O I Salão de Outono 1925
Notas
Nota 1 – Nem todas as imagens são de pinturas expostas no Salão. Outras são de 1925 ou anteriores e não sei se figuraram ou não na exposição.
Nota 2 – Todos os sublinhados e negritos são da minha autoria.
Nota 3 – Manteve-se a ortografia original dos autores.
Nota 4 – Não se usa o novo Acordo Ortográfico
Nota 5 – O Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian é referido como CAM-FCG.
O I Salão de Outono 1925
Há cem anos, abria na Sexta-feira 23 de Janeiro de 1925, na Sociedade Nacional de Belas Artes, o I Salão de Outono, organizado pelo pintor Eduardo Viana
Participaram, para além dos desaparecidos Amadeo Sousa
Cardoso (1887-1918), Guilherme Santa Rita (1889-1918) e Manoel Jardim (1884-1923)
participaram os artistas da geração de antes da 1ª Guerra como Eduardo Viana(1881-1967),
Almada Negreiros (1893-1970), António Soares (1894-1978),
José Pacheko, Alberto Cardoso (1881-1942), Albert Jourdain (1891-1978), Almada Negreiros (1893-1970), António
Soares (1894-1978), António Varela (1902-1962), Eduardo Viana (1881-1967),
Emmerico Nunes (1888-1968), Francisco Smith (1881-1961),
Jorge Barradas (1894-1971), Lino António (1898-1974), Luís Burnay (1884-1951),
Maria Clementina Carneiro de Moura (1898-1992), Mário Eloy (1900-1951), Mily Possoz e Sarah
Afonso (1899-1983).
E como novidade do Salão, a participação de arquitectos, com a presença
de Tertuliano Marques (1882-1942) Prémio Valmor de 1921, e os jovens
arquitectos, Luís Cristino da Silva (1896/1976) que tinha realizado uma exposição
em 19 de Janeiro de 1924[1]; Carlos Ramos
(1897/1969) autor da Agência Havas e do Bristol Club; Jorge Segurado
(1898/1990) e Gonçalo de Mello Breyner (1896-1947), Leo Walegh (?). Todos vão expor os seus
projectos ou realizações, na procura de uma arquitectura moderna para a época.
[1]
Referido no nº. 936 de revista Ilustração
Portuguesa de 26 de Janeiro de 1924.
O Salão de Outono pela sua origem polémica e porque foi uma
exposição com divulgação na imprensa fez chegar a um grande público o trabalho
dos “modernos”. Assim surgem, para
além de referências à abertura do Salão, críticas em diversas publicações.
As opiniões, as escolhas e as considerações que os diversos articulistas fizeram sobre o Salão de Outono, revelam qual era há em anos o panorama das artes em Portugal.
Assim recolhemos as seguintes referências ao Salão na
imprensa de Janeiro a Fevereiro de 1925, durante a sua realização:
ref. 1 Não assinado “!.º
Salão de Outono” na “Alma Nova” n.º
25-27 de Janeiro-Março pequena referência não assinada com fotografias de
alguns dos quadros expostos.
ref. 2 Artur Portela (1901-1959) escreve na “A Arte Moderna - O Salão de Outono
inaugurou-se na Sociedade Nacional de Belas-Artes” no “Diário de Lisboa” de 24 de Janeiro
ref. 3 Matos Sequeira (1880-1962) “O Salão de Outono na S.N.B.A.” no “O Mundo” de 25 de Janeiro
ref. 4 Aquilino Ribeiro (1885-1963) “O Salão de Outono” no “O
Século” de 26 de Janeiro
ref. 5 Vitor Falcão “A
Obra de Almada Negreiros – A propósito do Salão de Outono” no Diário de
Lisboa de 26 de Janeiro
ref. 6 Mário Domingues (1899-1977) no jornal “A Capital”, no dia 27 de Janeiro.
ref. 7 Motta Cabral “Carta
Aberta ao Pintor Eduardo Viana” no
Diário de Lisboa de 27 de Janeiro
ref. 8 Não assinado “Salão de Outono” no “Diário
de Notícias” em 28 de Janeiro.
ref. 9 Norberto Araújo (1889-1952), “Página de Quinta Feira” no “Diário
de Lisboa” de 29 de Janeiro
ref. 10 João Castro (1887-1955) “A geração
nova e o Salão de Outono” no “Diário
de Lisboa” em 29 de Janeiro
ref. 11 J.B. Jaime Brasil (1896-1966), “O
Salão de Outono continua brilhantemente as tradições do Palácio das
Belas-Artes” A Batalha” em
2 de Fevereiro
ref. 12 F. de C. Ferreira de Castro (1898-1974) “Salão de Outono” no A Batalha de 2 de Fevereiro
ref. 13 Augusto Ferreira Gomes (1892-1953) “O Salão de Outono e a rehabilitação da
pintura portuguesa” no Diário de
Lisboa de 3 de Fevereiro
ref. 14 António Ferro (1895-1956) “Os
artistas do Salão de Outono. Um belo triunfo para a nova geração – o elogio dos
precursores – os quadros destinados à Brasileira do Chiado – Salão de
Primavera...” no “Diário de Notícias” - após o
encerramento do Salão - em 16 de Fevereiro.
O que escreve a imprensa
Os jornalistas referem que o Salão era uma afirmação de modernidade, da Arte que a “geração nova”, a geração nascida na transição dos séculos XIX e XX, e que então se iniciava e se procurava afirmar.
Por isso o Salão marcou a (difícil) transição entre a geração Beaux Arts e académica, para a modernidade dos que então concluíam os seus cursos, “apadrinhados” pelos “futuristas” de antes da Guerra.
