Álvaro Siza: a mão que deseja o que desenha
Pelas mãos se apreende o mundo, porque é com as mãos que tudo se desenha e se constrói.
Por isso, como canta o poeta, podemos dizer de Álvaro Siza
que os seus projectos são sempre “não de
pedras estas casas, mas de mãos”; e que “de
mãos é cada flor, cada cidade”. [1]
E Álvaro Siza, em muitos dos seus desenhos, coloca em primeiro plano as suas próprias mãos, essas “mãos que vês nas coisas transformadas” [2]
fig. 1 – Álvaro Siza. Desenhando a sua mão in Conversas com Álvaro Siza por Luis Fernández-Galiano 2016. N.º 10 Coleccion Arquia/Maestros dur 55 min.
fig. 2 - Álvaro Siza. Auto Retrato, desenho Argentina, Agosto 1982. Catálogo editado por Pedro de Llano e Carlos Castanheira, texto William Curtis da Exposição no Centro Galego de Arte Contemporânea 1995. (pág. 57)
Esta inclusão das suas aplicadas mãos em
muitos dos seus desenhos é esclarecida por Álvaro Siza numa entrevista
afirmando que ela “surgiu pela primeira vez, não sei
quando, enquanto eu desenhava a paisagem de uma cidade. Espontaneamente
coloquei minhas mãos no desenho, mas não foi um acto voluntário e consciente.
Surgiu sem saber por quê. Mais tarde, Távora notou que os desenhos de Palladio têm certa semelhança no desenho das mãos; mas essas mãos aparecem de uma forma diferente, porque eu desenho-as para encarar certos aspectos do desenho, para focar a atenção nele, só isso.” [3]
fig. 3 - Álvaro Siza Desenho da exposição Álvaro Siza – Viagem sem programa, patente na Fondazione Querini Stampalia, em Veneza, por ocasião da 13ª Mostra Internacional de Arquitetura, 2012. Fondazione Querini Stampalia e Bienal de Veneza. E também em Bernardo Pinto de Almeida, O que a luz ao cair deixa nas coisas, Álvaro Siza – desenhos. Árvore Cooperativa de Actividades Artísticas, CRL. BPI. s/d, Porto. (pág.230)..
Aquela referência ao Mestre Fernando Távora (1923-2005) lembrando Palladio, parece não ter a ver com o que Andrea Palladio (1508-1580) desenha, mas com o que escreve ao percorrer e desenhar as antiguidades de Roma:
“Não me limitei a isso, mas quis ver, e com minhas próprias mãos *medir tudo minuciosamente.” [4]
[*sublinhado meu.]
Ou seja, não é só pelo olhar que se apreende e mede o espaço, mas pelas mãos com que se desenha…
fig. 4- Andrea Palladio, Arco di Costantino a Roma, Prospetto e pianta, punta
d’avorio, tracce di matita nera, penna e inchiostro bruno su carta, 42,5 x 28,6
cm. Palazzo Chiericati. Vicenza.
Desde a Renascença, é muitas vezes incluído quem desenha, no acto de desenhar.
Repare-se
que na conhecida gravura de Florença do século XVI, de Lucanonio degli Uberti
(c.1500-1557), este coloca-se no canto inferior direito, executando o desenho como
se nós o observássemos na sua actividade.
fig. 5 - Lucanonio degli Uberti (c.1500-1557), Grande vista de Florença 1500-1510. Xilogravura, 57,8 x 131,6 cm.
fig. 6 – Pormenor do canto inferior direito da fig. anterior.
Canaletto também se coloca no centro de uma das suas
pinturas. Trata-se de um “capriccio”,
ou seja, a composição de uma imagem inventada como se fosse verdadeira.
Repare-se como Canaletto representa os edifícios, dos quais se destaca o Panteão com acrescentos da Rotonda de Palladio , e as diversas
personagens que dão vida à sua imaginada praceta de Roma.
fig. 7
Ao centro da imagem Canaletto retrata-se a si próprio sentado sob uma arcada tendo a seu lado um cachorro e absorvido no acto de desenhar.
fig. 8 – Pormenor da fig. anterior.
Mas para Álvaro Siza não basta, não é só, o colocar-se no desenho.
É muito mais do que isso.
Nos desenhos de Álvaro Siza, este “impõe” que nos
coloquemos a espreitar por cima do seu ombro, onde não vemos apenas o que ele
vê, mas vemos as suas mãos que desenham, o que vê e como ele imagina o que quer
ver.
Para Álvaro Siza é também uma forma de tornar colectiva a
forma de ver.
É saber que “a ideia está no "sítio", mais do que na cabeça de cada um; para quem souber ver, e por isso pode e deve surgir ao primeiro olhar; outros olhares dele e de outros se irão sobrepondo, e o que nasce simples e linear se vai tornando complexo e próximo do real - verdadeiramente simples.” [5]
E Le Corbusier (1887-1965), para
quem as mãos têm um simbolismo particular, também afirmava a
necessidade de abrir os olhos para saber ver e saber corresponder a uma
exigência colectiva. “é preciso dizer o que se vê, e sobretudo é
necessário, o que é mais difícil, ver o que se vê.” [6]
fig. 9 - Le Corbusier, Etude de décor pour un service de table 1961. Encre noire sur papier calque. Les Arts Décoratifs.
fig. 10 - Le Corbusier, Étude pour la main ouverte à Chandigarh 1952, Fondation Le Corbusier.
Essa mão “aberta para receber” como Le Corbusier justifica num poema do seu livro "Le Poème de l’angle droit", de 1955.
"Está aberta já que
tudo está presente disponível
alcançável
Aberta para receber
Aberta também para que qualquer um
venha e pegue
As águas que brilham
o sol ilumina
as complexidades teceram
a sua trama
os fluidos estão por toda parte.
Ferramentas na mão
As carícias da mão
A vida que nós saboreamos pelo
amassar as mãos
O olhar que está no
apalpar
……………..
Com as mãos cheias recebi
Com as mãos cheias eu ofereço.” [7]
É o caso do projecto de Fernando Távora para o Concurso para
Professor da Esbap em 1961/62 e de Giuseppe Samonà (1898-1983), para a Câmara
de Deputados em Roma em 1967.
fig. 13 - Giuseppe Samonà (1898–1983) projecto para os Uffici della Camera dei Deputati Roma 1967 (não realizado).
As mãos que Álvaro Siza desenha, desenhando
fig. 14 - Álvaro Siza, dessin à l’encre noire sur une page du carnet 168 [Berlim Elder’s Club R.], février 1984, Montréal, collection Centre canadien d’architecture, fonds Álvaro Siza, ARCH281743 (don d’Álvaro Siza).
E as mãos são memória, Álvaro Siza afirma que: “Todos
os gestos – também o gesto de desenhar – estão carregados de história, de
inconsciente memória, de incalculável, anónima sabedoria.
É preciso não descurar o exercício, para que os gestos não se crispem,
e com eles o resto.” [8]
“Hoje, as mãos são memória.
A alma não se lembra, está ferida
de tanto recordar. Mas nas mãos
permanece a recordação do que tiveram.
Memória de uma pedra
que esteve junto a um riacho
e que colhemos distraidamente
sem nos apercebermos da nossa fortuna.” [9]
E também, Miguel Torga (1907-1995), afirmava esta necessidade de tudo
ver e observar com mãos e com todos os outros sentidos:
“Como sempre vi,
ouvi, tacteei, gostei, cheirei, com a acuidade de um bicho e o deleite de um
epicurista. Como só desejei atingir, nas horas de exaltação e abstracção no
mundo interior, essa plenitude a que me acostumei diariamente no mundo exterior.” [10]
Esses gestos, essa manualidade do desenho, carregados “de história, de inconsciente memória, de incalculável, anónima sabedoria”, eram para os gregos representados pelo socrático Daimôn, que para Platão reside em todos nós e que é responsável pelo “divino delírio” que precede a criação. [11]
Essa personagem que para Rimbaud é “fecundidade do espírito e imensidão do universo” [12]
e que Fernando Pessoa nos avisa dessa “interrupção
fatal daquele visitante que também somos, daquela pessoa externa que cada um de
nós tem em si, mais real na vida do que nós próprios: - a soma viva do que
aprendemos, do que julgamos que somos, e do que desejamos ser.” [13]
Numa estampa de Prospero Fontana (1512-1597), Sócrates sentado
e desenhando, tendo nas
costas o seu Daimôn, iluminado pelo Sol (Apolo), tendo na mão esquerda um compasso e uma régua
(símbolos da Arquitectura e da Geometria), a quem o seu Daimôn, - neste caso o Eudaimôn,
o Daimôn Bom - inspira e parece
dar conselhos ao artista que desenha. Será uma representação das três artes
onde a tela representa a Pintura e por detrás do Daimôn vê-se uma peça que
poderá indicar a Escultura.
[14]
fig. 15 - Giulio Bonasone (activo
entre 1530 e 1574) de um desenho de Prospero Fontana (1512-1597), estampa in Achille Bocchi,
(1488–1562) Symbolicarum quaestionum.1555.
Importa sublinhar que nos desenhos de Álvaro Siza, a sua presença desenhando, resulta na procura da conformação do espaço, da escala e da distância entre o desenhador e o objecto desenhado.
Com as mãos, Álvaro Siza a desenhar (e a projectar), é como um oleiro
ou um escultor a trabalhar o barro, que o vai moldando dando forma aos seus
projectos.
Álvaro Siza, recorda que quando ainda jovem, tinha o desejo de ser escultor e “trabalhava um pouco em casa com barro, modelava-o.” [15]
E como arquitecto, ao referir o processo da elaboração de um
projecto, em que sempre se deve estar instruído de uma intencionalidade
formativa ou (com)figurativa, em correspondência ou consonância com as tendências,
as tensões e a lógica da conformação da própria obra, surge de novo a lembrança
das mãos, que ao modelar a forma refere
que “Como
um escultor deve manter-se o barro húmido…” [16]
Em Álvaro Siza as mãos que desenham surgem em vários tipos de desenhos;
fig. 16 - Álvaro Siza,93 in Francisco Granero Martin, Drawing as a Spiritual Liberation regarding Alvaro Siza Vieira's Honoris Causa Doctorate by the Universidad de Sevilla.
Ou nos desenhos que faz para melhor apreender uma obra de arquitectura, como a
famosa janela da Villa Le Lac de Le
Corbusier de 1923.
fig. 17 – Álvaro Siza, Villa Le Lac de Le Corbusier in Iain Fraser and Rod. Henemi Envisioning Architecture: an analysis of drawing. New York: John Wiley & Sons, Inc., 1994. (pág..122).
Mas é sobretudo nos “desenhos
de viagem” que surgem as mãos de Álvaro Siza.
Para quem “De uma forma ou de outra, todas as cidades são a minha cidade.” [17]
São sobretudo desenhos feitos de recantos de cidades por onde Álvaro Siza se passeou, lembrando Ítalo Calvino: “todo homem carrega na sua mente uma cidade feita apenas de diferenças, uma cidade sem figuras e sem forma, e são as cidades reais que a preenchem.” [18]
Por isso diz (e desenha) Álvaro Siza:
“As
coisas que podemos encontrar numa cidade, passeando, com o espírito livre e
aberto.
