quarta-feira, 4 de junho de 2025

A “Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes” Paris 1925. 6 II Parte

 

A participação da URSS (continuação)

A Esplanada dos Inválidos

 A participação soviética, para além do Pavilhão, estendia-se para a Esplanada do Inválidos onde se erguiam os quiosques em círculo do “Gostorg” de Melnikov e onde se encontrava o Club Operário de Rodtchenko.












fig. 18 - Anexes de l’exposition soviétique édifiée sur l’esplanade des Invalides a l’exposition des Arts Décoratifs de Paris. Architecte : K. Melnikov. 1925. Foto C.C. in Anatole Kopp, Architecture et Urbanisme Sovietiques des Année Vingt. Ville et Révolution.10.me édition Éditions Anthropos Paris 1967. (pág. 69).

 

Gaston Varenne descreve estes quiosques.

“... série de lojas pintadas em tons brilhantes que Konstantin Melnikov, o arquitecto do pavilhão oficial, construiu não muito longe destes dois clubes, na Esplanade des Invalides.

A secção de ensino, que se limita a apresentar-nos algumas obras do Instituto de Artes Decorativas de Leninegrado e da Escola Superior de Arte e Indústria de Moscovo (Wkhutemass), merece a nossa atenção. Aqui o cubismo reina como mestre.  

Mas o que deve ser elogiado é a predominância dada à preocupação com a forma, à "disciplina do espaço", a esta preocupação com o dinamismo da arte mais do que com a estática, é o abandono total de métodos que, nos países de antiga civilização ou de antiga tradição, partem da concepção de que a arte é entretenimento sem outro objectivo senão embelezar a nossa vida, enquanto aqui a arte é considerada uma força social. Não tende a adormecer os poderes activos da consciência dentro de nós, mas procura estimula-los e, se necessário, regenerá-los.” [1]

 

O Club Operário de A. Rodtchenko

 O Clube Operário. Executado de acordo com o plano e sob a direção do artista A-M. Rodchenko,


“O Clube Operário continuará a ser uma obra memorável do movimento sindical russo, que foi sufocado pelo antigo regime e floresceu no Estado Soviético.” [2]



















fig. 19 - Rodchenko Clube dos Trabalhadores. Galeria  da Explanada dos Inválidos. Fotografia da empresa francesa G. Leyckam. Col. P.M. Dulsky. Museu Nacional da República do Tartaristão. 


Jakov Aleksandrovic Tugenhold (1882-1928) historiador e crítico de Arte, membro do Comité organizador da participação soviética escreve na apresentação do Club Operário:

 “O interior do Clube criado pelo artista Rodtchenko para a Exposição de Paris é uma das tentativas que foram feitas para resolver “o problema do Clube Operário” não por uma inútil ornamentação, mas por processo utilitários, de acordo com princípios de austeridade e economia. J. T.”.[3]

 Ao fundo o "canto de Lenine" falecido no ano anterior, com a sua fotografia  






















fig. 20 - Alexander Rodchenko’ Worker’s Club Instalation at the 1925  Decorative Arts Exigition in Paris. Photo Henri Manuel (1874-1947) gelatin silver print 29,5 x 21, 91 cm. Virginia Museum of Fine Arts.





fig. 21 - Design for the Lenin Corner in the USSR Workers' Club (Rabochii klub SSSR) at the Exposition Internationale des Arts Decoratifs et Industriels Modernes, Paris, 1925. Black and red india ink and pasted gelatin-silver photograph on paper. 36.3x 25.5 cm. MOMA.

A mesa e cadeiras do xadrez. A utilização do vermelho e do negro (ou branco) parece ser uma referência aos exércitos “vermelho” e “branco” em confronto entre 1917 e 1924, após a Revolução de Outubro.
























fig. 22 - Chess table. Black and red india ink and gouache on paper. 36.5 x 25.5 cm. MOMA  Alexander Rodchenko. Club Operário Exposição das Artes Decorativas e Industriais. 1925. MOMA


fig. 22 - Alexander Rodchenko. Club Operário Exposição das Artes Decorativas e Industriais. 1925. MOMA

 

 



[1] ...série des boutiques peintes en tons vifs que Constantin Melnikov, l'architecte du pavillon officiel, a édifiées non loin de ces deux clubs, sur l'Esplanade des Invalides.

