sábado, 12 de julho de 2025

A “Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes” Paris 1925. 8 II Parte

 

Os Pavilhões franceses oficiais e privados

Já aqui foram referidos Mallet-Stevens (pavilhão de Informações e Turismo, a Embaixada Francesa) e A. Perret (Teatro da Exposição e pavilhão da editora Albert Levy (depois dos armazéns Printemps), Tony Garnier (pavilhão de Lyon) e Le Corbusier- P. Jeanneret (pavilhão de L’Esprit Nouveau).

Em quase todos os seus outros pavilhões, “A França teve medo e a maioria dos seus pavilhões não são construtivos, mas apenas decorativo e isso é uma pena.”

L’Esplanade des Invalides



fig. 1 – Vista Aérea da Esplanada dos Inválidos. L’Esplanade des Invalides. CI. C.ie Aéroenne Française. Postal AN 205 Paris.


A Esplanada dos Inválidos no plano da autoria do arquitecto Charles Plumet (1861-1928), o arquitecto-chefe da Exposição das Artes Decorativas, estendia-se ao longo de um eixo Sul-Norte, a avenida Galliéni *, desde as Portas de Grenelle (Contantine e Fabert), até à Ponte Alexandre III. 

[*Joseph Simon Gallieni (1849-1916), militar francês nas colônias francesas e na Primeira Grande Guerra, Marechal de França] 

 O plano dividia-se em três tramos: A Cour des Métiers (1), o sector definido pelas 4 Torres das regiões vinícolas de França (2) e o sector desde o Pavilhão de Sèvres até ao Sena onde estavam os pavilhões dos Grands Magasins de Paris (3).

 




fig. 2 - Place des Invalides. Pormenor da planta geral da Exposição com os três espaços.

 

 

1 - La Cour des Métiers

 A Cour des Métiers era formada pelo Teatro da Exposição de Auguste Perret (já aqui abordado) e pela Biblioteca de J, Hiriart (Jean Adolphe Joseph Hiriart, 1888-1946), unidos por um edifício da Société des Artistes Décorateurs, formando um claustro com esculturas intercaladas por frescos. Limitava este espaço a Fonte Lalique de René Lalique (1860-1945).

 

fig. 3 - La Cour des Métiers M. Plumet, Architecte (Pl.177) in La Construction moderne n.º 45 (page 534) photo Thibaut.

 

Para alguns autores e críticos de arte a Cour des Métiers foi considerada o centro ou “o coração” da Exposição.

O crítico Paul Vitry (1872-1941) na Gazette des Beaux Arts escreve :

“Na Esplanada, este plano incluía necessariamente um desenho geral e monumental que é visível, mas que, no entanto, talvez seja necessário sublinhar. Um edifício baixo, tendo ao centro um pátio-jardim ladeado por galerias cobertas, denominado "Cour des Métiers", tal é o centro moral da Exposição, em torno da qual se agrupou, oficialmente apoiado pelo Estado, o esforço de artistas decoradores e artesãos, criadores do movimento que se pretendia glorificar. Este edifício baixo, discreto e sem qualquer aparência ostensiva ao contrário do famoso edifício central da Exposição de 1889, permite, como pano de fundo, a perspectiva clássica da cúpula dos Inválidos. Está ladeado por uma biblioteca e um teatro, pouco mais alto e sem maior pompa exterior. Duas alas laterais, ligadas e delimitadas internamente por galerias elegantes e sóbrias, enquadram a maior parte da Esplanada.”  [1]

 

E Antony Goissaud (1871-1950) na Construction Moderne

“La Cour des Métiers parece ser o “coração” da Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas; do seu vestíbulo, a multidão flui através das duas salas quadradas nas extremidades da fachada, para uma galeria em formato de quarto de círculo que se estende de cada lado da esplanada, ladeia e serve os longos pavilhões que abrigam os conjuntos de stands de mobiliário francês e estrangeiro. Um fluxo constante de visitantes vindos da Ponte Alexandre III sobe a grande avenida da Esplanada, atraídos pela Cour des Métiers, de onde se espalham para os lados desta grande parte da Exposição, trazendo uma animação cada vez maior, e depois se dispersam pelas várias galerias laterais deste grande quadrilátero. [2]

 

A Fonte Lalique


fig. 4 – La Fontaine Lalique Postal AN 12 Paris.

O arquitecto Jean Hiriart (1888-1946) confessa a sua desilusão.