Por outro lado é Jaime Brasil que se encarrega no jornal A Batalha, de atacar os novos, publicando um violento artigo “O Salão de Outono" continua brilhantemente as tradições do Palácio de Belas-Artes”, onde critica ferozmente a pintura exposta. Nesse artigo afirma que “O “Salão de Outono”, como revolta é uma mistificação, como arte é uma rapaziada, que seria inocentíssima se não fosse exercer uma poderosa sugestão em muitos cérebros doentes, que assim tem de ir mais cedo aumentar a população dos manicómios. (…) Nem originalidade, nem senso artístico, nem auto-crítica, nem conhecimentos técnicos.” [3]
O povo, porém, de quem eles se divorciaram, com
desmascarado orgulho, é que não lhes irá levar as palmas do triunfo, que só o
povo sabe outorgar. Acusem-no embora de ignorante e insensível, de grosseiro e
inculto. É esse, por enquanto o triste jus da condição, dos que são como nós
somos, altiva e orgulhosamente plebeus.” [4]
“De facto, os modernistas vieram em público raso lavrar sua reabilitação,
se era certo que não era inepta de toda a pecha que lhes atribuíam de desequilibrados
e inconsequentes. Reabilitação honrosa em que é legitimo entrever a esperança
duma pintura remoçada, diferente já que os tempos são diferentes, da que se
fazia até agora. Eu sou dos que crêem que as escolas antigas podem reter e
determinar grandes pintores, mas tenho como dogma a fatalidade da renovação das
artes, que há de realizar-se por um esforço conjugado de todos, depois de
certames mais ou menos singulares.”
[7]
Na Alma Nova acompanhando fotografias de alguns quadros os “que mais foram apreciados pelo público”, uma curta nota escreve “Resultou uma brilhante parada de forças do Modernismo Português a Exposição de Arte, com êste título, organizada pelo conhecido pintor Sr. Eduardo Viana e ultimamente realizada na Sociedade Nacional de Belas Artes.
A “Alma Nova”, sempre solícita em aplaudir todas as
iniciativas que tendam a valorizar a Arte Portuguesa, dá hoje a reprodução
dalguns quadros que mais foram apreciados pelo público visitante do referido
Salão.” [8]
Numa notícia não assinada do Diário de Notícias:
“Abriu ontem na Sociedade Nacional de Belas Artes o Salão de Outono,
organizado por Eduardo Viana. A exposição, a primeira no género que se realiza
em Portugal, reúne os nomes mais brilhantes da nova geração. Os trabalhos, que
estão admiravelmente colocados, acusam uma diversidade de temperamentos
artísticos, em plena pujança de beleza e de modernismo.
O Salão de Outono, que ontem já conquistou um grande sucesso, marca um
novo período da pintura em Portugal.” [9]
“Na pintura, aos modernistas cabe um importante papel, já em parte
desempenhado: o de agitar, perturbar e fazer evoluir por quantos sacões
exagerados, tão depressa como a vertigem da época o exige, o classicismo. Foi o
papel, que na poesia, coube aos decadentes e nefelibatas que tendo tomado o
vertiginoso expresso em oposição ao ronceiro tramway, em que viajam os outros desde Soares de Passos, conseguiram
acamaradar com estes num simples rápido. As duas forças accionando e resistindo
melhoraram-se mutuamente e vieram a entender-se e a encontrar-se numa
resultante justa. Nos modernistas começam já a cavar-se rugas precoces.
Envelhecem depressa.” [10]
No Diário de Notícias o articulista afirma “Um grupo de artistas novos, vivendo com nobreza a sua independência – abriram agora um parêntesis na arte académica, reunindo-se uma exposição a que eles puseram o título Salão de Outono. Estas duas palavras foram há algumas dezenas de anos, em Paris, um grito vigoroso de revolução estética contra o “Salon” oficial que sistematicamente recusava as obras de entusiasmo moço, livres no pensamento, desempenadas de técnica, impulsivas de frémito criador.” [11]
E Mário Domingues na A
Capital considera a existência de “duas
grandes correntes” que se batalham no campo das artes.
“Existem em Portugal, como de resto em toda a Europa, duas grandes correntes artísticas que se opõe, que lutam, que rivalizam: a dos académicos e a dos modernistas. Os primeiros pretendem manter uma posição conquistada, os segundos desejam desaloja-los.” [12]
[1] Diário de Lisboa de 24
de Janeiro de 1925 (pág. 4)
[2]
António Ferro, “Os artistas do Salão de Outono. Um belo triunfo para a nova geração – o
elogio dos precursores – os quadros destinados à Brasileira do Chiado – Salão
de Primavera...” in Diário
de Notícias, 16 de Fevereiro de 1925, (pág. 1).
[3] Jaime
Brasil, O "Salão de
Outono" continua brilhantemente as tradições do Palácio de Belas-Artes, in A
Batalha n.º 62 de 2 de fevereiro de 1925 (pág. 2)
[4] Jaime
Brasil, O "Salão de
Outono" continua brilhantemente as tradições do Palácio de Belas-Artes, in A
Batalha n.º 62 de 2 de fevereiro de 1925 (pág. 2)
[5] O
escritor José Maria Ferreira de Castro (1898-1974).
[6] F. de C. "Salão de Outono" , in A Batalha n.º 62 de
2 de Fevereiro de 1925.(pág. 2)
[7]
Aquilino Ribeiro (1885-1963), “O Salão de Outono” in O Século de Segunda-feira
26 de Janeiro de 1925. (pág. 6).
[8] Alma
Nova, n 25-27 Janeiro-Março de 1925 (pág. 18)
[9] Diário
de Notícias de 24 de Janeiro de 1925 (pág. 3).
[10]
(Gustavo Adriano de) Matos Sequeira (1880-1962) “O Salão de Outono na S.N.B.A.” in O Mundo de 25 de Janeiro de 1925 (pág. 1).
[11] Diário de Notícias, “Salão de Outono” 28 de Janeiro de 1925 (pág.3).