La section de l'enseignement, qui se borne à nous soumettre quelques travaux de l'institut décoratif de Leningrad ainsi que de l'école supérieure d'art et d'industrie de Moscou (Wkhoutemass), mérite notre attention. Le cubisme règne ici en maître.

Mais ce qu'il convient de louer, c'est la prédominance donnée au souci de la forme, à la « discipline d'espace», c'est la préoccupation du dynamisme de l'art plus que de la statique, c'est l'abandon total des méthodes qui, dans les pays de vieille civilisation ou de vieille tradition, découlent de cette conception que l'art est un divertissement sans autre but que d'embellir notre vie, alors qu'ici l'art est considéré comme une force sociale. Il ne tend pas a endormir en nous les puissances actives de la conscience, mais à les stimuler et, au besoin, à les régénérer. Gaston Varenne La Section des Républiques Sovietistes in Arte et Décoration vol. XL VIII septembre 1925 (pág.1)

[2] Club Ouvrier. Exécuté d’après le plan et sous la direction de l’artiste A.-M. Rodtchenko « Le Club Ouvrier restera l’œuvre mémorable du mouvement syndical de Russie qui était étouffé sous l’ancien régime et qui c’est épanoui dans l’État Soviétiste. In Catalogue des oeuvres d’art décoratif et d’industrie artistique exposées dans le pavillon de l’URSS au Grand Palais et dans les Galeries de l’Esplanade des Invalides, Paris 1925. (pág.121).

[3] L’intérieur de Club réalisé par l’artiste Rodtchenko pour l’Exposition de Paris est une des tentatives qui ont été faites pour résoudre « le problème du Club Ouvrier » non point par une inutile ornamentation, mais par des procédés utilitaires, selon des principes d’austérité et d’économie. J. T. In Catalogue des oeuvres d’art décoratif et d’industrie artistique exposées dans le pavillon de l’URSS au Grand Palais et dans les Galeries de l’Esplanade des Invalides, Paris 1925. (pág.122).

 


A representação da URSS no Grand Palais

 A instalação da representação soviética foi dirigida pelo arquitecto A.-L. Poliakov, professor da Escola Superior de Arte e Indústria de Moscovo.


































fig. 25 - View of the Entrance to the Soviet Sections in the Grand Palais of the Exposition internationale des arts décoratifs et industriels modernes, Paris (1925). Photo Henri Manuel (1874-1947).

 

Ainda antes da sua inauguração, Irene Vasconcelos no Diário de Lisboa mostrava o que se pensava da participação soviética, num misto de curiosidade e de receio.:

“A Russia (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), além do seu pavilhão dispõe de grande número de salas no Grand Palais favor que muitos outros países conseguiram obter. Os mostruários ainda não estão colocados nos seus lugares, mas dizem-nos que, de todos os países, a Rússia é o que ocupa maior espaço. De facto, os caixotes com a inscrição URSS, não tem conta e dificultam a passagem nos corredores.

- Serão bombas? – perguntava amedrontado um visitante.

Os “soviets” querem provar que o seu país continua trabalhando e que a revolução não impediu o desenvolvimento das artes decorativas. Conseguirão prova-lo?” [1]

 

À entrada no topo da escadaria, um busto Lenine em mármore por Viktor Vilgelmovich Ellonen (1891–1980), sobre um pedestal construtivista, centrado em frente a uma construção de madeira semelhante a um batente de porta e coroado por cima por um cartaz de grande formato com os dizeres “URSS”.

 A secção Arquitectura

O arquitecto Alexandre Poliakov, responsável pela secção "Arquitectura" na Exposição refere-se ao stand do Grand Palais onde estão expostas maquetes e fotografias de obras de arquitectura.

