A rua Sá da Bandeira
numa foto de Alvão de cerca de 1924.
A fotografia de
Domingos Alvão mostra um trecho da rua de Sá da Bandeira no princípio de uma
tarde solarenga.
Sabemos que a Casa Hortícola, que espreita no lado esquerdo
da fotografia, se instalou a 1 de Agosto de 1922 no torreão sudeste do Mercado
do Bolhão, na esquina da rua Sá da Bandeira com a rua Formosa, onde (felizmente)
ainda se encontra.
Subindo a rua pelo lado esquerdo vai um camião de caixa aberta
com dois homens sentados, seguido de uma viatura de marca desconhecida com a
matrícula N – ?233 (tipo de matrícula anterior a 1937).
Poderá ser pela forma linear do para-choques traseiro um
Minerva os quais haviam sido expostos no salão de 1924 no Porto e do qual
existe um exemplar no Museu do Caramulo.
fig. 1 – Domingos Alvão (1872-1946). Foto 69 in A Cidade
do Porto na Obra do Fotografo Alvão 1872-1946.
Textos de Fernando Távora e
Joaquim Vieira. Edição da Fotografia Alvão Porto 1984.
A foto
mostra ainda o quarteirão entre a rua Formosa e a travessa de Sá da Bandeira
ocupado por três edifícios.
Os dois
edifícios a norte estão ocupados pela Singer (Singer Sewing Machine Company).
Fundada em 1851 como I. M. Singer & Co., mudou o nome para
Singer
Manufacturing Company em 1865, e desde 1963 para Singer Company.
fig. 2 – Pormenor da fig. anterior.
1 - O edifício de
um só piso foi projectado por António
Faria Moreira Ramalhão (1865-1953) em 1902.
Por cima das portas tem
escrito “MACHINAS SINGER” com a
grafia anterior à polémica reforma ortográfica de 1911. (É nesta ocasião, no fervor do regime republicano, que se propõe
a substituição do “CH” por “QU”. (“Relatório
da Comissão nomeada por portaría de Fevereiro de 1911, para fixar as bases da
ortografia que deve ser adoptada nas escolas e nos documentos oficiais e outra
publicações feitas por conta do Estado” de 23 Agosto 1911 publicado no Diário do Governo n.º 213 de Terça
Feira 12 de Setembro de 1911.)
fig. 3 –
António Ramalhão projecto para a Singer 1902. AHMP.
A fachada da rua Sá da
Bandeira então projectada foi alterada passando a um só piso, e 6 aberturas
idênticas em que a 3ª a contar do Norte é a porta de entrada. A inscrição “Machinas Singer” passou para o lintel
como se vê nas fotos nº 1 e 2.
2 – Uma anterior fotografia do mesmo local mostra a fachada para a rua Formosa
do edifício de gaveto, com de rés do chão e três pisos, e apresentando do lado
da rua Sá da Bandeira, correspondendo aos dois últimos pisos, uma fachada cega,
onde se inseria a publicidade da Singer em largos dizeres rodeando um grande
cartaz.
No rés-do-chão o mesmo
cartaz nas janelas e intercalado “Máchinas
Singer para Coser”.
Na rua Formosa o
eléctrico verde com o n.º 109 escrito a branco da Carris.
fig. 4 –
Fotografia 90 x 120 cm. da esquina da rua Sá da Bandeira com a rua Formosa em 191?.
Arquivo Helder Pacheco, AHMP.
A publicidade na fachada da rua Sá da Bandeira
No alto a toda a largura da fachada:
“MACHINAS DE COSTURA / Companhia Fabril SINGER
Ladeando o cartaz no
lado esquerdo (norte) está escrito:
Exposição de machinas / SINGER para todas as / industrias de trabalhos / artísticos que executam
Sucursaes em todas as / \Capitaes de Districtos”
No lado direito (sul) do
cartaz:
“As Machinas SINGER / São as mais apreciadas / E conhecidas em todos / Os mercados do mundo / São as que teem obtido / Os primeiros prémios / Em todas as exposições / Peça os Catálogos ilustrados”
O cartaz da SINGER
O popular cartaz da Singer com o "S"
a vermelho surgiu em 1870 com uma sorridente figura feminina trajando à época e
usando a máquina de costura. Na parte inferior um medalhão com “THE SINGER MANFG. CO. Trade Mark”. O cartaz em metal foi
produzido pela F. Francis &
Sons, companhia
fundada em Londres em 1860.
fig. 5 – O cartaz da F. Francis & Sons L.to
London. SE.