Um
puxador em forma de mão, ou de pata de animal, uma estranha janela de ferro,
uma casa espanhola que já não o é, uma fachada em tijolo, holandesa ou alemã,
todavia diferente, uma coluna clássica incorrecta que parece uma árvore, mil
sinais de proibição e gente, gente, gente: brancos, negros, crioulos.
Há
um sopro quase imperceptível, que percorre tudo e tudo transfigura.” [19]
Miguel Torga (1907-1995), também afirmava esta necessidade de tudo ver e observar com mãos e com todos os outros sentidos:
“Como sempre vi,
ouvi, tacteei, gostei, cheirei, com a acuidade de um bicho e o deleite de um
epicurista. Como só desejei atingir, nas horas de exaltação e abstracção no
mundo interior, essa plenitude a que me acostumei diariamente no mundo
exterior.” [20]
Dos muitos desenhos que Álvaro Siza faz das muitas cidades que visitou, apenas alguns exemplos daqueles em que se coloca a desenhar.
Já que é onde “Aprendemos desmedidamente; o que aprendemos
reaparece, dissolvido nos riscos que depois traçamos.” [22]
Lembrando (Johann Wolfgang von)
Goethe (1749-1832) que na sua “Voyage en Italie” afirma que "Eu
não empreendi esta viajem para me iludir, mas para aprender a conhecer o que
vejo” [23]
E Le Corbusier, para quem desenhar é antes de tudo ver com os
olhos, observar, descobrir.
"Desenhar é aprender a ver, a ver as coisas
e as pessoas nascendo, crescendo, florescendo, morrendo. É necessário desenhar
para empurrar para dentro * o que foi visto e ficará inscrito por toda a
vida em nossa memória.” [24]
[*Sublinhado meu.]
Alguns exemplos de desenhos de Álvaro Siza onde as mãos que desenham estão
presentes, em visitas profissionais ou de lazer.
Em Roma
Em Roma Álvaro Siza elaborou uma série de desenhos, desenhos esses que foram motivo de uma exposição com o título de “Álvaro Siza in Italia 1976-2016”, na Accademia Nazionale di San Luca, em 2016.
Confessa Álvaro Siza:
“Haverá melhor do que o sentar numa esplanada, em Roma, ao fim da
tarde, experimentando o anonimato e uma bebida de cor esquisita – monumentos e
monumentos por ver e a preguiça avançando docemente?
fig. 18 - Álvaro Siza Fórum de Roma1980 caderno 65 In Álvaro Siza. Esquissos de Viagem Travel Sketches Documentos de Arquitectura Porto 1988. (pág.37).
fig. 19 - Álvaro Siza, praça de Espanha vista da
escadaria 19 Set.1980. Roma. In Álvaro Siza Entrevista a Giulia Mura, La
sacralità dell’architettura. Conversazione con Álvaro Siza. 5 Settembre 2015.
Mostra d’Architettura MAXXI 2016-17. E Álvaro Siza Roma Setembro 1980
caderno 65 In Álvaro Siza. Esquissos de Viagem Travel Sketches Documentos de
Arquitectura Porto 1988.(pág.45).
Álvaro Siza. “Escrevi um texto onde falo destas viagens feitas sem pressão, sem qualquer motivo particular, como por ocasião desta estadia em Roma, onde eu digo do prazer que tive ao perder-me pelas ruas, para mim a melhor forma de experimentar as coisas, aprendê-las e captar a sua atmosfera, movidos apenas pelo desejo de descobrir, sem se sentir obrigado a ir ver o Panteão, por exemplo. O encontro, a oportunidade.” [30]
Mas Álvaro Siza, visita de facto o Panteão e ao desenhar o
seu interior desenha ainda a seu lado alguém que lê, possivelmente, Marguerite
Yourcenar, onde Adriano nas suas memórias escreve:
“Eu
tinha querido que esse santuário de todos os Deuses reproduzisse a forma do
globo terrestre e da esfera celeste, onde estão encerradas todas as sementes do
fogo eterno, da esfera oca que tudo contém” [31]
fig. 20 - Álvaro Siza Roma Panteão.
Setembro 1980 caderno 65. In Álvaro Siza. Esquissos de Viagem Travel Sketches
Documentos de Arquitectura Porto 1988. (pág.43).
Podemos comparar o desenho de Siza com uma pintura de
Giovanni Pannini (1691-1765).
fig. 21
E também Veneza
Ainda em Itália, mas em Veneza, esta estranha cidade onde “os pombos caminham e os leões voam” [32]
e onde “Suas ruas são canais / Onde sempre
gondoleiros / Vão guiando barcas negras” [33]
Ali onde Álvaro Siza vê e sente a “Húmida atmosfera de Veneza / Dores nas costa e brilho no olhar.” [34]
Mas que “Por muito que a visitemos, Veneza desperta
sempre um encantamento súbito e incontornável, como se fosse a primeira vez.
Uma sensação de haver viajado no tempo e não somente no espaço.” [35]
Álvaro Siza desenha a praça de S. Marcos onde Sophia assinala os “quatro cavalos gregos / Sobre o frontão de S.
Marcos…” [36]
fig. 22 - Álvaro Siza, Praça de S. Marcos Veneza Maio 1981 caderno 83 In Álvaro Siza. Esquissos de Viagem Travel Sketches Documentos de Arquitectura Porto 1988. (pág. 56).
E é a Veneza de Le Corbusier que, em 1934, na escola de Verão dos CIAM, descrevia “Veneza é como um nível de água. Nas tempestades da vida e nas
dificuldades de um empreendimento, é preciso ter duas coisas para construir: um
nível de água e um fio de prumo.” [37]
“Cada
visita é estar dentro de um sonho.
Em
Veneza é forçoso caminhar, pisar o chão deslizando em ritmo intermitente cruzar
um canal, degraus em cada margem, e logo outro e outro, - perspectiva a espaços
diferente.
Balanço
sobre água em plano raramente variável.
O
mesmo exercício é agora doloroso.
Tomo
um comprimido: o velho encantamento refaz-se.
O
Sol move-se até ao oiro de Visconti *.” [39]
fig. 23 - Fotograma do filme Morte em Veneza 1971.
Álvaro Siza em França
fig. 24 - Álvaro Siza, Versailles, desenho caderno 265.12/88, in Bernardo Pinto de Almeida, O que a luz ao cair deixa nas coisas, Álvaro Siza – desenhos. Árvore Cooperativa de Actividades Artísticas, CRL. BPI. s/d, Porto. (pág. 23).
E em Salzburgo na
Áustria
fig. 25 - Álvaro Siza, Salzburg 1986 in la palabra y el dibujo Juan Luis Trillo de Leyva y Ángel Martínez García Posada Editorial Lampreave Madrid 2012. E em Álvaro Siza. Esquissos de Viagem Travel Sketches Documentos de Arquitectura Porto 1988. (pág..135).
Em Havana no interior
de um transporte.
fig. 26 - Álvaro Siza Havana In https://www.publico.pt/2019/04/12
Num quarto em Berlim desenhando para descontrair
fig. 27 - Álvaro Siza, Berlim Casa de Ulli Böhme, 1981 cad.84 in Álvaro Siza. Esquissos de Viagem Travel Sketches Documentos de Arquitectura Porto 1988. (pág. 61).
fig. 28 - Álvaro Siza Mesa Esquisso de Álvaro Siza. In António Angrlillo - Álvaro Siza: scritti di architettura. Skira, Milano 1997. (pág. 204.)
“Mãos, rostos sem olhos e sem voz, mas que veem e que falam”
Num conhecido texto de Henri Focillon, “L’Éloge de la main” (O Elogio da mão), texto quase obrigatório para quem frequente as Belas Artes, o autor afirma que as mãos são “rostos sem olhos e sem voz, mas que veem e que falam” [40]
E em outra passagem “Não sei se a sentimos ou se ela tudo faz para ser esquecida; mas ela afirma-se na fixação dos membros, na escrita enérgica de um rosto, no perfil de uma cidade azulada pelo ar e até nos reflexos dourados que modelam a luz.” [41]
E escreve Álvaro Siza:
“De súbito o lápis ou a bic começam a fixar imagens, rostos em primeiro plano, perfis esbatidos ou luminosos pormenores, as mãos que os desenham.” [42]
fig. 29 - Desenho da exposição Álvaro Siza – Viagem sem programa, patente na Fondazione Querini Stampalia, em Veneza, por ocasião da 13ª Mostra Internacional de Arquitetura, 2012. Cortesia Fondazione Querini Stampalia e Bienal de Veneza.
fig. 30 - Álvaro Siza desenho a esferográfica 29,7 x 21 cm. 2022 centro português de Serigrafia.
E essas mãos, podem ser mãos raivosas, com punhos cerrados de protesto, que não apenas falam, mas gritam dando voz a esses trágicos protestos, que são sempre vontade de acção de (e pela) liberdade.
fig. 31 – Álvaro Siza cenários para a reconstrução da Síria, esquisso de Álvaro Siza. In https://www.archdaily.com.br/br/878429/
“La mano che ubbidisce all’intelletto”
fig. 32 – Leonardo Da Vinci (1452-1519), Studies of Hands (Windsor) photo Braun, Clement. plate XXVIII in Drawings of Leonardo Da Vinci by Charles Lewis Hind.(1862-1927) Gerge Newnes Limited London e Charles Scribners Sons New York. 1907.
Conceito que Varchi encontrou nos versos de um soneto de Michelangelo Buonarroti (1475-1564):
“Não tem o excelente artista nenhum conceito,
que um mármore sozinho não circunscreva
com seu escavar, e só a isso chega
a mão que obedece ao intelecto.” [44]
[*sublinhado meu.]
E prossegue Benedetto Varchi revelando aquelas duas razões para que
isso não aconteça, citando a Divina Comédia de Dante Alighieri (1265-1321):
“De duas maneiras, & por duas razões não obedece a mão ao intelecto, ou porque não é exercitada, & não tem prática, & isso é culpa do mestre, ou porque é impedida por um qualquer acidente como disse Dante.” [45]
“Mas a natura em míngua sempre a estrema,
E faz em semelhança com o artista
Que tenha hábito de arte e mão que trema”. [46]
fig. 33 - Hans Holbein (1497 ou 1498- 1543), Two Studies of the Left Hand of Erasmus of Rotterdam; Study of the Right Hand Writing. Ponta de prata, lápis negro e carvão vermelho sobre papel cinza. 20,6 × 15,3 cm, Museu do Louvre. Paris.
Leon
Battista Alberti (1404-1472), também afirmava, que é, pelo exercício do desenho, que o artista
transfere para a mão o que imaginou na sua mente:
“Resta então ao pintor, exercitar a maneira como irá imitar com a mão, as coisas que antes imaginou na sua mente.” [47]
Mas, é com este
necessário exercício, que se aprende a desenhar mãos (e pés) como
escreve Francisco de Holanda (1517-1585):
“Mas o meu parecer é que quem souber bem desenhar e somente fazer um pé, ou uma mão, ou um pescoço, pintará todas as cousas criadas no mundo; e pintor haverá que pinta quantas cousas ha no mundo tão imperfeitamente e tão sem nome que seria melhor não faze-lo.” [48]
A mão que desenha, desenhando-se
Em muitos dos seus desenhos Álvaro Siza desenha-se desenhando as suas próprias mãos.
fig. 34 - Álvaro Siza. A mão desenhando a mão L’Architecture d’Aujourd’hui no. 211 (1980),
Juhani Pallasmaa anota, como legenda deste desenho (em imagem invertida), uma citação de
Gaston Bachelard “La mano tiene sus suenos
y suposiciones”. [49]
Retirada do livro de Gaston Bachelard (1884-1962), “L’Eau et les Songes” cujo subtítulo -
importa sublinhar - “Essai sur
l’imagination de la matière”, Bachelard num longo estudo sobre a mão, escreve:
“A mão também sonha, e formula as suas hipóteses.
Ajuda a conhecer a matéria na sua intimidade. Ajuda por isso, a sonhar com
ela.” [50]
O desenho lembra um pouco o célebre desenho de Escher (1898-1972) em que as mãos se desenham uma à outra.
fig. 35 - Maurits Cornelis Escher Drawing hands 1948.Litografia 33,2 x 28,2 cm. National Gallery of Art, Washington, USA.
As mãos e o corpo
E Álvaro Siza elabora desenhos em que não figuram apenas as
suas mãos no acto de desenhar, mas o próprio corpo.
fig. 36 - Álvaro Siza. Caserta. 1984 in Álvaro Siza. Esquissos de Viagem Travel Sketches Documentos de Arquitectura Porto 1988. (pág.21).
fig. 37 - Álvaro Siza. Desenhando e desenhando-se. caderno 353 9.93
Este conhecido desenho de Álvaro Siza, lembra um outro famoso desenho do físico e pensador Ernest Mach.
O desenho de Ernst Mach, pertence ao seu livro “Contributos para a Análise das Sensações e a
Relação do Físico com o Psíquico” (Beiträge zur Analyse der Empfindungen
und das Verhältniss des Physischen
zum Psychischen) de 1886.
fig. 38 - O desenho de Ernst Mach, que pertence ao seu livro Contributos para a Análise das Sensações e a Relação do Físico com o Psíquico (Beiträge zur Analyse der Empfindungen und das Verhältniss des Physischen zum Psychischen) de 1886.
Na versão francesa no item 10. “Mon corps, ma perception” que acompanha o desenho, Ernst Mach
escreve:
“As ideias
apresentadas terão mais firmeza e evidência, se não as expressarmos de uma
forma puramente abstrata, mas olhando diretamente para os factos de onde
provêm. Se, por exemplo, eu me deito em um sofá e fecho o olho direito, a
imagem representada pela ilustração a seguir será oferecida ao meu olho
esquerdo.” [51]
fig. 39 – Os desenhos de Siza e de Mach, lado a lado.
Em ambos os desenhos a intenção é colocar o espectador no lugar do reclinado autor/desenhador.
E em ambos o autor está deitado de costas, o tronco
ligeiramente levantado e com as costas apoiadas, permitindo uma visão do corpo,
os pés nus e o espaço que o envolve.
fig. 40 - Álvaro Siza, Hotel Mediterrâneo Argentina Agosto1982, caderno 118 in Álvaro Siza. Esquissos de Viagem Travel Sketches Documentos de Arquitectura Porto 1988. (pág.143).
Surpreso porque como escreve Michel Foucault (1926-1984
“No espelho, eu vejo-me onde eu
não estou, num espaço irreal que se abre virtualmente atrás da superfície,
estou acolá, ali onde não estou, uma espécie de sombra que me dá a mim mesmo a
minha própria visibilidade, o que me permite ver-me ali onde estou ausente
(...) [52]
Ou como se escreve e auto retrata António Pedro (1909-1966):
“auto-re
trato
mago de me fazer
história e guerra,
capaz em cada imagem de servir
a minha imagem d’oiro
que um porvir
breve desfaz e n’outra imagem se erra
ou louco de tremer-me,
pela serra
árvore doida em transe
de florir
mãos como frutos, e
olhos a dormir
ao marulho das ondas,
sobre a terra,
quero-me tonto, a
tornar exacto e certo,
quotidiano e vil, como
suponho
tão necessário que se
seja, aquilo
que ultrapassado o
limiar incerto
do que é, em suave (de
divino) trilo
recria em mundo o que nasceu em sonho.” [53]
Para respeitar a grafia original do autor na publicação referida:
[1] Manuel
Alegre, in o canto e as armas, ed.
europa-américa, 1979.
[2] Manuel
Alegre, in o canto e as armas, ed.
europa-américa, 1979.
[3]
Francisco Granero Martin, Conversando com Álvaro Siza: El dibujo como
liberación del espíritu. EGA Expression Gráfica Arquitectónica n.º 20, Año 17.
Universitat Politècnica de València. 2012. (pág.56 a 65). “surgió una primera vez, no lo sé cuando, mientras dibujaba un paisaje
de una ciudad. Puse mis manos espontaneamente en el dibujo, pero no fue un acto
voluntario y consciente. Surgió sin saber por qué. Más tarde, llamó la atención
a Távora que los dibujos de Palladio poseen una cierta similitud en cuanto a
dibujar las manos; pero esas manos aparecen de una manera distinta, porque yo
las dibujo para afrontar ciertos aspectos del dibujo, para centrar la atención
en él, únicamente eso.”
[4] Andrea Palladio, Alli Lettori in L’antichità di Roma,
di M. Andrea Palladio. Racolta brevemente dagli Auttori Antichi, è Moderni.
Novamente posta in Luce. Apresso Vincenzo Lucrino in Roma 1554. (pág.
12). “Ne mi son contintato di
questo solo che ancho ho voluto vedere, et con le mie proprie mani misurare
minutamente il tutto.”
[5] Álvaro
Siza, Notas sobre o trabalho em Évora in Quaderns d’Arquitectura i Urbanisme.
N.º 159. Out.Nov.Dez. 1983. (pág.2).
[6] Le Corbusier, Jean Petit, Le livre de Ronchamp, Les Cahiers Forces Vives, Editec 1961. (pág.
2). “il faut
toujours dire ce que l’on voit, surtout il faut toujours, ce qui est plus
difficile, voir ce que l’on voit.”
[7] Le Corbusier,F3 Offre (la main ouverte) in Le Poème de l’angle droit, Éditions
Tériade, Paris, 1955.
“Elle est ouverte puisque
tout est présent disponible
saisissable
Ouverte pour recevoir
Ouverte aussi que pour chacun
y vienne prendre
Les eaux ruissellent
le soleil illumine
les complexités ont tissé
leur trame
les fluides sont partout.
Les outils dans la main
Les caresses de la main
La vie que l'on goûte par
le pétrissement des mains
La vue qui est dans la
palpation.
----------------------------------
Pleine main j'ai reçu
Pleine main je donne. “
[8] Álvaro Siza, A
Importância de desenhar 1987 in 01- Textos Álvaro Siza. Civilização Editora, rua Alberto Aires Gouveia, 27.
Porto 2009. (pág.37 e 38).
[9] Pedro Salinas (1891-1951) La memoria de las manos 1975 de Largo
Lamento in Poesia Completa ed. Debolsillo 2012. (pág.469). tradução libre de:
“Hoy son
las manos la memoria.
El alma no se acuerda, está dolida
de tanto recordar. Pero en las manos
queda el recuerdo de lo que han tenido.
Recuerdo
de una piedra
que hubo junto a un arroyo
y que cogimos distraídamente
sin darnos cuenta de nuestra ventura.”
[11] Platon Phedre Le Banquet in Oeuvres de Platon., traduction nouvelle avec des notices et des notes par E. Chambry, Librarie Garnier Frères, 6 rue des Saints-Pères, Paris 1919. (Pág. 244).“Socrate: …Il y a une troisième espèce de possession et de délire, celui qui vient des Muses. Quand il s'empare d'une âme tendre et pure, il l'éveille et la transporte, et en exaltant dans des odes et des poèmes de toute sorte d'innombrables hauts faits des anciens, il fait l'éducation de leurs descendants. Mais quiconque aproche des portes de la poésie sans que les Muses lui aient soufflé le délire, persuadé que l'art suffit pour faire de lui un bon poète, celui-là reste loin de la perfection, et la poésie du bon sens est éclipsée parla poésie de l'inspiration.”
[12] (Jean-Nicolas) Arthur Rimbaud (1854 -1891), Illuminations 1875, in Œuvres de
Jean-Arthur Rimbaud, Société du Mercure de France XV, Rue de
l’Échaudé-Saint-Germain, XV, Paris M DCCC XCVIII. (pág.203 e 204).
“fécondité de l'esprit et immensité de
l'univers.”
[13] Fernando
Pessoa. O
Homem de Porlock, sobre o enigmático poema Kubla Kahn
de 1798 da autoria do poeta inglês Samuel Taylor Coleridge (1772-1834), in
Fradique,
n.º 2 de 15 de Fevereiro de 1934.
[14]
Achillis Bocchi i Bonon, (1488–1562) Simbolicarum Quaestionum, De universi
genere, quas serio Ludebat, Libri Quinque. Bononiae, Apud Societatem
Typographiae Bononiensis Bologna M.D.LXXIIII. (Livro I pág.8)
[15] Álvaro
Siza. “trabajaba un poco en casa com
barro, lo modelaba.” In Entrevista a Juan Maria García Otero. In Álvaro
Siza, Faculdad de Ciencias de la Informacion, Universidad de Santiago de
Compostela. Edicion de Constructora San José, S. A.E ditorial América Ibérica
S.A. 2000. (pág. 20).
[16] Álvaro
Siza, “Comme
un sculpteur on doit maintenir l’argile humide…” in Architecture
d’Aujourd’hui n.º 211 Oct. 1980.
[17] Álvaro Siza,
Casabella n.º 630-631 Gennaio/Febbraio. 1996. in 01- Textos Álvaro Siza. Civilização Editora, rua Alberto Aires Gouveia, 27.
Porto 2009. (pág.175).
[18] Ítalo
Calvino (1923-1985), “ogni uomo porta
nella mente una città fatta soltanto di differenze, una città senza figure e
senza forma, e le città particolare la riempiono.” in Le Città invisibili. Palomar S,r.l. e Arnoldo Mondadori Editori
S.p.A., Milano 1993. (pág. 33).
[19] Álvaro Siza, Exposição – As Cidades de Siza 2001, in 01- Textos Álvaro Siza. Civilização Editora, rua Alberto
Aires Gouveia, 27. Porto 2009. (pág.271).
[20] Miguel Torga. (Adolfo Correia da Rocha). Diário II in Diário Vols. XI-XVI (1941-1959) ed. D. Quixote Lisboa Abril 1999.
[21] Álvaro Siza, Desenhos
de Viagem 1988 in 01- Textos Álvaro Siza. Civilização
Editora, rua Alberto Aires Gouveia, 27. Porto 2009. (pág.49).
[22] Álvaro Siza, Desenhos
de Viagem 1988 in 01- Textos Álvaro Siza. Civilização
Editora, rua Alberto Aires Gouveia, 27. Porto 2009. (pág.49).
[23] Johann
Wolfgang von Goethe (1749-1832), Voyage
en Italie (1786/1788) in Mémoires de
Goethe traduits pour la première fois, par la Baronne de Carlowitz, seconde
partie. Votages, Campagne de France et Annales. Charpentier, Libraire-Éditeur,
39, Rue de l’Université Paris 1855. (pág.23). “Je n'ai pas entrepris ce voyage pour me faire illusion, mais pour
apprendre à connaître ce que je
vois.”
[24]
Le
Corbusier, L’Atelier de la recherche
patiente. Vincent Fréal & C.ia, Paris 1960. (pág. 27).
“Dessiner, c’est d’abord regarder avec ses yeux, observer, découvrir. Dessiner, c’est apprendre à voir, à voir naître, croître, s’épanouir, mourir les choses et les gens. Il faut dessiner pour pousser à l’intérieur ce qui à été vu et demeurera alors inscrit pour la vie dans notre mémoire.”
[25] Ítalo
Calvino (1923-1985), “ogni uomo porta
nella mente una città fatta soltanto di differenze, una città senza figure e
senza forma, e le città particolare la riempiono.” in Le Città invisibili. Palomar S, r.l. e Arnoldo Mondadori Editori
S.p.A., Milano 1993. (pág. 33).
[26] Álvaro Siza,
Casabella n.º 630-631 Gennaio/Febbraio. 1996. in 01- Textos Álvaro Siza. Civilização Editora, rua Alberto Aires Gouveia, 27.
Porto 2009. (pág.175).
[27] Álvaro Siza, Exposição – As Cidades de Siza 2001, in 01- Textos Álvaro Siza. Civilização Editora, rua Alberto
Aires Gouveia, 27. Porto 2009. (pág.271).
[28] Bernardo Pinto de Almeida, O Tamanho do Mundo in Bernardo Pinto de Almeida, O que a luz ao cair deixa nas coisas, Álvaro
Siza – desenhos. Árvore Cooperativa de Actividades Artísticas, CRL. BPI.
s/d, Porto. (pág. 103).
[29] Álvaro Siza, Desenhos
de Viagem 1988 in 01- Textos Álvaro Siza. Civilização
Editora, rua Alberto Aires Gouveia, 27. Porto 2009. (pág.49).
[30]
Álvaro Siza. La forme inattendue de
soi. Entrevista
por Dominique Machabert. Porto Agosto 2019. In
Perspective, Actualité en histoire de
l’art 1 https://doi.org/10.4000/perspective.22968
“J’ai écrit
un texte où je parle de ces voyages fait sans pression, sans raison
particulière, comme à l’occasion de ce séjour à Rome, où je dis le goût que
j’ai eu à me perdre dans les rues, meilleur moyen selon moi pour expérimenter
les choses, les apprendre, et pour capter l’atmosphère, poussé par rien d’autre
que par le désir de découvrir sans se sentir obligé d’aller voir le Panthéon
par exemple. La rencontre, le hasard.”
[31]
Marguerite Yourcenar (1903-1987), Les
Mémoires d'Hadrien suivi de Carnets de notes de Mémoires d’Hadrien, 1951
cap. XVII Gallimard, Paris 1977. (pag.38). “J’avais voulu
que ce sanctuaire de tous les Dieux reproduisît la forme du globe terrestre et
de la sphère stellaire, du globe où se renferment toutes les semences du feu
éternel, de la sphère creuse qui contient tout.”
[32] Jean Cocteau (1889-1963). “Venise
où les chevaux vivent sur les corniches, où les lions volent d’une colonne à
l’autre, où les pigeons, par contre, déambulent gravement sur les places en
costume de carnaval, les mains dans le dos.” in Jean Cocteau, OEuvres
romanesques complètes. Édition établie par Serge Linarès. Préface d’Henri
Godard, Gallimard, La Bibliothèque de la Pléiade, Paris, 2006 (pág.155).
[33]
Sophia de Mello Breyner Andresen, Veneza de O Búzio de Cós (1997), in Obra
Poética. 3ª Edição, Assírio e Alvim, Porto 2015. (pág. 884 e 885).
[34] Álvaro
Siza, Brilho no olhar Porto 17 de Outubro
2016. In Álvaro Siza 03-Textos org. e prefacio de Carlos Campos Morais.
Parceria A.M. Pereira Lisboa 2019. (pág.93)
[35] Álvaro Siza, Evocação
de Aldo Rossi, (2007) in 01- Textos Álvaro Siza. Civilização Editora, rua Alberto Aires Gouveia, 27. Porto 2009. (pág.389).
[36] Sophia de Mello Breyner Andresen, Veneza de O Búzio de Cós (1997), in Obra Poética. 3ª Edição, Assírio e Alvim,
Porto 2015. (pág. 884 e 885).
[37] Le Corbusier: “A propos de Venise”. In Venezia Architettura. N°1. 1952. (pág.6 a 9).“Venise est comme un niveau d’eau. Dans les
tempêtes de la vie et les difficultés d’une entreprise, il faut deux choses
pour construire: un niveau à eau et un fil à plomb.”
[38] Le Corbusier,
“Il silenzio e la voce umana, questo è il miracolo di Venezia, una città che,
all’interno dell’ordine moderno, rimane un dono mandato da Dio, sempre lì,
sempre presente, che nessuno deve distruggere”
[39] Álvaro
Siza 15 de Maio de 2016. In 03-Textos (pág. 24)
[40] Henri Focillon (1881-1943), “visages sans yeux et sans voix, mais qui voient et qui parlent”,
L’Éloge de la Main 1934, in Vie des formes, suivi de Éloge de la main.
Presses Universitaires de France, 1943. 7e édition, Paris 1981. (pág. 3).
[41] Henri
Focillon (1881-1943), “Je ne sais pas si
on la sent ou si elle fait tout pour se faire oublier: mais elle y est, elle
s’affirme dans l’attache des membres, dans l’écriture énergique d’un visage,
dans le profil d’une cité bleuie par l’air et jusque dans les hachures d’or qui
modèlent la lumière.” In L’Éloge de
la Main 1934, in Vie des formes, suivi de Éloge de la main. Presses
Universitaires de France, 1943. 7e édition, Paris 1981. (pág. 18).
[42] Álvaro Siza, Desenhos de Viagem (1988) in 01-
Textos Álvaro Siza. Civilização Editora, rua Alberto Aires Gouveia, 27. Porto
2009. (pág.49).
[43] Bachelard, “La
main dynamique symbolise l’imagination de la force.” In
Gaston Bachelard
(1884-1962) L’Eau et les Songes, Essai sur l’imagination de la matière. Librairie José Corti, Paris
1942. (pág. 131).
[44] Benedetto Varchi (1503-1565), Due Lezzioni di M. Benedetto Varchi, nella
prima delle quali si dichiara un Sonetto di M. Michelagno. o Buonarroti. Nella
seconda si disputa quale sia più nobile arte la Scultura, o
la Pittura, con una lettera d'esso Michelagnolo, & più altri Eccellentis s.
Pittori, et Scultori, sòpra la Quistione sopradetta. Appresso Lorenzo Torrentino, Impressor Ducale.
Firenza M.D. XLIX. (pág.13 e 14).
“Non ha l’ottimo Artista alcun
concetto,
ch’un marmo solo in sé non
circoscriva
col suo soverchio, e solo a
quello arriva
la man che ubbidisce
all’intelletto.”
[45]
Benedetto Varchi (1503-1565), Due
Lezzioni di M. Benedetto Varchi, nella prima delle quali si dichiara un
Sonetto di M. Michelagno. o Buonarroti. Nella seconda si disputa quale sia più
nobile arte la Scultura, o la Pittura, con una lettera d'esso Michelagnolo,
& più altri Eccellentis s. Pittori, et Scultori, sòpra la Quistione
sopradetta. Appresso Lorenzo Torrentino, Impressor Ducale. Firenza M.D. XL. IX.
(pág.29).
“In due modi, & per due
cagioni non obbedisce la mano all'intelletto, o perche non è esercitata,
& non ha la pratica, & quello e difetto del maestro, o perche è
impedita da qualche accidente come disse Dante.”
[46] Dante
Alighieri, Divina Comédia.
“Ma la natura la da sempre scema
Similemente operando a l’artista
Ch’a l'habito dell'arte, ha
man che trema”.
in Edição bilingue.
Tradução de Vasco Graça Moura. Quetzal Editores, Lisboa 2011. (Paraíso Canto
XIII v.75-78). (pág.707 e 708).
[47] Leon
Battista Alberti (1404-1472), Della
Pittura e della Statua di Leon Battista Alberti. Dalla Società Tipografica
de Classici Italiani contrada di S. Margherita, N.º 1118 Milano Anno 1804.
(pág.35).
“Resta ora che si ammaestri il Pittore, del
modo che egli avrà a tenere nello imitar con la mano, le cose che egli si sarà
immaginato prima nella mente.”
[48] Joaquim de Vascocellos (1849-1936), Quatro Diálogos da pintura Antiga,
Francisco de Hollanda, Miguel Angelo, Vittoria Colonna, Lattanzio Tolomei.
Interlocutores em Roma. Renascença Portuguesa. Porto M DCCC XCVI. (pág.45).
[49] Juhani
Pallasmaa, La mano que piensa, Editorial Gustavo Gili SL Barcelona 2012. (pág.13).
[50] Gaston Bachelard (1884-1962) L’Eau et les Songes, Essai sur l’imagination de la
matière. Librairie José Corti, Paris 1942. (pág.130). “La main aussi a ses rêves,
elle a ses hypothèses. Elle aide à connaître la matière dans son intimité. Elle
aide donc à la rever”
[51] Ernst
Mach (1838-1916), “Les idées exposées
auront plus de fermeté et d'évidence si on ne les exprime pas sous une forme purement
abstraite, mais en regardant en face, et directement, les faits dont elles
proviennent. Si, par exemple, je suis allongé sur un canapé, et ferme l'œil
droit, l'image représentée par l'illustration suivante s'offrira à mon œil
gauche. In Analyse des sensations,
le rapport du physique au psychique (1886) Chapitre I Traduit
par Françoise Eggers; Édité par Jean-Maurice Monnoyer; Éditions Jacqueline
Chambon 1991.
[52] “Dans le miroir, je me vois là où je ne suis
pas, dans un espace irréel qui s’ouvre virtuellement derrière la surface, je
suis là-bas, là où je ne suis pas, une sorte d’ombre qui me donne à moi-même ma
propre visibilité, qui me permet de me regarder là où je suis absent (...)” in Michel Foucault (1926-1984), Des espaces
autres (1967), dans Dits et écrits, tome V. Ed. Gallimard, Paris 1972. (pág.
756).
[53] António Pedro Casa de Campo. Poema (1938) in Antologia
Poética. Edição Fernando Matos de Oliveira. Angelus Novus. Braga 1999 (pág.
49)