“A Revolução surgiu numa altura em que a arquitectura russa procurava aquele novo classicismo que, praticamente, parecia ter de responder às exigências da vida moderna. O trabalho iniciado continuou no mesmo sentido após os acontecimentos de 1918, mas o espírito da Revolução, que exigiu em todas as áreas da arte criativa uma transmutação dos valores ideais, uma nova concepção das coisas, exerceu também a sua influência na arquitectura e comprometeu-a na direção geral: longe de devaneios e ocas reminiscências, na direção da lógica construtiva. No lugar de pretender uma reconstituição mais ou menos feliz das formas do passado, vamos estudar a estrutura orgânica, submete-la à análise, procuramos trazer à luz aquilo que é a própria essência da arquitectura e, ao mesmo tempo, declaramos uma guerra sem tréguas a tudo na construção contemporânea que não seja justificado pelo significado orgânico da forma monumental construída com tais e tais materiais. Daí a aplicada luta contra a ingénua “decoração”.” [2]

E acrescenta

“A luta contra a "decoração" ingênua, contra aqueles embelezamentos e “bonitos” aos quais se limitavam os arquitectos que se divertiam decorando fachadas, enquanto engenheiros e técnicos construíam a própria massa do edifício.”  [3]

 Terminando por

“Fábricas, oficinas, elevadores, palácios de trabalho, estações de eletricidade, tais são as razões de uma nova arte monumental. Para ccoroar de beleza o génio do século, é necessário aceitar sem reservas a nova imagem de civilização que nos oferece e advinhar as conquistas que ele anuncia.” [4]

 

São apresentados 13 painéis com trabalhos da Vuhtémas (Faculdade de Arquitectura dos Ateliers de Ensino superior de Artes aplicadas de Moscovo) e projectos de Arquitectura e de planeamento urbano de Melnikov, de Tatlin, dos irmãos Vesnine, de Golossov e de Ginsbourg, para além dos menos conhecidos Fomine, Iline, Aoussene e Trotsky. (Estes e outros projectos pelo impacto que tiveram serão publicados na revista Architecture Vivante do ano seguinte).

 

O Catálogo destaca com fotografias:

 As maquettes dos conhecidos projectos, do Monumento à Terceira Internacional de Vladimir Yevgráphovich Tatlin (1885-1953) e o Monumento aos 26 Comissários de Bakou de Gueorgui Iakouloff (1884-1928), pintor decorador, cenógrafo e historiador de arte e Vladimir Alexeïevitch Chtchouko (1878-1939) arquitecto. Ambos os projectos de uma escultura / arquitectura baseiam-se numa helicoidal uma representação da ascensão do proletariado e do triunfo da Revolução.

 

Gaston Varenne descreve, criticando a concepção dos 2 projectos:

“A secção de arquitetura, pouco fornecida, exibe alguns projetos arrojados que refletem bem o novo espírito. Trata-se do monumento do Sr. Tatlin em homenagem à III Internacional, uma construção em ferro que suporta, num cruzamento de estruturas, uma espécie de rampa helicoidal que sobe em direção às nuvens. Isto é um símbolo?

O monumento aos 26 comissários de Baku, desenhado pelo pintor Jakouloff, não é menos bizarro: uma escadaria sobe obliquamente muito alto, tão alto que pode subir, e não leva a lado nenhum... [5]


























fig. 26  - V. Tatline – Modèle de monumento. Catálogo da participação da URSS na Exposição das Artes Decorativas e Industriais em 1925. Source gallica.bnf.fr / Bibliothèque nationale de France. (pág. 171)

 

O projecto de Iakoulov em colaboração com o arquitecto Vladimir Alexeïevitch Chtchouko (1878-1939) para o Monumento aos comissários de Bakou.



fig. 27 - G. Iakoulov – Monument aux vingt-six commissaires massacrés à Bakou. (Modèle de V. Chechouko). Catálogo da participação da URSS na Exposição das Artes Decorativas e Industriais em 1925. Catálogo da participação da URSS na Exposição das Artes Decorativas e Industriais em 1925. Source gallica.bnf.fr / Bibliothèque nationale de France. (pág. 172)

 

 Figura ainda no Catálogo, o projecto do “Palácio do Trabalho” dos irmãos Vesnine.

