terça-feira, 30 de janeiro de 2024

poemas recuperados 6

 

Pablo Picasso (1881-1973).  “Pomba da Paz”, 28. 12. 61. litografia s/papel 48 x 60 cm. coleção particular.


tudo se acaba em versos em quase nada

 

A floresta iluminada suaviza a sombra

no rumor distante do declinar da tarde.

Só o brando murmúrio daquela pomba

me eleva o quotidiano até à eternidade.

 

Vagueio com esse outro eu, um inimigo

a quem desafio neste tempo tão incerto.

Tropeço caindo em mim como o castigo

de longe ir buscar o que se abriga perto.

 

Desse diálogo comigo, sempre consigo,

na seara da alma descobrir algo perdido

aquele meu outro eu que foi um inimigo

com quem me batia em combate antigo.

 

Travei com esse avesso lutas esquecidas

de onde restaram ruínas, terra queimada

por fim já cansados lambendo as feridas

tudo se acaba em versos em quase nada.

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