quinta-feira, 18 de julho de 2024

Imagens da cidade do Porto há cem anos 5

 

A rua Sá da Bandeira numa foto de Alvão de cerca de 1924.

A fotografia de Domingos Alvão mostra um trecho da rua de Sá da Bandeira no princípio de uma tarde solarenga.

Sabemos que a Casa Hortícola, que espreita no lado esquerdo da fotografia, se instalou a 1 de Agosto de 1922 no torreão sudeste do Mercado do Bolhão, na esquina da rua Sá da Bandeira com a rua Formosa, onde (felizmente) ainda se encontra.

Subindo a rua pelo lado esquerdo vai um camião de caixa aberta com dois homens sentados, seguido de uma viatura de marca desconhecida com a matrícula N – ?233 (tipo de matrícula anterior a 1937).

Poderá ser pela forma linear do para-choques traseiro um Minerva os quais haviam sido expostos no salão de 1924 no Porto e do qual existe um exemplar no Museu do Caramulo.




fig. 1 – Domingos Alvão (1872-1946). Foto 69 in A Cidade do Porto na Obra do Fotografo Alvão 1872-1946. 
Textos de Fernando Távora e Joaquim Vieira. Edição da Fotografia Alvão Porto 1984.

 

A foto mostra ainda o quarteirão entre a rua Formosa e a travessa de Sá da Bandeira ocupado por três edifícios.

Os dois edifícios a norte estão ocupados pela Singer (Singer Sewing Machine Company).

Fundada em 1851 como I. M. Singer & Co., mudou o nome para Singer Manufacturing Company em 1865, e desde 1963 para Singer Company.

fig. 2 – Pormenor da fig. anterior.

1 - O edifício de um só piso foi projectado por António Faria Moreira Ramalhão (1865-1953) em 1902.

Por cima das portas tem escrito “MACHINAS SINGER” com a grafia anterior à polémica reforma ortográfica de 1911. (É nesta ocasião, no fervor do regime republicano, que se propõe a substituição do “CH” por “QU”. (“Relatório da Comissão nomeada por portaría de Fevereiro de 1911, para fixar as bases da ortografia que deve ser adoptada nas escolas e nos documentos oficiais e outra publicações feitas por conta do Estado” de 23 Agosto 1911 publicado no Diário do Governo n.º 213 de Terça Feira 12 de Setembro de 1911.)

 

 

fig. 3 – António Ramalhão projecto para a Singer 1902. AHMP.

 

A fachada da rua Sá da Bandeira então projectada foi alterada passando a um só piso, e 6 aberturas idênticas em que a 3ª a contar do Norte é a porta de entrada. A inscrição “Machinas Singer” passou para o lintel como se vê nas fotos nº 1 e 2.

 

2 – Uma anterior fotografia do mesmo local mostra a fachada para a rua Formosa do edifício de gaveto, com de rés do chão e três pisos, e apresentando do lado da rua Sá da Bandeira, correspondendo aos dois últimos pisos, uma fachada cega, onde se inseria a publicidade da Singer em largos dizeres rodeando um grande cartaz.

No rés-do-chão o mesmo cartaz nas janelas e intercalado “Máchinas Singer para Coser”.

Na rua Formosa o eléctrico verde com o n.º 109 escrito a branco da Carris.

 

fig. 4 – Fotografia 90 x 120 cm. da esquina da rua Sá da Bandeira com a rua Formosa em 191?. Arquivo Helder Pacheco, AHMP.

 

A publicidade na fachada da rua Sá da Bandeira

 No alto a toda a largura da fachada:

“MACHINAS DE COSTURA / Companhia Fabril SINGER

 Ladeando o cartaz no lado esquerdo (norte) está escrito:

Exposição de machinas / SINGER para todas as / industrias de trabalhos / artísticos que executam

Sucursaes em todas as / \Capitaes de Districtos”

No lado direito (sul) do cartaz:

 “As Machinas SINGER / São as mais apreciadas / E conhecidas em todos / Os mercados do mundo / São as que teem obtido / Os primeiros prémios / Em todas as exposições / Peça os Catálogos ilustrados”


O cartaz da SINGER

O popular cartaz da Singer com o "S" a vermelho surgiu em 1870 com uma sorridente figura feminina trajando à época e usando a máquina de costura. Na parte inferior um medalhão com “THE SINGER MANFG. CO. Trade Mark”. O cartaz em metal foi produzido pela F. Francis & Sons, companhia fundada em Londres em 1860. 


fig. 5 – O cartaz da F. Francis & Sons L.to London. SE.