(Alexandre Alexandrovitch Vesnine (1883-1959), Leonide Alexandrovitch Vesnine (1880-1933) e Victor Alexandrovitch Vesnine (1882-1950).)







































fig. 28 - A.L. et L. V. Vesnine – Projet du “Palais du Travail” à Moscou. Catálogo da participação da URSS na Exposição das Artes Decorativas e Industriais em 1925. Source gallica.bnf.fr / Bibliothèque nationale de France (pág. 170)

 

E ainda os trabalhos dos alunos da Escola de Arte e Indústria de Moscovo

























fig. 29 – École Supérieure d’Art et d’Industrie de Moscou (Vkhoutemas). Maquette d’une construction. Catálogo da participação da URSS na Exposição das Artes Decorativas e Industriais em 1925. Source gallica.bnf.fr / Bibliothèque nationale de France (pág. 180).

 



[1] Irene de Vasconcelos, A Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais. Diário de Lisboa 11 de Maio de 1925. (pág. 7).

[2] Alexandre L.  Poliakov, “La Revolution survint au moment où l’architecture russe était à la recherche de ce nouveau classicisme qui, pratiquement, semblait devoir répondre aux exigences de la vie moderne. Le travail commencé se poursuivit dans la même direction après les évènements de 1918, mais l’esprit de la Révolution, qui exigeait dans tous les domaines de l’art créateur une transmutation des valeurs idéales, une nouvelle conception des choses, exerça également son action sur l’architecture et l’engagea dans la direction générale : loin des rêveries et de creuses réminiscences, vers la logique constructive. Au lieu de prétendre à une reconstituition plus ou moins heureuse des formes du passé, on va étudier la structure organique, on la soumet à l’analyse, on cherche à dégager ce qui est l’essence même de l’architecture, et en même temps, on déclare une guerre sans pitié à tout ce qui, dans la construction contemporaine, ne se justifie point par le sens organique de la forme monumentale édifiée avec tels ou tels matériaux. De là la lutte engagé contre la naïve “décoration”. Alexandre Poliakov, Catalogue des œuvres d’art décoratif et d’industrie artistique exposées dans le pavillon de l’URSS au Grand Palais et dans les Galeries de l’Esplanade des Invalides, Paris 1925. (pág. 63)

[3] La lutte engagée contre Ia naïve "décoration", contre ces embellissements et enjolivements auxquels se bornaient les architectes qui s'amusaient à ornementer des façades, tandis que des ingénieurs et des techniciens construisaient Ia masse même de I' édifice. Alexandre Poliakov, Catalogue des oeuvres d’art décoratif et d’industrie artistique exposées dans le pavillon de l’URSS au Grand Palais et dans les Galeries de l’Esplanade des Invalides, Paris 1925. (pág. 64).

[4] “Fabriques, usines, élevateurs, palais du travail, stations d’electricité, tels sont les motifs d’un nouvel art monumental. Pour coronner de beauté le génie du siècle, il faut accepter sans reserves la nouvelle image de civilisation qu’il nous offre et savoir deviner les conquêtes qu’il annonce.” Alexandre Poliakov in Catalogue des oeuvres d’art décoratif et d’industrie artistique exposées dans le pavillon de l’URSS au Grand Palais et dans les Galeries de l’Esplanade des Invalides, Paris 1925 (pág. 66).