[12] Mário Domingues O
Salão de Outono na Sociedade Nacional de Belas Artes in A Capital de 27 de janeiro de 1925 (pág.
1)
Caso a caso
Alguns dos jornalistas, para além de considerações gerais, procuram analisar cada artista e as suas obras.
Assim comparemos o que cada um escreveu sobre os participantes no Salão.
[Nota - a partir de aqui todos os autores e
as suas citações, referem-se aos artigos por eles publicados nos diversos
jornais ver a lista de ref, e ver as notas de rodapé do ponto anterior]
Amadeo Sousa Cardoso, Guilherme Santa-Rita e Manuel Jardim
Em primeiro lugar, embora colocados um
pouco à margem no Salão - talvez fruto da sua incontestável modernidade de
antes a guerra - estão os homenageados e então desaparecidos.
Muitos dos críticos pretendem sublinhar a
presente moderada modernidade dos artistas relativamente às por vezes "escandalosas" obras de antes da guerra. Por isso dos três, a crítica, destaca
Manuel Jardim, que faleceu em 1923, e que é o que mais se aproxima do que a
crítica pensa ser essa modernidade moderada.
Sobre Amadeo Sousa Cardoso:
“Amadeo Cardoso que foi um patriarca e de cuja autoria o Salão de Outono apresenta, saudosamente, alguns trabalhos, está longe, bem longe dos seus discípulos e dos seus continuadores. Olhei as folhas de papel e os cartões indecifráveis, esparrinhados de polígonos de cor, sem nexo para a visão, e achei aquilo tudo arqueológico e tão sibilino como um machado do paleolítico para um esteta moderno.” (ref.3)
fig. 2 – Amadeu de Sousa Cardoso, Étude A 1913 óleo s/ tela 46 x 61 cm. CAM-FCG.
Sobre Santa-Rita pintor
“De Guilherme Santa Rita já falecido, exibem-se duas composições, uma das quais o Orfeu nos Infernos teve uma alta classificação, 20 valores, no critério de um dos nossos bons pintores. É um verdadeiro inferno. Seria preciso o auxílio de Dante para entender aquela estância infernal, e ter ainda por cima os olhos e ouvidos de Vergílio. Senti-me incapaz de a penetrar.”
fig. 3 – Santa-Rita pintor, Orfeu nos Infernos c.1904 óleo s/ tela 55 x 65,5 cm. Col. Conde de Monsaraz in Portugal Futurista n. 1 Contexto Editora, 1984. Lisboa 1984.
Sobre Manuel Jardim
“Manuel Jardim tem meia dúzia de desenhos dignos de nota, e uma pintura
grande, onde, salvo a figura de mulher – bastante manequin – vale a pena repousar os olhos. Tudo
quanto está metido em sombra é feito com inteligência. Os pormenores da mesa, e
toalha, as frutas, as loiças, denunciam o mérito do falecido pintor.”
fig. 4 - Manuel Jardim, Le dejeuner, 1911, óleo sobre tela, 142,8 x 175,5 cm. Museu Nacional de machado de Castro Coimbra.
Diário de Notícias (ref. 8)
“Manuel Jardim, Guilherme Santa Rita e Amadeu Cardoso são os
precursores do Salão de Outono. Artistas que já morreram, eles vivem ainda, na
saudade dos novos, que já ultrapassam os seus horizontes estéticos.”
Aquilino Ribeiro (ref. 4) destaca Manuel Jardim que
considera que deveria ter uma maior homenagem.
“Nesta exposição,
evoca-se ainda a memória de três artistas falecidos, Manuel Jardim, Amadeu
Cardoso, Santa Rita, com trabalhos arrebanhados pressurosamente, aqui e ali.
A figura de Manuel
Jardim e a sua obra, ainda que breve, não se compadece com o espaço desta
resenha. No Salão do Outono, vislumbra-se, apenas, uma centelha da requintada
sensibilidade deste pintor profundamente artista e profundamente insatisfeito.”
Almada Negreiros
O café A Brasileira foi,
por esta altura, remodelado pelo arquitecto (Manoel Joaquim) Norte Júnior
(1878-1962), num gosto ainda longe de qualquer modernismo.
Mas foi decorado com um conjunto de pinturas de novos artistas: duas de Almada Negreiros duas de Eduardo
Viana, que também as apresentará no Salão de Outono; duas de Jorge Barradas, uma de António Soares, uma de Bernardo Marques (1898-1962, uma de
Stuart Carvalhais (1887-1961) e uma
de José Pacheko (1885-1934).
As pinturas de A Brasileira só
serão colocadas em 1926, mas terão um considerável impacto público, já
que o café se situava (e situa) não longe do Museu do Chiado (Museu de Arte
Contemporânea), criado em 1911 e dirigido desde 1914 por um “ultrapassado”
Columbano Bordallo Pinheiro (1857-1929).
fig. 5 - Almada Negreiro Banhistas óleo s/tela 131 x 166 cm. CAM-FCG.
fig.
6 - Almada Negreiros (Auto retrato num grupo) óleo
s/tela 197 x 130 cm. CAM-FCG.
É sobre este quadro - que a crítica irá preferencialmente
destacar - e onde Almada Negreiros se autorretrata acompanhado pelo seu amigo Francisco
Martins de Sousa Nazareth (1889-1971) [1], acompanhados por uma bailarina espanhola Julia Aguilar (1899-1979), e pela actriz Aurora Gil.
Ambas as mulheres são retratadas por Almada em desenhos de 1925.
fig. 7 – Almada Negreiros, sem título (Julia Aguilar)1925 grafite s/papel 31,5 x 31 cm. “O primeiro apontamento da figura da espanhola que está meu lado no quadro para a Brasileira do Chiado oferece a Manuel Ventura o Almada”. Catálogo da Exposição José de Almada Negreiros Uma maneira de ser moderno no Museu Calouste Gulbenkian de 3 de Fevereiro a 5 de Junho de 2017. (pág. 339)
[1] Terá
substituído Fernando Pessoa que não quis ser retratado!
fig. 8 – Almada negreiros Retrato da actriz Aurora Gil 1925 lápis s/papel c. 30 x 20 cm. Achronima https://www.achronima.art/obras/almada-negreiros-snba/
No Diário de Lisboa Artur Portela (ref.2) escreve
sobre esta pintura descrevendo as personagens, mas sem (querer?) identificar
Almada Negreiros, que se autorretrata como uma das personagens, mas descrevendo as
personagens femininas, que também não identifica, como frequentadoras da noite
de Lisboa, de um modo, pelo menos, nada simpático.
Escreve Artur Portela: “Almada
Negreiros. Entre os panneaux, que
vão ser colocados na Brazileira – ideia primorosamente sugerida pelo belo
espírito do meu camarada Norberto Araújo – o seu é dos primeiros. [1]
Poderia aqui colocara a expressão banalíssima de grito moderno. O quadro é uma cena de café: dois homens, num recorte de elegância que acusa pensamento, entre duas musas histéricas de paixão e cocaína. Uma, é um cartaz de vício, arranhada de loucura. A outra caniche, romântica de trottoir, tem um olhar que é uma abalada de andorinha, uma pausa de divina beleza, daquela beleza que só dá melancolia. Almada Negreiro foi másculo de mais. A sua tela é o triunfo do homem, em carne sadia, em alma profunda de intenção, vencendo a mulher contraída pelo frio do amor e da ternura.”
E refere um outro quadro “Ainda de Almada um arlequim estupendo.”
Um Arlequim de Almada datado
de 1925 - não sabemos se foi um dos expostos - já que Matos Sequeira em O Mundo (ref.3) refere que “Almada Negreiros apresenta os panneaux para a Brasileira e dois arlequins. Tem uma
decidida atracção para os arlequins”
[1] Noberto (Moreira) de Araújo (1889-1952), também jornalista do Diário de Lisboa, onde escrevia então uma “Página da Quinta feira”, No Diário de Lisboa de Quinta feira 29 de Janeiro dá, também, notícia do “Salão de Outono”.
fig.
9 - José de Almada Negreiros, Sem Título (arlequim)
1923, aguarela s/cartolina 34,7 x 24,6 cm. “Ao meu amigo Gonçalo Breyner
Lxa Nov. 23. Almada” Col. particular em depósito no Museu Calouste Gulbenkian –
Coleção Moderna. N.º 88 do Catálogo da Exposição José de Almada Negreiros Uma
maneira de ser moderno no Museu Calouste Gulbenkian de 3 de Fevereiro a 5 de
Junho de 2017.
Mas Matos Sequeira também
destaca e descreve o quadro da Brasileira. (ref.3)
“O seu processo mais uma vez se evidencia nesse quadro, onde a roda de
mármore de uma mesa ele se senta com mais um companheiro e duas damas, tendo na
mão um desenho (o sr. Gualdino Gomes*).
Nas pinturas e nas decorações deste artista há sobretudo uma grande, uma intensa jovialidade. O fundo azul do painel, a rigidez de manequins dos torsos das figuras, a alegria original que resplande na tela, obriga-nos a desvincar o rosto e o juízo.”
[*Gualdino
Gomes (1857-1948) bibliotecário e escritor.]
Por sua vez, Aquilino Ribeiro em O Século (ref.4), conhecedor dos desenhos de Almada, num texto afrancesado, aprecia a ousada passagem de Almada para a pintura a óleo:
“Almada Negreiros
estreou-se no óleo e insigne proeza foi a sua, manejar as tintas pela primeira
vez é como debutar em patinagem. O Almada Negreiros dos desenhos a lápis
perdurou, no entanto, fino, singular, drolatique*, inteligente acima de tudo, como é condão
da sua índole. O arranjo da sua tela faria um honesto pintor. Há ali muito a
observar: frescura, imprevisto à bon douanier Rousseau** e uma ponta de gavrocherie***. Almada
não é daqueles que professam: a arte é
uma coisa muito séria! A arte, afinal de contas, é como tudo, séria e
hilare ou oscilando entre estes dois graus do humor humano. De resto, toda a
gente sabe, Almada apraz-se nas gamas estrídulas dum violino tocado por arlequim.”
[*Do francês drôle = divertido, engraçado]
[**Referência ao pintor naïf Henri Rousseau (1844-1910)
conhecido por douanier, funcionário de Alfândega (douane)]
[***Da personagem gavroche o rapaz de Os
Miseráveis de Victor Hugo. Gravoche ou gravocherie passou a significar
brincalhâo, irreverente mas inteligente e corajoso.]
Sobre Almada Negreiros o Diário de Lisboa no dia 26 de Janeiro
traz um extenso artigo de Victor Falcão (1886-1966) intitulado “A Obra de
Almada Negreiros a propósito do Salão de Outono” , onde destaca o quadro de
Almada e tece ainda algumas considerações sobre alguns dos pintores do Salão.
“Almada Negreiros apresenta, no Salão de
Outono, um quadro de largas dimensões que é, suponho, o primeiro trabalho a
óleo que realiza. Não me é fácil definir, em poucas palavras, o que é aquele
quadro, apesar dele me ter deixado estupefacto quando o vi. É que não se
trata de uma composição vazada nos moldes normais, com o aspecto habitual da
pintura a óleo, mas sim uma obra construída por um processo inteiramente
pessoal, em que as figuras, resplandecentes de expressão, estão desacompanhadas
de todos os acessórios do costume.”
António Ferro no Diário de Notícias (ref.14) dedica a Almada apenas duas elogiosas linhas:
“É Almada
Negreiros o autor da tela mais original e mais imprevista da exposição, um
extraordinário artista em qualquer parte do mundo.”
Eduardo Viana
Nos seus quadros Paisagem de Sintra e Paisagem Algarvia é,
sobretudo salientado o uso que o artista faz da cor.
A paisagem de Sintra, densa de côres, é de uma admirável serenidade. A linha do horizonte é única. Assim como se fala nos horizontes de Leonardo Vinci, quando se olha a Gioconda, também se devem citar os horizontes de Eduardo Viana…” (ref.2)
fig.
10 - Eduardo Viana Paisagem de Sintra 1925 óleo e cera
s/tela 130 x 200 cm. Museu da Presidência da República. Palácio de Belém.
E sobre o outro quadro “Paisagem Algarvia, onde há
vermelhos de sangue envenenado e a vegetação é tratada, não em desenho, mas em
pasta de tinta, tem a sumptuosidade das obras que não desaparecem com os anos.
Outro retalho do Algarve com um céu espantoso de revelação cósmica.”
fig.
11 - Eduardo Viana Paisagem Algarvia 1925 óleo e cera
s/tela 130 x 200 cm. Museu da Presidência da República. Palácio de Belém.
Mário Domingues (2ª
ref. 6) utiliza a metáfora das tintas que lhe corre nas veias
Eduardo Viana “pertence
a essa geração heroica de lutadores contra a rotina."
E mais adiante “Eduardo Viana, pintor até à medula, tão pintor que nos faz pensar no absurdo de, em vez de sangue, lhe correr tinta bem vermelha e quente nas suas veias, tem a paixão da cor.”
E Mário Domingues não hesita de o classificar como “incontestavelmente
o nosso maior pintor” e termina “Eduardo Viana parece ter sido escolhido para
empunhar o estandarte da Arte moderna e defrontar com ele o rancor do inimigo
decadente.”
“Eduardo Viana, revela-se um apaixonado das tintas. Põe nelas o seu
sangue. As paisagens algarvias, em notas fortes de azuis profundos, de
vermelhos ardentes, dão à pintura portuguesa uma orientação sadia e inédita.”
E António Ferro (ref. 14) sintetiza a pintura ou as pinturas de Eduardo Viana numa única frase:
“É Eduardo Viana,
o supremo revelador dum Algarve incendiado, duma Sintra voluptuosa, a
cuja energia, a cuja vontade, a cuja saúde se deve esta parada única de valores
novos.”
Victor Falcão (ref. 5) sublinha as paisagens e que Eduardo Viana “prova, com as telas grandiosas que expõe no Salão de Outono, que é, em Portugal, o primeiro paisagista da sua época.”
“Eduardo Viana não foi compreendido ou não se fez compreender, tão rápido como exigia a sua fé de artista, mas agora que o seu pincel se furtou de todo à ganga das escolas desvairadas, que adquiriu equilíbrio sem perder personalidade, que a sua maneira decorre de tela para tela eloquente e segura quem ousaria negar-lhe foros de grande pintor?”
António Soares
O destaque que o quadro de António Soares “retrato do Dr. Motta Cabral” [1] tem na imprensa, é exemplo dessa dimensão mais tradicionalista. Surge em publicações como a Alma Nova que apresenta uma reprodução, e na revista Ilustração, tardiamente com uma reprodução a cores em 1928!
fig.
12 – Dr. Mota Cabral em traje do País por António Soares
in Alma Nova n.º 25-27 Janeiro - Março 1921 (pág.16bis)
fig.
13 - António Soares, Retrato do prosador ribatejano Dr.
Motta Cabral. In Ilustração n.º 72 de Domingo, 16 de Dezembro de 1928. (pág.
18).
Para Artur Portela (ref. 2) que o considera "o maior do grupo" e compara-o a Columbano:
“António
Soares. Para mim, o maior do grupo, direito, altivo, formidável nas
escaleiras da concepção. Os três trabalhos que apresenta espantam, vergastam a
emoção até à ultima fibrilha nervosa. Para lhe dar uma paridade, que de maneira
alguma pode incomodar o artista, só citando Columbano. Mas Columbano na
tinta surda, na velatura indecisa das mascaras do “Botequim”, nos pardos
ambientes. O resto é só ele, só António Soares, em tudo e por tudo. O
retrato de Mota Cabral, onde o artista reuniu todos os elementos que pudessem
revelar a vida, o temperamento, o caracter do personagem – é formidável. A
admiração espectraliza-se em assombro.
É uma tela de caracter, onde,
se há realismo, há também elegância. A energia voluntarista do homem que olha
no absoluto domínio do seu destino, tem qualquer coisa de invencível.
No “Botequim”, Soares, foi um doente verídico. Indicou as formas de cada máscara numa névoa de pensamento que, a um e um, revela os tipos. Está ali a geração vencida, sem uma esquina de triunfo; não sonhando, mas sofrendo. Um retrato que fica à direita das telas principais – uma maravilha de documentação psicológica.”
fig.
14 - António Soares O
Botequim 1925 (quadro para A Brasileira do Chiado) Col. particular
Sobre o retrato de Mota Cabral também se pronuncia Victor Falcão (ref. 5) escrevendo que António Soares “anuncia-nos, com o seu imponente retrato, ainda inacabado, do dr, Mota Cabral e com os quadros destinados à Brazileira, que mestre Columbano, o único grande pintor da velha escola, tem quem lhe suceda galhardamente na difícil pintura de figura.”
E, também Aquilino Ribeiro (ref. 4) destaca o quadro de Mota Cabral e compara António Soares a Columbano:
“António
Soares com o retrato de Mota Cabral e de Fernando Bravo, com as telas destinadas ao
Café, presta grandes e solenes provas de pintor. Não se diga em tom baixo de censura que a
sugestão de Columbano é evidente na sua obra. Columbano é um mestre de primeira
categoria e não fica mal a um novo sofrer a empreite consagrada.”
“António Soares é um grande pintor de grupos. O retrato do Dr. Mota
Cabral tem grandeza. A mancha é forte. O “Botequim” é um drama inenarrável
de máscaras e de figuras.”
António Ferro numa referência à pintura de antes da
guerra: “António Soares, que abandonou as antes flagrantes “poupées” de papel e
tinta para se apoderar duma técnica forte e segura.” (ref. 14).
O próprio médico Francisco Mota Cabral publica no Diário de Lisboa de 27 de Janeiro uma “Carta aberta ao pintor Eduardo Viana” (ref. 7).
Jorge Barradas
Sobre Jorge Barradas, outro conhecido ilustrador das
revistas da época e outro dos expositores de A Brasileira,
destacando o quadro “Lavadeiras” e encontrando neste quadro alguma influência do
académico Puvis de Chavanne escreve Artur
Portela (ref. 2),
“Jorge Barradas. O seu panneaux da Brasileira é o mais
português, o mais lavadinho de côr, entre todos. A Atmosfera é um sorriso côr
de rosa. As figuras das lavadeiras, poucos ou nenhuns gestos, sinteticamente
apontadas como fazia Chavannes * – é uma linda crónica da cidade e do campo.
Triunfou em absoluto.”
fig.
15 – Lavadeiras por
Jorge Barradas (quadro destinado à Brasileira do Chiado) in Alma Nova n.º
25-27. Janeiro –Março 1925. (pág. 19).
[1] Francisco Motta Cabral (1889-1959), médico e escritor.
Em 1925 publicou Ao Sol (notas de um
ribatejano) com um retrato por Simão da Veiga e a pintura de António
Soares. Edição s/d Portugália Editora Lisboa.
fig. 16 - Pierre-Cecile Puvis de Chavanne. Le Chant du Berger 1891 Óleo s / tela104,5 × 110 cm. Metropolitain Museum of Art N.Y.
António Ferro considera apenas que “É Jorge Barradas, autor do quadro mais alegre que a Brasileira vai ter.” (ref.14)
E Victor Falcão aponta no quadro As Lavadeiras a luminosidade conseguida através das cores puras. (ref. 5)
“Jorge Barradas com a sua tela As Lavadeiras,
tão luminosa e macia que parece uma
aguarela, mostra-nos os efeitos encantadores que um artista de gosto pode obter
trabalhando simplesmente as côres puras.”
Por sua vez o Diário de Notícias salienta o portuguesismo do quadro, de acordo com a valorização do nacionalismo na época. (ref. 8).
“Jorge Barradas com as lavadeiras afirma as suas esplêndidas
qualidades de decorador. O assunto é rico de ingenuidade, de sol português de
tipos portugueses.”
Matos Sequeira (ref. 3), elogia o quadro de As Lavadeiras e aponta ainda “uma outra pintura apreciável”.
“Jorge Barradas, neste certame, apresenta-se bem, mas evidentemente
torcido na sua maneira de sentir. Ou errei? O seu pincel é decorativo. As
lavadeiras têm um intenso pitoresco
e, como luz e cor, é agradabilíssimo. O artista, porém, esqueceu-se de si mesmo
ao pintar o cântaro que posa de um quadro antigo. Não é verdade Barradas? Tem
outra pintura apreciável. É um aspecto do casario com um pátio murado.”
fig. 17 - Jorge Barradas sem título 1925 óleo s/cartão prensado 39,7 x 27,4 cm. CAM-FCG.
Por fim, Aquilino Ribeiro, que conhece as ilustrações, capas de revistas e livros de Jorge Barradas, assinala a sua estreia a óleo:
“Jorge Barradas
conserva no óleo – também estreia – a sua perpétua, ingénua e irreverente
frescura de aguarelista.” (ref. 4).
Mario Eloy
Matos Sequeira (ref. 3) agrupa Mário Eloy com Clementina Carneiro de Moura e refere os retratos que Mário Eloy apresenta dos quais se destaca o do arquitecto José Pacheko.
“Mário Eloi e D. Maria Clementina Moura estão na mesma altura. O primeiro apresenta alguns retratos (José Pacheco, Rogério Peres, Carlos Queiroz, dr. Mota Cabral, Ferreira Gomes) e quatro pochades. É curiosa a "Mulher da Barraca". O retrato de José Pacheco tem também interesse.”
fig.
18 - Mario Eloy O Arquitecto José Pacheko 1925, óleo
s/tela 196 x 123,5 cm. “Ao José Pacheko / e para a humani / dade O / Vêr e
Saber /Mário Eloy /” CAM-FCG.
António Ferro, também salienta os mesmos quadros. (ref.14) “É Mário Eloy, autor do belo retrato de José Pacheco e desse lindo pormenor de feira, desse pormenor da nossa terra que é “A mulher da barraca”.”
“Mário Eloy. Artista que caminha. Menor nos retratos, maior e mais sincero nos trechos de aldeia.”
[Como não é fácil aceder às “aldeias” de Mário Eloy uma paisagem de Lisboa
datada de 1924.]
fig.
19 - Mário Eloy (1900-1951). Casas, 1924. Col. Jorge de
Brito, Cascais.
E o Diário de Notícias (ref. 8) também prefere os quadros de Eloy que
representam as aldeias portuguesas.
“Mário Eloi simplifica as expressões e anima de luz as
aldeias da nossa terra.”
Do mesmo modo se refere Aquilino Ribeiro (ref. 4),
“Mário Eloi está trepando a escada de Jacob animosamente. Notável o seu gosto naturalista.”
fig. 20 - Mário Eloy Mulher com barros ou Mulher da barraca, c. 1923-1925 óleo s/ cartão, 39 x 31 cm.in In Catálogo da Exposição “Um Percurso pela Pintura Portugesa” Colecção Telo de Morais de 3 de Novembro de 2011 a 15 de Janeiro de 2012 Museu Municipal de Coimbra edifício do Chiado Coimbra.
fig.
