A rua Sá da Bandeira
numa foto de Alvão de cerca de 1924.
A fotografia de
Domingos Alvão mostra um trecho da rua de Sá da Bandeira no princípio de uma
tarde solarenga.
Sabemos que a Casa Hortícola, que espreita no lado esquerdo
da fotografia, se instalou a 1 de Agosto de 1922 no torreão sudeste do Mercado
do Bolhão, na esquina da rua Sá da Bandeira com a rua Formosa, onde (felizmente)
ainda se encontra.
Subindo a rua pelo lado esquerdo vai um camião de caixa aberta
com dois homens sentados, seguido de uma viatura de marca desconhecida com a
matrícula N – ?233 (tipo de matrícula anterior a 1937).
Poderá ser pela forma linear do para-choques traseiro um
Minerva os quais haviam sido expostos no salão de 1924 no Porto e do qual
existe um exemplar no Museu do Caramulo.
A foto
mostra ainda o quarteirão entre a rua Formosa e a travessa de Sá da Bandeira
ocupado por três edifícios.
Os dois
edifícios a norte estão ocupados pela Singer (Singer Sewing Machine Company).
Fundada em 1851 como I. M. Singer & Co., mudou o nome para
Singer
Manufacturing Company em 1865, e desde 1963 para Singer Company.
1 - O edifício de um só piso foi projectado por António Faria Moreira Ramalhão (1865-1953) em 1902.
Por cima das portas tem
escrito “MACHINAS SINGER” com a
grafia anterior à polémica reforma ortográfica de 1911. (É nesta ocasião, no fervor do regime republicano, que se propõe
a substituição do “CH” por “QU”. (“Relatório
da Comissão nomeada por portaría de Fevereiro de 1911, para fixar as bases da
ortografia que deve ser adoptada nas escolas e nos documentos oficiais e outra
publicações feitas por conta do Estado” de 23 Agosto 1911 publicado no Diário do Governo n.º 213 de Terça
Feira 12 de Setembro de 1911.)
A fachada da rua Sá da
Bandeira então projectada foi alterada passando a um só piso, e 6 aberturas
idênticas em que a 3ª a contar do Norte é a porta de entrada. A inscrição “Machinas Singer” passou para o lintel
como se vê nas fotos nº 1 e 2.
2 – Uma anterior fotografia do mesmo local mostra a fachada para a rua Formosa do edifício de gaveto, com de rés do chão e três pisos, e apresentando do lado da rua Sá da Bandeira, correspondendo aos dois últimos pisos, uma fachada cega, onde se inseria a publicidade da Singer em largos dizeres rodeando um grande cartaz.
No rés-do-chão o mesmo
cartaz nas janelas e intercalado “Máchinas
Singer para Coser”.
Na rua Formosa o
eléctrico verde com o n.º 109 escrito a branco da Carris.
A publicidade na fachada da rua Sá da Bandeira
“MACHINAS DE COSTURA / Companhia Fabril SINGER
Exposição de machinas / SINGER para todas as / industrias de trabalhos / artísticos que executam
Sucursaes em todas as / \Capitaes de Districtos”
No lado direito (sul) do
cartaz:
“As Machinas SINGER / São as mais apreciadas / E conhecidas em todos / Os mercados do mundo / São as que teem obtido / Os primeiros prémios / Em todas as exposições / Peça os Catálogos ilustrados”
O cartaz da SINGER
Este cartaz esteve em uso desde o final
do século XIX até aos anos vinte do século seguinte.
Foram, entretanto, produzidos outros
cartazes semelhantes em que apenas, conforme o país ou local e a época, foi
mudando a figura feminina.
Na fachada da loja da rua de Sá da Bandeira do Porto o cartaz (possivelmente em metal pela sua duração) é uma adaptação para Portugal deste cartaz, apresentando aquela mesma figura feminina usando um laço ao pescoço e tendo escrito em português “MACHINAS SINGER PARA COSER” ao longo do “S”.
A Singer nas primeiras décadas do século XX para publicitar a sua máquina de costura - uma das primeiras mecanizações de uma actividade artesanal e doméstica - criou então, por toda a parte e em Portugal também, escolas de bordados para promover o uso (e a venda) das suas máquinas de costura.
E em Vinhais, no
excelente blogue VELHARIAS, num texto de 6 de Setembro de 2022, intitulado “As máquinas de costura Singer: apontamentos
de alguma memórias familiares” o autor do blogue afirma que a fotografia
apresentada, situada pelos anos 20 do século passado, mostra uma escola de
costura de um familiar do autor do blogue o qual destaca a importância e o
valor das máquinas de costuras nas primeiras décadas do século XX. https://velhariasdoluis.blogspot.com/2022/09/
Na
esquina a sede do Banco Mutuário fundado em 1884, mas que aqui se instalou em
1915 até à sua extinção em 1933.
Em 1938 a firma Sewing Machine Company requer à CMP a demolição das suas instalações, apresentando um poderoso e moderno projecto de Artur de Almeida Júnior ocupando todo o terreno entre as ruas Formosa e a travessa de Sá da Bandeira.
O moderno edifício será licenciado em 1939 e concluído em Julho de 1941.
CONTINUA em
O mesmo cartaz da Singer em outras duas fotografias
de Alvão
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