[5] La section d'architecture, peu fournie, expose quelques projets audacieux qui reflètent bien l'esprit nouveau. C'est le monument de M. Tatlin en l'honneur de la IIIe Internationale, construction en fer soutenant dans un entrecroisement de charpentes une sorte de rampe hélicoïdale qui monte vers les nuées. Est-ce un symbole ? Le monument aux 26 commissaires de Bakou, conçu par le peintre Jakouloff, n'est pas moins bizarre : un escalier monte obliquement très haut, si haut qu'il peut monter, et n'aboutit à rien... Gaston Varenne. La Section des Républiques Sovietistes [sic] Socialistes Art et Décoration Tome XLVIII n. º 285 Septembre 1925 (pág. 117)

 


A Secção do Cinema

 Embora os filmes ainda fossem mudos, o Cinema começava a ganhar grande importância como documentário, como propaganda e sobretudo como entretenimento.

A Secção de Cinema desempenhou um papel importante no conhecimento da cinematografia soviética já que com a URSS apenas a França apresentou filmes na Exposição.





Na Secção do Cinema (Painel XIV), foi apresentado o filmeKino-Glaz” do jovem Dziga Vertov (1896-1954), e "Stachka" (Greve) de Sergei Eisenstein (1898-1948), filme de1924/5 premiado com a medalha de ouro da Exposição.

 
























fig. 30 – Cartaz de Kino-Glaz de Dziga Vertov

 









fig. 31 – Cartaz de Stachka (Greve) filme de Eisenstein

 

E foram ainda apresentados os filmes “Palais & Citadelle” e “D'une Étincelle naît la Flamme”, dirigidos por Bassalygo, “Aelita” de Protazanov e “La Cigarettière de Mouscou” de Jelboujsky.

 

A Sala octogonal

 



fig. 32 – A exposição soviética na Sala octogonal no Grand Palais.

Em primeiro plano vêem-se maquettes entre as quais “uma aldeia moderna com as suas recentes instalações elétricas (Bogorodskoye, governo de Moscovo). trabalho coletivo dos instrutores da escola especial e do koustari da aldeia de Bogorodskoye.

 Nesta sala são apresentadas:

1 - A maquette do monumento de Tatlin (fig. 22)

2 - A maquette do monumento dos 26 comissários e Baku (fig.23)

3 - Maquettes dos quiosques do Sector Comercial. (fig, 16)

4 - Trabalhos do lnstituto Decorativo de Leningrad.

5 - Esculturas de raízes de madeira Michael Vasilyevich Matyushin (1861-1934)


 

 


fig. 33 - Mikhail Matyushin, Movimento Livre, c.1920 madeira 31,5 x 42, 5 x 20, 5 cm. Vyatka art Museum Kirov.

 

6. Esculturas em madeira de Vasily Alekseyevich Vatagin (1883-1969), conhecido pelas suas esculturas de animais em madeira.

























fig. 34 - Vatagin, Urso dos Himalaias 1925 madeira. Soviet Art URSS Culture  

 

E ainda Xailes e cachemiras, de fabricação pelo Kamvo/ny Trust d'Etat" (Moscovo).

Tecidos de algodão da Primeira Fábrica Indiana em Moscovo. (Trust de l’lndustrie du Coton de Moscou).

Tecidos de linho da Manufactura " Trekhgomafa" em Moscovo (Trust du Coton de Presnia).

E amostras de tecidos de pinturas aerográficas.


Aspectos da Arte Popular (tradicional ou reinventada)

 A Secção dos “Koustari” (artesãos) e do Mundo da Criança”

 Nos diversos stands (seis) e na sala central e vitrinas são exibidos diversos e numerosos artigos como almofadas, couros, objetos de madeira lacada, de prata, artigos de vidro, biombos de madeira, esmaltes, rendas, objectos para fumadores e trajes femininos.

 

Entre os artigos de moda destaca-se Nadejda Lamanova (1861-1941), cuja coleção, inspirada nos trajes tradicionais russos, ganhou o grande prémio na Éxposition des Arts Décoratifs de Paris 1925.






fig. 35 – Modèles nouveaux pour robes de femme de l’atelier Lamanoff. Catalogue de l'Exposition de 1925. Section URSS. L’Art Décoratif et 
Industriel de l’URSS. Source gallica.bnf.fr / Bibliothèque nationale de France.(pág. 43)

















fig. 36 - Nadejda Lamanova (1861-1941) e Vera Mukhina (1889-1953) [1] in álbum "Arte na Vida Cotidiana" de 1925.