 

Este cartaz esteve em uso desde o final do século XIX até aos anos vinte do século seguinte.

Foram, entretanto, produzidos outros cartazes semelhantes em que apenas, conforme o país ou local e a época, foi mudando a figura feminina.

Na fachada da loja da rua de Sá da Bandeira do Porto o cartaz (possivelmente em metal pela sua duração) é uma adaptação para Portugal deste cartaz, apresentando aquela mesma figura feminina usando um laço ao pescoço e tendo escrito em português MACHINAS SINGER PARA COSER” ao longo do “S”.

A Singer nas primeiras décadas do século XX para publicitar a sua máquina de costura - uma das primeiras mecanizações de uma actividade artesanal e doméstica - criou então, por toda a parte e em Portugal também, escolas de bordados para promover o uso (e a venda) das suas máquinas de costura.

 Por isso, nas duas escolas portuguesas que encontrei, Mafra e Vinhais, figura o mesmo cartaz da fachada da Singer na rua de Sá da Bandeira.




Em Mafra numa fotografia do Arquivo Municipal repare-se o cartaz na parede do fundo.

fig. 6Fotografia Reprodução. “CURSO “SINGER” Ensino de bordados e aplicação de acessórios MAFRA”. 10,1x15,1 cm. Arquivo Municipal de Mafra.


E em Vinhais, no excelente blogue VELHARIAS, num texto de 6 de Setembro de 2022, intitulado “As máquinas de costura Singer: apontamentos de alguma memórias familiares” o autor do blogue afirma que a fotografia apresentada, situada pelos anos 20 do século passado, mostra uma escola de costura de um familiar do autor do blogue o qual destaca a importância e o valor das máquinas de costuras nas primeiras décadas do século XX. https://velhariasdoluis.blogspot.com/2022/09/

 Como em Mafra na parede do fundo o antigo cartaz, que tem na parte superior a indicação de “A PRESTAÇÔES SEMANAES” que, como afirma o autor do blogue Velharias, mostra o valor monetário da máquina de costura, e sobre o “S” de Singer tem escrito “MACHINAS SINGER PARA COSER”, semelhante ao cartaz da fotografia de Alvão.



fig. 7Postal do blogue Velharias “de um curso das máquinas de costura Singer, que provavelmente decorreu em Vinhais.”

fig. 8 – Cartaz da Singer da fotografia anterior

 

 O novo edifício SINGER (1938/1941)

 Uma fotografia dos anos 30 mostra a rua Sá da Bandeira vendo-se ao fundo o mercado do Bolhão com a Casa Hortícola, o edifício da SINGER já com nova publicidade e os edifícios existentes até à rua Passos Manuel.

Na esquina a sede do Banco Mutuário fundado em 1884, mas que aqui se instalou em 1915 até à sua extinção em 1933.

fig. 9 – A rua Sá da Bandeira nos anos 30. A.H.M.P.

 

Em 1938 a firma Sewing Machine Company requer à CMP a demolição das suas instalações, apresentando um poderoso e moderno projecto de Artur de Almeida Júnior ocupando todo o terreno entre as ruas Formosa e a travessa de Sá da Bandeira.

 

fig. 10 - Artur de Almeida Júnior (1903-?). Projecto para o edificio Singer 1938. AHMP.

 No processo de 1938 figuram duas (desfocadas) fotografias, mas que permitem ver que entre 1922 e 1928 o antigo cartaz da fachada foi substituído por um fundo oval com a palavra SINGER.

fig. 11 – fotografia figurando no processo de 1938.

 

fig. 12 – Foto do processo de licenciamento requerido pela Singer em 1938.

 

O moderno edifício será licenciado em 1939 e concluído em Julho de 1941.

fig. 13 – Postal publicitário: Porto- edifício “Singer”. c.1941.

 

CONTINUA em

O mesmo cartaz da Singer em outras duas fotografias de Alvão




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