Este cartaz esteve em uso desde o final
do século XIX até aos anos vinte do século seguinte.
Foram, entretanto, produzidos outros
cartazes semelhantes em que apenas, conforme o país ou local e a época, foi
mudando a figura feminina.
Na fachada da loja da rua de Sá da
Bandeira do Porto o cartaz (possivelmente em metal pela sua duração) é uma
adaptação para Portugal deste cartaz, apresentando aquela mesma figura feminina
usando um laço ao pescoço e tendo escrito em português “MACHINAS SINGER PARA
COSER” ao longo do “S”.
A Singer nas primeiras décadas do século XX para publicitar a sua máquina de costura - uma das primeiras mecanizações de uma actividade artesanal e doméstica - criou então, por toda a parte e em Portugal também, escolas de
bordados para promover o uso (e a venda) das suas máquinas de costura.
Por isso, nas duas escolas portuguesas que encontrei, Mafra e Vinhais,
figura o mesmo cartaz da fachada
da Singer na rua de Sá da Bandeira.
Em Mafra numa fotografia do Arquivo Municipal repare-se o cartaz na parede do fundo.
fig.
6 – Fotografia Reprodução. “CURSO “SINGER” Ensino de bordados e aplicação de acessórios MAFRA”. 10,1x15,1 cm. Arquivo Municipal de Mafra.
E em Vinhais, no
excelente blogue VELHARIAS, num texto de 6 de Setembro de 2022, intitulado “As máquinas de costura Singer: apontamentos
de alguma memórias familiares” o autor do blogue afirma que a fotografia
apresentada, situada pelos anos 20 do século passado, mostra uma escola de
costura de um familiar do autor do blogue o qual destaca a importância e o
valor das máquinas de costuras nas primeiras décadas do século XX. https://velhariasdoluis.blogspot.com/2022/09/
Como em Mafra na
parede do fundo o antigo cartaz, que tem na parte superior a indicação de “A PRESTAÇÔES SEMANAES” que, como afirma
o autor do blogue Velharias, mostra o valor monetário da máquina de costura, e sobre
o “S” de Singer tem escrito “MACHINAS
SINGER PARA COSER”, semelhante ao cartaz da fotografia de Alvão.
fig. 7 – Postal do blogue Velharias “de um curso
das máquinas de costura Singer, que provavelmente decorreu em Vinhais.”
fig. 8 – Cartaz da Singer da fotografia anterior
O novo edifício SINGER (1938/1941)
Uma
fotografia dos anos 30 mostra a rua Sá da Bandeira vendo-se ao fundo o mercado
do Bolhão com a Casa Hortícola, o edifício da SINGER já com nova publicidade e
os edifícios existentes até à rua Passos Manuel.
Na
esquina a sede do Banco Mutuário fundado em 1884, mas que aqui se instalou em
1915 até à sua extinção em 1933.
fig. 9 – A rua Sá da Bandeira nos anos 30. A.H.M.P.
Em 1938 a firma Sewing Machine Company requer à CMP a
demolição das suas instalações, apresentando um poderoso e moderno projecto de Artur
de Almeida Júnior ocupando todo o terreno entre as ruas Formosa e a travessa de
Sá da Bandeira.
fig. 10 - Artur de Almeida Júnior (1903-?). Projecto para
o edificio Singer 1938. AHMP. No processo de 1938 figuram duas (desfocadas)
fotografias, mas que permitem ver que entre 1922 e 1928 o antigo cartaz da
fachada foi substituído por um fundo oval com a palavra SINGER.
fig. 11 – fotografia figurando no processo de 1938.
fig. 12 – Foto do processo de licenciamento requerido
pela Singer em 1938.
O moderno edifício
será licenciado em 1939 e concluído em Julho de 1941.
fig. 13 – Postal publicitário: Porto- edifício “Singer”. c.1941.
CONTINUA em
O mesmo cartaz da Singer em outras duas fotografias
de Alvão