E também se destacou Natalia Davydova (1875-1933).



 






















fig. 37 – Modèles nouveaux pour robes de femme par Davidova. Catalogue Exposition de 1925. Section URSS. L’Art Décoratif et Industriel de l’URSS. (pág. 40)

 

 De entre os artigos apresentados destaca-se o Xadrez, pela sua popularidade (veja-se o Club Operário), representado num jogo de xadrez em bétula da Carélia, dos Koustari do governo de Viatka.


 

fig. 38 - Jeu d’échecs les Rouges et les Blancs – sculpture sur bois, trav. Des « coustars » de Viatka. Exposition de 1925. Section URSS. L’Art Décoratif et Industriel de l’URSS. Source gallica.bnf.fr / Bibliothèque nationale de France. (pág. 34)

 

Mundo da Criança

Para as crianças eram exibidos diversos brinquedos de madeira, de papel maché e de tecido.

O artista e artesão Alexander Dournovo ou (Dounovo) (1873-?) apresenta uma Barcaça com brinquedos

 




fig. 39 - A. Dournovo. - Barge avec jouets en bois (sculptés et coloriés}. Section des "Koustari”. Exposition de 1925. Section URSS. L’Art Décoratif et Industriel de l’URSS. Source gallica.bnf.fr / Bibliothèque nationale de France. (pág. 181)

 

E ainda uma vitrine com diversos brinquedos em papel-maché.


















fig. 40 - Jouets en papier-maché peints par A. Dounovo. Exposition de 1925. Section URSS. L’Art Décoratif et Industriel de l’URSS. Source gallica.bnf.fr / Bibliothèque nationale de France. (pág. 16/17)

 

 São exibidas bonecas como “Crianças da Nova Rússia”, obras do artista Tsvetaeva Marina (1892-1941) e as bonecas "Tea Cosy", obras do artista Dotsenko.

 















fig. 41 – Poupées représentants les nations de l’URSS. Exposition de 1925. Section URSS. L’Art Décoratif et Industriel de l’URSS. Source gallica.bnf.fr / Bibliothèque nationale de France. (pág.38).

 

Um conjunto de obras de Alexander Dounovo (1873), como Balalaikas, decoradas, miniaturas em papel-maché, e diversas pinturas.



fig. 42 - “Laboureur”miniature sur papier maché - œuvre du « coustar » Goulikoff (Ivan Koulikov) Catalogue de l'Exposition de 1925. Section URSS. L’Art Décoratif et Industriel de l’URSS. Source gallica.bnf.fr / Bibliothèque nationale de France. (pág.7/9).



fig. 43   - Vladimir Golitsyn (1884-1954) Decorative insert for the screen. 1924 Wood, painted, varnish Exhibit the International exhibition of modern decorative and industrial arts in Paris, 1925 the Collection VMDPNI Museu de Artes decorativas de Moscovo



[1] Vera Ignatievna Mukhina, escultora irá ficar conhecida pela escultura Operário e Camponesa (mulher Kolkosiana) para a Exposição Universal de Paris de 1937.


A Sala da Porcelana

 A Sala da Porcelana onde se destaca a Manufactura de Porcelana do Estado em Leninegrado.




fig. 44 – A Sala da Porcelana no Grand Palais. Na parede um cartaz de Leninegrado. Arte et Décoration (pág. 116).