21 – Mário Eloy, Cabeça
1925, óleo s / tela Col. Dr. Vitor Assunção. in Bernardo Pinto de Almeida,
Pintura portuguesa no século XX. 2ª edição Lello Editores Porto Dezembro de
1996. (pág. 78).
Clementina Carneiro de Moura
Artur Portela (ref. 2) sobre Clementina Moura: “Quanto a D. Maria Clementina Moura, notei entre os seus cinco trabalhos, o maior, que é um retrato, seguro de desenho e com certa graciosidade de pincel. Os outros, prejudica-os a preocupação de deixar a técnica à mostra.”
fig.
23 - Clementina Carneiro de Moura, Sem título, óleo sobre
madeira 39 x 28,5 cm. Cabral Moncada Leilões 2018.
Aquilino associa
Clementina C. de Moura a Sara Afonso
“D. Maria Clementina C. De Moura e Sara Afonso dão ali
mostras de sentimento, de um gosto de harmonia e de factura que, pelo conjunto
são raras. ” (ref.4).
Sarah Afonso
De Sarah Afonso, como irá assinar, diz Artur Portela (ref.2)destacando as paisagens urbanas trazidas de Paris:
“Sára Afonso. Paris
deu-lhe duas belas ruas, com ambiente, desenho e – o que é mais: a alma da
cidade.”
E o Diário de Notícias (ref.8) também refere que “Sara Afonso trouxe-nos de Paris duas ruas cheias de carácter e de observação.”
fig.
24
Mily Possoz
“Mily Possoz. Ingenuidade de criança, tratando as crianças como graciosas bonequinhas, a quem dá vontade de beijar, mesmo no desenho. Uma sensibilidade que tem a frescura dum coração ao primeiro estremecimento da vida.”
“Mily Possoz, evolui curiosamente... de lado. A fase que agora exibe não a julgo de louvar. As suas crianças são bonecas de pau que brincam em jardins de papel de cor. Esta artista de quem já vi pinturas bem interessantes deveria voltar a uns anos atrás a uns anos atrás no meu rançoso e vetusto entendimento.”
E o Diário de Notícias (ref.8)
fig. 25 - Mily Possoz, Sem Título. Guache, Grafite e Óleo s/Papel 46,7 x 65 cm. CAM-FCG.
Aquilino Ribeiro (ref.4)
“Milly Possoz
firma, se é possível, créditos duma das pintoras mais finas, mais vivazes e
mais encantadoras que têm pintado sob o céu de Portugal.”
Emmerico Nunes
De Emmerico Nunes, ilustrador, caricaturista, autor de capas de revistas diz Artur Portela (ref. 2)
“Emérico Nunes. Fresco, delicioso, entornando pela paisagem o sonho de uma alma captiva de ilusão. Tinta pura – bebida ao sol.”
fig. 26 – Emmerico Nunes, Rebelva (Carcavelos) óleo s/cartão 22 x 27 cm. CAM-FCG.
E Matos Sequeira aponta (ref. 3) :
“Emérico Nunes, com
seis óleos, dois dos quais, os que na fila de baixo estão ao meio, são bem
pintados e revelariam aptidões verdadeiras se ainda o fosse preciso.”
No Diário de Notícias (ref. 8) apenas um breve comentário:
“É Emerico Nunes, um realista tocado de poesia...”
fig.
28
Lino António
Artur Portela (ref. 2) aponta o quadro “Varinas” reproduzido em Alma Nova (ref. 1): “Lino António. Varinas: Uma delas tem a sinuosidade dum ritmo. Anda. As outras são fortes, rudes de trabalho, nas mãos e nos pés. A côr não é sólida.”
fig.
29 - Varinas por
Lauro António in Alma Nova n.º 25-27. Janeiro –Março 1925. (pág. 19).
A mesma pintura, é
comentada no Diário de Notícias (ref. 8)
“Lino António nas “Varinas”, documenta figuras, um
desenho forte que procura a brutalidade das linhas para ultrapassar o cobreado
das expressões.”
“Lino António
espreita um pintor invejável. Delicado, com uma retina amorosa das belas
ordenanças e uma dose medida de talento, como lhe conferiu mestre Brandão.”
“Francisco Smith, societário do Salon de Automne de Paris.
É um aguarelista cheio de frescura, de tecnica porpositadamente ingenua,
maravilhosa de distinção e de elegância, num canto de jardim primaveril; mas
forte e característico, de relevo, em duas casas sombrias – duas casas de
crime.”
“Francisco Smith, dá-nos
três quadros, dois dos quais imitando fotografias.”
fig.
31 - Francis Smith, Les petites tables, grande cour
(Petit déjeuner à Honfleur), óleo s/tela 54 x 65 cm. CAM FCG.
No Diário de Notícias (ref.8)
fig. 32 – Francis Smith, s/titulo 1923.gouache 44,5 x 37 cm. Cortesia da galeria Nasoni. In Bernardo Pinto de Almeida, Pintura portuguesa no século XX. 2ª edição Lello Editores Porto Dezembro de 1996 (pág. 58).
Luís Burnay
Artur Portela (ref.2) compara-o com Ignacio Zuloaga Y Zabaleta (1870-1945) pintor espanhol conhecido pelos seus retratos, de que mostramos uma pintura (fig.34)
fig. 33
- O Violoncelista por Luiz Burnay (1º Salão de Outono) in Alma Nova n.º 25-27.
Janeiro –Março 1925. (pág. 20).
fig. 34 - Ignacio Zuloaga retrato do violinista Larapidie* 1910 óleo s / tela 184 x 111 cm.
Museo Nacionale Reina Sofia Madrid.
[*João do Mocharro],
[**Homens do Mar]
No Diário de Notícias (ref. 8)
“Luís Burnay é grande na intensidade das tintas. As suas sombras vivem.
Há sempre uma ideia em todos os trabalhos que apresenta.”
E Aquilino Ribeiro remata com “Luís Burnay é pintor feito.” (ref. 4)
fig.
35 - Luís de Ortigão Burnay (1884-1951) A Ribeira de Lisboa 1924 Aguarela, Tinta
da China e Óleo50 x 64 cm. Museu Nacional Grão Vasco. Foto Luísa Oliveira DGPC.
Matriz Pix.
Alberto Cardoso
Alberto Cardoso, companheiro de Sousa Cardoso e Mário Eloy em Paris, e que expõe “As montanhas”:
Escreve o crítico Artur Portela (ref. 2)
E é destacado o quadro “As Montanhas” [que] demonstram que o pintor procura os símbolos.”
[Como não encontrei As Montanhas apresenta-se uma pintura de Alberto Cardoso da éoca]
fig.
36 - Alberto Cardoso sem titulo 1920 Papel ,. Papel
Guache envernizado 32,2 x 23 4 cm. CAM- FCG.
E António Ferro (ref. 14) - que fará pequenas anotações a cada um dos autores - sobre Alberto Cardoso, sarcástico, escreve: “É Alberto Cardoso, que parou uma estação antes do cubismo.”
Albert Jourdain
De Albert Jourdain, pintor belga radicado em Portugal, diz Artur Portela (ref. 2):
“Albert Jourdain. Um belga, que nas primeiras ofuscações da paisagem portuguesa, delira de côr, explode côr, num dinamitismo de tintas por vezes desequilibrado. Esta apreciação refere-se estritamente ao seu quadro grande. Nas pequenas manchas, onde as coisas têm de ser mais relacionadas, a tinta incorporada na luz é clara, fresca, tem manhã.”
fig.
37 - Albert Jourdain, Em Casa dos Condes de Valença, Óleo
s/contraplacado e cartão 62 x 82 cm. CAM - FCG.
“António Varela. Mais do que novo – ingénuo, arquitecto de ruas, explorando admiravelmente os valores geométricos, numa sinceridade de côr que opera agradavelmente na retina.”
“António Varela, constrói: depois, pinta. Os seus quadros são desenhados com firmeza, com insistência de linhas.”
Enquanto António Ferro (ref. 14) “É António Varela que sabe fixar o relevo de todas as coisas que se dizem mortas e não o são.”
Curiosamente Matos Sequeira (ref. 3) agrupa-o com Lino António e Sara Afonso pelo seu apego a uma pintura tradicional
“António Varela, Lino António e Sara Afonso vão atrasados ainda. Estão na idade do bronze.”
Jaime Brasil (ref.11) depois do ataque aos pintores vai desculpando os arquitectos “(…) que entram ali como Pilatos no Credo, a ver se alguém falava dêles, pois precisam de ganhar a sua vida – e que todos apresentam trabalhos equilibrados e sérios.”
“A exposição fecha – ou nós fechamos aqui – com os trabalhos de arquitectura que, tanto pelo valor decorativo, como pelo manchado da aguarela, estão a pedir imediata construção nesta sorna, pesada e pombalesca Lisboa.”
No Diário de Notícias (ref. 8)
“Carlos Ramos, Cristino Silva, Gonçalves Melo Breiner, Jorge Segurado,
Leo Welther, Norberto Correia e Tertuliano Marques demonstram brilhantemente
que a arquitectura portuguesa existe, não já em projectos, mas em definitivas
realizações.”
Aquilino Ribeiro (ref.4) cauteloso, afirma que
“Os arquitectos Carlos Ramos, Cristino da Silva, Melo Breyner, José Pacheco, José [é Jorge] Segurado, Leo Walgh, Norberto Correia, Tertuliano Marques trouxeram interessantes especulações do seu lápis e esquadro.”
“Posto isto e colocaria esta manifestação de arte do Salão de Outono dentro do movimento geral que anima a geração nova quero notar imediatamente uma das mais belas das suas indicações.
Porque revela
ainda melhor que a pintura um espírito nacional em manhã segura para uma grande
realização apraz-me fazer notar antes de mais nada a existência de uma
grande geração de arquitectos.
Embora faltem
alguns arquitectos a esta exposição, já por ela se pode ver que há, na
realidade, uma geração de fortes criadores de arquitectura. Daqueles que
expõem depreende-se a marcha clara para uma arquitectura nova, mas
portuguesa, já pelos ensinamentos regionais, já pelas influências
estrangeiras, já pela tradição dos estilos históricos.”
“O Salão de Outono, que fechou há dias, veio demonstrar na alegria saudável dos seus quadros, na independência desassombrada dos expositores, que ainda há mocidade em Portugal, e que há, portanto, o dever de não desesperar do dia de amanhã... Os nossos pintores, até hoje, com honrosas excepções, não se tinham apercebido da existência de um grande pintor nacional que deveria ser o mestre de todos: o Sol da nossa terra... Os pintores novos, os pintores que se reuniram este ano, no Salão de Outono, numa reacção admirável contra o preconceito da tristeza lusíada, encheram as suas telas de luz, de cor, de vida, de mocidade...” [1]
[1]
António Ferro, “Os artistas do Salão de Outono. Um belo triunfo para a nova geração – o
elogio dos precursores – os quadros destinados à Brasileira do Chiado – Salão
de Primavera...” in Diário
de Notícias, 16 de Fevereiro de 1925, (pág. 1).
Muito interessante! Obrigada!
ResponderEliminarObrigado. É pena eu não conseguir rapidamente uniformizar este textos.
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