“Confesso que esta fonte, apesar da bonita ideia, me desiludiu. A forma é banal; já foi comparada a muitas coisas, e numa crítica geral há sempre um fundo de verdade. O material é belo, no entanto: poderia ter sido diferente com o mestre que o tratou? O principal defeito desta obra parece ser a falta de escala: um pequeno motivo não cresce quando as suas dimensões são aumentadas: os jactos de água podiam ter-lhe dado essa escala através da sua variedade! Aqui, mais uma vez, o efeito é demasiado monótono e previsível: e, no entanto, havia ali uma bela possibilidade.”  [3]

 

O Guia Oficial da Exposição descrevia-a da seguinte forma:

Fontaine Lalique (9). Com uma altura de 14,20 m. era a maior fonte de vidro construída até aos nossos diasComposta por uma parte central em forma de obelisco, ornamentada por 140 figuras de vidro, representando as fontes dos rios de França.  Na base de cada fonte, a água jorrava; os fios de água e as linhas do vidro associavam-se de uma maneira harmoniosa, formando uma árvore gigante de ramos desenhados pelos jactos de água partindo do tronco de vidro. Desde o cimo. O vidro e a água escorrem em cascatas caindo num tanque octogonal, com pavimento de vidro limitado por uma margelle incrustada de cristal: neste cenário passeiam-se feericamente peixes com reflexos prateados”  [4]

 


fig. 5 – La Fontaine Lalique la nuit.

Iluminada à noite tornou-se uma das atracções da Exposição.

 “... à noite, dois projectores no interior e quatro no exterior, iluminam com raios de luz brancos e coloridos que aumentam esta festa da luz.”  [5]

 



[1] Sur l’Esplanade, ce plan comportait forcément un dessin général monumental qui existe visible, mais qu’il est peut-être nécessaire de souligner néanmoins. Une construction basse, avec, au centre, une cour-jardin bordée de galeries couvertes, dite «Cour des Métiers», tel est le centre moral del’Exposition, autour duquel a été groupé, soutenu officiellement par l’Etat, l’effort des artistes décorateurs et des artisans, créateurs du mouvement qu’il s’agissait de glorifier. Ce bâtiment de faible élévation, discret et sans allure tapageuse à la façon du fameux Dôme Central de l’Exposition de 1889, ménage comme fond à l’Exposition la perspective classique du Dôme des Invalides. Deux ailes latérales, reliées et bordées vers l’intérieur par des galeries élégantes et sobres, encadrent la majeure partie de l’Esplanade. Paul Vitry, L’Exposition des Arts Décoratifs Modernes in Gazette des Beaux Arts Tome XII Julliet-Aout 1925. (pág. 2).

[2] « La Cour des Métiers » paraît être le « cœur » de l’Exposition Internationale des Arts décoratifs et industriels modernes; de son vestibule, la foule s’écoule, par les deux salles carrées d’extrémités en façade, dans une galerie eu quart de rond qui se prolonge de chaque coté de l’esplanade, borde et dessert les longs pavillons abritant les ensembles des stands des mobiliers français ou étrangers. Un courant incessant de visiteurs venant du Pont Alexandre III remonte la grande avenue de l’Esplanade, attiré par la Cour des Métiers, d’ou il se répand ensuite sur les côtés de cette grande partie* de l’Exposition en y apportant une animation toujours très grande et se disperse ensuite dans les différentes galeries latérales de ce grand quadrilatère.  Antony Goissaud "La construction moderne" du 9 août 1925.

[3] J’avoue que cette fontaine dont l’idée était jolie, m’a déçu. La forme en est banale ; on l’a déjà comparée à un tas de choses, et dans une critique générale, il y a toujours une part de vérité. La matière en est belle cependant : pouvait-il en être autrement avec le maître qui l’a traitée ? Le défaut principal de cette œuvre paraît être le manque d’échelle : un motif petit, ne grandit pas quand on en augmente les dimensions : les jeux d’eau eussent pu lui redonner cette échelle par leur variété ! Là encore l’effet est monotone et trop prévu : et cependant il y avait là une jolie possibilité. J. Hiriart, L’Architecture. In Vient de paraitre (pág. 149)

[4]  Paris, arts décoratifs, 1925 : guide de l'exposition. 1925. Librairie Hachette (pág. 323).

[5] Idem (pág. 324).


As esculturas e os frescos da Cour des Métiers

A Cour des Métiers tinha um conjunto de 14 esculturas representando diversos ofícios, , em nichos, intercalados por frescos, representando várias actividades, rodeando o pátio ajardinado que tinha ao centro uma fonte do escultor Pierre Marie Poisson (1876-1953), fonte que nos seus lados tinha baixos-relevos dourados representando a Pintura, a Escultura, a Arquitectura e a Música.



fig. 6 – Ch. Plumet Arch. Cour des Métiers vue intérieur. Postal AN 145 Paris.