 

 Num texto assinado Dm. Iwanoff (Dmitry Iosifovich Ivanoff 1880-1938) intitulado La nouvelle porcelaine russe, escreve

“Na procura de uma nova arte, desenvolveu-se um processo particularmente interessante nas obras da Manufatura Estatal de Leninegrado, sob a direcção do eminente artista Tschekonin [1]. É a adaptação de processos puramente gráficos à cerâmica. São silhuetas negras executadas com a maior delicadeza, são vinhetas negras que parecem ter saído das páginas de um livro de arte para se colocarem num prato de porcelana, etc. Sendo a época moderna particularmente inclinada para a arte gráfica, a adaptação deste princípio deu origem a produtos muito característicos.” [2]

 Destaca-se um serviço de porcelana com pinturas geométricas.



fig. 45   - Porcelaine de la Manufacture d'Etat (dessins nouveaux). Catálogue Exposition de 1925. Section URSS. L’Art Décoratif et Industriel de l’URSS. (pág. 48).


















 

fig. 46 - Manufacture de Porcelaine de l'Etat, à Leningrad. - Cafetière et plat. Catalogue Union des Republiques Sovietistes Socialistes Paris 1925. (pág. 184)

 Mas continua a fabricação de porcelana tradicional com novos desenhos.

 




fig. 47 – Vladimir Golistsyn. “Soldado do Exército Vermelho”. 1924 madeira pintada. Exposition Internationale d’Art Décoratif et Industriel  Paris, 1925. Colecção VMDPNI  the Collection VMDPNI  Museu de Artes decorativas de Moscovo.

 



[1] Sergueï Vassilievitch Tchekhonine (1878-1936), pintor, artista gráfico e cenógrafo.

[2] Dans Ia recherche d'un art nouveau un procède particulièrement intéressant a été cultivé dans les travaux de Ia Manufacture Nationale de Leningrad sous Ia direction de l'éminent artiste Tschekonine. C'est l'adaptation a Ia céramique des procedés purement graphiques. Ce sont des silhouettes noires exécutées avec Ia plus grande finesse, ce sont des vignettes en noir qui semblent avoir quitté les pages d'un livre d'art pour se placer sur une assiette de porcelaine, etc. L'époque moderne étant tout particulièrement portée vers l'art graphique, l'adaptation de ce principe a donné des produits très caractéristiques. Dmitry Iosifovich Ivanov (1880-1938), La nouvelle porcelaine russe. In Catalogue Exposition de 1925. Section URSS. L’Art Décoratif et Industriel de l’URSS. (pág. 50).



Secção do Teatro

 Na Exposição foi dada uma especial importância ao Teatro já que se realizou em Paris então a cidade do teatro, nas suas diversas dimensões. 

Abram Markovich Efross (1888-1954), crítico de arte, escreve para o Catálogo “Exposition de 1925. Section URSS” um longo texto intitulado “Le Theatre et le Peintre pendant la Revolution” onde traça e analisa, a história e a evolução do teatro na Rússia entre 1914 e 1924, desde os Bailados de Sergei Diaguilev (1872-1829) até ao teatro da Revolução de Outubro.

Depois de comparar o teatro na Rússia com o Teatro em França escreve Abram Efross:

“O teatro personificou a Revolução, a Revolução elevou o teatro. O teatro ofereceu à Revolução os seus encenadores, os seus artistas, a sua arte - a primeira na Europa - e a Revolução deu-lhe um novo espectador, um sopro patético e essencialmente novo, e um novo significado social.”  [1]

 E termina o seu longo e pertinente texto com

“Queremos acreditar que a Europa Ocidental nos fará justiça e, quando a agitação dos nossos jovens espectáculos vier substituir as velhas "temporadas russas" nos palcos de Paris, a amada cidade apresentar-nos-á mais uma vez as chaves das suas portas.” [2]

 E o crítico Boris Ternovets escreve:

“O artista dá o seu aspecto plástico ao espaço onde os actores vão evoluir: impõe, sobre os paineis, a sensação de três dimensões e a realidade transforma-se em ilusão pitoresca; o espaço restrito do palco é utilizado nas combinações mais inesperadas; daí advém a riqueza de situações, a abundância de motivos. O espírito do construtivismo e de intensa energia afastam, varrem todos os elementos insignificantes, todas as ninharias, tudo o que há nas contingências da vida quotidiana, e criam as formas que melhor se adaptam a esta era de grande história, a este período de construção audaciosa e austera.”  [3]

 

 


fig. 48 - Secção do Teatro Soviético no Grand Palais. Exposição de Artes Decorativas. Foto G. Leyckam. Arquivo de P.M. Dulsky. Museu Nacional da República do Tartaristão.

