os arquitectos tiveram de construir uma casa agradável e confortável, com 62 m2, num terreno estritamente limitado; tinha de ser construído em harmonia com o esplêndido panorama do lago e das montanhas e de tal modo que, das janelas, a vista abarcasse o horizonte mais vasto possível.

O interior é composto por um vestíbulo de 2 metros quadrados, uma sala de jantar de 5 metros, uma sala de estar de 15 metros, um quarto de 10 metros, uma casa de banho de 4 metros, um roupeiro de 5 metros, uma cozinha de 18 metros,

5 metros, uma lavandaria de 5 metros, w.c. 1 metro, quarto de hóspedes ou pequena sala de estar de 9 metros; divisórias móveis permitem todas as transformações.

O plano é tão racional como o de um vagão-restaurante. À direita do vestíbulo, o serviço; à esquerda, o apartamento de recepção. O complexo é composto por seis vãos de 2,75 m por 4 metros formando uma unidade harmoniosa. A fachada tem uma única janela de 10,75 m de comprimento abrindo-se para o esplêndido panorama do lago; do interior dos quartos existe uma perspectiva de 14 metros de comprimento. A engenhosa disposição dos ambientes, a distribuição inteligente dos volumes, fazem que o interior desta pequena casa pareça enorme. É uma casa prática para duas pessoas que vivem sozinhas e sem empregados, mas que recebem visitas com frequência.

Quanto à construção, é admiravelmente simples; sem complicações desnecessárias; poucas portas e janelas; material único; leveza e conforto com o mínimo gasto e a máxima resistência.” [4]

 

4 - Em construção, mas com diversos problemas e entraves, a Cité Frugés em Pessac Bordéus, para Henry Frugés (1879-1974) onde os arquitectos procuraram criar um conjunto residencial e a utilização da cor no exterior dos edifícios.

 



fig. 8 – Axonometrie des “Quartiers Modernes Frugès » à Bordeaux-Pessac 1925 in Maurice Besset Qui était Le Corbusier ? Éditions d’Art Albert Skira Genève 1968. (pág. 97).

 



[1] Le Corbusier, Vers une Architecture. Colection de L’Esprit Nouveau. Les èditions G. Crès et Cie Paris 1923. Nouvelle édition revue et augmentée 1925.

[2] Le Corbusier e Pierre Jeanneret, Villa Vaucresson in Œuvre Complète 1910-1929. Les Éditions d’Architecture 1929. (pág. 49 e 50).

[3]  L'atelier construit par Le Corbusier et Pierre Jeanneret pour Ozenfant est une des plus pures applications de leurs théories. Les artistes ont su tirer parti d'une manière étonnamment pratique et rationnelle d'un terrain limité de presque tous les côtés par des murs mitoyens. (…) Dans les conditions qui leur étaient ainsi imposées, Le Corbusier et Pierre Jeanneret ont bâti un hôtel pour un artiste peintre ; l'aspect extérieur suggère brutalement l'idée de travail : des lignes droites, des plans où s'ouvrent de larges baies vitrées, un shed, évoquent l'idée d'une usine. Toutes les surfaces sont établies avec une science impeccable qui subordonne d'une manière absolue l'aspect extérieur à la destination de l'immeuble et à sa disposition intérieure. Cette disposition intérieure mérite d'être étudiée attentivement. Tous les éléments comportent une unité organique qui traduit plastiquement la vie intérieure et les besoins de l'artiste, et qui donne à son activité un cadre équilibré et rationnel. Jean Badovici L’Architecture Vivante printemps 1925 (pág. 16)

[4] Ici les architectes avaient à construire une maison agréable et confortable couvrant 62 m2 sur un terrain strictement limité; il fallait la construire en harmonie avec le splendide panorama du lac et des montagnes et de telle manière que, des fenêtres, la vue embrasse le plus large horizon possible. L'intérieur se compose d'un vestibule de 2 mètres carrés, d'une salle à manger de  5 mètres, d'un salon de 15 mètres, d'une chambre à coucher de 10 mètres, d'un cabinet de toilette de 4 mètres, d'une garde-robe de 5 mètres, cuisine de 5 mètres, d'une buanderie de 5 mètres, w.-c. de 1 mètre, chambre d'ami ou petit salon de 9 mètres; des cloisons mobiles permettent toutes les transformations.

Le plan est aussi rationnel que celui d'un wagon-restaurant. A droite du vestibule, le service; à gauche, l'appartement de réception. L'ensemble comporte six travées de 2 m. 75 sur 4 mètres formant une unité harmonieuse. La façade a une fenêtre unique de 10 m. 75 de longueur ouvrant sur le splendide panorama du lac; de l'intérieur des pièces on a une perspective de 14 mètres de longueur. L'ingénieuse disposition des pièces, la savante répartition des volumes font paraître immense l'intérieur de cette petite maison. C'est la maison pratique pour deux personnes seules et sans domesticité, mais recevant fréquemment.

Quant à la construction, elle est admirable de simplicité; nulle complication inutile; peu de portes et de fenêtres; un matériel unique; la légèreté et le confort avec le minimum de dépense et le maximum de solidité. Jean Badovici L’Architecture Vivant automne- hiver 1925 (pág. 30 e 32) 


5 - A Maison La Roche - Jeanneret em Paris.


fig. 9 – Le Corbusier et P. Jeanneret. Hotel particulier, rue Docteur Blanche Paris Architecture Vivante automne-hiver 1926 (pág. 11)

 

Le Corbusier escreve na "Œuvre Complète", cuja publicação se inicia em 1929:

“Estas duas casas, unidas num único bloco, resolvem dois problemas muito diferentes: uma das casas alberga uma família com crianças e tem várias divisões pequenas e todos os serviços necessários ao funcionamento de uma família. A outra casa destina-se a um celibatário, dono de uma coleção de pintura moderna e apaixonado por arte. Esta segund habitação será pois, um pouco como uma promenade architecturale.” [1]

fig. 10 – Le Corbusier. Maison La Roche-Jeanneret. L'Architecture Vivante Automne-Hiver 1926.