No Relatório Geral da Exposição pode ler-se:

“Associar a escultura à arquitetura colocando estátuas em nichos não é certamente uma novidade. Mas Charles Plumet, arquiteto-chefe da Exposição, precisava de nichos na Cour des Métiers para proporcionar áreas de descanso e superfícies côncavas entre as longas secções coloridas por pinturas.”

 E mais adiante

“Para estes catorzes nichos, desenhou outras tantas figuras de bronze, em tamanho  meio natural, direitas e sóbrias de movimentos, representando os principais ofícios. Embora estas figuras, colocadas quase ao ar livre, dessem por demais a impressão de estatuetas preciosas, feitas para uma galeria fechada, quem não elogiaria o estudo e a execução do programa, a escolha dos escultores, a sua submissão ao mestre da obra? Aí se podem admirar talentos tão diversos como os de Paul Niclausse, descendente dos fabricantes de imagens da Idade Média, que combina a forma mais ampla com a observação comovente do modelo, Fernand David, cuja morte recente foi um luto para a arte, Albert Pommier, Dejean, Marque, Wlérick, Cavaillon, Drivier, Halou, Arnold, Guénot, Traverse, Vigoureux, Contesse. O conjunto, completado pelos baixos-relevos da fonte de Poisson e pelas decorações de canto de Le Bourgeois, prova que hoje como no passado, a originalidade não exclui a disciplina inteligente.”  [1]



fig. 7 - Vestibule de la Cour des Métiers par M. Plumet. Cl. Braun. Gazette des Beaux-Arts Tome XII Juillet-Aout 1925. (pág. 11).

O crítico de Arte Antony Goissaud (1871-1950) descreveu e comentou estas esculturas:

“Os nichos estão decorados com catorze estátuas de 1 m. 05 de altura em bronze, assentes em bases altas e com 28 centímetros de cada lado. O eminente arquitecto dedicou especial atenção à composição e execução destas 14 estátuas, que representam as profissões. Foram escolhidos 14 artistas para a produção, são eles os Srs. Dejean, que representou o Ferreiro; Traverse o Carpinteiro; Marque, a Costureira; Vlérick, o Vidreiro; Contésse, o Ourives; Vigoureux, o joalheiro; Cavaillon, o Encadernador; David, o Cinzelador; Pommier, a Tapeteira; Arnold, o Chapeleiro; Guénot, o Pedreiro; Niclausse, o Jardineiro; Drivier, o Marceneiro; Halou, o Oleiro.

Estas belíssimas estátuas, que formam um belo conjunto, foram fundidas por Leblanc, Barbedienne e Rouard.”  [2]



fig. 8 - Le Jardinier (bronze). Sculpture par Niclausse. Et Le Verrier (bronze) sculpture par Wlérick. Pl. XXXIX. Section Française Arch. Phot. Beaux-Arts. CAM.

 

E a revista Renovação, de acordo com a sua ideologia, destacou com entusiasmo este grupo de esculturas:

“Na Exposição das Artes Decorativas figura ainda, digno de especial destaque pelo que revela de sintomático da época que atravessamos, em que os trabalhadores se impõe à atenção e à consideração do mundo. O Edifício Inter –corporativo, cuja galeria das profissões é ornamentada por catorze estátuas, cada uma sintetisando uma das corporações operarias que contribuiram para o conjunto da decoração. Este edifício simbólico, situado ao centro da explanada dos Inválidos, é um dos atrativos da exposição, quer pela harmonia das suas proporções, quer pelo valor da sua execução.”  [3]

 

As 14 esculturas no número 1 da revista Renovação de 2 de Julho de 1925.



fig. 9 - O Jardineiro de Paul François Niclausse (1879-1958) e o Vidreiro de (Joseph François) Robert Wlérick (1882-1944). Renovação

 


fig. 10 – A Modista (a Tapeteira) de Albert Pommier (1880-1943). O Ferreiro de Louis Dejean (1872-1953). O Pedreiro de Auguste Guènot (1882-1966). A Costureira Albert Marque (1872-1939).



fig. 11 – O Oleiro de (Jean Ludovic) Alfred Halou (1875-1940). O Cinzelador de David. O Canteiro de Léon-Ernest Drivier (1878-1951). O revelador de Élisée Cavaillon (1873-1954).


 

fig. 12 – o Quinquilheiro de de Gaston (Louis Joseph) Contesse (1870-1946). O marceneiro de Pierre Traverse (1892-1979). o Tapeteiro de Élisée Cavaillon (1873-1954). O Ourives de Pierre Octave Vigoureux (1884-1965).

