quarta-feira, 9 de outubro de 2024

poemas recuperados 33

 


John Martin (1789-1854), The great day of His wrath. 1851/53, óleos/tela 196,5 x 303,2 cm. Tate Gallery Londres

 

sem arte nem grandezas


Acordo a vaguear em pavorosos e pesados pesadelos

por corredores sinistros de esquecidos palácios velhos

onde nas poças, aromas e destroços rolam em novelos,

criando viscosos lodos que tornam imundos os cabelos.

 

De todo o lado cai a chuva de nuvens negras e raivosas

troam muito maldosamente lívidas tormentas pelos ares

estalam em fúria tufões e ventanias inquietas revoltosas

em funestos longes urram horrendamente roucos mares.

 

Soltam-se em pavor as assustadoras refregas e rajadas

como facas irrompem garras e afiando aguçados dentes

das cruéis e ferozes feras que selvagemente acordadas

no violento vento que cuspido vai secando as nascentes.

 

Estão ateados os incêndios em venenosas roxas brasas

as suas cinzas agitam nos ares redemoinhos que ardem 

amontoando negros pedaços das velhas confusas casas

que arruinadas espalham caos em redundante desordem.

 

A tempestade ergue negras pedras agrestes enfurecidas

duros e maduros rochedos se estilhaçam despedaçados

ávidos sopros vão rasgando o linho de velas esquecidas,

espalhando no mar farrapos maléficos e esfrangalhados.

 

Tudo faz com que o estremecer de medo e terror pareça

esse pântano viscoso de pavor sem arte e sem grandeza

as incessantes ânsias e raivosas tempestades na cabeça

se confundam com os loucos e mortais gritos da natureza.

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