Tiziano Vecelli (1490-1576) Sisyphus 1548/49 óleo s/ tela 237 x 216 cm. Museu do Prado Madrid.
fúria revoltada que se entranha
“Il faut imaginer Sisyphe
heureux.” Camus*
Na acolhedora e na húmida intimidade
do fluir de ondas em cólera
espumante
neste dia solidário que não terá idade
surge a solidão indiferente, marulhante.
Nesse estar só, que escuto murmurante,
onde se cria a ténue comovida saudade,
com alma
quebrada e raízes arrancadas,
nasce um não-sei-quê frio que me invade.
Os inquietantes
segredos que sustentam
crespa
iniquidade, tanta miséria humana,
são esta fúria revoltada que se entranha.
Nas
funestas blasfémias que se apregoam,
equívocos de lívida honra
ensanguentada,
sou Sísifo empurrando pedra na montanha.
*Albert Camus (1913-1960). Le Mythe de Sisyphe, éditions Gallimard Paris 1942. (pág. 45).
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