 

O crítico de arte Arsène Alexandre (1859-1937) em La Renissance de l’Art Français, escreve

“A melhor prova de que o talento pode rejuvenescer este recurso, encontra-se na Cour des Métiers, onde as diversas Trabalhos eram comemorados no real por estatuetas, solicitadas aos escultores mais importantes, que não desdenharam de se prestar a esta experiência. O resultado foi do mais bem-sucedido: a costureira do Sr. Arnold, o carpinteiro do Sr. Traverse, o jardineiro do Sr. Niclausse, todos eles, enfim, produziram as figuras mais atraentes e cativantes por si próprias que respondiam ao seu papel decorativo.” [4]

O texto era acompanhado de duas imagens de trabalhadores.


 

fig. 13  – Niclausse. Le Jardinier. Cour des Métiers. La Renaissance de l’Art Français. (pág. 448).

 


 

fig. 14

 -Traverse. Le Charpentier. Cour des Métiers Cliché Renaissance - . La Renaissance de l’Art Français. (pág.449)

 

 

 



[1] Associer la sculpture a l’architecture en plaçant des statues dans des niches n’est certes pas une nouveauté. Mais Charles Plumet, architecte en chef de l'Exposition, avait besoin de niches, dans la Cour des Métiers, pour ménager des repos & des surfaces concaves entre les longs pans colorés par des peintures.
Il avait conçu, pour ces quatorze niches, autant de figures de bronze, de grandeur demi-nature, droites & sobres de mouvements, représentant les principaux métiers. Bien que ces figures, placées presque en plein air, aient trop donné l’impression de statuettes précieuses, faites pour une galerie fermée, qui ne louerait l’étude & l'exécution du programme , le choix des sculpteurs, leur soumission au maître de l'œuvre? On pouvait admirer là des talents aussi divers que ceux de Paul Niclausse, descendant des imagiers du Moyen Age, qui allie à la forme la plus large l’observation émue du modèle, Fernand David de qui la mort récente a été un deuil pour l'art, Albert Pommier, Dejean, Marque, Wlérick, Cavaillon, Drivier, Halou, Arnold, Guénot, Traverse, Vigoureux, Contesse. L’ensemble, complété par les bas-reliefs de la fontaine dus à Poisson, & par les décors d’angles de Le Bourgeois, a prouvé qu’aujourd’hui comme autrefois l’originalité n’exclut pas une intelligente discipline. Rapport Général de l'Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes Paris 1925"

[2] Les niches sont ornées par quatorze statues de 1 m. 05 de hauteur en bronze, placées sur des socles hauts et de 28 centimètres de côtés. L’éminent architecte a porté une attention toute particulière à la composition et à l’exécution de ces quatorze statues qui représentent les métiers. Quatorze artistes ont été choisis pour la réalisation, ce sont MM. Dejean, qui a représenté le Forgeron; Traverse, le Charpentier; Marque, la Couturière; Vlérick, le Verrier; Contesse, l’Orfèvre; Vigoureux, le bijoutier; Cavaillon le Relieur; David, le Ciseleur; Pommier, le Tapissier; Arnold, la Modiste; Guénot le Tailleur de pierre; Niclausse, le Jardinier; Drivier, l’Ebéniste; Halou, le Céramiste. Ces statues fort jolies et constituant un très bel ensemble ont été fondues par MM. Leblanc, Barbedienne et Rouard. Antony Goissaud, in "La construction moderne" du 9 août 1925. (pág. 535)

[3] Não assinado. Renovação Ano I, Numero 1. Lisboa, 2 de Julho de 1925. (pág. 5)

[4] La meilleure preuve que le talent peut rajeunir cette ressource s'est trouvée dans la Cour des Métiers, où les divers Travaux étaient commémorés au réel par des statuettes, demandées aux plus importants statuaires, qui n'ont pas dédaigné de se prêter à cette expérience. Le résultat a été des plus heureux : la Couturière de M. Arnold, le Charpentier de M. Traverse, le Jardinier de M. Niclausse, tous enfin, ont donné des figurines des plus attrayantes et aussi attachantes en elles-mêmes que répondant à leur rôle décoratif. Arsène Alexandre, Les scupteurs à l’Expósition, La Renaissance de l’Art Français Octobre 1925. (pág. 455).


Os frescos da Cour des Métiers



fig. 15 - La Cour des métiers. La Construction moderne, n. º 45, 9 août 1925. (pág.534).

