Liam Gillick, Factories in the snow 2016. Foto de Filipe Braga, Fundação de
Serralves, Álvaro Siza, Museu de Serralves. Porto.
Um piano em Serralves
“Todos os dias estarás refazendo o teu desenho.
Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida.”
Cecília Meireles *
Na sala branca que uma janela faz
um piano negro ao sol adormece.
No espanto luminoso do soalho
só na sombra a longa cauda mexe.
Nada perturba o repouso musical
da janela onde se abre todo mundo.
Ninguém ocupa o vazio espaço
que anseia algo limpo e profundo.
A esquecida melodia esvanecida
se adivinha nas folhas do arvoredo
soa pelos jardins da bela e antiga
moradia agora d’arte
e seu segredo
A que abrigo
de sonho pertence a sala
um gesto de
mão pensante nos informa
quem desenhou
um tão inefável espaço
que de obscura
matéria a luz conforma.
* Cecília
Meireles (1901-1964), Desenho de O estudante empírico (1959-1964) in Poesia
Completa Livro 2, organização de Antonio Carlos Sechin. Editora Nova Fronteira,
Rio de Janeiro: 2001. (pág. 1455).
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