René Magritte (1898-1967), Elseneur, 1944. Óleo s/ tela 73 x 60 cm. Vedovi gallery.Bruxelas.
Ser ou não ser [1]
“… quem não tem no fundo do coração
um sombrio castelo de Elsinor ? [2]
“Habitantes delicados das florestas que são em nós”, [3] quem não teve, quem não tem, dentro de si, esses castelos imaginários do nosso interior, esses castelos de coragem, depositados e murmurando na nossa memória e no nosso inconsciente.
Quem nunca se procurou sem se encontrar, quem nunca se sonhou, nesses castelos de vento, desertos e solitários, nesses castelos sem fundamento?
Quem nunca sentiu, príncipe de uma qualquer dinamarca, por entre essas paredes vazias e por onde escorre em calafrio na memória, um seu Elsinor, miragem de liberdade, onde as roucas longínquas vozes de uma antiga tradição apelam ao fim da tirania que em nós habita.
Quem nunca hesitou em lutar para pôr fim a esse mar de dificuldades, obstáculos e provocações, que a vida dentro de nós coloca, pondo-lhes fim em implacáveis e gloriosos combates?
E quem nunca, pelo cansaço que traz a sabedoria, acabou por desistir suportando os golpes pungentes de um destino adverso e partir num gesto resignado, limite em silêncio de um sonho e por esse sonho dizer que o combate acabou, ambicionando, por fim, uma noite eterna para em paz e aí em Elsinor “dormir, dormir, talvez sonhar…”
[1] To be, or not to be : that is the question:
Whether 't is nobler in the
mind to suffer
The slings and arrows of outrageous
fortune,
Or to take arms against a sea
of troubles,
And by opposing end them? To
die: to sleep; 60
No more; and by a sleep to say
we end
The heart-ache and the thousand
natural shocks
That flesh is heir to, 't is
a consummation
Devoutly to be wish'd. To die,
to sleep;
To sleep: perchance to dream.
William Shakespeare (1564-1616), The tragedy of
Hamlet Prince of Denmark, in The Warwick Shakespeare, edted by sir Edmund K.
Chambers Blackie & Don Limited London and Glasgow (pág. 79)
[2] Qui n'a pas au fond de son coeur / Un sombre château d'Elseneur… Vincent do Rego Monteiro (1899-1970), poeta e artista plástico brasileiro viveu alguns anos em Paris. in Vers sur verre, ed. P. Seghers Paris, 1953 (pág.76).
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