 

A Arte Decorativa e a decoração interior da Maison La Roche- Jeanneret 

No n.º 24 da revista “L’Esprit Nouveau” num artigo intitulado a “Arte Decorativa de hoje” (L’Art Décoratif d’ aujourd’hui), - não por acaso ilustrado de fotografias de automóveis e de outros objectos da banalidade quotidiana -  Le Corbusier interroga-se:

“Porquê chamar a estas coisas que actualmente nos preocupam arte decorativa? Este é o paradoxo; porquê chamar cadeiras, garrafas, cestos, sapatos, todos os objetos úteis e ferramentas de arte decorativa? Paradoxo de fazer arte com ferramentas.

Vamos entender-nos.

Eu digo que é um paradoxo fazer arte decorativa com ferramentas.

Fazer arte com ferramentas, se concordarmos com o diccionário Larousse o qual afirma que a ARTE é a aplicação do conhecimento para a realização de um projeto. Então sim.

E aqui estamos nós, a aplicar todo o nosso conhecimento na execução perfeita de uma ferramenta: conhecimento, habilidade, desempenho, economia, precisão, soma de conhecimentos. Boa ferramenta, óptima ferramenta, melhor ferramenta. Eis-nos no fabrico, na indústria; procuramos um standard, estamos longe do caso pessoal, arbitrário, fantasioso, louco; estamos na norma humana e criamos objetos standard.” [2]

 

Assim, nestas duas casas Le Corbusier exemplifica o que entende por “decoração”-

No interior da Maison La Roche projecta móveis e candeeiros, usa as cadeiras Thonet, e pendura quadros puristas para preencher as paredes nuas.


 fig. 11 - Le Corbusier, interior da Maison La Roche-Jeanneret. Fotografia In Hannes Meyer (1889-1954), Die neue Welt 1926.

 

Assim, na parede lateral onde se entrevê uma “Nature morte” de Amedée Ozenfant (1886-1966), está colocado um candeeiro que se irá denominar “La Roche” e "nemo".


fig. 12 - Amedée Ozenfant, Nature morte, flacon de parfum, bouteille et violons, 1924. Col. Particular.


 

fig. 13  -  Le Corbusier. Candeeiro La Roche. Actual.

 

Na parede de frente para o espectador, uma pintura do próprio Le Corbusier, “Nature morte à la pile d’assiettes et au livre” de 1920


 

fig. 14 - Le Corbusier, Nature morte à la pile d’assiettes et au livre 1920.  Óleo s/tela 80,9 x 99,7 cm. Fundação Le Corbusier.

 E ao fundo, completando o conjunto dos pintores do Purismo, um quadro de Fernand Léger (1881-1955).



fig. 15 - Fernand Léger, Nus au fond rouge 1923, óleo s/tela 146,5 x 98 cm. Kunstmuseum Basileia.


Na Maison La Roche-Jeanneret encontramos, ainda, em primeiro plano uma cadeira de braços da firma Gebrüder Thonet, fundada por Michel Thonet (1796-1871) e pelos seus filhos.

Le Corbusier refere a Thonet como: "nada mais elegante, nada melhor concebido, nada mais exacto na sua realização e nada mais útil foi jamais criado.” [3]

 


A cadeira que figura na foto é a cadeira de braços n.º 9 ou B9 (a qual posteriormente foi atribuído o n. º 209 e 210).

 


fig. 16 – Michel Thonet (1796-1871) Cadeira n.º 9.  66 x 53 x 80 cm.  Altura do assento 47 cm.



fig. 17 – A cadeira Thonet assinalada com B9 no catálogo Gebrüder Thonet. Viena.

 

O frequente uso por Le Corbusier desta cadeira, levou a que viesse a ser conhecida com “cadeira Le Corbusier".

 


fig. 18 - Le Corbusier sentado numa cadeira Thonet n.º 9 (n.º209).

 

 Na, adajacente, Maison Jeanneret, projectada entre 1923 e 1925 surgem também as cadeiras Thonet.

 



fig. 19 – Le Corbusier e Pierre Jeanneret, Maison Albert Jeanneret e Loti Raaf 1923/25.  Square du Docteur-Blanche Paris.

 

Ao fundo uma Thonet n.º 14 (a mais conhecida e difundida conhecida por cadeira "bistrot")  e no primeiro plano duas Thonet n.º 9.







fig. 20 – Cadeiras Thonet n.º 14 e n.º 9

Na parede lateral um candeeiro que Le Corbusier irá reduzir as suas dimensões e um outro apelidado de “nemo La Roche” horizontal que ainda hoje se fabrica.

 


fig. 21  – Le Corbusier. Candeeiro “La Roche” ou “Nemo” 1924.

 

Na parede da sala da Maison Jeanneret uma pintura "Nature morte à la pile d’assiettes et au livre" (Natureza morta com pilha de pratos e livro) assinada Jeanneret (Charles-Édouard Jeanneret dito Le Corbusier), do seu período Purista, cujas formas curvas tem algo a ver com as cadeiras Thonet.

 



fig. 22 - Le Corbusier, Nature morte à la pile d’assiettes et au livre 1920.  Óleo s/tela 80,9 x 99,7 cm. Fundação Le Corbusier

 



[1] Ces deux maisons accouplées en un seul massif, réalisent deux problèmes très différents: l'une des maisons abrite une famille avec enfants et comporte quantité de petites pièces et tous les services utiles au mécanisme d'une famille. L'autre maison est destinée a un célibataire, propriétaire d’une collection de peinture moderne et passionné des choses de l'art. Cette seconde maison sera donc un peu comme une promenade architecturale. Le Corbusier et Pierre Jeanneret. Œuvre Complète 1910-1929. Publiée par W. Boesiger et 0. Stonorov Introduction et textes par Le Corbusier. Les éditions d'architecture (pág. 60).