 

 A URSS apresentou, na respectiva secção, maquettes e fotografias de diversos cenários e figurinos para as peças de teatro e operas (clássicas, contemporâneas ou revolucionárias), apresentadas no Teatro Experimental de Moscou, no Teatro Heroico Experimental e no Teatro da Revolução. 

Destacavam-se os cenários para a peça Lysidtrata de Aristófanes, na fig. 48 em primeiro plano.



 


fig. 49 – Isaac Rabinovitch (1894-1961). – Maquette pour Lysidtrata, d’Aristophane. Théatre des Arts de Mouscou. (pág. 188). [Mise en scène de V. I. Némirovitch-Dantchenko. 1923.]  Catálogo da participação da URSS na Exposição das Artes Decorativas e Industriais em 1925. (pág. 188).

 A representação de Lysidtrata.

 



fig. 50 – Isaac Rabinowitch. Décor pour Lysidtrata (Section Théatrale de l’U.R.S.S.) in L’Amour de l’Art n.º 10 Oct.1925.(pág. 328).

  

E o cenário da peça “Pincesa Turandot” representada no Teatro de Arte de moscovo com cenários de Ignatiy Nivinskiy (1880-1933).

 















fig. 51 - Scène de .Prlncesse Turandot" (3·e Studio du Théatre d'Art de Moscou), mise en scne de Nivinsky
. Catálogo (pág. 17)

 

Nestes anos a importância do teatro conduz a que nele participem artistas de diversas artes como o arquitecto A. Vesnine na criação de figurinos.

 













fig. 52 - A. Vesnine. – Dessins pour costumes de Théatre Catálogo da participação da URSS na Exposição das Artes Decorativas e Industriais em 1925. (pág. 192). Source gallica.bnf.fr / Bibliothèque nationale de France

 



[1] Le theatre a incarne Ia Revolution, Ia Revolution a eleve le theatre. Le théâtre a offert a Ia Révolution ses regisseurs, ses artistes, son art, - le premier de !'Europe, ct Ia Revolution lui a donne un nouveau speclateur, un souffle palhetique et essentiellement nouveau, un nouveau sens social. Abram Markovich Efross (1888-1954), “Le Theatre et le Peintre pendant la Revolution” in Catalogue Exposition de 1925. Section URSS. L’Art Décoratif et Industriel de l’URSS. (pág. 71).

[2] Nous voulons croire que !'Europe Occidentale va nous rendre justice, et quant le riot de nos jeunes spectacles viendra remplacer les anciennes « saisons russes », sur les scenes de Paris, Ia ville bien aimee no us presentera encore une fois les clefs de ses portes. Abram Markovich Efross (1888-1954), “Le Theatre et le Peintre pendant la Revolution” in Catalogue Exposition de 1925. Section URSS. L’Art Décoratif et Industriel de l’URSS. (pág. 79).

[3] L'artiste donne son aspect plastique à l'espace ou évolueront les acteurs : il impose, sur les planches, Ia sensation des trois dimensions et Ia realité prend Ia place de l'illusion pittoresque ; l'espace restreint de Ia scène est utilisé dans les combinaisons les plus imprévues ; de Ià, Ià richesse des situations, l'abondance des motifs. L'esprit de constructivisme et d'intense énergie repousse, balaye tous les élements négligeables, toutes les bagatelles, tout ce qu'il y a de contingences dans Ia vie quotidienne, et crée les formes qui conviennent le mieux à cette époque de grande histoire, a cette période de construction audacieuse et austere B. T. "En guise d’introduction” assinado B.T., iniciais de Boris Ternovets, crítico de arte e membro do comité organizador, in Catálogo da participação da URSS na Exposição das Artes Decorativas e Industriais em 1925. (pág. 19 e 20).

 



1 comentário: