segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Janelas 4

 

A janela que se abre ao ar que se abre ao vento [1]

 

“Yo abrí las ventanas de mi casa al viento…

El viento traía perfume de rosas, dolor de campanas…”

Antonio Machado [2]

  

Se a janela na língua inglesa é window e na língua castelhana ventana, ambas remetem para vento, em inglês wind e em castelhano viento.

Ora não é possível ver nem pintar o vento ou talvez apenas se possa fazê-lo na forma de um tornado.

Consegue-se sim pinta-lo no sorriso audível das folhas, ou nos efeitos do vento em uma vela de moinho ou de um barco, em árvores inclinadas, em panos que esvoaçam…

Contudo ao admirar este belíssimo quadro Andrew Wyeth [3], significativamente intitulado Vento do mar, sente-se a brisa marítima no delicado esvoaçar da transparente cortina.

 

“¿No ves
la cortina estremecida,
ese papel revolado
y la soledad frustrada
entre ella y tú por el viento?
[4]



fig. 1 - Andrew Wyeth (1917-2009), Wind from the Sea (Vento do mar), 1947, tempera s/cartão 47 x 70 cm. National Gallery of Art, Washington.

 O espaço entre a janela (de guilhotina) e o interior da casa é um espaço de transição mediado pela cortina…

 

“As cortinas rasgadas balançam
É o vento que brinca
Ele escorre pela mão entra pela janela
volta a sair e vai morrer em qualquer lugar
O vento forte e sombrio tudo leva…” 
[5]

 

fig. 2 – Pormenor da imagem anterior.

 

 



[1] Já parcialmente publicado no meu Facebook em 26 de Agosto de 2018.

[2] António Machado (1875-1939), de Soledades in Poesias completas, Imprensa de A. Alvarez. Barco 20, Madrid 1903. (pág.91).

[3] Diz o pintor sobre o seu quadro: "Nesse verão de 1947, estava num dos sótãos a sentir a secura de tudo, e estava tanto calor que abri uma janela. Um vento de oeste ondulou as cortinas de renda empoeiradas e gastas, e os delicados pássaros de croché começaram a esvoaçar e a voar... A minha ideia é manter-me aberto a este algo fugaz que me pode apanhar desprevenio (...). Fiz um esboço muito rápido e tive de esperar semanas por outro vento de oeste para fazer mais estudos."

[4] Pedro Salinas y Serrano (1891-1951), Far West in ABC de 19 de Abril de 1972, Madrid (pág.120).

[5] Pierre Reverdy (1889-1960), Il reste toujours quelque chose in La Lucarne ovale, 15 novembre 1916. Imprimerie Paul Birault, Paris 1916.

“Les rideaux déchirés se balancent
C'est le vent qui joue
Il court sur la main entre par la fenêtre
Ressort et s'en va mourir n'importe où
Le vent lugubre et fort emporte tout (…)”

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