[2] Pourquoi appeler ces choses qui nous occupent présentement : art décoratif ? Voilà le paradoxe ; pourquoi appeler art décoratif des chaises, des bouteilles, des paniers, des chaussures, tous objets utiles, des outils. Paradoxe de faire de l'art avec des outils. Entendons-nous.

Je dis paradoxe de faire de l'art décoratif avec des outils.

Faire de l'art avec des outils, tient, si nous nous rallions au Larousse qui veut que l'ART soit l'application des connaissances à la réalisation d'une conception. Alors oui. Et nous voici appliqués à mettre toutes nos connaissances à l'exécution parfaite d'un outil : savoir, habileté, rendement, économie, précision, somme des connaissances. Bon outil, excellent outil, le meilleur outil. Nous voici dans la fabrication, dans l'industrie ; nous sommes à la recherche d'un standard, nous sommes loin du cas personnel, arbitraire, fantaisiste, loufoque ; nous sommes dans la norme humaine et nous créons des objets-types. [Le Corbusier], L’Art Décoratif d’aujourd’hui in L’Esprit Nouveau n. º 24 Juin 1924. (pág. 83).

[3] Rien de plus élégant, rien de mieux réussi au niveau de la conception, rien de plus exact dans la réalisation et de plus utile n'a jamais été créé. Le Corbusier.

 

O Pavilhão de L’Esprit Nouveau

O Pavilhão de Le Corbusier e Pierre Jeanneret resulta, por isso, de todos estes estudos teóricos e práticos, de pintura, de arquitectura e de urbanismo, e dos edifícios e dos seus interiores até então realizados.

Em 1925 Le Corbusier escreve na revista “Vient de paraître” um artigo em que expõe e justifica a génese do Pavilhão de "L’Esprit Nouveau":

“Tendo de construir um grande pavilhão para materializar as ideias que vínhamos apresentando durante quatro anos na nossa Revista, desenhei um programa arquitectónico, e por consequência um programa anti-arte-decorativa.

O hábito de confrontar sempre o detalhe e o todo, de procurar isolar a célula essencial e verificar como se comporta à medida que se desenvolve e se multiplica, há muito que me ligou à arte decorativa, que está no domínio da afetividade, e ao urbanismo, que é o lugar da aplicação da arquitetura.” [1]

E Le Corbusier relata como elaborou o edifício a partir de três dimensões ou três escalas: a escala da cidade, na parte curva do pavilhão; a escala da casa ou do edifício: a célula que constitui o pavilhão; e no interior os objectos e o mobiliário de uso quotidiano, e as obras de arte.

“O meu programa apresentou-se imediatamente em forma de leque, tendo a arquitetura como objectivo no centro, e nas alas esquerda e direita, os objetos de uso familiar de um lado, e a cidade do outro.

Organizar entre estes dois extremos o facto plástico que nos comove, verificá-lo pela sua colocação entre estes dois pontos e condicioná-lo pelos novos elementos trazidos pela máquina.

O resultado de tudo isto, é claro, é comover-nos, elevar-nos a um sentimento de perfeição, suscitar em nós as forças criativas pelas quais somos levados a pensar, a reflectir, a decidir por nós mesmos e a trabalharmos, para atingir esse nível sólido de felicidade que depende somente da nossa vontade.”  [2]

 

 


.fig. 23 – Le Corbusier et P. Jeanneret. Plantas do Pavillon de " L'Esprit Nouveau " à l'Exposition Internationale des Arts Décoratifs. 1925 in L'Architecture Vivante Hiver MCM XXV. Éditions Albert Morancé (pág.49).

 Para Le Corbusier a arte decorativa está moribunda e será substituída pelos produtos produzido em série, ou por obras de arte modernas.

“A arte decorativa, ao contrário do fenómeno maquinista, é o sobressalto final dos antigos métodos manuais; uma coisa que morre.

A minha ideia tinha como objetivo mostrar algo projectado para a máquina, portanto, projectado para ser produzido em massa.

A casa é uma célula no conjunto da cidade.

A célula é composta por elementos vitais que são a mecânica da casa. Estes elementos podem, por sua vez, ser uma célula puramente organizada, viável, humana, útil para todos e a cada um: standards.

A arte decorativa é anti-standard.

O nosso pavilhão conterá apenas coisas standard criadas pela indústria em fábricas e desenvolvidas em série; na verdade, objetos num estilo de hoje.

As obras de arte com elevado potencial emocional serão pinturas e esculturas de artistas contemporâneos que tão brutalmente, mas tão magnificamente, inventaram a arte da época.

A célula, que é uma casa, permanece semelhante nas suas funções essenciais, quer se situe na cidade ou nos subúrbios, seja o apartamento de uma casa arrendada ou a casa de campo de uma cidade-jardim.

O meu pavilhão será, portanto, uma célula extraída de um grande edifício (tipo Immeubles-villas, Salon d'Automne 1922). E esse mesmo pavilhão, utilizado para demonstrar o habitat de uma grande cidade, será vendido e implantado nos subúrbios como uma cidade.” [3]

Apesar a indiferença e incompreensão perante o projecto de Le Corbusier e Jeanneret houve críticos que salientaram o seu carácter inovador.

 


fig. 24Le Corbusier et P. Jeanneret Pavilhão de L'Esprit Nouveau.  

 

Escreve Jean Badovici na revista L’Architecture Vivant”

“O Pavilhão de L’Esprit Nouveau é a maquette de uma célula do tipo de habitação conhecida por “Immeuble-villa”.

A célula, tal como concebida por Le Corbusier e Jeanneret, é um elemento vivo que pode desenvolver-se e reproduzir-se infinitamente, podendo adaptar-se a todas as situações.


No centro da cidade, tal como em terreno virgem, poderemos, partindo da célula, construir conjuntos coordenados e harmoniosos, respondendo a todas as exigências da vida contemporânea.” [4]


 

fig. 25 – Le Corbusier. Un immeuble de 120 villas superposées.1922. Œuvre Complète (pág. 41). E em  Le Corbusier.  Vers une Architecture (1923) nouvelle édition revue et augmentée 1925. (pág. 209).

 

Também Waldemar George em “L’Amour de l’Art” acentua a modernidade do Pavilhão:

“A Villa do “Esprit Nouveau” é o único edifício de toda a exposição que pode ser qualificado de moderno, ou seja que cumpre a sua missão tanto do ponto de vista prático que do ponto de vista estético…” [5]

 

E na mesma revista, "L’Amour de l’Art", Paul Vitry escreve: “O sr. Le Corbusier-Sangnier, arquitecto do Esprit Nouveau, é também um teórico implacável; utiliza sem piedade formas abstractas e despojadas na “célula” que expõe para os seus grandes blocos de habitação que sonha construir em cimento, não sem engenho na sua distribuição e arranjo prático.” [6]

E Georges Denoinville (1864-1950), em «Jardins et cottages», imagina o Pavilhão a subir os Campos Elísios e a instalar-se num qualquer jardim, mostrando as possibilidades da sua adaptação a qualquer lugar.

“E esta célula de edifícios, erguida isoladamente no Jardim do Grand Palais deveria, se as grandes árvores não o proibissem, partir à meia-noite sobre rodas, subir os Campos Elísios, atravessar o Sena e chegar inteira de madrugada a um jardim suburbano onde se teria demonstrado que os seus órgãos mecânicos eram perfeitamente capazes de satisfazer a existência em "cidades-jardim". [7]

No exterior do Pavilhão a escultura “La Baigneuse” de Jacques Lipchitz que Waldemar George não hesita a considerar que

“No exterior a Baigneuse de Jacques Lipchitz é um dos pontos-chave do pavilhão/manifesto.” [8]



fig. 26 – Jacques Lipchitz, Baigneuse 1925. L’Amour de l’Art Jan/Dez 1925.

 

E na «Architecture Vivante» sobre a escultura de Jacques Lipchitz:

“Jacques Lipchitz: “A luz, para ele, rege todas as formas. As suas primeiras obras não são mais do que um jogo inteligente e harmonioso de raios de luz, difundidos, refractados em arestas, em planos, em cavidades; desenvolve-se uma sinfonia de luz e sombras coloridas. Depois, seguindo uma evolução normal, o escultor utilizou como material, através do qual expressava as suas emoções e a sua visão, essa luz que tinha estudado e traduzido em si e para si; ​​criou esta escultura que expressa numa nova linguagem, de forma sintética e racional, a essência do objeto.”  [9]

Le Corbusier, no interior do Pavilhão colocará ainda outras duas peças de Jacques Lipchitz.

[1] Devant élever un grand pavillon pour matérialiser les ides que nous avions émises depuis quatre ans dans notre Revue, j'ai conçu un programme d'architecture, par conséquent un programme anti-art-décoratif.

Une habitude de toujours confronter le détail et I' ensemble, de rechercher à isoler la cellule essentielle et de mesurer comment elle se comporte en se développant et en se multipliant, m'a depuis longtemps attaché à l'art décoratif qui est du domaine de l'affectivité et à l'urbanisme qui est le lieu d'application de I' architecture. Le Corbusier, Le Pavillon de « L’Esprit Nouveau » à l’Exposition Internationale des Arts Décoratifs in Vient de paraître : revue bibliographique mensuelle et courrier de la vie intellectuelle et artistique. Les Arts Décoratifs Modernes numéro spécial Les èditions G. Crès Paris 1925. (pág. 107).

 [2] Mon programme d'un coup se présentait en éventail, I' architecture au centre étant le but, les ailes gauche et droite étant l'objet d'usage familier d'une part, et la ville d'autre part.

Organiser entre ces deux extrêmes le fait plastique qui nous émeut, le vérifier par son étagement entre ces deux points et le conditionner par les éléments neufs apportés par le machinisme.

Le résultat de tout cela, bien entendu, étant de nous émouvoir, de nous élever dans un sentiment de perfection, de susciter en nous les forces créatrices par lesquelles nous sommes conduits à penser, à réfléchir, à décider nous· mêmes et à travailler de nous-mêmes, a atteindre ce palier solide d'un bonheur dépendant de notre seule volonté.

[3] L 'art décoratif oppose au phénomène machiniste est le soubresaut final des anciens modes manuels ; une chose qui meurt. Ma conception était doné de montrer une chose conçue pour Ià machine, donc conçue pour être réalisée en série.

La maison est une cellule dans I' ensemble de Ia ville.

La cellule est formée d'éléments vitaux qui sont la mécanique de Ia maison. Ces éléments peuvent être chacun à leur tour une cellule purement organisée, viable, humaine, utile a tout le monde et a chacun : standards. ·

L'art décoratif est anti-standard.

Notre pavillon ne contiendra que des choses standards crées par l'industrie dans les usines et mises au point par Ia série ; à vrai dire des objets du style d 'aujourd'hui.

Les œuvres d'art à haut potentiel émotif seront des tableaux et des sculptures des artistes contemporains qui ont si brutalement, mais si magnifiquement invente l'art de l'époque.

La cellule qui est une maison, demeure semblable dans ses fonctions essentielles, qu'elle soit située en ville ou en banlieue, qu'elle soit l'appartement d'une boite á loyer ou le cottage d 'une cité jardin.

Mon pavillon sera donc une cellule extraite d'un vaste immeuble locatif (type immeubles--villas, Salon d'Automne 1922). Et ce même pavillon servant à démontrer I' habitat de grande ville, sera vendu et planté en banlieue comme une villa. 

Le Corbusier Le Pavillon de L'Esprit Nouveau à l'Exposition des Arts Décoratifs. in Vient de paraitre: revue bibliographique mensuelle et courrier de la vie intellectuelle et artistique. Paris 1925. (pág. 107). 

[4] Jean Badovici. L’Architecture Vivant Automne- Hiver 1925. (pág. 33 e 34).

[5]  “la Villa de “L’Esprit Nouveau” est le seul édifice de toute l’exposition qui puisse être qualifié de moderne, c’est-à-dire qui remplisse sa mission tant au point de vue pratique qu’au point de vue esthetique…” Waldemar George Les tendances générales in L’Amour de l'Art n. º 86 Aout 1925 (pág. 287 e 288).

[6] “M. Le Corbusier-Sangnier, architecte de l’Ésprit Nouveau, est aussi un théoricien implacable, il use sans pitié des formes abstraites cl dépouillées dans la « cellule » qu’il expose d’un des grands blocs d’habitation qu’il rêve de construire en ciment, non sans ingéniosité de distribution du reste et d’aménagement pratique.” Paul Vitry L’Amour de l’Art (pág. 12).

[7] Et cette cellule d' immeubles, érigée seule dans le Jardin du Grand Palais devait, si les grands arbres ne nous l'interdisaient, partir un soir à minuit sur des rouleaux, monter les Champs-Elysées, passer la Seine et arriver entière à l'aube dans un jardin de banlieue où il eût été démontré que ses organes de machine étaient parfaitement aptes à satisfaire l'existence en « cités-jardins ».

Georges Denoinville (1864-1950), Jardins et cottages Mai 1926 Édition Edmond Honoré, Paris 1926. (pág. 44).

[8] A l’exterieur la Baigneuse de Lipchitz est l’un des points clés du pavillon-manifeste. Waldemar George, Les Tendances Génerales in L’Amour de l’Art  (pág. 290)

[9] L’Architecture Vivante Automne- Hiver 1925. (pág. 15).



O interior do Pavilhão de L’Esprit Nouveau

Entre o interior da célula e o exterior Le Corbusier cria uma ampla varanda ou terraço, um espaço de transição, aberto e coberto, destinado a um pequeno jardim.




fig. 27 – Le jardin suspendu. Œuvre Complète Skira 1929. (pág. 103).




fig. 28 – Le Corbusier, « Lotissemens fermés à alvéoles ». Le module étriqué des façades actuelles (3,50) est porté à 6 m, conférant à la rue un caractère d'ampleur tout nouveau.1922. Œuvre Complète (pág. 42). E em Le Corbusier. Vers une Architecture (1923) nouvelle édition revue et augmentée 1925.  (pág. 206).

 

Na “decoração” interior, com a experiência da Maison La Roche-Jeanneret, Le Corbusier irá utilizar móveis produzidos industrialmente como as cadeiras Thonet, e desenhar ainda alguns armários que servem para definir espaços, fazendo parte da arquitectura. E coloca esculturas de Jacques Lipchitz e nas paredes pinturas de Fernand Léger e dele próprio.



fig. 29 – O interior do pavilhão de L’Esprit Nouveau. Musée des Arts Décoratifs Paris.



E em outra fotografia do interior do Pavilhâo.


fig. 30 - Le Corbusier, Pavillon de l’Esprit Nouveau 1925. Fondation Le Corbusier. FLC.



fig. 31 – Planta do rés-do-chão do pavilhão.

 

Escreve Georges Remon:

“É bem longe das galerias e do centro da Exposição que se deve procurar o mais moderno dos conjuntos de mobiliário, por mim é no Pavilhão de L’Esprit Nouveau, que se esconde modestamente à sombra do Grand Palais. O nome Jeanneret é já muito conhecido e o seu último livro sobre a Arte Decorativa foi demasiado lido para que fiquemos surpreendidos com o que nos apresenta. É exactamente o que esperávamos.

Nudez completa com paredes caiadas, alguns volumes e superfícies formando bibliotecas.

As mesas volantes são feitas de chapas de metal esmaltadas e niqueladas, podendo ser dobradas conforme desejado, com assentos em couro ou madeira e cana.

Jeanneret foi claramente inspirado pelos móveis das cabines utilizados nos navios transatlânticos. Ele levou essa lógica e esse rigor ao limite.

E prossegue

Esta nudez pode parecer-nos um pouco seca, mas é necessária para qualquer movimento que esteja a ganhar forma. Sempre que surge uma nova forma ou material, é necessário mostrar-se na sua bela e perfeita nudez. Só quando vai envelhecendo é que os homens a mascaram com enfeites. No entanto, é de esperar que, por mais atraente que seja a fórmula de Jeanneret, ele não despreze a flexibilidade dos tecidos e a sumptuosidade das peles. 

Concluindo

Não têm, como sugerem as mentes mais avançadas, arquitectos que amam a simplicidade absoluta, como os irmãos Perret ou Le Corbusier-Sauguier, jurado a morte aos móveis cujas formas mudam, mas não o seu uso, e que consideram na sua maioria inúteis ou pesados.

Pelo contrário, tentaram respeitar a nossa ideia de um interior confortável e sumptuoso e trataram todas as peças de mobiliário – mesas, aparadores, camas, pequenos móveis – como se fossem tantos problemas que excitam a sua imaginação e o seu sentido de um belo desenho.” [1]

 



[1] C’est bien loin des galeries et du centre de l’Exposition qu’il faut aller chercher le plus moderne des ensembles mobiliers, je veux dire au Pavillon de l’Esprit Nouveau qui se dissimule modestement à l’ombre du Grand Palais. Le nom de Jeanneret est trop connu et son dernier livre sur l’Art Décoratif a été trop lu pour que nous soyons surpris par ce qu’il nous présente. C'est simplement ce que nous attendions.

Une complète nudité aux murs passés à la chaux, quelques volumes et surfaces formant bibliothèques.

Les tables volantes sont en tôle émaillée et nickel, le tout se pliant à volonté, les sièges en cuir ou en bois et cannage.

Jeanneret s’est visiblement inspiré des meubles des cabines utilisées sur les transatlantiques. Il a poussé la logique et le rigorisme à l’extrême.

Cette nudité nous paraît peut-être un peu sèche, mais elle est nécessaire a tout mouvement qui se dessine. Chaque fois qu’une forme ou une matière nouvelle apparaît, il faut se montrer dans sa belle et parfaite nudité. C’est seulement au fur et à mesure qu’elle vieillit que les hommes l’ensevelissent sous les ornements. Il faut pourtant espérer, si séduisante que soit la formule de Jeanneret, que pour un ameublement citadin il ne dédaignera pas la souplesse des étoffes et la  somptuosité des fourrures.

Ils n’ont pas, comme le leur suggèrent les esprits les plus avancés, le architectes épris de simplicité absolue, tels les frères perret ou le Corbusier-Sauguier, juré male mort aux meubles dont les formes se modifient mais non pas l’usage, et qu’ils estiment pour la plupart inutiles ou encombrants.

Ils se sont au contraire efforcés de respecter l’idée que nous faisons d’un intérieur confortable et somptueux et ont traité toutes les pièces du mobilier – tables, buffets, lits, petit meubles – comme autant de problèmes propes à exciter leur imagination et leur sens du beau modèle. G. Remon Le Meuble à  l'Expotision des Arts Décoratifs in  l’Art Vivant n. º 18 du 15 Septembre 1925 (pág. 19 e 20).




Os elementos da decoração

 

1 - Jacques Lipchitz Marin à la Guitarre

2 – Fernand Léger Le Baluster

3 – Jeanneret (Le Corbusier) Nature Morte

4 – Cadeiras Thonet n. º 9

5 - Jacques Lipchitz Figure à la Guitarre

6 – Armários

7 – Mesa

8 - Poltronas

 

1


 

fig. 33 - Jacques Lipchitz, Marin à la Guitarre 1917. Pedra 90 x 38 x 34 cm. pedestal 20 x 70 x 30 cm. Centre Pompidou Paris. 

2

Interessante que Le Corbusier tenha escolhido a pintura de um balaústre, elemento de arquitectura, para colocar na parede.


 

fig. 34 – Fernand Léger (1881-1955), Balaústre, óleo s/tela 129,5 x 97,2 cm. MoMA.

 

3



fig. 35 – Jeanneret (Le Corbusier), Nature Morte óleo s/tela 81 x 1000 cm. Fondation Le Corbusier Paris.





fig. 36 – A pintura em L'Esprit Nouveau n. º 24, Juin 1924, assinada Jeanneret. (pág. 80).

 As duas pinturas. Uma “Natureza Morta” de Le Corbusier (ainda assinada Jeanneret) do seu período Purista (publicada na L’Esprit Nouveau n.º 27) e “O Balaústre” de Fernand Léger então associado ao Purismo.

4




fig. 37 - Thonet Cadeira n.º 9 66 x 53 x 80 cm.  Altura do assento 47 cm. dita « Le Corbusier »

 

5

 Jacques Lipchitz « Figure à la Guitarre »

 


fig. 38 –Jacques Lipchitz, Figure à la Guitarre 1925 Gesso patinado 93,8 x 37 x 38 cm. Museu Reina Sofia Madrid.


fig. 39 – Jacques Lipchitz, Esquisse de Jacques Lipchitz in L’Esprit Nouveu n,º 28 Janeiro 1925. (pág.61).

 

 

6

 Armários

 Le Corbusier coloca três conjuntos de armários para organizar o espaço.


fig. 40 – Le Corbusier, Pavillon de L’Esprit Nouveau.

Na fotografia em primeiro plano um conjunto de 7 módulos, assente em pilotis.

fig. 41 – Armário sobre “pilotis” permitindo a limpeza, com nichos para colocar e enquadrar objectos e baixos para uma visão completa do espaço. Pormenor da fig. 29.


 Em segundo plano um outro armário de 4 módulos também assente em “pilotis”.

Ao fundo um terceiro móvel com três módulos.


 
fig. 42 - Le Corbusier, O interior do Pavillon de L’Esprit Nouveau.


7

Mesa

Desenhada em 1925 para a Maison La Roche, esta mesa com tampo de madeira, e pés em tubo cromado.

 


fig. 43 -  Mesa La Roche 1925. Pavilhão de L’Esprit Nouveau. Pormenor da fig. 29.

8 –

Poltronas 

 Nos anos seguintes Le Corbusier com Charlotte Perriand (1903-1999), irá desenhar as poltronas e o sofá LC2 e a conhecida chaise-longue.

 

 fig. 44 – Poltrona forrada a couro. Pavilhão de L’Esprit Nouveau. Pormenor da fig. 29.


 O anexo do urbanismo e a cidade

Em 1925 Le Corbusier publica Urbanisme

Sobre o Urbanismo Le Corbusier e Pierre Jeanneret, junto à célula de habitação constroem um “anexo redondo”, um espaço destinado ao Urbanismo e -  à cidade.

fig. 45 – Le Corbusier e Pierre Jeanneret. Anexo ao Pavilhão de L’Esprit Nouveau. Plantas do r/c e 1º piso.

 

Escreve Le Corbusier:

“um anexo, em redondo, conterá vastos estudos de urbanização: dois grandes dioramas de 100 m2; um, da Ville Contemporaine de 3 millions d’habitants (cidade contemporânea de 3 milhões de habitantes) de 1922; o outro, o Plan Voisin de Paris, que propõe a criação de um centro de negócios (cité d’affaires) no centro de Paris. Nas paredes de estudos aprofundados, de arranha-céus, loteamentos à redents, alvéolos e uma série de novos tipos de arquitetura que são a consequência fatal de visões viradas para o futuro.” [1]

 

 


fig. 46  -  Le Corbusier, Le Stand d’urbanisme du Pavillon de L’Esprit Nouveau à l’Exposition des Arts Décoratifs à Paris. Au fond le « Plan Voisin »et les études de circulation, de lotissemens, d’imeubles nouveau, etc. À droite le Diorama d’une Ville contemporaine de 3 millions d’habitants. À gauche, le Diorama du « Plan Voisin » de Paris (peintures de 80 m2 et de 60 m2). Œuvre Complète 1910-1929. Les Éditions d’Architecture 1929. (pág. 108).

  

A Ville Contemporaine de 3 millions d’habitans

Como Le Corbusier apresentou e apresenta o projecto da "Ville Contemporaine":

“Elaborei, através de uma análise técnica e de uma síntese arquitectónica, o plano de uma cidade contemporânea de três milhões de habitantes. Esta obra foi exposta em Novembro de 1922 no Salão de Outono em Paris. Saudou-o uma estupefação: a surpresa deu lugar à raiva ou ao entusiasmo. Foi feito de forma grosseira. Havia falta de comentários e cada uma das plantas não eram legíveis. Eu devia ter estado presente para responder às questões essenciais que tinham a sua razão na sua profundidade. Estas questões têm um interesse vital e não podem ficar sem resposta. Ao escrever este estudo com a intenção de apresentar os novos princípios de planeamento urbano, decidi responder em primeiro lugar a estas questões essenciais. Utilizei dois tipos de argumentos: em primeiro lugar, os que são essencialmente humanos, os padrões da mente, os padrões do coração, a fisiologia das sensações (das nossas sensações, para nós, homens); depois os de história e estatística. Eu estava a tocar nas bases humanas, eu tratava do meio onde decorrem as nossas acções..

Creio que assim conduzi o meu leitor por etapas nas quais foi adquirindo algumas certezas. Pude então, aipo desdobrar os planos que vou apresentar, ter a tranquilidade de admitir que o seu espanto não será mais estupefação, que os seus receios não serão nunca de desânimo. [2]

 


fig. 47  – Une Ville contemporaine. « La Cité » vue de l’autostrade de « grand traversée ». A gauche et à droite, les places des Sérvices Publics. Plus au fond, les musées et universités. On voit l’ensemble des gratte-ciels baigné de lumière et d’air. Œuvre Complète (pág. 36


 


fig. 48 – Plan de la Ville de 3 millions d’habitants. Œuvre Complète (pág. 39)

 

O Plan Voisin

O plano de la Ville Contemporaine de 3 millions d’habitants em 1925 foi reformulado para Exposition Internationale des Arts Decoratifs et Industriels, com o nome de Plan Voisin (do nome do patriocinador Gabriel Voisin (1880-1973).

 



fig. 49 – Le Corbusier, Plan Voisin 1925. Fondation Le Corbusier.

 “…para responder aos apressados ​​que se afastam das construções puras e teóricas, um grande estudo do "Centro de Paris" será a materialização do que se procurou nos estudos anteriores.

Este plano de Paris será designado por "Plan Voisin de Paris", essa Casa famosa pelo seu magnífico esforço industrial, tendo respondido ao dilema que lhe havíamos proposto: "O automóvel matou a grande cidade.

O automóvel deve salvar a grande cidade. Quer fornecer a Paris um Plano Voisin, um plano que não tem outro propósito senão o de chamar a atenção do público para o verdadeiro problema da

nossa época, que não é a arte decorativa, mas a arquitectura e o planeamento urbano, a constituição saudável do alojamento respondendo às condições de vida tão profundamente modificadas pela máquina.”  [3]



fig. 50 – Le Corbusier. “Plan Voisin” de Paris. Le Centre de la Ville. Œuvre Complète 1910-1929. Les Éditions d’Architecture 1929. (pág. 115).




fig. 51 – Le Corbusier, 1925. Croquis du Centre de Paris. Œuvre Complète 1910-1929. Les Éditions d’Architecture 1929. (pág. 108).

 

 


fig. 52  – Le Corbusier. Plan Voisin de Paris exposé au Pavillon de l’Esprit Nouveau à l’Exposition Internationale des Arts Décoratifs.in Œuvre Complète 1910-1929. Les Éditions d’Architecture 1929. (pág. 111).

 Esta imagem tem a seguinte legenda, provavelmente para responder às críticas de destruição de Paris formuladas sobre a “Ville contemporaine”.

“O plano mostra a reinstalação do centro verdadeiro de Paris (quadrilátero à direita) no eixo do Boulevard Sebastopol. Destruição de inúmeras barracas. Financiamento do negócio através da valorização do solo (3.200 habitantes por hectare, em vez de 600). O lado direito sugere um método de limpeza gradual dos bairros antigos. Todos os edifícios antigos são preservados.

O passado histórico de Paris (da Étoile ao Hôtel de Ville) está fora do plano.”  [4]








Para se entender como estes planos de Le Corbusier tiveram influência nas preocupações dos urbanistas e dos que se preocupavam com a cidade, é publicado em 20 de Maio de 1929 no jornal “L’Intransigeant” na página das Artes, e intitulado “L’avis de l’architecte…la rue”, com um desenho da “Ville Contemporaine à 3 millions d’habitants” de 1922, um artigo de Le Corbusier sobre a Rua, que ele irá reproduzir no 1º volume da Obra Completa (1910-1929).



fig. 53 - Projet de rue moderne par Le Corbusier. L’Intrasigeant de 20 de Maio de 1929. (pág.4).


Le Corbusier começa por criticar a rua existente.

 “Uma calçada, na maioria das vezes, passeios estreitos ou largos. A pique até cima, erguem-se as paredes das casas: a silhueta sob o céu é um bizarro rasgo de lucarnas, claraboias e canos de metal. A rua é o bas-fond desta aventura; ela está numa eterna penumbra. O azul é uma esperança distante, lá no alto. A rua é uma sarjeta, uma fenda profunda, um corredor estreito. Tocamos as suas duas paredes com os dois cotovelos do coração; o coração está sempre oprimido por ela, embora isto dure há mil anos.”

 Le Corbusier propõe de seguida um imaginário passeio pela nova rua do seu Plano. 

“Gostaria de pintar um retrato da rua contemporânea. Leitores, tentem caminhar por esta nova cidade e aproveitem os benefícios desta iniciativa não académica. Eis que estareis sob as árvores; relvados vos rodeiam, a imensas distâncias verdes ao vosso redor. Um ar limpo, quase sem ruído. Já não se vê nenhuma casa! Como assim? Através dos ramos das árvores. Através da encantadora treliça arabesca dos ramos, é possível ver no céu, a grandes distâncias umas das outras, gigantescas massas de cristal, mais altas do que qualquer edifício no mundo. Cristal que brilha no azul, que brilha nos céus cinzentos do inverno, que parece flutuar no ar em vez de pesar no chão, que é uma faísca à noite, magia elétrica.”

E Le Corbusier termina concluindo:

“A rua não existirá mais.

E do mesmo modo para as zonas residenciais, a rua-corredor deixou de ser a solução.” [5]


fig. 54  – Le Corbusier. Diorama du “Plan Voisin” de Paris. À gauche Le Louvre, au fond le Sacré- Cœur.  Œuvre Complète 1910-1929. Les Éditions d’Architecture 1929. (pág. 114).

 



[1] une annexe, rotonde, contiendra de vastes études d'urbanisation : deux grands dioramas de 100 m2 ; l’un, celui de la Ville contemporaine de 3 millions d'habitants de 1922 ; l'autre, celui du Plan Voisin de Paris proposant la criation d'une cité d'affaires au centre de Paris. Aux murs des études approfondies, de gratte-ciel, de lotisscmcnts à redents, d’alvéoles, et de quantité de types nouveaux d'architeclurc qui sont la conséquence fatale de vues orientées vers l'avenir. Le Corbusier in Œuvre Complète 1910-1929. Les Éditions d’Architecture 1929. (pág. 98).

[2] J'ai dressé par le moyen de l'analyse technique et de la synthase architectural le plan d'une ville contemporaine de trois millions d 'habitants. Ce travail fut exposé en Novembre 1922 au Salon d'Automne à Paris. Une stupeur l'accueillit : la surprise conduisit à la colère ou à l'enthousiasme. C’était cruement fait. Il manquait de commentaires et les plans ne se lisent pas par chacun. J'aurais du être présent pour répondre aux questions essentielles qui prenaient leur raison dans le fond même de l'être. De telles questions offrent un intérêt capital, elles ne sauraient demeurer sans réponse. Ecrivant cette étude destinée à la présentation de principes neufs d'urbanisme, je me suis mis résolument a répondre tout d'abord à ces questions essentielles. J'ai usé de deux ordres d 'arguments : d'abord de ceux essentiellement humains, standarts de l'esprit, standarts du cœur, physiologie des sensations (de nos sensations, à nous, hommes) ; puis de ceux de l'histoire et de la statistique. Je touchais aux bases humaines, je possédais le milieu où se déroulent nos actes.

Je pense avoir ainsi conduit mon lecteur par des étapes où il s'est approvisionné de quelques certitudes. Je puis alors en déroulant les plans que je vais présenter, avoir la quiétude d'admettre que son étonnement ne sera plus de la stupéfaction, que ses craintes ne seront plus du désarroi. Le Corbusier, Une Page d’un Bulletin écrit par Le Corbusier in Œuvre Complète 1910-1929. Les Éditions d’Architecture 1929. (pág. 34).

[3] … pour répondre aux gens pressés qui se détournent des constructions pures et théoriques, une grande étude du « Centre de Paris » sera la materialisation du jeu joué dans les études précédentes.

Ce plan de Paris sera baptisé « Le Plan Voisin de Paris », cette rnaison célèbre pour son magnifique effort industriel, ayant répondu au dilemme que nous lui avions pose : « L'Automobile a tué la grande ville.

 L'Automobile doit sauver Ia grande ville. Voulez-vous doter Paris d'un Plan Voisin de Paris, d'un plan n 'ayant pas d 'autre objet que celui de fixer I'attention du public sur le véritable problème de

I'époque qui n'est pas l'art décoratif, mais !'architecture et l'urbanisme, Ia constitution saine du gîte répondant à des conditions de vie si profondément modifiées par le machinisme.” Le Corbusier Le Pavillon de L’Esprit Nouveau in Vient de paraître (pág.108)

[4] Le plan montre Ia réinstallation au centre vrai de Paris (quadrilatère de droite) sur l'axe du boulevard Sébastopol. Destruction des taudis innombrables. Financement de l'affaire par valorisation du sol (3200 habitants à l’ha, au lieu de 600). La partie de droite suggère une méthode d'épuration progressive des vieux quartiers. Tous les édifices anciens sont conservés

Le passé historique de Paris (de l’Étoile à l’Hôtel de Ville) est en dehors du plan. Œuvre Complète 1910-1929. Les Éditions d’Architecture 1929. (pág. 111).

[5] Une chaussée, Ia plupart du temps, des trottoirs étroits ou larges. A pic au-dessus, des murailles de maisons: Ia silhouette sous le ciel est une déchirure saugrenue de lucarnes, de mitrons, de tuyaux de tôle. La rue est au bas-fond de cette aventure; elle est dans une pénombre éternelle. L'azur est un espoir très loin, très haut. La rue est une rigole, une fissure profonde, un couloir resserré. On touche à ses deux murs des deux coudes du cœur; le cœur en est toujours oppressé bien que cela dure depuis mille ans.

Je voudrais faire le portrait de la rue contemporaine. Lecteurs, essayez de marcher dans cette ville neuve et laissez-vous aller aux bien faits d'initiative non académique Voici : Vous serez sous des arbres; des pelouses vous entourent d'immenses distances verdoyantes tout autour de vous. Un air sain, presque pas de bruit. Vous ne voyez plus de maisons ! Comment donc ? A travers les ramures des arbres. A travers la résille arabesquée et si charmante des ramures, vous apercevez dans le ciel, a de très grandes distances les unes des autres, des masses de cristal, gigantesques, plus hautes que n'importe quel édifice du monde. Du cristal qui miroite dans l'azur, qui luit dans les ciels gris de l'hiver, qui semble plutôt flotter dans l'air qu'il ne pèse sur le sol, qui est un étincellement le soir, magie électrique.

La rue n'existera plus.

Et aussi pour les quartiers de résidence, d'habitation, la rue-fissure à cessé d'être la solution.    

Le Corbusier, L’Intrasigeant de 20 de Maio de 1929. (pág.4).


CONTINUA