 

No Relatório final da Exposição pode ler-se:

“O Comité de estética, responsável pelo exame dos projetos concebidos para a decoração do Cour des Métiers, considerou que, no centro de uma exposição dedicada às artes decorativas e industriais modernas, era a vida e o trabalho de hoje que deviam ser glorificadas. Apesar da beleza geral e do talento dos seus autores, um primeiro grupo de projetos foi rejeitado por evocar, numa síntese histórica, civilizações antigas.

A obra, foi então confiada a Guillonnet, Marret & Rapin, tinha os seguintes temas: de um lado do claustro, os Jardins, a Aparência, e o Teatro; em frente, a Rua, o Desporto, os Transportes; e como descanso entre estas duas séries de composições vivas e alegres, dois assuntos de carácter mais sério: a Arquitectura e o Ensino, por Henry Rapin, artista de diversos talentos, criador de mobiliário, decorador e pintor. Nas outras composições, a busca pelo movimento e pela vida exterior inspirou Guillonnet e Marret a escrever páginas anedóticas de uma alegria algo ruidosa.” [1]


E Antony Goiassaud escreve sobre estes frescos e seus autores, Octave Denis Victor Guillonnet (1872-1967), Henri Rapin (1873-1939) e Henri Justin Marret (1878-1964).

“As partes ornamentadas das paredes formam painéis de enquadramento e separação para frescos decorativos, cada um com 6,05 m de largura por 3,20 m de altura, compostos e executados num tom muito moderno.

São eles, à direita, “O Teatro, a Aparência e os Jardins”, de M. Guillonnet; em segundo plano, “O Mobiliário”, de M. Henri Rapin; “A Arquitectura”, de M. H. Marret; “O Ensino”, de M. Henri Rapin; à esquerda, “Os Transportes, o Desporto, e a Rua”, de M. H. Marret. [2]

 

Importa considerar, que os temas escolhidos, a forma e o que está representado nos frescos representam bem o ambiente que era, então, vivido.

 

Os frescos de Octave Denis Victor Guillonnet (1872-1967), o Teatro, a Aparência e os Jardins

 Antony Goissaud escreve então sobre cada um dos autores dos frescos. 

“O Sr. Guillonnet é um artista cujo talento é utilizado pela Manufacture Nationale de Sèvres; representa o Teatro, a Aparência e os Jardins com a graciosidade e a elegância que estes três temas exigem, o desenho é cuidado e as cores encantadoras.”  [3


fig. 16 - Le Théâtre, La Parure, Les Jardins, panneaux d’Octave Guillonnet dans la Cour des métiers, autochrome réalisée le 2 septembre 1925 par Auguste Léon, 9 x 12 cm, conservée au musée départemental Albert-Kahn, Boulogne-Billancourt, coll. « Archives de la planète »

 

O “Teatro”, nas sua diversas dimensões, era ainda o principal e mais popular espectáculo sobretudo em Paris, (apesar do crescimento da importância do Cinema ainda mudo, sendo lançado - precisamente em 1925 - o filme The Gold Rush (A Quimera do Ouro), a primeira longa metragem de Charles Chaplin 1889-1977).

O arquitecto Robert Mallet-Stevens, na revista Vient de paraître, escreve sobre o cinema francês na Exposição e termina o seu artigo com “o cinema francês como Arte decorativa tem um dos primeiros lugares; com um pouco de esforço e boa vontade poderá atingir o primeiro lugar. Ele conseguirá.”  [4]

E Octave Guillonnet, o autor do fresco "Teatro", pinta o interior de uma sala de espectáculos onde se representa um Nascimento de Vénus com influências orientais.

 


fig. 17 – O. D. V. Guillonet “Teatro” Postal AN 118 Paris.

 

Uma reprodução a cores para melhor apreciar o fresco.

 


fig. 18 - Le Théatre par Guillonet. Cour des métiers Section Française pl. XXVIII. AM.

 

O Fresco “La Parure” (A Aparência), tinha como tema a Moda, cuja capital era (e é…) Paris. Num cenário constituído por uma escadaria monumental, tendo por fundo uma paisagem, desfilam inúmeras figuras femininas (apenas 5 homens vestidos a rigor) e diversas crianças.



fig. 19 - O. D. V. Guillonet “Parure” “Aparência” Postal AN 120 Paris.


No fresco “os Jardins” estava representado um jardim com uma fonte e uma pérgula sob a qual um grupo conversava, enquanto algumas figuras femininas divertiam as crianças que brincavam junto a um lago.



fig. 20 - O.D.V.Guillonet “Jardins” Postal AN119 Paris.

Segundo Paul Fierens (1895-1957), poeta e crítico de arte.

 “As pinturas da Cour des Métiers “o Teatro, a Aparência, os Jardins — são obra do Sr. Guillonnet, um hábil e distinto encenador “florista”. Cenários dos primeiros bailados de Diaghilew ou das últimas revistas de Volterra *, verde, roxo, iluminações verdes, violetas, suavisadas, luxo oriental de que nos cansamos: um certo mau gosto, aliás imposto pelo tema, não estraga os dois interiores "a fazer rico". O Sr. Guillonnet, no entanto, respira mais facilmente nas suas habituais pinturas de flores, folhagens e mulheres ao sol.”  [5]

[*Léon Volterra (1888-1949) era um conhecido produtor, director de diversas salas de espectáculos em Paris.]

 

Os frescos de Henri Rapin (1873-1939), o “Mobiliário” e o “Ensino”.

 Sobre estes frescos Antony Goissaud escreve:

“O Sr. Henri Rapin, inspector das Obras de Arte de Sèvres, é o único entre estes três artistas que procurou correctamente suavizar os tons, o seu desenho é puro, reconhecemos no seu painel de mobiliário o Sr. Maurice Dufrène, com uma semelhança perfeita.”  [6]

E Paul Fierens comenta criticando:

“O Sr. Rapin, mais baço, mais despojado, não é pobre, nem pobre em invenção, ou desenho. O Ensino, com os seus professores frios, os seus alunos rígidos, parece-nos uma boa propaganda a favor do abandono escolar. Quanto ao Mobiliário, trata-se de um belo conjunto de poltronas mal estofadas e personagens de madeira.” [7]

O ilustrador e crítico de arte, André Warnod (1885-1960) escreve na Revue de l’Art:

 Havia ainda os dois grandes painéis do Sr. Henri Rapin, um que tratava do Ensino, e o outro do Mobiliário, que são uma curiosa manifestação da personalidade deste artista com talentos tão diversos, alternando em arquitecto, em encenador, em desenhador de jardins, [os seus painéis] consolavam um pouco dos erros vizinhos.” [8]

No painel “o Mobiliário” estava representado o ciclo do mobiliário, desde o desenho até à exposição e venda, passando pelo seu fabrico e acabamento.

 


fig. 21 -Henri Rapin O “Mobiliário”  Postal AN 114 Paris.

No fresco “Ensino” - mais propriamente o ensino das artes – figura a aprendizagem das diversas artes, incluindo a moda e a cenografia, e as suas fases de criação.



fig. 22 -  Henri Rapin O “Ensino” AN 112 Paris

 

Os frescos de Henri Justin Marret (1878-1964), “ Os Transportes”, “A Rua”, “A Arquitectura”, e os “Desportos


fig. 23 - Les Transports, Les Sports, La Rue, trois des quatre panneaux d’Henri Marret dans la Cour des métiers, autochrome réalisée le 29 septembre 1925 par Auguste Léon, conservée au musée départemental Albert-Kahn, Boulogne-Billancourt.

 

Escreve Paul Fierens:

"O Sr. H. Marret mostra-nos a Rua, o Transporte, com tanta animação que nos parece desagradável caminhar no meio de tanta multidão e arriscar a vida no meio de tal fluxo de automóveis atravessando uma passagem de nível ameaçada pela chegada de potentes locomotivas e de numerosos comboios. Sem ironia, salientamos que o conjunto de semáforos, discos e sinais, tão numerosos, colocados na berma dos carris, é capaz de constranger o mais experiente mecânico das nossas redes ferroviárias. Ao fundo, a mesma multidão, a mesma afluência, chega aos numerosos navios atracados no cais. Parece muito uma população que foge de uma invasão. O Sr. H. Marret desenha as suas personagens animadas com uma destreza notável.”  [9]

E Paul Fierens acrescenta

“As quatro telas de Marret, repletas de “fait-divers” engenhosamente relatados, seduzirão certamente um olhar de pintor, favorável ao impressionismo e sensível às belas nuances de harmonias quentes, vibrantes e ricas. Uma paixão ao estilo de Desvallières * expressa-se em inúmeros gestos, em pinceladas multicoloridas, em traços inacabados, mas precisos. Ouvimos locomotivas a apitar, polias a ranger e o grito de VÎntran **. É a agitação, não estilizada, de uma estação, de um estádio, de um cruzamento e de um estaleiro de obras; São eles os Transportes, o Desporto, a Rua, a Arquitetura, dissertações animadas, repletas de pormenores do quotidiano, evocadoras de atmosferas laboriosas. Os figurantes não chamam a atenção. Dissolvem-se nas vivas claridades que os rodeiam. Os temas são retirados de um repertório de ideias comuns que o artista errou ao não transpor, e não traduzir para uma linguagem verdadeiramente plástica. Tagarela mas não conclui.”  [10]

* George Desvallières (Olivier Gabriel Victor Georges Lefèbvre-Desvallières 1861-1950)

** Vintran companhia de transportes.

 

Os transportes

 

fig. 24 – H. Marret “les Transports” Postal AN 116 Paris.

 

A rua



fig. 25  - H. Marret. “La Rue” Postal AN113Paris.

 

André Warnod considera:

“O pequeno pitoresco da rua, talvez divertido numa pintura de género, na ornamentação de um livro ou na capa de um catálogo, aqui está deslocado.”  [11]

A Arquitectura



fig. 26 – H. Marret  “L’Architecture” Postal AN117 Paris.


Os Desportos


fig. 27 – H. Marret. Os “Desportos” Postal AN115 Paris.


Lembre-se que em 1924 tiveram lugar de 5 a 27 de Julho, em Paris, os Jogos Olímpicos, onde a Canoagem participou como demonstração e, talvez por isso, figura no fresco, em primeiro plano.


fig. 28 - Les Sports, d’Henri Marret, vers 1925, 300 x 580 cm, huile sur toile marouflée conservée au lycée Ernest-Renan à Saint-Brieuc (Côtes-d’Armor), 2019. © Anne Bonnafous (Région Bretagne).

 

E, por fim, André Warnod interroga-se sobre se estas são o tipo de pintura que se esperava na Exposição.

“As pinturas em si, as de Guillonnet em particular, têm certas qualidades; não se pode negar a alegria e a riqueza do conjunto em que são apresentadas. Mas estarão elas no seu lugar, numa exposição que deveria mostrar o que há de mais moderno nas artes plásticas, anunciar o futuro em vez de recordar o passado?”  [12]

 



[1] Le Comité d’esthétique, chargé d’examiner les projets conçus pour la décoration de la Cour des Métiers, estimait qu’au cœur d’une exposition dédiée aux arts décoratifs & industriels modernes, c’étaient la vie & le travail d’aujourd’hui qui devaient être glorifiés. Malgré sa belle tenue d’ensemble & le talent de ses auteurs, un premier groupe de projets fut écarté, parce qu’il évoquait, en une synthèse historique, a anciennes civilisations.
L’œuvre dès lors confiée à Guillonnet, Marret & Rapin avait pour thèmes : sur un des côtés du cloître, les Jardins, la Parure, le Théâtre; en face, la Rue, les Sports, les Transports; & comme un repos entre ces deux suites de compositions animées & joyeuses, deux sujets d’un caractère plus grave : Architecture &  Enseignement, traités par Henry Rapin, artiste au talent divers, dessinateur de meubles, décorateur & peintre. Dans les autres compositions, la recherche du mouvement & de la vie extérieure avait inspiré à Guillonnet & à Marret des pages anecdotiques, d’une gaieté un peu bruyante. 
Rapport Général de l'Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes Paris 1925"

[2] Les parties ornementées des murs forment panneaux d’encadrement et séparatifs à des fresques décoratives ayant chacune 6 ni. 05 de largeur sur 3 m. 20 de hauteur, composées et exécutées dans une note très moderne. Ce sont, à droite « le Théâtre, la Parure et les Jardins par M. Guillonnet; au fond « le Mobilier », par M Henri Rapin; « l’Architecture », par M. H. Marret; « l’Enseignement », par M. Henri Rapin; à gauche, « les Transports, les Sports, la Rue », par M. H. Marret. Antony Goissaud. La Construction Moderne du 9 août 1925.(pág. 155).

[3] M. Guillonnet est un artiste dont le talent est utilisé par la Manufacture Nationale de Sèvres, il représente le Théâtre, la Parure et les Jardins avec la grâce et l’élégance que nécessitaient ces trois sujets, le dessin est soigné et les couleurs charmantes,  Antony Goissaud. La Construction Moderne du 9 août 1925.(pág. 155).

[4] Le cinéma français en tant qu’Art décoratif tient une des premières places ; avec un peu d effort et de bonne volonté il peut avoir la première. Il l’aura. Rob. Mallet-Stevens, Le Cinèma Français in Vient de paraitre, (pág. 131).

[5] le Théâtre, la Parure, les Jardins — sont l’oeuvre de M. Guillonnet, metteur en scène habile et « fleuriste » distingué. Décors des premiers ballets de Diaghilew ou des dernières revues de Volterra, éclairages verts, violets, tamisés, luxe oriental dont on se fatigue : un certain mauvais goût, imposé d’ailleurs par le sujet, ne dépare point les deux intérieurs qui « font riche ». M. Guillonnet cependant respire mieux dans son habituel tableau de fleurs, de feuillages et de femmes au soleil. Paul Fierens La peinture et laTapisserie Gazette des Beaux Arts n.º 2. Septembre-Octobre 1925. (pág. 217).

[6]  M Henri Rapin, inspecteur des Travaux d’art à Sèvres, est le seul parmi ces trois artistes qui ail très justement cherché à adoucir les tons, son dessin est pur, on reconnaît dans son panneau du mobilier M. Maurice Dufrêne, d’une ressemblance parfaite. Antony Goissaud. La Construction Moderne du 9 août 1925.

[7] M. Rapin, plus terne, plus dépouillé, n’est pie pauvre, pauvre d’invention, de dessin. L'Enseignement, avec ses maîtres froids, ses élèves ligés, nous parait d’une bonne propagande en faveur de l’école buissonnière. Quant au Mobilier c’est un bel assemblage de fauteuils mal en chair et de personnages en bois. Paul Fierens (1895-1957), La peinture et la Tapisserie. in Gazette des Beaux-Arts n.º 2. Septembre-Octobre 1925. (pág. 217).

[8] Il y avait aussi les deux grands panneaux de M Henri Rapin, traitant, l'un de l'Enseignement, et l'autre du Mobilier, qui sont une manifestation curieuse de la personnalité de cet artiste au talent si divers, tour à tour architecte, « ensemblier », dessinateur de jardins elle consolaient un peu des erreurs voisines., André Warnod (1885–1960). La Revue de l’Art n. º 271, Décembre 1925. (pág. 296).

[9] M. H. Marret dessine avec une dextérité remarquable ses personnages si animés. M. H. Marret nous montre la Rue, les Transports, avec une animation telle qu’il nous paraît peu agréable de nous promener dans une semblable foule et d’hasarder notre vie au milieu d’une telle affluence d’automobiles franchissant un passage à niveau menacées par l’arrivée de puissantes locomotives et de nombreux trains. Sans ironie, nous ferons remarquer que le groupe de sémaphores, de disques, de signaux aussi nombreux placés au bord de la voie est capable d’embarrasser le mécanicien le plus expérimenté de nos réseaux de chemins de fer. Au fond, la même affluence, la même foule, gagne les nombreux navires amarrés au quai. Cela ressemble fort à une population fuyant devant l’invasion. M. H. Marret dessine avec une dextérité remarquable ses personnages si animés. Paul Fierens La peinture et la Tapisserie Gazette des Beaux Arts n.º 2. Septembre-Octobre 1925. (pág. 116).

[10] Les quatre toiles de Marret, bourrées de faits-divers ingénieusement rapportés, ne peuvent que séduire un oeil de peintre, favorable à l’impressionnisme et sensible aux belles nuances d’accords chauds, vibrants et nourris. Une fougue à la Desvallières se traduit en gestes nombreux, en sabrures multicolores, en traits inachevés mais justes. On entend siffler des locomotives, grincer des poulies, crier VÎntran. C’est l’agitation, non stylisée, d’une gare, d’un stade, d’un carrefour et d’un chantier ; ce sont les Transports, les Sports, la Rue, l’Architecture, dissertations mouvementées, encombrées de détails quotidiens, évocatrices d’atmosphères laborieuses. Les figurants n’accaparent point l’attention. Ils se diluent dans les vives clartés qui les entourent. Les thèmes sont pris dans un répertoire d’idées courantes que l’artiste eut le tort de ne pas transposer, de ne pas traduire dans un langage véritablement plastique. Il bavarde et ne conclut point. Paul Fierens La peinture et la Tapisserie Gazette des Beaux Arts n.º 2. Septembre-Octobre 1925. (pág. 216).

[11] Le petit pittoresque de la rue, amusant peut-être dans un tableau de genre, pour l'ornementation d'un livre ou de la couverture d'un catalogue, n'est plus à sa place ici. Andre Warnod La Revue de l’Art Decembre 1925. (pág. 296).

[12] Les peintures en elles-mêmes, celles de Guillonnet en particulier, ont des qualités certaines, on ne peut nier la gaieté et la richesse de la gamme dans laquelle elles se tiennent. Mais sont eles à leur place dans une exposition qui devait montrer le dernier état des beaux-arts, annoncer l'avenir plus que rappeler le passé ? Andre Warnod La Revue de l’Art, Decembre 1925. (pág. 296).

 CONTINUA

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